Sobras de um amor … parte III

29.

 

         Na manhã seguinte, Angélica acordou disposta a resolver a situação com Márcio. Ou se separavam de uma vez ou se reconciliavam, mas essa segundo opção dependeria muito mais dele do que dela, pois ela que o havia despachado de sua casa num de seus momentos de crise aguda e o esposo deixou o apartamento em silêncio.

Tomou um longo banho, momento em que ficou pensando nos dias e noites que passou nos braços do esposo que prometia amá-la até o fim da eternidade. Mas para tudo tinha limites e ele havia chegado ao dele e não se comunicou em nenhum momento com a esposa. Angélica recordou a noite anterior quando o viu comprando bebida no posto de combustível e entrando molhado no hotel em que se hospedara.

A empresária bem que tentou saber alguma coisa sobre o paradeiro dele, mas Roberto disse que desconhecia o local onde o amigo estava e Fernanda havia tirado o dia para cuidar dos móveis de seu apartamento e provavelmente não sabia nada a respeito do editor. Ao falar com Tarsila, Angélica percebeu que era momento para tomar suas decisões sozinhas e se quisesse continuar com o esposo, teria que o reconquistar. “Será que ele estava com alguém no hotel? Se estiver morre os dois”, pensou a esposa achando que, depois do que disse ao marido há dois dias, tinha algum direito sobre ele.

Eram dez horas quando ela entrou no hotel usando um vestido bata verde, cuja cor combinava com seus olhos e para não marcar o corpo, pois sabia que o marido não gostava, usou um short modelador e calçava um tênis preto com solado branco. Para não chamar muito a atenção, como se fosse possível passar despercebida usando aquelas roupas, colocou um óculo de sol e, ao falar com o atendente perguntou por Márcio.

– Ele está hospedado aqui sim, senhora, mas até agora não desceu. Já passou o horário de tomar café, então terá que se alimentar na rua.

“- Posso esperá-lo aqui no saguão”, perguntou Angélica.

“- A senhora é o que dele”, inquiriu Reginaldo.

Fazendo um movimento para esconder a aliança que estava no dedo da mão esquerda, a empresária disse que era uma amiga dele que havia marcado uma entrevista, mas foi procurá-lo porque percebeu que ele havia se atrasado.

– Coisas de jornalistas. Mas cá para nós, eu o achei estranho. Pagou as diárias antecipadas e ontem saiu do hotel bem depois do almoço e não parecia bem. Acho que bebeu muito a noite anterior, pois quando deixou a chave aqui está com forte odor de álcool.

Aquela informação fez o ser de Angélica entrar em erupção e sem raciocinar corretamente, pediu para que Reginaldo ligasse para o quarto, informando-o de que a pessoa que ia ser entrevistada por ele, o aguardava. Ninguém atendeu a ligação, aumentando a preocupação da quase futura ex-esposa, pois ela se recordou do dia em que Márcio entrou em coma e, se Roberto não chegasse a tempo, o amor de sua vida teria morrido.

Tentando ficar calma, a empresária voltou para o sofá e ligou do seu celular para o do marido que só dava caixa postal. Dez minutos depois voltou e pediu para que o atendente ligasse novamente, mas sem o resultado esperado. Ela bem que tentou disfarçar a aflição, mas não conseguiu e em virtude disso, Reginaldo ligou de novo e desta vez obteve sucesso.

“- Alô! Eu não disse que não queria ser incomodado em hipótese alguma? Se eu quisesse alguma coisa eu pediria. Agora por favor não me incomodem, por isso paguei as diárias antecipadas. Até logo”, disse o editor de forma ríspida, tentando encerrar a ligação.

– Espere um pouco senhor Márcio. É que a moça que o senhor vai entrevistar está aqui no saguão à sua espera.

“- Eu não vou entrevistar ninguém. Tchau”, vociferou o hóspede desligando abruptamente o telefone.

Ao encerrar a ligação, Márcio tirou o telefone da tomada e voltou a dormir, enquanto Reginaldo retomava suas atenções à Angélica para dizer que ele havia dito que não ia entrevistar ninguém. “- Mas posso esperá-lo aqui. Acho que está havendo algum entendimento errado. Assim que ele descer tudo será resolvido”, disse a empresária.

– Tudo bem, já que a senhora insiste. Sinta-se à vontade.

Durante as duas horas em que Angélica ficou esperando no saguão do hotel, mil coisas passaram pela sua cabeça, inclusive que o marido estivesse com outra no quarto, o que a motivou perguntar ao atendente se Márcio havia se hospedado sozinho ou em companhia de outra pessoa, por exemplo, uma mulher.

“- A senhora diz que é amiga do rapaz, mas para ser uma simples entrevista, está muito interessada na vida pessoal dele. Acho melhor a senhora ir embora e assim que ele descer eu deixo o recado. Agora, se preferir esperar, acho melhor fazer isso quieta e sem fazer alarde”, orientou Reginaldo.

Temendo ser descoberta, a empresária resolveu ficar no seu canto, esperando Márcio descer e aí o pegaria no pulo. Se tivesse com outra mulher, a coisa ficaria feia ali mesmo no saguão. Quando já começava a ficar enfadada de tanto esperar, escutou a voz do marido falando em um tom e de forma que nunca o vira se dirigir a alguém. “Meu deus do céu. Ele está bêbado ou muito irritado”, pensou Angélica se dirigindo ao balcão.

“- Márcio, podemos conversar”, lhe disse Angélica que ficou assustada quando o viu no momento em que ele se virou para os lados de onde vinha a voz. “- O que está acontecendo contigo, amor”, perguntou a empresária.

– Amor!? Faz dois dias que me expulsou de sua vida e vem agora me chamar de amor. Por que não vai a merda!

Sem esperar e nem reparar na esposa, o editor passou por ela, momento em que Angélica sentiu o forte odor de álcool, a exemplo do que aconteceu naquela manhã quando o conheceu em seu apartamento. Reparou que ele usava as mesmas roupas da noite anterior e que provavelmente elas haviam secado no corpo.

“- Márcio! Por favor, vamos conversar. Para onde você vai”, perguntou a esposa.

– Para bem longe de ti, de suas loucuras e de todo mundo que deixa esse planeta muito feio a cada dia que passa. Estou farto. Tchau.

Ao tentar atravessar a rua de maneira apressada, Márcio quase foi atropelado. O acidente só não se completou porque a esposa o puxou e ele, para não perder o equilíbrio e ir ao chão, acabou abraçado com Angélica que desferiu um bofetão em seu rosto e disse de forma exasperada. “- Agora vai voltar comigo àquele hotel e pegar todas as suas coisas e vamos para casa. Não é você que vive dizendo que odeia escândalos, mas vive os provocando”, ordenou Angélica.

Sem dizer nada e ainda bêbado em virtude da quantidade de álcool que consumiu nas duas noites anteriores na tentativa de tirar a própria vida, pois sabia que seria impossível continuar sem ter a esposa do seu lado. Ao entrarem no quarto, a empresária olhou direto para uma mesa que havia próximo da cama, observando que tinha várias garrafas de uísque vazias e próximo delas haviam umas caixas de remédios. Sem que o marido percebesse, pois estava no banheiro recolhendo a toalha que havia deixado pendurada, Angélica pegou os medicamentos e os guardou na bolsa na certeza de que o marido estava tentando colocar fim à própria vida.

Ao deixar o hotel, Márcio parecia ter ficado pior do que quando desceu da primeira vez e a esposa desconfiava que ele poderia ter ingerido alguns daqueles comprimidos e tinha intensão de morrer longe de tudo e de todos. Seguiram para o apartamento de Angélica em silêncio. Ela não dizia uma palavra e nem ele, o que tornou o caminho um cortejo fúnebre. Quando já estavam chegando no prédio, Márcio perguntou por que ela foi atrás dele, depois de o expulsar de sua casa e de sua vida.

– Por uma razão muito simples: por que te amo e por ter certeza de que não conseguirei dar um passo sem ti e por saber que fui muito estúpida naquela noite. Estava assombrada com a hipótese de ter que reviver aqueles momentos horríveis do meu passado, fiquei sem chão, completamente desnorteada.

Depois de ouvir a resposta da quase ex-esposa, Márcio ficou em silêncio, não dizendo mais nada, pois estava completamente embriagado e só não estava morto àquela hora porque a empresária apareceu. Sua intenção era procurar algum ponto para tirar a própria vida, inclusive atirando-se na frente do primeiro automóvel que lhe passasse por perto.

Chegando no prédio, a esposa percebeu que teria que ajudá-lo, pois seu estágio etílico era muito elevado, aumentando a desconfiança de que Márcio teria ingerido alguns daqueles comprimidos no afã de colocar fim a própria vida. “Depois descubro isso. Primeiro quero deixá-lo de pé novamente”, pensou a empresária segurando Márcio até chegarem dentro do apartamento.

O editor olhou pelos aposentos e disse, de forma meio empolada, “eu tento te abandonar e também me expulsam, mas não consigo te deixar” e cambaleando, caiu no sofá completamente gelado e transpirando bastante. Essa ação foi o suficiente para Angélica entrar em pânico, ligando desesperada para Roberto e chorando, implorou para ele ir ao apartamento dela, pois acreditava que Márcio tinha cometido suicídio, mas que foi morrendo aos poucos.

Roberto chegou ao apartamento vinte minutos depois e acompanhado de um médico. Angélica só deu conta de franquear a entrada deles no apartamento e estava completamente desnorteada, mas consciente de que se o marido realmente cometeu suicídio, a culpa era inteiramente dela. O seu diretor foi de poucas palavras, pois não queria iniciar uma discussão com a patroa na frente de estranhos.

Antes de o médico examinar Márcio, a esposa mostrou as caixas de remédios dizendo que a encontrou com ele num quarto de hotel junto com umas garrafas de uísque. “- Se ele tomou alguns desses com uísque, a senhora pode encomendar os funerais, pois a morte é certa. Quando foi que encontrou isso”, perguntou o clínico.

“- Agora a pouco no quarto de hotel onde ele estava enfurnado há dois dias”, respondeu a empresária tentando segurar o pânico enquanto sentia os olhares de Roberto a fulminarem. Ela tinha certeza de que se a morte fosse constatada, o seu diretor não a perdoaria, pois sabia que o motivo tinha sido ela.

Assim que o clínico terminou de consultar Márcio, a empresária foi informada de que não havia óbito algum, mas os sinais vitais estavam muito baixos, indicando desidratação provocada pelo excesso de ingestão de álcool e ausência de alimentação sólida. “- Porém, é preciso aguardar a evolução do quadro dele nas próximas vinte e quatro horas e aí observaremos a extensão do dano, principalmente ao fígado. Ele já tinha problemas hepáticos”, perguntou o médico.

“- Sim doutor. Márcio já ficou na UTI por conta do excesso de bebida alcóolica e amor. Acho que tentava matar um sentimento que lhe brotava n’alma, forçando o coração a parar de bater e creio que quis fazer isso novamente. Acho que ele anda muito infeliz”, disse Roberto olhando firme para a patroa.

– Então quando ele retornar, cuide bem dele e descubra quem está fazendo isso com o coração dele. Acredito que o fígado dele não suportará outra pancada dessas. Parece-me que os problemas hepáticos dele estejam ligados ao universo emocional, mas só posso confirmar isso com mais exames e uma conversa detalhada com ele. Aqui está a receita: compre esses medicamentos e ele precisa tomar a cada oito horas a partir do momento que estiver desperto.

Junto com a receita, o clínico passou também o recibo indicando o valor de seus honorários médicos quitados pela empresária que o acompanhou até o térreo, mas antes pediu para Roberto a aguardá-la até que voltasse.

Assim que retornou, Angélica encontrou Roberto do mesmo jeito e tentou pedir discrição a ele, mas obteve como resposta que faria o possível, mas ela teria que torcer muito para o amigo se recuperar logo, pois os pais dele estariam de volta à cidade no domingo, já que na segunda-feira Márcio pretendia inaugurar a editora. “- Olha só que o você faz com esse homem! Tu ainda tens dúvidas de que ele te ama e tem a ti como a melhor coisa que lhe aconteceu na vida”, perguntou Roberto.

“- Eu sei o que quer dizer e não precisa se alongar. Entendo que se Márcio morrer eu também vou junto”, disse Angélica tentando esconder seu desespero movido pelo remorso.

– Não é o que me parece. É a segunda vez que vejo meu amigo nessas condições por um ato impensado de ti. Pode ficar tranquila, Angélica, não falarei com ninguém, até porque se Marzinho se recuperar, do jeito que é doido por ti é capaz de querer ficar aqui contigo. Então pense bastante no que vai lhe dizer quando ele se recuperar desse baque e sei que pode ser o último. Não espero vê-lo tão cedo num caixão, então a responsabilidade é toda sua. Agora deixe-me voltar para o trabalho. Inventei uma desculpa para vir te atender, então ninguém sabe que o Márcio está nessas condições.

Ao ficar sozinha em seu apartamento tendo Márcio praticamente fora de combate estendido no sofá, Angélica se sentou diante dele, permanecendo ali parada, esperando uma reação dele, temendo que o marido pudesse morrer na sua frente. Sem saber por onde começar e o que fazer, a empresária acabou dormindo no sofá durante a vigília que fazia ao esposo que acordou tempos depois ainda totalmente zoado sem saber ao certo onde estava.

Tentou se ajustar sentando no sofá, mas foi vencido pela tontura e acabou se deitando novamente, se afundando num sonho completamente fantasmagórico em que uma mulher lhe perseguia vestida de calcinhas, mas no lugar em que deveria estar a vagina havia um pênis entumecido. Quando ela o alcança, retira o lingerie, o forçando a engolir o falo que salta da peça intima.

Márcio desperta, sentindo se asfixiando pelo próprio vômito. Angélica o socorre, pois acordou com os gritos dele, o colocando sentado, ajudando a sair daquela situação de pré-morte. “- Você consegue andar? Te levar para tomar um banho e tirar essas roupas que parecem que não veem água faz um tempão”.

Márcio apenas assentiu com a cabeça, se esforçando para levantar, mesmo sentido que havia uma tonelada sobre a sua cabeça. Angélica lhe tirou toda a roupa, jogando as peças no lixo e apenas pediu a ele para lhe ajudar em alguns movimentos.

Enquanto colaborava ao máximo para que Angélica lhe higienizasse, durante um momento de lucidez e tentando falar algo com sentido, principalmente porque lhe vinha do coração e por determinação d’alma, Márcio disse, perguntando à empresária: “- Você sabia que eu te amo infinitamente”. A esposa optou por ficar em silêncio, mas sabia que aquele homem se não ficasse com ela, sucumbiria e só não o fez porque ela chegou antes. O editor havia planejado tirar a própria vida nas duas noites anteriores, mas com certeza, naquele dia o faria novamente.

No final do banho, Angélica lhe passou a toalha pedindo a ele para se enxugar se segurando nela. “-Eu sei disso amor. Não falemos mais desse nosso amor, vamos tratar de vivê-lo plenamente. Me desculpe por ter duvidado desse seu sentimento para comigo. Agora venha: deite-se aqui, enquanto pego o remédio que você precisa tomar”.

Enquanto o marido ingeria o medicamento, Angélica gravava no celular os horários em que Márcio deveria tomá-los novamente. Mentalmente se prometeu não deixá-lo mais sozinho. Assim que o editor se deitou, a esposa lhe cobriu o corpo nu e passou a olhá-lo, recordando tudo o que passaram juntos. “Por que sempre tenho que recuperar o passado para entender o quanto esse homem me ama”, se perguntou mentalmente a empresária, respondendo-se a si mesmo: “Porque você ainda duvida que possa ser amada incondicionalmente por alguém sem precisar usar o seu dinheiro para alcançar o seu objetivo. Este homem lhe dá tudo e não te pede nada em troca”.

Deixou o quarto e foi preparar algo para comer, pois desde que decidiu trazer Márcio de volta para casa não havia ingerido nada. O temor de ser rechaçada era tanto que perdeu o apetite. Enquanto ingeria algo que parecia sem gosto e sem cheiro, Angélica continuou a conversa consigo mesmo e todos os últimos tempos de sua vida passou diante dos seus olhos.

Compreendeu, com outros significados, que tanto Márcio, quanto Amadeu eram muito sensíveis e quando amavam entravam de cabeça na relação e não viam outras pessoas além dos seres por quem eram apaixonados. Por isso se deram tão bem e foram capazes de deixarem a privada de merda em que estavam. Um tinha dinheiro e o outro não, mas ambos eram completamente infelizes, não por conta do mundo material, mas porque amavam e não eram correspondidos.

Foi trazida de volta ao presente pelo som do celular. Olhou e viu que o número era de Eleanora. “-Alô mãe!” – “Oi filha! Encontrou o Márcio”, perguntou a presidente de honra das Organizações Oliveira.

– Encontrei sim e só posso te dizer que estava completamente alcoolizado e pelos medicamentos que encontrei no quarto do hotel, ele cometeria suicídio. Ah! Também tentou se jogar na frente de um carro e só não conseguiu porque eu o puxei.

“- Nossa filha e tudo isso por que”, quis saber a mãe.

– Mãe! Ele e Amadeu são idênticos. Sem as pessoas que amam não são ninguém e para se tornarem mendigos, loucos, alucinados e até suicidas é um passo. Os dois são covardes e tentam se matar aos poucos. Eu tentava entender o amor de meu irmão pela Tarsila, mas parece que faltava uma peça e hoje eu a achei. Meu irmão diviniza a esposa e acho que meu marido faz o mesmo em relação à minha pessoa. Ambos não podem viver sem os respectivos amores.

“- Sim filha. Agora você sabe que o Márcio pode ter muitos defeitos, mas a principal qualidade dele é o amor que lhe tem. Amadeu o chama de meu amigo mosquito porque sabia o quanto ele era solitário, estando preso a essa condição com medo do passado. Mas eu te liguei também por outro motivo: o general quer falar contigo”, informou a matriarca.

– Tudo bem mãe. Coloque ele na linha.

“- Obrigado por me deixar falar contigo. Quero te pedir desculpas pela minha falta de tato que quase termina em tragédia. Não tocarei mais nesse assunto que é tão delicado para todos vocês”, disse o general indo direto ao ponto.

– Está certo Alexandre. Você já sabe o suficiente pelo que minha mãe lhe contou e não ficarei falando de culpas, mas só te digo uma coisa: se gostas de Eleanora é a ela que tu deves dirigir todo o seu perdão e todo o seu amor. Minha mãe precisa muito do amor que tens aí guardado dentro do peito. Aqui eu e meu marido vamos lutar juntos contra as consequências dum passado tenebroso que ainda me assombra.

Assim que terminou de falar com o general, Angélica percebeu que era observada por Márcio. “- Amor porque deixou a cama. Você ainda não está completamente recuperado. Quer comer alguma coisa”, perguntou a empresária.

– Sim. Preciso ingerir alguma coisa. Faz dois dias que não como nada.

“- Sente-se aqui e aguarde que preparei algo para ti”, lhe disse a esposa.

Assim que terminou de preparar uma macarronada rápida, Angélica se sentou do lado do marido, lhe perguntando o que pretendia fazer com aqueles remédios e todas aquelas garrafas. “- Quando não se vê mais sentido na vida; quando a mulher que se ama de todo o seu ser, te manda embora, os fracos costumam tirar a própria vida e eu me sentia um pária por não conseguir te fazer feliz”, explicou o editor.

Angélica ficou apenas olhando o marido que continuoi a responder a sua pergunta. “- Para muitas pessoas pode ser diferente, mas eu não consigo viver sem o seu amor. Desculpe-me por te amar tanto assim e acho que é esse sentimento que pode ter atrapalhado tudo. Então assim que eu ficar 100%, procurarei o meu espaço”.

– E quem disse que o senhor sairá daqui? Quem disse que a minha cama ficará sem você?

“- Você! Quando me mandou embora há três dias”, respondeu o editor à esposa.

– Isso foi há três dias e eu estava em pleno surto por conta daquela conversa do general. Sei que não posso te obrigar a ficar aqui comigo, mas sei que esse apartamento e meu coração não são os mesmos sem ti. Também não sei viver sem tu e o seu amor. Então se puderes me perdoar novamente, pois sei que fez isso várias vezes e ainda assim eu escorreguei nos mesmos erros.

“- Vamos falar disso depois que eu conseguir inaugurar a editora”, pediu Márcio.

– Não! Quero a resposta agora. Sabes que sou ansiosa e não esperarei até depois da próxima segunda-feira.

Márcio ficou pensando e apenas deu uma piscadinha para esposa que sentiu enorme explosões a partir do coração. Angélica não resistiu e se deslocou até o marido abraçando-o, de uma maneira que Márcio nunca tinha sentido. Era como se ele a desejasse muito e esperou aquele momento chegar. “- As estrelas, minha alma e meu coração mandam-lhe dizer que o meu mundo não terá cores se não estiveres nele, minha dinamite dos olhos esverdeados”, disse Márcio de forma sussurrante.

Assim que o marido terminou de comer, a esposa o pegou pela mão o conduzindo até o quarto. “- Venha meu amor, vamos dormir a tarde toda. Não quero mais que esse mundo cruel nos machuque tanto. Vou te amar até o final da eternidade. Te amo de paixão, meu amado jornalista ensebado”, disse Angélica se deitando do lado de Márcio na cama.

Enquanto Márcio e Angélica mergulhavam no sono e na promessa de não se separarem mais, pelo menos até a próxima crise ou surto da esposa, Eleanora e Alexandre conversavam na tentativa de colocar a relação nos eixos depois de toda aquela confusão provocada por uma revelação destemperada da sogra de Márcio.

“- Meu amor. Depois que o seu genro inaugurar a editora, vamos deixar essa cidade. Quero que tu conheças minha irmã que está numa clínica em Resende. Faz tempo que vive me mandando mensagem para saber notícias minhas e agora quero vê-la porque tenho alguém para lhe apresentar. Ela vivia dizendo que se preocupava comigo porque eu não tinha ninguém. Falava que o Exército era apenas o meu trabalho, mas não a minha vida”, explicou o militar à sua namorada.

– Tudo bem, meu general. Só que vamos usar o meu avião para chegarmos mais rápido em Resende. Portanto, nada de voo comercial.

Na editora, Tarsila conversava com o marido pelo telefone, recebendo as últimas informações, inclusive a tentativa de Márcio tirar a própria vida combinando uísque com remédios. “- Eu bem que o achei estranho no dia em que veio aqui e eu o mandei de volta para casa. Em seguida tua irmã apareceu procurando por ele”.

“- Eu sei. Ela o encontrou hoje pela manhã num quarto de hotel cercado por garrafas de bebida e muitos remédios. O meu amigo mosquito não conseguirá viver se minha irmã não estiver com ele”, informou Amadeu à esposa.

“- Ele se parece com alguém que eu conheço bem”, afirmou Tarsila caindo na gargalhada dizendo em seguida que não conseguiria viver um dia se quer sem ele, ainda mais agora que aguardavam a chegada do primeiro filho.

Sem querer, Ricardo escutou a conversa e achou estranho a noiva, que era amicíssima de Márcio, não saber dessas coisas. “Pelo visto”, pensou ele, “eles não são tão chegados assim, ou ela me escondeu a informação”, disse baixinho para si mesmo pegando o celular e ligando para a gerente de finanças das Organizações Oliveira. “- Sabia sim, mas todos nós resolvemos dar um basta nas nossas interferências na vida daqueles dois. Eu tenho você, Roberto tem Danisa e isso é o mais importante. Márcio e Angélica já são bem grandinhos e podem resolver suas questões. E por falar nisso, como estão os preparativos para o nosso churrasco de domingo”, perguntou Fê ao noivo.

Por mais que Angélica e Márcio pretendesse manter suas vidas no anonimato, aqueles que juraram não se meter mais entre o casal se ocuparam em espalhar a informação de que o editor tentou cometer suicídio mais uma vez por conta das maluquices da esposa. O assunto só não chegou ao ouvido de Judith e Rogério porque os pais de Débora a proibiram de falar sobre o problema com Esdras. “- Quem tem que dizer isso é o próprio irmão. Então não te quero metida em querela daqueles dois. Todos sabem que o seu namorado e o irmão dele sempre viveram rusgando. Então minha filha, espero que não sejas tu quem irá alimentar essa desavença”, recomendou a mãe da secretária de Angélica.

– A senhora está certa. Até porque os pais deles chegam sábado ou domingo para a inauguração da editora na próxima segunda-feira. Ricardo me disse que o trabalho lá está todo a vapor e quem cuida de tudo é a sócia e o marido dela, o irmão de Angélica”, relatou Débora, procurando mudar de assunto indo direto ao tema sobre o casamento do irmão. Ricardo não sabia, mas a partir de domingo moraria em definitivo com Fernanda.

Enquanto Débora dialogava com a mãe, Roberto contava toda a verdade à Fernanda, mas pediu discrição a ela, lembrando-lhe que tinha que se concentrar em seu casamento com Ricardo. Isso era o mais importante naquele momento e a vida do amigo com a patroa tinha que ficar por conta deles. “- Torço para o Marzinho se recuperar antes dos pais chegarem no domingo, porque, do jeito que conheço Judith, desta vez Angélica não escapa”, desabafou o diretor de comunicação.

“- Gosto muito dela, mas não sei se consigo segurar essas coisas que ela faz com Márcio”, desabafou Fernanda obtendo como resposta a observação feita pelo amigo, segundo a qual, tudo está acontecendo porque Márcio é conivente. “- Angélica faz e desfaz e ele volta atrás. Não arruma um jeito de dar um basta nisso tudo. Prefere tentar colocar fim à própria existência do que mandar a esposa comer merda”, disse Roberto sem perceber que o irmão de Angélica entrava na sala.

– Quem vocês estão mandando comer merda? Minha irmã? Se for, por conta do meu amigo mosquito posso dizer aos dois que o que aquele neguinho tem feito por todos nós, nenhum dinheiro dessa empresa pode pagar. Vocês estão aqui porque são competentes, entretanto, nossas empresas só conseguiram enxerga-los desta forma por conta do Márcio. Ele e minha irmã enfrentam uma barra enorme que vocês não sabem se quer um décimo.

“- Desculpe-nos Amadeu, mas eu vi o jeito que o Márcio estava no apartamento dela, depois de ficar dois dias sem comer e bebendo feito um doidivanas”, desabafou Roberto.

– Meu caro Roberto. Fiquei mais de cinco anos como cachorro correndo atrás do rabo porque a mulher que amo do fundo de minha alma havia desaparecido e o único que conseguir ler isso dentro do meu coração foi o Márcio que, enfrentou a ira de minha irmã, de minha mãe, me trazendo de volta a minha Tarsilinha. Portanto, creio que não sabem o que ele sente por Angélica e ela por ele.

Fernanda e Roberto ficaram calados enquanto o vice-presidente dizia algumas coisas que talvez os dois amigos do cunhando desconheciam ou apenas especulavam, mas mantinham tudo em silêncio. “- Minha irmã foi casada por sete anos com a irmã de Tarsila. Angélica achava que gostava de mulheres. De fato, ela tem uma queda por pessoas do mesmo sexo e Marzinho sabe disso, mas ainda assim decidiu caminhar com ela”.

“- Sabemos disso Amadeu, entretanto, há alguma coisa que dispara o gatilho e ela perde o senso da realidade e quem acaba pagando o preço por esse desiquilibro todo é o Márcio e disso você não pode eximi-la”, afirmou o diretor de comunicação.

“- Roberto! Você ama Danisa”, inquiriu Amadeu.

– Por que está me perguntando isso, Amadeu.

– Anda responde!

“- Sim! Amo-a de montão e de maneira incondicional”, confessou Roberto.

“- Ela é perfeita para ti ou tem algum defeito”, quis saber o vice-presidente das Organizações Oliveira.

– Claro que não é perfeita. Tem lá suas esquisitices, possessões, ciúmes e outras coisas que são administráveis. Sei também que esse trabalho aqui, de certa forma, auxiliou a manter a minha relação com ela que começava a degringolar.

– Pois bem! Então observe com racionalidade a relação de Márcio com Angélica. Ele não quis vir para cá, ocupar esse posto que tu estais. O mosquito adora Fernanda como uma irmã mais nova e se tivesse que se afastar dela para ficar com Angélica, com certeza, Fê sairia em vantagem. Agora me respondam, vocês que conhecem o Marzinho mais do que eu: quem é esse Márcio que vistes deitado no sofá de minha irmã quase morto de tanto beber, por não saber viver longe dela”, perguntou Amadeu.

Fernanda ouviu tudo em silêncio e pesou bem o que ia dizer, mas resolveu se calar, pois sabia que se falasse algo além do que o pessoal já sabia, poderia ser interpretada como alguém que mantinha secretamente uma paixão pelo amigo. Um certo amor que nunca se concretizaria, já que havia muitas coisas entre eles que o sexo poderia estragar, além da louca paixão que ele sentia por Angélica.

“- A única coisa que posso lhe dizer, Amadeu é que o seu amigo mosquito é um homem singular que toda mulher gostaria de tê-lo como parceiro, incluindo aí a cama. Ele é fiel a sua irmã até a medula”, disse Fernanda finalmente.

– Eu sei, Fê e é por isso que não solicito nada de vocês, pois sei que estão se afastando para que os dois possam se resolver. Mas só posso lhes dizer que a relação dos dois é complexa e não é por falta de amor ou excesso dele, mas por outras coisas que não gostaria de falar sobre isso. Talvez um dia, o casal possa abrir para vocês, só não fizeram ainda não foi por falta de confiança nos amigos, mas porque é preciso tato.

Quando Roberto ia dizer algo, Amadeu pediu-lhe para ter paciência com o casal. “- Tenho certeza de que para minha irmã ter te chamado hoje no apartamento dela, foi porque não sabia o que fazer. Tarsila me falou que o Marzinho chegou lá, acho que antes de ontem cheirando a bebida e com a cara de quem tinha passado a noite bebendo. Ela o mandou de volta para casa, mas não sabia que eles estavam brigados e o mosquito dormindo num quarto de hotel. Angélica chegou assim que ele deixou a sede da editora e recebeu uma sonora bronca da Tarsilinha”, explicou Amadeu.

“- Tudo bem Amadeu. Eu e Fernanda não vamos nos meter mais na vida dos dois, até porque a Fê se casará no domingo com Ricardo e eu e Danisa estamos aguardando a chegada do nosso primeiro filho”, revelou Roberto.

Ao ouvir isso, o vice-presidente foi chamado para uma reunião com os diretores dos setores de logística, deixando os dois amigos e funcionários conversando à vontade. O casal se entreolhou e cada um foi para a sua sala cuidar das atividades que as funções que ocupavam nas Organizações Oliveira exigiam.

A vida seguiu modorrenta naquela tarde até o começo da noite, quando Márcio despertou todo molhado da transpiração que teve. O médico havia explicado que isso poderia acontecer como forma de o organismo se desintoxicar. Ao vê-lo naquelas condições, Angélica se desesperou, achando que o esposo estava falecendo, mas foi se acalmando na medida em que Márcio pediu para se banhar e depois comer, pois estava com o estômago nas costas.

Ela o ajudou a entrar de baixo do chuveiro e aquela roupa, bem como o lençol foram parar no lixo. Enquanto o editor terminava de se higienizar, a esposa lhe preparou um chá e torradas, em seguida foi esperá-lo na porta do banheiro, ajudando a se vestir. Depois caminharam abraçados à mesa para lancharem.

– Espero estar bem melhor amanhã. Preciso voltar a editora e continuar trabalhando para a inauguração na segunda-feira.

– Não se preocupe com isso, meu amor. Tarsila, Ricardo e Amadeu estão tomando conta de tudo. Então se ocupe apenas em ficar inteiro. Sei que sou a responsável por isso, mas quero deletar tudo isso, pois faz parte de um passado que não está me movendo para frente e nem contribuindo para a saúde do nosso casamento.

Terminaram de se alimentar quando os ponteiros do relógio marcavam sete horas. A esposa pensava no que poderia fazer para mudar o quadro clínico do marido, entretanto, sabia que nada podia fazer. O melhor era pensar, desejar e se organizar dali para a frente. Pela segunda vez, num gesto impensado, quase leva o seu amor para o cemitério.

Sentou-se com ele no sofá, se mantendo em silêncio que, posteriormente, foi quebrado por uma pergunta que pegou o marido de surpresa. “- Márcio, você acha poderíamos ficar grávidos”, inquiriu a empresária.

– Não acho que o momento seja o apropriado! Claro que desejo muito ter um filho contigo, fortalecendo os nossos laços familiares, mas me entenda bem: você precisa se equilibrar. O teu passado de violência sexual ainda está muito presente dentro de ti e não sei se consegue agora gestar uma criança. Vamos aguardar mais um tempo.

– Quanto?

“- Sei lá! Uns dois ou três meses e ver como o seu acompanhamento psicológico esteja progredindo ou se está conseguindo te manter em harmonia contigo mesmo”, explicou o marido.

O editor fez uma pausa e depois completou: “- Temos que solidificar o nosso relacionamento. Não podemos oscilar tanto assim e uma criança surgir entre nós da maneira como nos encontramos pode ser uma tragédia. Não quero filho para justificarmos a nossa união. O bebê deve ser uma consequência desse nosso encontro”, externou Márcio.

“- Você está certo meu amor”, respondeu Angélica que, atendendo a um aceno dele, se juntou a ele no mesmo sofá. A esposa o sentiu ainda meio fraco, convalescendo das duas noites de bebedeira. “- Márcio o que pretendia fazer naquele quarto de hotel? Beber até morrer ou misturar os remédios com o álcool e sair por aqui feito um doido e dar cabo à sua vida”, perguntou a empresária.

“- Como eu já lhe disse, não sei viver sem ti do meu lado, do seu amor, enfim, quando me disse que eu não te amava e estava apenas com dó de você, entendi que tu não estavas enxergando a minha paixão e tudo o que eu dissesse, não seria ouvido”, respondeu o editor olhando fixamente para a sua acompanhante.

– Olha não vou ficar apontando culpados, até porque não resolveria nada. Apenas quero que entendas que não há como eu deixar de te amar e sempre que eu tenha que revelar meu passado para alguém desconhecido, entro em parafuso. Portanto, quando acontecer isso tenha paciência e não tome decisões precipitadas. Olha só como tu estais e o que poderia ter feito se eu não chego logo naquele hotel.

“- Como sabia que eu estava hospedado lá”, perguntou o marido.

– No dia anterior sai pela cidade para tentar te achar, já que minha mãe disse que não moveria um centímetro para me ajudar a te localizar. Quando fui abastecer num posto de combustível, te vi entrando e saindo da loja de conveniência com umas sacolas com bebida. Em silêncio te segui à distância e soube o local quando você entrou no hotel.

Sem dizer nada, o esposo puxou a esposa para um abraço mais apertado e lhe beijando a testa afirmou: “- Nunca duvide do amor que eu lhe tenho. Não quero te deixar; não desejo que seja outra pessoa, pois foi essa mulher que está aqui comigo que fez meu coração bater mais serenamente e é com ela que pretendo seguir em frente”, disse Márcio, beijando a esposa que correspondeu afetuosamente o beijo recebido do editor.

O casal se deixou ficar ali em silêncio, no afã de que a quietude do apartamento pudesse dizer muito mais aos dois do que o coração de cada um desejava falar ao outro. Claro que a alma de Angélica solicitava de seu veículo material uma maior serenidade para poder vivenciar aquele amor que prometia, quiçá as tempestades que já se abateram sobre o casamento, ser longevo.

Em virtude do movimento que os corpos fizeram no sofá, tanto a empresária quanto seu marido acabaram adormecendo por cerca de uma hora e meia sendo despertados pelo barulho da porta do elevador sendo aberta e do seu interior saíram Eleanora e Alexandre. A mãe de Angélica pediu para o namorado aguardar ali que verificaria se a filha não estava sem roupas ou coisa parecida, já que chegaram sem avisar. Ao ver as condições físicas do editor, o general teve noção clara do que Angélica significava para o esposo e por isso segurava todas as situações complicadas dela por conta dos estupros que ela sofreu na adolescência. Naquele momento, o militar entendeu que nunca mais deveria tocar naquele assunto e presumiu que ninguém, além dos integrantes da família sabiam, nem mesmo Roberto e Fernanda que eram amicíssimos do editor.

“- Mãe! O que a senhora faz aqui e ainda com o general”, perguntou Angélica a Eleanora.

– Viemos para ver como as coisas estão entre os dois. Sei que o seu marido tentou tirar a vida por mais uma desavença entre vocês e desta vez entendo a minha parcela de culpa.

– Eleanora! Esqueçamos tudo isso! Acho que o mais importante é daqui para a frente. Minha esposa tem um problema complicado com o seu passado e que se ficarmos, por qualquer motivo, revivendo isso, ficará mais difícil a convivência entre todos nós e ela é a que mais sofre e eu, sinceramente, não quero vê-la sofrer por algo que não tem culpa alguma. Ela foi a única prejudicada nisso tudo, então gostaria do fundo do meu coração que vocês dois poupassem nosso casamento dessa coisa toda. Angélica está fazendo terapia e se não abrirmos as portas do futuro para que possa deixar o passado em seu devido lugar, eu e ela, vamos nos afundar. Espero que o general entenda o que estou tentando dizer.

– Compreendo sim Márcio e só aceitei vir até com Eleanora para pedir minhas sinceras desculpas. Fui egoísta, já que só pensei em meus valores, sem entender que isso poderia agredir outras pessoas que aprendi a amar desde o dia em que as conheci.

Quando Alexandre fez menção de sair do apartamento, foi contido pela namorada que só fez um gesto sem lhe dizer nada e sinalizou para a filha que desejava conversar com ela a sós. Angélica deixou Márcio sozinho no sofá e foi com ela até o seu quarto.

“- Filha que posso fazer para desfazer esse mal-entendido. Senti uma certa rispidez na voz do Márcio quando falou com o Alexandre”, confessou a mãe.

– Também pudera né mãe! A senhora conta algo que é sobre a minha intimidade, mas o faz sem me consultar. Márcio tem o maior cuidado para não revelar nada à família dele e também aos amigos e a senhora só pensando em si, como fazia das outras vezes, fala disso com o general.

“- Eu sei disso tudo filha. Cheguei a pensar em colocar um fim no meu namoro por entender que ainda sou imatura e agi como aquela mulher que foi casada com o seu pai”, confessou Eleanora.

– Tudo bem mãe! Vamos deixar esse assunto de lado. Depois converso com o Márcio e peço a ele que seja mais amável com o seu general. Tenho certeza de que ele entenderá. Você sabe como ele me ama e a menor possibilidade deu sair da vida dele, perde o chão e eu ficaria também se fosse o contrário.

Eleanora, chorando abraça a filha, pedindo perdão por, novamente, quase ter colocado um fim ao relacionamento dela com Márcio. “- A pessoa que está fazendo a sua vida fazer sentido para ti mesmo e eu com minha insensatez não percebi as consequências de um ato impensado meu”.

– Já disse que está tudo bem mãe. Agora pare de chorar e recorde-se que temos uma editora para inaugurar na segunda-feira e Márcio precisa estar inteiro. Então vamos deixar tudo isso para quem sabe o dia do nunca.

Enquanto no quarto mãe e filha procuravam se entender, na sala, entre Alexandre e Márcio havia um silêncio sepulcral quebrado pelo general que sem saber ao certo o que dizer voltou a se desculpar, ouvindo um gélido “tudo bem” emitido pelo editor. “- Será que poderemos continuar a série de entrevistas para o livro”, perguntou o militar de uma forma que nem de longe lembrava aquele homem que lutou para chegar aos altos postos de comando do Exército brasileiro.

– General, assim que a editora for inaugurada, daremos sequência aos nossos projetos, incluindo a fundação que irás presidir e ainda tem aquele seu amigo coronel que nos auxiliará na execução de vários projetos que temos em mente para colocar em prática. O restante, penso que tu deves seguir em frente e fazer Eleanora feliz.

Depois de ouvir de Márcio, Alexandre se sentiu mais relaxado, como quem tira das escotas uma tonelada de culpas, pois acreditava que tudo tinha acontecido por sua precipitação em querer saber algo tão complicado para o casal. Angélica e a mãe saem abraçadas do quarto e Eleanora apresentava sinais de quem tinha derramado lágrimas, mas ninguém desejou perguntar, já que se ela quisesse falar, diria.

Os dois se despediram do casal anfitrião, seguindo em direção ao restaurante de Alexandre que desejava dar mais atenção à sua propriedade, inclusive fazer algumas modificações na organização. Queria discutir isso com seu gerente que também era cozinheiro, além de ouvir a namorada.

Do outro lado da cidade, Ricardo levava a noiva para a faculdade e depois de tudo o que ouviu naquele dia, o melhor a fazer era ficar em silêncio quando o assunto era o novo patrão. “Que família esquisita! Por isso Márcio se encaixou bem nela”, pensou o tecnólogo enquanto observava a futura esposa que parecia estar distante. “- No que está pensando, querida”, perguntou o noivo.

“- Em nada, exceto em nosso amor. Não quero deixar que ninguém e nada interfira no que estamos construindo. Desejo imensamente solidificar uma família contigo, principalmente por não ter uma, então, espero que nada que esteja fora do nosso mundo nos atrapalhe”, disse Fernanda, tentando dissipar o seu pensamento que estava em Márcio. Eram realmente amicíssimos e se o editor viesse a óbito, com certeza arrebentaria Angélica na porrada.

Chegaram à faculdade e sem demoras, a noiva deixou o carro, beijando o noivo, lhe perguntando se a buscaria no final das aulas. Tendo a resposta afirmativa, a gerente se afastou com o pensamento fixo em Márcio. “- Caralho! Por que esse homem não me sai da cabeça”, se perguntou mentalmente, ingressando na sala para a primeira aula da noite.

Ricardo dirigindo a esmo, pensou em encontrar o pessoal com o qual costumava sair antes de conhecer Fernanda, mas sabia que teria que tratar de assuntos dos quais não estaria a fim de dizer qualquer coisa, além de ter prometido para os pais que se dedicaria integralmente à noiva e ao futuro casamento.

Sem saber que para frequentar o local, precisaria fazer reservas, o tecnólogo resolveu parar num barzinho que sempre passava defronte, mas nunca tivera curiosidade de entrar. Naquela noite pensou em conhecer o ambiente, mas ao chegar na porta foi barrado porque não tinha feito reservas, contudo antes de se voltar para ir embora escutou uma voz dizendo que ele estava com o casal.

Ricardo virou-se e viu Angélica e Márcio que estavam logo atrás dele. Os três entraram e foram para a mesa que já havia sido reservada pela empresária. “- Obrigado Angélica. Eu não sabia que precisava fazer reservas para frequentar esse ambiente”, tentou explicar o tecnólogo.

“- Então vai se acostumando. Depois que se casar com a minha gerente, os dois frequentarão locais como esse”, informou a empresária, acrescentando que ela e Márcio fariam questão de estar em companhia dos dois. “- Sim meu caro Ricardo. Daqui para frente, formaremos uma só família e não queremos nenhuma desculpas quanto a ti e sua futura esposa, minha amiga Fernanda, estarem sempre conosco. E como está indo o apartamento? Os móveis já chegaram”, perguntou o editor.

– Devem chegar amanhã. A Fê está toda empolgada e não pode ser por menos.

“- E tu”, perguntou Angélica. “-Fernanda é a pessoa que pode te fazer feliz assim como Marzinho me faz”, completou a empresária.

– Demorei um pouco para perceber certas coisas. Um comportamento machista que não cabe mais no presente, ou pelo menos no relacionamento que tenho com ela. Há o ciúme que pode colocar tudo a perder caso não for dosado. Tenho muito ciúme dela, mas sobretudo em relação ao Márcio, mas em conversas durante esses dias na editora, Tarsila tem me ajudado a ver as coisas sobre um outro prisma.

“- Isso é muito bom para vocês dois”, disse Angélica. “- Eu e o Márcio, bem como ela e o Amadeu somos ciumentos, mas é preciso não repetir as minhas ações. Marzinho é o meu primeiro amor. A primeira pessoa para quem o meu dinheiro não tem a menor importância. Um ser que não me enxerga como um caixa-eletrônico ou apenas um cartão de crédito sem limites de gastos”, verbalizou a empresária.

“- Como é isso Márcio. Ainda não consegui entender essa sua aversão pelo dinheiro”, perguntou Ricardo, externando a sua curiosidade.

– Não é bem aversão ao dinheiro. Ele é uma mercadoria importantíssima para adquirirmos coisas para vivermos na terra, sobretudo alimentos, mas não pessoas. Portanto, a minha esposa é uma mulher maravilhosa que me encanta mesmo se estivéssemos morando numa palafita. Acho que de nós três o que tem mais apego ao dinheiro é Roberto, todavia, o caráter dele é mais forte do que qualquer desejo por riqueza.

“- Isso eu já notei. Em algumas situações ele parece ser mais racional do que os demais”, afirmou Ricardo, percebendo em seguida que disse algo que não devia, contudo, não seria coerente pedir desculpas, coisa que faria somente se Márcio ou Angélica falassem alguma coisa.

– Eu diria Ricardo, que nós três temos doses proporcionais de razão e emoção. Por isso sempre seguramos a bronca do outro até que a tempestade passe.

“- Também já observei isso e em alguns momentos o trio se blinda e ninguém consegue passar do ponto que os três delimitam. Sendo assim, tinha dificuldades em saber quem teria que enfrentar para ficar com Fernanda”, confessou Ricardo esboçando um sorriso.

“- O seu pior adversário é o seu próprio ego, meu caro Ricardo”, disse Márcio, indicando que o seu interlocutor tinha um longo caminho pela frente se pretendesse fazer Fernanda feliz. “- Ela não tinha ninguém por ela. Então eu e o Roberto era tudo o que tinha e agora apareceu você para tornar o mundo dela colorido e mais estrelado, mesmo que a noite esteja em plena tempestade. Então só se ocupe disso: fazê-la feliz. Fernanda não precisa ser exposta como prêmio para ninguém, apenas ser amada. Se fizeres isso, terá do teu lado uma excelente pessoa”, explicou Márcio.

Ao ouvir o marido dizendo tudo isso sobre a amiga, Angélica teve que controlar o seu ciúme, pois sabia que o marido era apaixonadíssimo por ela e não estragaria aquela noite de reconciliação. A empresária se limitou a pressionar a mão de Márcio, dizendo que sentiu a fala dele. Ricardo observou isso também, percebendo que o editor deu um beijo na esposa como resposta ao apertão que levou na mão. Aquela ação da empresária, só aumentou as certezas que Ricardo já tinha, segundo as quais, quando o assunto era o Marzinho, a esposa queria Fernanda longe dele.

O garçom chegou com o cardápio e as bebidas que Márcio e Angélica bebiam sempre que estavam no espaço. Ricardo pediu uma cerveja sem álcool da mesma marca do editor e patrão. Assim que o atendente se afastou, Ricardo disse meio que perguntando: “- Vocês dois parecem estar muito apaixonados um pelo outro”.

– Ricardo! Sem esse homem junto de mim, meu mundo seria uma confusão só. Antes dele aparecer, eu parecia uma barata tonta tentando agradar uma outra pessoa, sem perceber que ela só queria o meu dinheiro, contudo, meu preto aqui surgiu e tudo ficou nos eixos. Mais ou menos, né amor!

“- Alguém que ameaça tirar a roupa num terminal rodoviário, caso eu não voltasse com ela para esta cidade, com certeza Ricardo, merece o mundo e com ele meu coração”, disse Márcio.

Antes que a esposa ou o seu funcionário pudessem dizer alguma coisa, o editor acrescentou: “- Antes deu conhecer essa mulher encantadora, me embriagava até não poder mais com fermentados e destilados, entretanto, depois de nossas primeiras e incessantes brigas e de minha fuga espetacular em que achei que estava isolado do mundo, só de pensar nela, meu universo se enchia de esperança, mas um medo me corroía por dentro e eu só via garrafas e copos cheios, mas ai ela me encontrou, resgatou as minhas esperanças, me amando e me possibilitando a construção de um mundo que se ela não estiver nele não tem graça”.

A declaração feita pelo marido, pegou a esposa de surpresa que se conteve para não agarrar Márcio ali e arrastá-lo para casa, lhe tirar a roupa e fazer amor com ele, como nunca fizera antes. A empresária foi tirada de seu devaneio pelo garçom que entregava os cardápios para que os três escolhessem o que iriam comer. Claro que o esposo não tinha a menor chance de definir o que iria ingerir porque Angélica simplesmente não deixaria, diante do quadro clínico dele.

Antes mesmo de o atendente se afastar o editor pediu carne seca acebolada, perguntando se Ricardo o acompanhava. O noivo de Fernanda ficou sem saber o que responder, mas fez um leve gesto de cabeça afirmando que dividiria o prato. “- Então por favor, meu caro, que não tenha muita gordura”, disse a empresária que fez em seguida o seu pedido. Ela solicitou frango grelhado com legumes.

Enquanto o garçom se afastava, Ricardo fez um breve comentário sobre a declaração que o patrão tinha feito à esposa. “-Sinceramente, Márcio, eu achava que tu gostavas de Angélica, mas não que era uma divinização gigantesca. Venho somando tudo o que tenho escutado e visto nas últimas semanas e estou entendendo o que minha irmã me falou quando te cantou no escritório, sem saber que tu eras a pessoa que fazia os olhos de Angélica brilharem mais do que as estrelas no céu”.

“- Ricardo, posso surtar por algumas questões, mas se eu ficar longe do Marzinho, aí entro em parafuso de vez e ainda mais agora depois dessa declaração. Ele não é perfeito e ainda bem, pois se o fosse seria chato para cacete, mas é um ser apaixonante e cativante, porque eu descubro amá-lo mais a cada dia que passa”, informou Angélica.

O tecnólogo só prestava atenção, ficando perplexo quando Angélica lhe disse esperar que ele amasse Fernanda do jeito que Márcio a amava. “- Olha só! Quando vi sua noiva pela primeira vez, morri de ciúmes porque achava que os dois tinham alguma coisa, mas foi ela quem me passou detalhes deste homem que me leva às estrelas. Márcio nunca iria me dizer o que a Fernanda me informou por ser fechado, restrito e reservadíssimo”.

A empresária completou: “- Sei que tu tens ciúmes dela com o meu marido, como eu também tenho dos dois, mas eles tiveram a chance de ficar juntos antes de nós os conhecermos e não fizeram nada, portanto, sei do carinho que Márcio tem por ela e não é o meu ciúme que mudará esse sentimento entre os dois”.

“- Concordo contigo, Angélica. Sei que fiz observações equivocadas a respeito do Márcio, inclusive sobre a sua sexualidade por pura ignorância minha e uma certa estupidez, mas espero que compreendam que isso era coisa de um Ricardo que não conhecia direito esse lado do universo que é repleto de sensibilidade que todos me apresentam a cada dia”, confessou Ricardo.

“- Então aproveite e faça Fernanda feliz. Ela não precisa de um dono, mas de um amigo, de um companheiro, de um amante que lhe de segurança emocional e cuide dela como eu penso estar cuidando dessa minha dinamite dos olhos esverdeados”, externou o editor.

Assim que Márcio terminou de falar, os pedidos chegaram e enquanto eram servidos, o telefone de Ricardo tocou. Era Fernanda querendo saber onde ele estava e o que fazia. “- Estou jantando com um pessoal”.

“- Espero que não seja aqueles seus amigos bundões e punheteiros. Não desejo dividir você com eles”, informou Fernanda acrescentando que estava com saudades de tudo dele, inclusive do amor que ele lhe tinha.

– Fale com eles. Acho que tu gostarás, pelo menos deles ou dos dois.

“- Alô! Marzinho!!!!”, disse Fernanda aos berros que foram escutados por Angélica e Ricardo.

– Estamos aqui jantando com seu futuro marido.

“- E como tu estás meu amigo? Estou de olho nessa sua galega. Se ela pretender te matar, que seja apenas de amor”, disse a amiga.

– Fique tranquila Fê! Ela está cuidando bem aqui do seu Marzinho e eu dela.

“- Quem não te conhece não sabe o quanto tu amas essa doida. Outro dia estava recordando quando eu a conheci e a ciumeira dela quando eu e tu conversávamos”, relatou Fernanda.

O que Fernanda não sabia é que Márcio havia colocado o celular no viva- voz para que tanto a esposa quanto o noivo da amiga escutassem a conversa dos dois. “- Olha só Marzinho. Se ela não te fizer feliz, terá que se ver comigo”, disse a amiga. “- E Ricardo! Está te fazendo feliz”, perguntou o editor que recebeu como resposta que o noivo não era perfeito e isso o tornava especial, além de ser um ser humano espetacular. “-Tenho certeza de que seremos muito felizes e eu ganhei um colo de mãe que nunca conheci”.

Márcio se despediu, passando o aparelho para Ricardo que saiu momentaneamente da mesa para terminar a conversa com a noiva, enquanto Angélica o abraçava, o beijando avidamente, indicando o tamanho de sua felicidade com aquela declaração que tinha ouvido momentos antes e depois a conversa dele com Fernanda.

“- Amor! Se tu não tivesses se convalescendo, juro que te comeria a noite inteira”, disse Angélica, beijando e mordendo os lábios do esposo que, antes de explodir num riso lhe disse: “- O pau continua intacto. Posso deixar tua buceta saboreá-lo a noite toda”.

A esposa corou, pois não espera ouvir isso da boca do marido que percebendo ela toda acanhada deu aquela gargalhada que a deixava fora de órbita. “- Desgraçado! Ri assim porque sabe que me deixa toda molhada e aqui não posso fazer nada”.

“- Quem disse”, perguntou o marido.

Angélica ficou pensando e estava tentada a fazer algo, mas ponderou e abandonou o que havia confabulado em questões de segundo. Ricardo voltou e se sentou com o casal novamente e estava diferente, mais leve, solto e com um sorriso nos lábios. Assistindo a cena de transformação que a conversa com Fernanda tinha provocado no noivo de sua gerente, a empresária se levantou e sem dizer nada ao marido foi ao banheiro.

Retornou depois de uns dez minutos e sem dizer nada ao marido, voltou a se sentar, porém chegou o seu assento mais próximo de Márcio e pegando a mão dele que estava em cima da mesa, a levou até a sua coxa. Antes de continuar no movimento, fitou o esposo bem dentro dos olhos, lhe dizendo: “- Márcio, eu te amo loucamente. Sem ti minha vida é um enorme vazio”. Enquanto Ricardo prestava atenção na fala da empresária, esta pegou a mão do marido e a conduziu até o meio de suas pernas.

Ao tocar o sexo da esposa e senti-lo totalmente umedecido, o corpo todo de Márcio estremeceu e, aproveitando que ele estava com a boca meio aberta como quem iria dizer algo, Angélica lhe deu um beijo fazendo um movimento que permitiu Márcio colocar dois dedos dentro da vagina dela que estremeceu, mordicando os lábios do editor.

A cena não passou despercebida de Ricardo que só não conseguiu ver onde estava a mão de Márcio e nunca iria saber. Primeiro porque o patrão não lhe diria e depois porque não lhe dizia respeito. Era o momento dos dois, como se estivessem se reencontrando depois de anos.

“- Ricardo, me desculpe, mas sou tão apaixonada por esse homem que às vezes esqueço que estou em público com ele e não em casa. Temos passados momentos tensos e turbulentos, mas eu o sinto cada vez mais próximo, parecendo que nossas almas se fundirão numa única energia. Não sei se você me entende, mas acho que é isso que Fernanda sente por ti”, disse a empresária.

– Fique sossegada Angélica. Antes de conhecer Fernanda eu achava que tinha amado antes, mas percebi que não sabia o que era amar de fato e de direito e o que é afeto. Tua gerente faz meu mundo girar em sintonia com a nossa união.

Os três seguiram conversando e degustando a comida, enquanto Ricardo ia passando os últimos detalhes de suas atividades visando a inauguração da editora dali a 96 horas. “- Amanhã vou trabalhar. Já estou recuperado e tomando os medicamentos na hora certa, posso ajudá-los nos preparativos finais e dar um descanso para Tarsila. Nesses últimos dias, ela tem se sobrecarregado no trabalho da editora”, explicou Márcio.

A conversa foi boa e quando o jantar chegava ao seu final, Ricardo recebeu ligação da noiva pedindo que fosse buscá-la. Não desejava assistir a última aula. Estava com a cabeça em outro lugar. “- Quer me falar onde estava sua atenção”, perguntou o noivo.

– Não! Apressadinho! Estragará a surpresa. Basta vir me buscar. Beijos. Te amo meu preto!

O tecnólogo se despediu do casal, saindo apressado para se encontrar com Fernanda, enquanto Márcio e Angélica resolveram ficar mais um tempinho no local. Assim que estavam a sós, o editor pegou dois dedos da mão e colocou na boca, fazendo menção de sugá-los.

“- Por que estava fazendo isso amor”, perguntou maliciosamente Angélica.

– Para sentir o gosto de minha deliciosa esposa.

A empresária, que estava com uma das mãos na coxa de Márcio, aproveitou para subi-la até o meio das pernas dele e sentiu como estava excitado. “- Meu deus do céu! Meu homem está mais aceso do que todas as estrelas do firmamento. Acho melhor irmos logo para casa”, sentenciou Angélica.

Depois de pagar a conta, o casal sai abraçado do estabelecimento, enquanto todas as moléculas e células que formavam o corpo de Márcio estavam em ebulição e ele mais doido de amor pela esposa, que sentia aumentar a temperatura do corpo do marido, a deixando mais segura ainda, tendo certeza de que ele nunca a deixaria.

Já dentro do automóvel, Angélica partiu para cima do marido, dizendo que estava completamente em brasa. “- Te quero todinho dentro de mim hoje, meu amor, minha vida, minha paixão. Te amo com louvor, com devoção e com tudo o que meu coração e meu ser tem direito. Você promete Marzinho que não me deixará”, perguntou a empresária.

– Te deixar por que e para quê? Sou completamente seu, amor. Se o Sol não existisse, você seria a iluminadora de minha vida. Não há um só dia em que eu não agradeça ao Senhor da Vida por tê-la colocado em meu caminho.

Beijando loucamente o esposo, Angélica lhe perguntou novamente porque pretendia tirar a vida naquele quarto de hotel. “- Porque sou um idiota. Porque ao invés de lutar pelo seu amor, optei por me esconder, feito um moleque medroso. Mas novamente você me resgatou dos meus infortúnios, me fazendo crescer mais um pouquinho para te fazer feliz, independentemente de qual tempestade estivermos enfrentando”, respondeu o marido todo feliz.

Ao ouvir o esposo dizer isso, Angélica desceu do colo dele, ajustando o vestido-bata verde e acelerando o automóvel em direção à residência. Tinha pressa em comer Márcio, que sussurrou no ouvido dela que tinha ficado linda com aquele modelito e ele novamente foi o presenteado com a calcinha dela. “- Vou guardá-la comigo, como aquela que me deu na sorveteria enquanto voltávamos para cá e eu para os seus braços e sua cama, minha paixão”.

Angélica ficou toda arrepiada, passando a mão direita sobre o pênis do marido, dizendo a ele que era para se manter firme na posição. “- Quero comê-lo como sobremesa desta bela noite. Te amo muito, meu Marzinho”. O esposo, respondendo ao pedido dela, passou a mão no meio das pernas dela e depois colocou os dedos na boca para delírio da alma de Angélica que só faltou entrar em erupção.

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