Tempos sombrios no mundo da política

Gilberto Barbosa dos Santos

 

Aqui e alhures, o cidadão, repleto de cidadania, se pergunta para onde os ventos políticos levarão a cidade, o Estado, o Brasil e a sociedade como um todo? Na dupla condição de cientista social e indivíduo socialmente preocupado com o existir humano, busco compreender, não os sopros ideológicos – se é possível definir isso no âmbito brasileiro –, mas também partidários, a partir do presente, mas sim do recente passado nacional, isto é, o país que ressurge das cinzas oriundas de várias décadas de diversas ditaduras, não somente a mais recente, qual seja, a dos coturnos, mas também as sucessivas que marcaram a história da nossa República.

Os caminhos que supostamente me levam a uma resposta, minimamente satisfatória, podem ser iniciados pela Capital Federal – Brasília -, pela sede do governo paulista ou através da busca de uma consciência política do eleitorado local. De qualquer forma, independentemente do atalho que será adotado, todos os percursos, como dizia Guimarães Rosa, nos levará à venda, ou seja, ao pleito de Outubro deste ano, quando os moradores das mais de cinco mil cidades brasileiras escolherão seus representantes nas chefias dos Executivos e dos Legislativos. Sendo assim, cremos que o processo deva ser iniciado pelo local com respingos pelo Estadual e depois o Federal. Desta maneira, comecemos a nossa jornada, meus caros leitores.

De um lado, temos o atual alcaide, desejoso de continuar prefeito por mais quatro anos, quiçá a crise que a sua gestão enfrenta, seja no âmbito financeiro ou no quesito confiabilidade populacional, tendo em vista que este foi eleito com 36% dos votos válidos e há quem acredite que nos três anos e meio que está à frente do Executivo local, não conseguiu reduzir a rejeição que lhe fora imposta pelas urnas no último pleito, ou seja, 64% dos eleitores não o queriam, mas venceu a peleja pelas regras do jogo. Até ai nada demais, pois não tem o que se questionar, mas apenas analisar os fatos, conforme venho fazendo desde então, isto é, apontando que os índices de não aceitação não foram reduzidos e, somando-se a isso, há sentença transitada em julgado de órgão colegiado que pode torná-lo inelegível, conforme determina a Lei 64/90, a chamada “Lei da Inelegibilidade” – é preciso acrescentar que o dado não consta de especulação deste articulista como muitos desejam fazer crer aos leitores das linhas que confecciono semanalmente, mas fruto do que a letra fria da lei prevê.

Esse é um quadro, recheado pela tentativa de se tornar o salvador da pátria, ainda mais que muitas empresas se instalaram aqui, usando, quem sabe um exemplo significativo, pois quando há crise, o melhor a fazer é investir para ganhar lá na frente, ainda mais se dispuser de capital que possibilite a colocação desta visão econômica em prática. Desta forma, todo empresário de sucesso sabe que, para manter-se na crista da onda, é preciso vislumbrar e produzir um futuro melhor, pois se ficar vendo fantasmas e somente crise naufragará com eles nos mares bravios da seara capitalista. Se esse é o quadro, por outro lado, há que se compreender que em política tudo se faz para aparecer na proa do navio eleitoral e colocar-se na condição de timoneiro para os eleitores, principalmente aqueles que têm dificuldades de fazer o que o sociólogo alemão Max Weber chama de “conexão de sentido”, ou seja, de compreender o processo como um todo e não apenas uma pequena parte dele e tomar essa observação como verdade universal.

Ao recorrer a Weber consigo, a partir de um procedimento metodológico que ele usa e designado como tipos-ideais, entender o posicionamento não só do atual mandatário, mas também do que ele define como seu principal adversário em Outubro – caso a Justiça Eleitoral nas três instâncias, incluindo o TRE e o TSE lhes conceda o registro de candidatura -, ou seja, o seu pupilo – o que me faz recorrer ao romance Dr. Frankenstein cujo final é apoteótico -, e também ex-presidente da Câmara que configurará como candidato a prefeito logo após a convenção do PSD sufragá-lo como tal, tendo como postulante a vice-prefeito, o peemedebista Carlos Alberto Feltrin que pode conquistar o posto com as bênçãos do petista e ex-prefeito João Luís dos Santos e do procurador-jurídico da Câmara, Marcio Reis – ambos, ao que se diz à boca pequena, serão coordenadores da campanha – mas ai a história é outra e tratarei disso noutro momento.

Bom! Pelos lados palacianos a peleja na terra de Maria Chica está definida, ou seja, o padrinho e o ex-afilhado se engalfinhando pelo mesmo nicho de votos, levando em conta as observações que fiz acima, ou seja, o percentual de rejeição que o atual prefeito tem e isso vai contar bastante no momento do eleitorado dizer sim – claro se o registro for confirmado pela Justiça Eleitoral. É preciso atentar para os problemas que o atual mandatário tem com a Justiça por conta das esmeraldinas – voltarei a esse tópico em momento alvissareiro. Contudo, se por um lado, temos essa disputa ferrenha, por outro, há postulantes que estão tocando seu barquinho partidário na miúda – como se diz no jargão popular. E isso pode ser visto a partir do momento em que criatura e criador se debatem através de verborragias desenfreadas, pois quem deve sentenciar eleitoralmente é o povo e não os pretensos postulantes. Enquanto isso PV e PSB vão erguendo suas moradas edificadas em propostas de governo e não em projetos de poder escudados em desejos megalomaníacos de se dizer que se fez e fará mais, quando se sabe dos grandes fiascos administrativos, conforme ações que se movimentam na Justiça local e posicionamentos equivocados no Legislativo.

Se a guerra local é fratricida, imaginemos meus caros leitores, como é a peleja no Estado mais rico da Nação? É importante compreender isso, pois aqui tem político que gosta de propalar, e estampar em qualquer muro informações que se falou com fulano, beltrano e sicrano para se que faça isso e aquilo, como se este fosse possuidor da verdade universal ou da varinha mágica. Mas é compreensível, pois em tempos eleitorais, a tonalidade discursiva tende a aumentar, porém, as consequências podem ser observadas já em Karl Marx, quando este afirma que a História se repete: uma vez como farsa e outra como tragédia. Resta saber o que virá em primeiro lugar em nossa linda paragem mariachiquense. Contudo, um espectro se avizinha, caso a tragédia se sobreponha à farsa, pois as consequências da segunda podem ser facilmente diluídas através da letra fria da lei, mas caso a primeira chegue antes, os desdobramentos serão nefastos para o futuro deste orbe. No entanto, a decisão não cabe aos agentes que se colocam em tais posições, mas sim ao eleitorado que não pode, em hipótese alguma, se esconder atrás do voto nulo, branco ou deixar de opinar – escolhendo quem sabe o pagamento da multa cujo valor poderá auxiliar na concretização da farsa ou da tragédia, conforme Marx aponta ao analisar Luiz Bonaparte na França Oitocentista. Entretanto, não estamos no século XIX e nem na terra de Honoré de Balzac e sim numa cidade, cujos moradores desejam vê-la torna-se um local em que as gerações futuras possam concretizar seus anseios do presente, mas para tanto, ressalta-se, faz-se necessário compreender que o momento político é sombrio, cuja rota deve ser modificada a partir de escolhas racionais e não por meio de apelos emocionais como ocorrera outrora. Outro dia tratarei dos espectros que rondam Brasília e a sede do governo paulista.

 

Gilberto Barbosa dos Santos, sociólogo, professor no ensino superior e médio em Penápolis. Pesquisador do Grupo Pensamento Conservador – UNESP e membro do Conselho Editorial e Científico da revista LEVS-UNESP. Escreve às quintas-feiras neste espaço: www.criticapontual.com.br. E-mail: gilbertobarsantos@bol.com.br, gilcriticapontual@gmail.com, e social@criticapontual.com.br

 

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