Sobras de um amor … parte III

4.

 

         Márcio e Angélica acordaram novamente com barulhos dentro do apartamento. Era Amadeu que, ansioso queria reencontrar a mãe e sentir o seu afago e, finalmente apresentar a esposa à Eleanora. “- Calma, meu amor. Sua irmã e o marido já vão acordar. E aí logo, logo estaremos na mansão. Fique tranquilo eu e sua mãe vamos nos entender muito bem”.

– Obrigado amor! Sou gratíssimo por você ter me devolvido a vida e agora presenteará a nossa luz com o sol que está sendo gestado em seu ventre. Nosso filho. Não haverá meu ou seu, mas de nós dois.

– Não vai estragá-lo com tanto mimo. Quero que seja forte para enfrentar as agruras da vida.

Ao acabar dizer, Tarsila e Amadeu que estavam sentados no sofá enquanto o poeta analisava a barriga da esposa, cruzaram seus olhares com a de Angélica que ficou maravilhada com o que viu. “- Esperem aí um pouquinho. Ligarei para a mamãe e todos tomaremos café com ela na mansão”.

Antes de ir para o chuveiro, a empresária falou com Eleanora. “- Mãe! Vocês já tomaram café”, inquiriu a arquiteta. “- Ainda não filha. O pessoal do Márcio está começando a acordar agora. Por quê?”

– É que eu e o Marzinho vamos tomar café com vocês. Esperem uma meia-hora que já chegaremos. É só o tempo de trazer o meu marido a vida. Ele demora para deixar o mundo do sono.

– Está bem filhota. Ficamos no aguardo.

Assim que Eleanora desligou, Judith chegou perto e disse que dentro de uma hora no máximo todos podiam tomar café.

– Minha amiga, o que está pensando em fazer de almoço para esse pessoal todo? Tu sabes que virá mais gente do que imaginávamos. Daqui a pouco chega o Marzinho com a dinamite dele; depois a Fernanda com o quase noivo que é o irmão de Débora e os pais dele e tu sabe que Roberto e Danisa podem pintar por aqui.

– Você se esqueceu do Lê.

As duas senhoras deram risadas. “- Acho melhor fazermos um churrasco à beira da piscina e assim vamos até a noite, pois amanhã seu filho e a minha dinamite dos olhos verdes partem para a lua de mel que tanto precisam”, explicou Eleanora puxando a amiga para preparem o café da manhã. Do nada, ela revela: “- Convidei o Lê para tomar café com a gente. Ele deve estar estourando por aí”.

– Fico feliz por ti, minha amiga.

Já que o almoço seria perto da piscina, a matriarca dos Oliveiras resolveu que o café da manhã seria lá também e rapidamente tudo foi deslocado para o ambiente externo da mansão. Quando estava pronto, cada um foi chegando. O primeiro a dar as caras foi Rogério que cumprimentou a todos, abraçando a esposa dizendo que a procurou na cama e ela havia sumido. “- Claro né! Temos um monte de coisas para fazer hoje e se fico lá esquentando o seu corpo, tudo se atrasa. Anda vai lá acordar seus filhos e trazer Mariana para cá junto de nós”.

Em seguida o celular de Eleanora toca. Era Alexandre dizendo que estava estacionando na frente da mansão. Ela autorizou os seguranças a abrir o portão e o oficial ingressou no imóvel. Ao deixar o automóvel, foi recepcionado pela anfitriã com um beijo no rosto, bem próximo da boca. “-Amor”, disse Lê, “seus filhos não farão objeção a nós dois”, perguntou o comerciante.

– Bom! Meu filho não está no Brasil. Ele deve chegar dentro de uma ou duas semanas e creio que, pela sua alma, você será muito bem-vindo. Minha nora é que pode ficar meio reticente, mas Angélica que chega daqui a pouco e o marido dela, tenho certeza que te aceitarão normalmente”, informou Eleanora.

Assim que a anfitriã termina de informar Alexandre, objetivando tranquilizá-lo, entra no pátio o carro de Angélica seguido pelo que era de Rosângela, porém, conduzido por Tarsila. Quem via o cenário de fora do contexto físico achava muito interessante. No primeiro automóvel, a Rainha Branca ao volante, tendo como carona o Rei Preto e no segundo veículo, a Rainha Preta no volante e o Rei Branco no banco do passageiro.

Quando viu o filho, Eleanora esqueceu-se do mundo e andou rapidamente para abraçar Amadeu que quase foi arrancado de dentro do carro pela matriarca. “- Nossa que surpresa maravilhosa. Chegou agora a pouco da Alemanha, meu filhote”, inquiriu toda chorosa a mãe.

Tarsila desce do carro e vai em direção à sogra que deixa o filho e dá um abraço bem firme, chamando-a de filha. “- Meu amor, me perdoe. Sei que minha ignorância fez você e o Amadeu sofrerem muito. Permita-me refazer dos meus equívocos. Precisei levar umas pancadas desse jornalista ali para entender que a tonalidade da pele, dinheiro não são as coisas mais importantes no mundo. Posso contar com o seu perdão”, perguntou ansiosa a anfitriã.

– Dona Eleanora! Nunca convivi com a senhora, então, não posso dizer aqui que a perdoei ou não. Da mesma forma como me solicitou o perdão, eu lhe peço que me deixe amá-la pelo que és como pessoa. Desta forma, durante a nossa convivência é que podemos dizer ou vivenciar esse perdão. O que posso lhe dizer é que vou amar o seu filho até o fim. É uma pessoa maravilhosa. Um ser para lá de especial. E lendo as cartas que me escrevia sem saber onde eu estava, compreendi o quanto fui covarde em não enfrentar tudo para fazê-lo feliz. Penso que o mais importante é todos nós sermos felizes do jeito que somos. Sou grato pela sua acolhida e seu neto que está aqui dentro já sente a receptividade”.

Todos escutaram o diálogo das duas, evidenciando que não haveria necessidade de mistérios ou meias palavras entre eles todos. Tudo deveria tratado de forma serena entre eles, sem que ninguém de fora precisasse saber. “- Obrigada filha por fazer o meu Amadeu feliz e também por me permitir experimentar esse amor que nutres por ele”.

Angélica, segurando a mão de Márcio, olhou para os lados da casa e viu Rogério, Judith e Esdras que vinham ao encontro do irmão, mas voltou a sua atenção para a mãe que desejava saber quando o filho chegou. “- Dona Eleanora, chegamos na madrugada de quinta-feira, mas Angélica queria fazer-lhe essa surpresa. Acho que todos sabiam, mas seguiram à risca o pedido dela”, informou Tarsila. Após ouvir as explicações, a anfitriã apresentou a nora à mãe de Marzinho e ao pai, bem como os irmãos. Logo depois apareceu Leônidas e Marina.

Alexandre foi o último a ser apresentado a todos, mas neste momento a situação estranha, pois a matriarca não sabia como apresentá-lo. “- Bom! Esse aqui é o…” Quando ela pensou em dizer algo, Amadeu arrebentou tudo e entre gargalhadas disse: “É o seu namorado!”

– Como é o seu nome mesmo?

– Alexandre, mas acho que namorado é muito forte. Eu e sua mãe estamos nos conhecendo ainda.

“- E daí? O senhor acha que ela é alguma adolescente que precisa da aprovação minha e de meu irmão para estar com o senhor”, perguntou Angélica. “- Agora se a fizer infeliz! Cuidado! Olha o batalhão de amigos que o senhor, que é militar da reserva, enfrentará”, sentenciou a arquiteta.

Após essa apresentação, Alexandre ficou mais leve, sorridente, podendo relaxar a musculatura e estar sempre do lado de Eleanora. Todos se sentaram à mesa e tomaram o café e o centro das atenções foi Amadeu que conversava sem parar com Rogério, o pai do amigo mosquito e o namorado da mãe, o Lê.

Ao término da comensalidade matinal, Tarsila foi acomodar a bagagem e conversar a sós com a sogra. Tinham muitas coisas para acertarem e o assunto dizia respeito a elas duas e a mais ninguém.

Já no quarto que seria organizado para o casal, foi Eleanora quem começou a conversa. “- Minha filha, quero que fique aqui na mansão durante a gravidez e depois que a criança nascer vocês três irão para a casa que escolherem. Ficarei mais sossegada tendo os aqui, onde será bem acompanhada. Na segunda ou na terça-feira vamos ao médico para saber se está tudo certo com essa gravidez.

A esposa de Amadeu permaneceu em silêncio, enquanto a sogra lhe falava. “- Aconteceram muitas coisas desde que o Márcio conseguiu trazer Amadeu para nós. No começo eu o ofendi e não houve revide. Jô faleceu e eu vendo que tinha feito muita coisa errada, pedi perdão ao amor de Angélica. Sei que os meus atos para com vocês não são fáceis de perdoar, por isso compreendo que não é dá boca para fora que isso acontecerá, mas da boca para dentro. Entendi quando me falou ainda a pouco que precisa de tempo para me amar, me respeitar como a mãe do seu esposo”.

– Dona Eleanora. Estou muito feliz em estar aqui. Como é do seu conhecimento, não tenho pais e minha irmã sumiu lá na Alemanha. De modo que, além do filho que estou gestando, tenho Amadeu e em hipótese alguma quero ficar entre a senhora e ele. De modo que se eu recusasse esse pedido que vem do fundo do seu coração, estaria sendo uma ignorante. Outra coisa, quero que meu filho seja gestado num ambiente harmonioso e eu sou a principal responsável por isso. Ficarei aqui, mas tendo a certeza de que depois do parto, eu, meu filho e meu marido iremos para a nossa casa. Tudo bem para a senhora?

– Sim, minha filha. Penso que se você fosse diferente, com certeza, meu filho não te amaria como o ama. Antes de se encontrar contigo na Alemanha, era Tarsila para cá, minha Rainha de Ébano para lá, quando não, minha Tarsilinha. Obrigado por fazer meu filho feliz. Eu e o pai dele, cegos em nossa estupidez, não soubemos fazer.

Quando sogra e nora deixavam os aposentos que seria do casal a partir daquela noite, Judith estava chegando para conhecer melhor a Rainha do poeta. “- Então é essa moça belíssima que quase tira os sentidos do amigo do meu filho?”

“- É sim Judith”, respondeu a anfitriã.

– Diante de tanta beleza, entendo porque o vate quase enlouquece. Você é mais bela pessoalmente.

– Dona Judith, logo quando conheci seu filho eu o ofendi, porque não sabia direito quem ele era, mas é um grande amigo, patrão e responsável pela minha felicidade. Tenha certeza de que o Marzinho é um enorme oceano e a Angélica se ficar sem ele, acho que ficará como o meu Amadeu estava.

As três saíram abraçadas indo em direção à sala onde Angélica estava, tentando conversar com Marina, mas esta permanecia irredutível, de poucas palavras. “- Olha dona Angélica. Acho tudo isso muito belo, mas gostaria sinceramente de ficar no meu canto. Se me permite, não sou muito de rapapés e se a senhora estiver pensando em induzir a família do Marzinho se mudar para cá, eu serei contra”.

– Mariana! Eu não quero induzir ninguém a fazer nada. A minha ação, de minha mãe e de meu marido é tão somente a de proporcionar uma integração maior entre todos. Se nos mantivermos unidos pelo amor que nutrimos um pelo outro, com certeza, todos serão beneficiados. E para ti vir morar aqui em nossa cidade, primeiro, tem que haver o convite e isso não foi feito por ninguém que eu saiba. Judith ficou aqui a pedido de Marzinho, devendo voltar amanhã para a cidade de vocês.

A cunhada de Angélica ficou em silêncio. “- Não precisa ter inveja do meu marido ou de quem quer que seja. Márcio é uma pessoa maravilhosa. Tem um gênio forte, mas é um ótimo homem como tenho certeza de que Leônidas também o é. Então porque não relaxa e aproveita para curtir e darmos bastante risadas. Essa mansão já teve dias de muita escuridão, mas ela se dissipou desde que Márcio e vocês todos entraram em nossas vidas”.

Assim que Angélica ia saindo, Mariana a chamou e pediu desculpas pela impertinência dela. “- O que é isso, cunhada. Amo o Marzinho por me levar ao céu e ter encontrado todos vocês. Cada um com suas qualidades e manias. Vem aqui, me dá um abraço. Você trouxe biquíni? Então chamarei a mulherada e vamos para a piscina. Daqui a pouco chegará mais gente e será aquela coisa linda o dia todo”.

Angélica e Mariana foram ao quarto e quando a esposa de Marzinho viu o biquíni da cunhada, afirmou que daria um para ela de presente. Abriu um dos armários e tirou vários e pediu para ela escolher. As duas saíram prontas para a piscina e Leônidas se aproximou da esposa para chamar a atenção, mas foi contido pela mãe.

– Teu lugar não é aqui. Vai lá ficar com os homens. Tua mulher está linda dentro desse biquíni. Daqui a pouco a barriga cresce e não poderá usar. Então deixe de ser careta. Fala horrores da caretice do seu irmão, mas é igual a ele. Bastou tua mulher vestir algo diferente para cair a máscara.

Todas riram e quando caminhavam para a piscina, chegou Débora e Ricardo. Todos queriam saber de Fernanda. “- Quem disse que aquele general do Roberto deixou eu trazê-la. Ela está, desde ontem, na casa da Danisa. Vocês realmente formam uma fortaleza e quem quiser passar terá que saber muito bem como fazer”, explicou o namorado de Fê.

Quando Esdras viu a namorada, deu-lhe aquela olhada que Angélica já sabia e puxou a secretária para um lado perguntando se tinha levado o biquíni. “- Trouxe sim senhora”, informou a funcionária. “- Então vai lá colocá-lo e todos para a piscina. Onde estão seus pais”, perguntou a arquiteta.

– Estão dentro da casa conversando com os pais do Esdras. Pareciam um bando de sargentões. Cruzes. Tudo porque o meu namorado queria passar uma noite comigo no apartamento do irmão.

– Se isso está acontecendo é porque tu estás no caminho certo e sua felicidade é uma questão de tempo. Não foi você mesma quem disse que só iria pensar nisso depois de formada? Então!?

Foram abraçadas para o cômodo para trocarem a roupa, enquanto Romualdo conversava com Rogério. Foi o primeiro quem disse que a atitude foi acertada. “- Sou grato por estar aqui conversando contigo sobre o futuro de nossos filhos. Embora muitos dizem que isso é coisa ultrapassada, entendo diferente e meus filhos tem que seguir essa cartilha. Depois que se casarem e construírem a vida deles, aí são as regras deles”, informou Romualdo.

– Não tenho filhas, mas três filhos, contudo tenho certeza de que se tivesse uma filha, não desejaria que nenhum homem atravessasse as linhas da decência com ela. E não gostei do que Esdras fez, justamente porque não tem trabalho, nem tem uma vida para trocar com ela. Sim. É preciso que cada um tenha a sua para dividir no dia-a-dia.

– Mas Débora me disse que eles se gostam bastante. O senhor não acha que isso é o suficiente?

“- Não! Não basta gostar. É preciso responsabilidade para se viver esse gostar que não pode ficar fechado à esfera do físico. Quero que Esdras seja homem, porém não só com a cabeça de baixo, mas que sobretudo, use a de cima. Não sei se o senhor me compreende”, perguntou Rogério.

– E o que o senhor propõe?

– Amanhã levarei meu filho embora e darei a ele uma semana para se decidir o que quer fazer. Se desejar ficar com a sua filha, terá que ser mais responsável. Trabalhar, voltar a estudar. Eu já propus a ele para vir comigo me ajudar a administrar meus supermercados. Mas sempre se recusou e a mãe o acobertava. Mas para não viver uma situação conflituosa dentro de casa, fazia vistas grossas, porém agora preciso indicar o caminho que ele tem que tomar.

– Acho que o senhor está correto. Débora está concluindo o curso superior e parece que as coisas estão bem encaminhadas para ela na empresa de dona Angélica que é esposa de seu outro filho. Então eu entendi que qualquer desavença entre minha filha e o Esdras, acabará respingando em todos. Meu filho, por exemplo, caiu de encantos por aquela doida da Fernanda. É amicíssima do Márcio e eu já assisti tanto quebra-paus entre os dois. Ricardo é ciumento e por isso eu propus que ficassem noivo para ver se arrefece um pouco isso tudo.

Dando risadas, Rogério disse. “- Se ele relar um dedo nela, que não seja em forma de amor, vai enfrentar cinco homens”.

– Isso se sobrar alguma coisa dele para vocês. Homem não precisa bater na mulher. Existe o diálogo e, se não conseguirem se entender, melhor cada um ir para um lado.

A conversa entre Judith e Adélia, mãe de Débora, seguiu o mesmo caminho da que ocorreu entre os homens. Meia hora depois o diálogo era entre os dois casais, tendo Esdras e Débora como protagonistas. O irmão de Márcio concordou plenamente com o que o pai havia dito e sabia que tinha que ser daquele jeito, caso desejasse ficar com Débora.

Após a conversa em que todos colocaram seus pontos de vista, inclusive os mais interessados. “- Senhor Rogério, não vou dizer ao senhor que o que sinto pelo seu filho seja amor. Eu seria leviana se disse isso, contudo, sempre que estou com ele, me sinto completamente leve. Então espero que essa paz se transforme em amor. Também sei que ele não sabe o que fazer da vida, porém, espero que a partir de hoje, se quiser continuar comigo me dando serenidade, terá que ter uma vida para me oferecer. Não quero dinheiro, mas alguém com quem possa lutar e conquistá-lo. Agora se ele não quiser isso, respeitarei sua opinião, mas não seguirei do lado dele”, finalizou a secretária de Angélica.

Era isso que Rogério queria ouvir da filha de Romualdo. Ela colocou a corda no pescoço do filho e mostrou o que desejava ter com ele: não uma noite apenas, mas compartilhar uma vida. Todos se deram por satisfeitos e foram despertados pelo chamado de Angélica para confraternizarem na piscina. Lógico que a esposa de Marzinho estava com o corpo coberto por uma saída de banho. Imagina que ele a deixaria zanzando de biquíni para todos os lugares da mansão.

“- Angélica. Por que está com essa saída de banho? Aqui é tua casa, não precisa”, disse Débora.

“- Vai dizer isso para o meu marido! Eu fico mais doida ainda quando ele tem esses pequenos ataques de ciúmes. Eu finjo que aceito, mas depois vem a fatura”, disse a arquiteta à sua secretária.

Quando todos estavam na piscina, chegou Roberto, Danisa e Fernanda. Roberto já colou nela e perguntou o que aconteceu para demorar tanto. A namorada mandou ele tomar no cu. “-Ao invés de me beijar, já vem com cobrança. Eu não estava em lugar algum, mas na casa de meus amigos que já o eram antes de tu entrar na minha vida. Ou você muda, ou pode enfiar essas alianças no cu. Não vou por porra nenhuma no dedo com essa sua marcação”.

Roberto e Márcio escutaram a conversa e caíram na risada. O editor foi o primeiro a lhe falar. “- Meu caro Ricardo, só jogue pedra em marimbondos se tiveres pernas para correr. Do contrário, melhor ficar quieto. Minha amiga te ama, mas desgruda dela. Hoje é festa e vocês anunciarão o noivado. O almoço é para resolver a parada da tua irmã. Fique calmo. Depois eu converso com ela”.

Automaticamente, os homens se fecharam no mundo deles e as mulheres no dela. Eleanora não sabia se ficava com elas ou dava atenção para Alexandre. Este também não sabia onde ficar, mas Márcio foi em socorro a ele. “- Senhor, não sei tu sabes, mas esse cara, meu grande amigo, será pai dum bebê do sexo masculino”.

– Eu sei. Ele foi comemorar no meu restaurante.

– O que o senhor não sabe é quem escolheu o nome da futura criança e o motivo.

Quando Márcio percebeu o interesse dele, chamou Eleanora e Angélica para explicar, mas para que Roberto não soubesse, o militar e o jornalista foram em direção às duas. “- Angélica explique ao namorado de sua mãe o nome do filho de Roberto e o motivo”.

– Senhor Alexandre, o afilhado do meu marido terá o mesmo nome que o seu. E eu fiz isso porque vi os olhos de minha mãe brilharem quando olhava para ti.

O mais novo membro da trupe ficou muito feliz, voltando com Márcio para juntos dos homens. Neste momento, Angélica chamou Débora e berrou para que todos prestassem atenção. “- Senhores! Essa moça aqui, que acaba de passar por uma prova de fogo, é minha secretária e minha amiga e já conclui vários trabalhos meus e está finalizando o projeto da editora do meu marido. Excelente. Ela escolheu o imóvel para que o empreendimento funcione de acordo com as exigências do Marzinho. Agora, ela fez isso por ser competente e por ter recebido de presente, cinco por cento das ações que eu comprei daquela sócia que eu expulsei a amiga dela da minha festa de casamento”.

Débora não conseguiu segurar as lágrimas e foi amparada pela mãe. “- Depois que ela terminar o curso e, se o meu exigente marido aprovar o projeto dela, quem sabe não recebe mais um percentual”, indagou Angélica olhando para Esdras que percebeu a cobrança. O irmão de Márcio sentiu que dali para diante teria que caminhar rapidamente, pois a namorada não esperaria muito tempo até ele se achar no mundo.

Um por um, depois dos pais, foram parabenizar a mais nova sócia de Angélica no escritório de arquitetura. Judith deu os parabéns, falando no ouvido dela: “- Que meu filho saiba ser homem para tê-la como esposa querida. Parabéns e não deixe que ninguém e nenhum branco lhe diga que não és capaz”.

Esdras foi o último a abraçá-la dizendo em seu ouvido. “- Que eu consiga estar à altura de tê-la, futuramente, como minha esposa. Farei o que for necessário para ser o marido que tu esperas que eu seja”.

Depois do anúncio, todos voltaram aos seus afazeres e dizeres. Eleanora se ocupou da filha, da nora, arrastando com elas, Judith. O objetivo era deixar Tarsila mais à vontade. “- Minha querida cunhada. Todos nós aqui, cometemos equívocos, acertamos e seguimos tentando ajustar-se da melhor forma possível. Sendo assim, vamos precisar muito do seu apoio para levarmos o meu irmão de volta às empresas. Tem o cargo de vice-presidente vago. É para ele e o Roberto nos ajudará. Já conversei com o Marzinho. Depois que voltarmos da lua de mel, lentamente dialogará com o seu marido”, explicou a empresária.

– Angélica! Tenho medo de que ele se revolte, afinal foi esse o motivo da discórdia com o pai.

– Tarsila! Ele não deixará de fazer o que gosta: a poesia, a arte. Poderá fazer da mesma forma que eu. Meio período no escritório de arquitetura e o outro nas empresas. Amadeu pode seguir o mesmo caminho: um tempo com as suas enunciações e o outro comigo lá.

– Tudo bem. Se o Marzinho me ajudar, quem sabe não conseguimos fazer isso.

Todos se entreolharam e Elanora deu a palavra final: “- Não precisamos de pressa. O cargo é dele e enquanto não se decide, Roberto fica interinamente no posto. Pode deixar filha que eu converso com o seu diretor”, adiantou a mãe.

Márcio se aproximou do quarteto e perguntou por Fernanda. Ninguém sabia dela. Esse querer saber dela foi o suficiente para a esposa explodir. “- Pensei que estava com saudades de sua esposa aqui, mas pelo que vejo, a Fê é mais importante. Por que não se case com ela. Afinal já estão juntos há cinco anos”.

O marido só olhou para a esposa e ficou em silêncio, virando as costas e deixando o ambiente. Resolveu responder daquela forma para não alimentar as discórdias. Ao entrar num dos cômodos da mansão, se deparou com Fernanda chorando e conversando com Adélia.

– O que foi Fê?

“- Ela brigou com o meu filho por conta dos ciúmes dele. Hoje pretendiam ficar noivos. Não sei o que fazer, senhor Márcio”, respondeu a futura sogra.

O editor deixou o quarto em silêncio. Chamou Roberto e Rogério e ao passar por Ricardo só disse: “- Vem conosco!”. Quando chegaram debaixo de uma árvore, Márcio já foi falando firme com ele. “- Que porra é esse rapaz! Falou que ia ficar noivo com a Fê e ela está lá toda chorosa por conta dos seus chiliques de homem cagão. Você acha realmente que alguém daqui quer tirá-la de você? Eu te falei: se não for homem, honre essa merda de pinto que no meio das pernas e termine tudo com ela, mas não faça molecagem. Meu pai veio aqui para conversar com o teu pai e encostou meu irmão na parede. A Fernanda só tem a nós, então, que tu ocupes descentemente o espaço ou vá se foder”.

“- Calma Marzinho! Talvez ele esteja tão assustado quanto você quando descobriu que estava apaixonado pela sua esposa”, disse Roberto observando que Ricardo estava todo tenso. “- Márcio, eu tento me controlar, mas só de imaginá-la com alguém, fico todo sem chão. Confesso que ainda acho que ela prefere você do que eu”, explicou entre lágrimas o irmão de Débora.

Olhando para o rapaz, foi Rogério quem entrou no assunto. “- Meu rapaz. Acho que ainda não entendeu direito. A mulher desse meu filho é uma dinamite dos olhos verdes. Ela é doida por ele e se esse homem não a amasse não teria se casado com Angélica há uma semana. Portanto, não existe a menor possibilidade de ele ter alguma coisa com a sua namorada. Se você a perdê-la, com certeza aparecerá outro que trará tranquilidade àquele coração. Será que tu não é capaz de ver nos olhos dela o quanto te ama”, perguntou o pai de Márcio.

“- Agora tu vais lá e se entende com ela ou termine de vez. Você sairá daqui com essa situação resolvida”, ordenou Márcio.

Ricardo saiu com Roberto que prometeu estar com ele até chegar junto a Fernanda. O pai ficou ali, sentindo que havia algo de errado com o filho. “- Marzinho o que foi. Por que pegou pesado com o irmão de Débora? O rapaz quase se borrou nas calças. Ele tem um medo de ti dos infernos”.

– Não foi nada não pai!

– Moleque! Te conheço! O que a sua dinamite dos olhos amarelos fez? Aquela mulher é porreta. Acho que está ganhando da tua mãe. Ciumenta! Mandona e adoravelmente bela.

Ao dizer isso, Rogério arrancou um sorriso do filho que resolveu se abrir com o pai. “- Ela padece do mesmo infortúnio que o Ricardo. Ele tem ciúmes de Fernanda comigo e ela também. Só que comigo e a Fê. O que eu faço pai?”

– Nada! Não corre atrás, mas também não dê uma de durão. Quando aconteceu isso?

– Agora a pouco quando eu procurava Fernanda. Ela sumiu e eu fiquei preocupado e com razão. Esse bunda-mole do irmão da Débora até parece o Esdras.

– Filhão! Você já fez a sua parte. Deixe ele virar homem e cuidar da futura esposa dele. Ele está inseguro porque gosta em demasia da Fernanda. O amor que ele tem por ela, está queimando os neurônios dele. Isso é normal quando se ama pela primeira vez.

Quando Rogério terminava de falar, Angélica apareceu e com sinais de lágrimas nos olhos. O pai entendeu tudo e deu um apertão no ombro do filho dizendo: “Juízo moleque. Tu mereces ser feliz. Não jogue fora essa oportunidade que o universo disponibilizou para ti”.

Assim que o pai se afastou, a esposa já foi atropelando tudo. Não sabia por onde começar e misturou tudo. “- Calma! Quer me dizer o quê? Papelão aquele lá na frente de sua mãe, de minha mãe e de Tarsila. Você com ciúmes de Fernanda e aquele bosta do Ricardo achando que eu estou comendo a namorada dele. Quando vão entender que não existe nada entre nós dois. Porra que saco! Acho que eu e ela deveríamos tirar umas fotos pelados e mandar para vocês, assim paravam de atormentar com essa coisa”.

– Se vocês dois fizerem isso, podem se considerar dois defuntos e eu estarei no presídio.

– Está ficando doida! Você acha mesmo que faríamos isso? Não tem sentido nenhum. Não consigo conceber o meu devir sem ter você me acompanhando. Mas está foda aguentar essa sua paranoia com a Fê o Ricardo com essa pegação no meu pé. Porra! Por que não come logo a Fernanda e a faça feliz? Não! O Zé Ruela tem que ficar criando fantasmas para infernizar a cabeça da namorada.

– O que você quer que eu faça? Não consigo me controlar quando o ciúme me pega. É como se eu estivesse te vendo deitado na cama com a Fernanda, justamente do jeito que ela me falou quando você dormiu na casa dela.

– Eu dormir lá porque o Roberto, com quem eu dividia o apartamento, levou a Danisa para lá. Depois disso, eu conversei com a minha mãe e aluguei o apartamento onde começou a nossa história. Se aquelas paredes lessem os meus pensamentos desde o dia que entrou lá, poderiam dizer-te o quanto você povoou aqueles dias. Entre raivas e desejos inconfessáveis acabei completamente em seus braços. Será que nem assim percebe o quanto sou apaixonado por ti?

– Meu amor! Eu sei. Mil desculpas. Por mais que me diga, às vezes, me sinto insegura com relação a tudo isso. Com Rosângela era tudo diferente. Não sei se porque éramos do mesmo sexo ou porque tinha certeza de que a nossa relação evidenciava uma troca entre valores.

– Eu não sou Rosângela e não estou contigo por conta de valores monetários, status ou qualquer porra de adjetivo. Aquela doida da professora de psicologia foi me provocar justamente porque achava que eu estaria enfiado num buraco de minhocas.

Quando Márcio terminou de falar, Eleanora e Judith já estavam perto dos dois, cobrando posicionamento. “- O pessoal quer saber dos dois. Vão ficar juntos ou vão terminar? Por que não aproveitam e façam como Ricardo e Fernanda”, perguntou Judith.

“- O que é que tem eles”, inquiriu Márcio.

– Ele chegou lá com o rabo entre as pernas, pedindo mil perdões para a Fernanda. A sua amiga saiu com um quente e dois fervendo para cima dele, dizendo que se ele te incomodasse novamente com aquela conversa de que vocês dois tem um caso, ele ficaria sem o pau. Ela falou isso na frente de todo mundo, inclusive dos país. A mãe dele falou que emprestaria a faca.

“- Já estamos indo mãe”, informou Angélica a Eleanora. “- Terminaremos aqui e vamos nos juntar aos demais”.

Judith não falou nada, apenas olhou para o filho e este já entendeu tudo. “- Dona Judith! Esse homem não vai a lugar nenhum sem que eu esteja com ele”.

– Então controle esse ciúme, minha filha. Já te falei que homem não gosta de barraco a toda hora.

Márcio já estava de costas quando a mãe deu a dura na nora. Olhava para o nada, tentando encontrar respostas para muitas perguntas, como por exemplo, a que poderia explicar o que Angélica viu nele. Tinha dinheiro, bonita e ter a pessoa que quisesse do seu lado. Quando a esposa o abraça pela cintura, ele lhe pergunta: “- O que viu em mim? Eu não sou a pessoa mais adequada para estar contigo. Vivemos às turras”.

Angélica o observa com muita serenidade e responde de forma bem calma. “- Eu vi isso” e dá-lhe um beijo, o abraçando, completando o raciocínio. “- Quando a gente pergunta muito é porque não tem certeza dos próprios sentimentos. Esse é o seu caso? Por que se for, tiramos a aliança agora mesmo. Eu sei que sou ciumenta ao extremo, mas em nenhum momento eu duvidei do que lhe sinto e fiquei me perguntando o que eu vi em ti ou você enxergou nessa mulher ciumenta, uma verdadeira dinamite”.

Ao dizer isso, a esposa saiu em direção ao ponto onde todos estavam se divertindo e eles ali, mais uma vez, discutindo a relação. O editor optou por deixa-la ir à frente. Iria em seguida. Cinco minutos depois apareceu, trocando olhares com a mãe e o pai. Sem que ninguém notasse, Judith se movimentou até ficar perto do filho e Rogério fez o mesmo.

Angélica estava sentada numa cadeira próxima a piscina olhando para a água, enquanto Tarsila se divertia com Amadeu. Rogério foi o primeiro a falar; “-Marzinho, quando eu coloquei um bambolê no dedo em forma simbólica de amar a sua mãe pelo resto de minha vida, eu tinha certeza de que ela só não tinha tamanho, mas que era um artefato prestes a explodir e eu jurei pra mim mesmo que nunca deixaria essa granada explodir, pois se isso acontecesse, eu seria o homem mais infeliz da terra. Se tu estás disposto a fazer isso com a sua dinamite dos olhos esverdeados, não precisa demonstrar isso, mas apenas entre na água e desfaça esse bico”.

– Marzinho! Ela não vai a lugar nenhum sem o seu amor. Não deixe para outro o que o universo colocou em suas mãos. Aprenda a lidar com as explosões de ciúmes dela. Fique de boa. Venha comigo. Vamos comer uns nacos de carne.

Pai, mãe e filho foram em direção onde as carnes estavam sendo servidas e quando Márcio ameaçou colocar um pedaço de carne repleta de gordura na boca, só sentiu a mão da esposa retirando o suculento alimento que já estava quase indo parar dentro da boca. “- Só tem uma carne que eu quero que você coma e pode ficar para a noite ou em nossos dias de lua de mel”, disse Angélica o agarrando, dando um beijo querendo encontrar a sua alma. Judith e Rogério caíram na gargalhada, se afastando e dizendo um para o outro. “- Marzinho vai penar um bocado nas mãos dessa galega”.

– Amor! Pare de me perguntar isso e aquilo. Apenas me ame e tenha certeza absoluta que eu sinto o mesmo por ti. Acho que tudo isso que acontece aqui hoje te responde. Você não é nenhum Super-homem, um ser para lá de especial, mas é o homem que faz meu coração bater calmamente, me traz paz, harmonia e todos que estão nesse almoço o fazem porque, de alguma forma, têm ligação contigo e com o seu coração. Bom. É a última vez que te respondo essas perguntas tolas. Te amo e pronto e por isso sou ciumenta.

– Está certo minha vida. Tenho que deixar de ser inseguro e te passar mais segurança. Amanhã quero ir cedinho para a fazenda.

– Acho que isso não será possível. Escutei nossas mães conversando que Judith e o seu pessoal só sairão daqui depois do almoço. Então, acho que estaremos lá somente a noite.

“- Amor, não quero…”. Quando Márcio ia terminar de dizer, a esposa colocou o dedo em riste em sua boca dizendo em seguida. “- Vamos viver o aqui e o agora. Amanhã é outro dia. Já perdemos muita coisa hoje por conta do meu ciúme bobo”.

Quando o editor ia pegar mais um pedaço de carne vermelha, Angélica não deixou. “ – Já comeu um pedaço. Agora vamos de carne branca: peixe e frango. Mais tarde você degusta mais um pedaço”.

Assim que terminou de falar, Amadeu apareceu tomo molhado com a esposa. “- Achei que ia continuar naquela discussão idiota. Essa tonta faz tudo para ficar contigo e depois dá chilique por conta da Fernanda. Quando irá aprender irmã que esse homem só tem olhos para ti”, perguntou o irmão arrastando Márcio para a piscina, deixando Angélica com Tarsila.

– Minha cunhada, pega leve no ciúme. Todos aqui já disseram que seu marido é um santo. Se você fizesse com eles o que faz com Márcio, o pau tinha quebrado feio. Desde aquele dia no bar que eu reparei que ele é completamente cego para outras mulheres. Márcio te olha com alma, te ama incondicionalmente. Então não sei por que tanto ciúme assim?

– Eu sei disso tudo que está me dizendo, mas só de pensar que outra mulher pode tirá-lo de mim, fico sem ar. Outro dia eu espanquei a ex-namorada dele, dos tempos de universidade, dentro do banheiro de nosso restaurante.

– Fiquei sabendo e espero que tu não faças mais isso. É desnecessário. Amadeu me disse como o amigo mosquito dele te ama e que a maior parte das brigas é por conta do volume de amor que vocês têm um pelo outro.

Angélica abraçou Tarsila, sabendo que teria na irmã de Rosângela, uma amiga. Saíram abraçadas e pularam na piscina para se juntarem aos seus respectivos maridos. Os dois casais não ficaram sozinhos por muito tempo. De repente apareceu Fernanda, Débora, Mariana, Leônidas, Esdras e Ricardo. Quando todos conversavam, Alexandre pulou na piscina chamando Eleanora e Judith. Quando a mãe de Márcio entrou na água, Rogério colou nela querendo dizer para Lê que o terreno era minado.

Ficaram por cerca de uma hora dentro d’água quando uma empregada, apenas com o olhar avisou a anfitriã que o almoço estava pronto. Um a um, todos foram saindo e se secando. A matriarca se sentou no principal assento da mesa, tendo ao lado os dois filhos e os respectivos cônjuges e agradeceu a presença de todos, principalmente o presente de estar com o filho e a nora que ficaria ali com ela até o bebê nascer, iluminando a mansão.

“- Pelo que pude observar, com o presente que Débora recebeu de minha filha, o irmão do Marzinho terá que agilizar as coisas para poder continuar com aquela pessoa encantadora que é a namorada dele”, disse Eleanora.

Assim que terminou de falar, os pais, da futura arquiteta, agradeceram a hospitalidade da casa e da família da patroa da filha. “- Senhor Rogério, se o teu filho a partir de agora iniciar o processo de construção de uma vida para oferta-la a Debora, com certeza será muito bem-vindo à minha família. Não faço objeção alguma, pois ele pode compreender que as exigências são da namorada”, afirmou Romualdo olhando para Ricardo como quem cobra uma atitude.

– Em primeiro lugar, quero pedir mil desculpas ao Márcio e a esposa dele, a dona Angélica, patroa de minha irmã. Não é novidade para ninguém que sou apaixonado pela amiga dele, a Fernanda. E hoje, por conta de meu ciúme desmedido, quase estraguei a festa de todos. Eu não conseguia entender a amizade que há entre eles dois, foi preciso a esposa de Roberto me apresentar ao amor que Marzinho tem por ela e vice-versa. Então estendo a desculpas a Angélica porque o Márcio, desconfiado que havia algo errado, foi procurar Fernanda e acabou se enroscando com a esposa.

Todos olhavam para Ricardo, mas em especial, Roberto e Márcio, pois foi encostado na parede. Ou assumia tudo e parava com aquele fricote de ciúme ou deixava Fernanda em paz. “- Meu pai também me puxou a orelha, me fazendo ver o nível do sentimento que une essas pessoas aqui que muito me honra em permitir que eu esteja aqui. Entendi que Márcio e Roberto são como irmãos mais velho dessa mulher que me faz ver as estrelas brilharem ao meio-dia. Daí o meu ciúme. Então, diante de todos os seus amigos, espero que ela aceite essa aliança para marcar o início de uma nova etapa do nosso amor”.

Fernanda levou um beliscão da futura cunhada e repetiu o que disse um pouco antes. “-Eu aceito desde que pare com essa viadagem de ciúmes do ‘meu    Marzinho’. Se fizer isso novamente, ficará sem o nosso instrumento de prazer e tua mãe disse que vai me emprestar a faca”.

Todos deram risadas enquanto a mãe de Ricardo colocava a aliança na mão direita de Fernanda e como Márcio a tinha como a irmã que nunca teve, coube a Judith de ajustar a aliança no dedo de Ricardo. Terminado o almoço por volta das três da tarde, quando Alexandre disse que iria embora, Eleanora disse que não. “- Hoje você fica até o final. Sempre terminamos com uma ceia. Portanto, esquece o seu restaurante hoje. Amanhã vou jantar lá com meu filho e minha nora”.

Para evitar discussões como a que tinha assistido em vários momentos até ali, Alexandre resolveu deixar como Eleanora vinha conduzindo e tudo permaneceu como dantes. Ele apenas ligou para o gerente pedindo a ele que conduzisse o estabelecimento naquela noite. Danisa, pela sua condição de grávida se retirou para descansar, sendo que Roberto foi junto para não deixar a mulher só. Tarsila fez o mesmo e Amadeu ficou com ela no quarto em que dormiriam a partir daquele dia.

Esdras se soltou mais um pouco e deu mais atenção a Débora que compartilhava o carinho recebido. Márcio conversava com o pai, o irmão Leônidas e o pai de Ricardo. “- Meu amigo, você deu uma tijolada no meu filho que, se estivesse com diarreia, tinha feito tudo nas calças. Obrigado. Sua amiga é uma excelente pessoa. Meio amalucada, mas tem um coração de ouro e, sinceramente, estava preocupado com as doideiras do meu menino. Poderia colocar tudo a perder, mas aí Adélia segurou a onda”.

Depois de uma hora de conversa no grupo, Angélica apareceu para tirar o marido dali. “- Vocês me permitem roubar de vocês o homem que faz meu mundo ficar com um colorido especial”, perguntou a empresária.

Foi Rogério que para sacaneá-la, disse: “- Claro. Se meu Marzinho não for, apanha de chicote de você, da mãe dele, de Eleanora e se sobrar alguma coisa, receberá umas cintadas minhas”, disse em tom de troça.

“- Senhor Rogério, com todo o respeito que eu lhe tenho, se durante a surra que eu estiver aplicando em seu filho por ter chutado a alça do penico, o senhor tentar defende-lo, apanha junto de toda a mulherada. Ou vocês acham que podem fazer páreo para nós”, perguntou Angélica para zoar o sogro, já pegando o marido pela mão.

– Diga amor?

– Estava com saudades do meu marido.

Márcio não aguentou e deu aquela gargalha até os olhos, deixando Angélica mais doida do que já estava naquele final de tarde. “- Assim você me mata de desejo homem de deus. Acho que agora eu entendo o meu ciúme. Se eu ver esse sorriso sendo direcionado para outra mulher, pode se preparar: morre os três!”

– Três? Por quê?

– Você, o seu sorriso e a mulher para quem tu estiver sorrindo.

– Então gostaria muito de ver como isso seria possível, pois a única que me tem desde a alma, chama-se Angélica, cujo nome tem tudo a ver com o âmbito angelical, mas quando o ciúme a pega de jeito, vira a Rainha Diaba.

– Vem me dizer que o meu marido não é ciumento?

– Sou! O que é meu é meu e de ninguém mais. Tem coisas que não se empresta e uma delas é o amor. O meu por ti é individual, indivisível, inseparável, uno, mas ele deriva de algo mais amplo que é o sentimento universal e você me ajudou a entender os dois. Sei que tenho que amadurecer muito para te trazer a paz que me pede silenciosamente. Acho que durante essa semana sozinho contigo na fazenda, conseguirei.

A esposa olha ternamente para o esposo lhe dizendo que ambos precisavam dar paz ao outro. “- Eu sei amor que não sou fácil. Compreendo que parte do meu ciúme é por insegurança, como já te falei. Você é a primeira pessoa que eu não precisei comprar com meu dinheiro, com minha posição social e isso me endoidece, pois sei que muitas gostariam de estar no meu lugar. Realmente tu és de poucos amigos, mas os que estão contigo lhe são leais. Eu ainda vou entender essa forma de Fernanda se referir a você como ‘meu Marzinho’ que tanto me deixa fora do ar e o noivo dela também”.

– Não tem nada para se espantar. A Fê foi a primeira pessoa que me conheceu de dentro para fora e posso dizer que eu a conheci também e justamente porque não nos interessamos um pelo outro. Eu não a vejo como mulher, mas sim apenas como a pessoa e ela me enxerga do mesmo jeito. Fernanda seria capaz de descer o braço em ti se não me fizer feliz e eu encostar o Ricardo nas cordas ou entortar a cara dele.

O casal estava na varanda da mansão, enquanto a turma se esbaldava na piscina e ainda devoravam o churrasco. “- Explique-me mais. Por mais que eu queira entender, ainda não alcanço, meu amor”.

– Quando ela tropeçou no meu pé no bar e me xingou todo e eu não revidei, ali ficou definido, mais ou menos que nunca nos entenderíamos na cama. No dia seguinte, nos encontramos pelo acaso do destino e foi como se sempre estivéssemos juntos. Quando fez alusão ao fato do domingo e eu dei risada, nos entendemos ali. Então jamais espere encontrar eu e Fê na cama.

– É! Ela me falou que você é um homem interessante, um excelente amigo e não iria estregar essa coisa bonita que tem um com o outro, por conta duma trepada tonta.

– Está vendo!

– Ainda assim, eu fico com medo. Sempre acho que um dia ela pode te ver na condição de homem e tu enxergá-la como mulher.

– Mas eu a vejo como mulher, mas não para dividir a cama comigo, os beijos, os banhos, os sonhos mais íntimos. Não é alguém que me faria tomar um porre para esquecê-la. Ela me acha um tremendo bunda-mole e só os amigos dizem isso dos e para os amigos.

Angélica o beijou ternamente, enquanto o pessoal assistia como se fosse um filme. Amadeu foi quem sacaneou o parceiro: “- E a dona aranha prende o meu amigo mosquito na sua teia tecida de fios de amor. Bravo Marzinho. Obrigado por fazer eu e minha irmã feliz. Te amo meu cunhado-amigo”.

Eleanora, Judith, a mãe de Ricardo, Alexandre foi ver o que estava acontecendo, já que o casal recebeu uma chuva de palmas e Amadeu correu para abraçar o amigo como se este fosse um irmão mais velho.  “- Obrigado por ter me tirado de dentro daquele copo, meu amigo poeta”, disse Márcio.

“- Acho que nós dois precisávamos um do outro. Estávamos presos num mundo de muita mágoa e dor, meu caro Marzinho. Sei que te aloprei muito, principalmente por medo de achar que tu me querias fora daquele universo sem a minha Tarsila. Só fui entender tudo quando minha irmã começou a falar de ti, porém, negando tudo aquilo que a alma já entendia”, lhe explicou o poeta.

Angélica se soltou dos braços do esposo e abraçou o irmão e os dois choraram. “- Esse homem, meu irmão, foi capaz de trazer luz e harmonia em nossas reuniões que antes sempre terminavam em brigas, desavenças justamente por não conseguirmos comunicar com os nossos pais aquilo que ia em nossas almas”, disse entre lágrimas a empresária.

Eleanora abraçou os dois filhos agradecendo o perdão que eles lhe davam. Ninguém precisava saber mais afundo os tormentos passados naquela casa em que se tinha de tudo, sobretudo dinheiro e luxo, entretanto, faltava o principal: o amor incondicional entre as pessoas. Todos que ali estavam por um motivo e, com certeza, não era o valor monetário.

Abraçados aos filhos, a matriarca disse que ninguém deveria ir embora. Todos ficariam até a ceia ser servida por volta das 22 horas. Quem quisesse tomar banho poderia fazer. Haviam vários banheiros na casa.

Como o Sol já tinha ido embora, a maioria foi procurando os chuveiros, mas Mariana chamou Márcio para conversar.

– Pois não! Aconteceu alguma coisa entre você e o Léo?

– Não Marzinho. Só queria te confessar que cheguei aqui contrariada, achando que tudo girava em torno de ti. Até falei isso para a sua mulher e também disse ao Léo que se inventasse de mudarem para essa cidade, eu não viria. Mas depois do que o esposo de Tarsila falou sobre ti e a amizade com ele e também com Fernanda, observei o quanto estava equivocada. Ninguém precisa deixar de ser o que é para ser feliz. Basta entender o movimento das ondas.

– E qual é a sua onda, minha cunhada?

– Estou grávida do meu primeiro filho e com certeza quero dar-lhe uma educação semelhante à que Judith te deu, bem como para os seus irmãos. Seu irmão é o homem que é por conta disso. Não é perfeito, ainda bem, pois seria muito chato, mas é a pessoa que me permite acompanhar as ondas que, por mais bravias que estiverem, nunca me afogarão. Grata pelo amor que me tens e por ter me ensinado mais uma coisinha hoje, sem precisar reagir.

– Mariana! A única coisa que quero é que tu faças aquele cabeça dura do meu irmão feliz. E com a chegada do primeiro filho, já observo um brilho especial nos olhos dele. De outro lado, posso te dizer que fiquei cinco anos nessa cidade em condições horríveis e só fui socorrido porque um cara que vivia falando tudo em enigmas e através das peças de xadrez, sem saber direito, me arrebatou daquele universo tenebroso.

– Eu vejo como ele te adora e como a irmã dele é maluca de amor por ti. Como Judith disse dela: uma dinamite de olhos verdes. Tenho certeza de que com a paciência que tem será muito feliz com ela. Terminado tudo aqui, vá para a fazenda e se desligue de tudo e dê-lhe a paz que a alma dela precisa. Tarsila faz isso com Amadeu.

Assim que Mariana terminou de falar, Angélica se aproxima do casal querendo saber o que os dois tanto conversava. “- Eita que ciúme hein mulher! Mas também com um homem singular desses do lado, eu teria ciúmes até da lua. Estava aqui desabafando com ele e como eu estava fazendo um juízo errado dele. Não sabia o quanto tinha sofrido nos últimos cinco anos e em silêncio”, disse a cunhada de Marzinho, se encaminhando para encontrar o marido e a sogra.

Angélica chama o marido para ficarem a sós perto da piscina. “- Amor achei lindo o que Amadeu falou sobre ti e o que tem feito por ele. Nem parece aquele homem que ficou cinco anos em algum lugar entre o céu e a terra esperando que um dia Tarsila viesse do céu para levá-lo”.

– Amor! Amadeu me tirou de um momento tenebroso. Acho que eu e ele estávamos no fundo do poço. Cada um a seu modo, buscávamos sair daquele lamaçal. E hoje estou aqui tendo em meus braços uma linda mulher que, o que tem de bela tem de ciumenta.

O casal sentado próximo da piscina e longe de toda aquela movimentação combinavam tudo para o retiro na fazenda. “– Marzinho, ainda não sei ao certo como será. Prefiro apenas pensar que estarei sozinha contigo. Sem Fernanda, sem Débora, sem Eleanora, sem o mundo me dizendo um monte de coisas. Estarei somente eu, meu coração, meu marido e o seu coração, que creio que seja todo meu”, disse Angélica.

Márcio abraça a sua esposa e não disse nada, se limitando a beijá-la carinhosamente, demonstrando segurança para ela. Nesse momento Judith chega para avisar o filho e a nora de que a ceia ia ser servida. “- Meu filho, por que você não tomou banho como todo mundo”, inquiriu a mãe.

– Eu e minha esposa decidimos por tomar banho em nossa casa. Lá podemos ficar o tempo que desejarmos dentro da banheira fazendo muitas coisas além de nos higienizarmos.

Quando Márcio se levantou, sua mãe retém a nora. “- Preciso conversar contigo, minha nora. Uma conversa de mulher para filha. Eu e sua mãe prometemos uma para outra não nos metermos na sua vida com o meu Marzinho, mas eu não gostei nenhum pouco da cena que fez no começo da tarde. Acho que ele já te deu provas mais do que suficiente indicando que respira o seu ar, que é apaixonadíssimo por ti, minha filha. Então, dê um pouco de paz a ele e ao seu coração”.

– Judith! Te tenho mais do que uma sogra, uma segunda mãe, mas sobretudo como uma amiga, então vou te dizer uma coisa. Eu já fiz de tudo para conter o ciúme que tenho de Márcio, mas acho que hoje conversando com ele, compreendi mais um pouco sobre tudo isso. Você está vendo essa mansão? Eu cresci aqui com toda pompa, dinheiro, luxo e o que mais eu quisesse, porém, o maior desejo meu e de meu irmão era sermos amados pelo que somos e não pelo que temos.

A mãe de Marzinho a escutava com toda atenção. “- Cresci achando que felicidade era comprar o que eu almejasse, mas, agora eu estou com 33 anos de muita empáfia e arrogância. Meu irmão vivia num mundo de pura alucinação e todos já tinham jogado a toalha, porém, quando menos se esperava o teu filho, tão perdido quanto eu e meu irmão, frequentava o mesmo boteco que Amadeu e, por ironia do destino, começa a conversar com ele, mas fez mais do que isso, embarcou na loucura dele, descobrindo que tinha ficado com a cabeça revirada por conta de um amor”.

– Sei disso, Angélica.

– Você entenderá onde eu quero chegar. Márcio e Amadeu ficaram amigos porque, de certa forma, são iguais no âmbito de suas almas. Os dois são ciumentos, mas não demonstram. Tarsila está mais centrada do que eu por conta da vida dura que teve. Já eu! Achava que poderia continuar comprando a felicidade, até que o seu filho falou não e resolveu me peitar. Assim como fez com minha mãe, me forçou silenciosamente a repensar as minhas condutas. Quando viajava para buscá-lo no Pontal, pude perceber que se não confessasse a ele o que estava sentindo, ele não voltaria comigo.

– E daí? Isso é motivo para tanto ciúme do homem que carregaria essa cidade nas costas, se fosse necessário, para te fazer feliz?

– Pois é! Me explique quantos homens existem como o seu filho? Quantos sujeitos são capazes de levar uma mulher ao céu para passear entre as estrelas? Quantos indivíduos são capazes de nos desnudar sem colocar as mãos? Quantas pessoas a senhora conhece que pode te acalmar só com o olhar? Ele disse antes do nosso casamento que não quer me procurar em outra mulher. Judith se eu ficar sem o seu filho, você pode me internar.

– Então meu amor, não tenha medo de perder esse homem que é meu filho. Naquele dia em que me pediu para separar do pai e, assim ele te deixaria, compreendi o tamanho e a intensidade do que amor que ele lhe tem. Por isso, para a saúde do amor de vocês dois, deixe esse homem te amar.

– Pode ficar sossegada, minha cara sogrinha. Tenho certeza de que essa semana na fazenda será ótima para nós dois. Vamos nos desligar de tudo e de todos e nos concentramos em nós e em nosso amor.

– Não duvido do amor que você lhe devota. Só me preocupado esse seu ciúme exagerado.

– Judith, o Marzinho é um ser especial, o que o torna encantador, aumentando minha paixão por ele e, ao mesmo tempo, minha insegurança quando fico pensando que ele pode encontrar uma pessoa menos neurótica do que eu. S ele fosse um cara interesseiro, carreirista, talvez eu não temesse tanto, mas não quer nada, absolutamente nada.

– Apenas ser feliz com a dinamite dos olhos verdes com quem se casou.

As duas riram e foram abraçadas para a ceia, encerrar aquele dia em que aconteceu de tudo, mas um sábado para lá de profícuo para todos. Sogra e nora passaram por Débora e Esdras. O casal recebeu aquela encarada que, ao mesmo tempo, intimava o irmão de Márcio, mas também fazia troça do casal.

Ao término da ceia, cada um começou a arrumar os pertences para retornar às suas existências. No domingo, finalmente Judith voltaria, depois de um mês em companhia de Eleanora, para sua casa. Esdras retornaria com eles; Mariana tornava para seu universo bem diferente do que quando chegara ali. Aprendeu um pouquinho mais com todos e, com certeza, seria útil na educação do filho que estava esperando.

Ricardo conversava com Fernanda, prometendo que se comportaria. O ciúme era somente com Marzinho e toda atenção que ele dá para a sua noiva. “- Seu tonto! Olha para aquela mulher que está casada com ele. Se meu amigo olhar do lado, ela lhe quebra o pescoço. Ele come um caminhão de merda por conta dela. Então vamos ser felizes eu e você e não se esqueça que ele pode vir a ser seu patrão”, explicou Fê.

Antes que o primeiro convidado partisse, Eleanora informou que queria todos lá no dia seguinte para encerrar o encontro que se iniciou porque a sócia da filha tinha que resolver suas questões com o namorado que é irmão de Angélica. Os pais de Débora também foram convidados e quando Alexandre fez menção de não, levou uma bronca. “- Quero o senhor aqui comigo amanhã. Vai se ambientando com a minha família que aumentou da noite para o dia”.

Tudo acertado para o domingo, Márcio e a esposa se deslocam para o apartamento do casal. No caminho, o esposo já sabia que a coisa ia ser complicada no domingo e dificilmente conseguiria sair no horário desejado e não queria que Angélica dirigisse a noite.

– Amor! Amanhã antes de chegar na mansão, passaremos no supermercado e compraremos coisas para levarmos à fazenda. Não quero que dirijas a noite. Por isso vamos sair da casa de sua mãe, no máximo, por volta das quatro horas.

– Bom. Amanhã ainda não chegou e estou vivendo o hoje e desejo que o senhor meu marido me faça uma daquelas massagens especiais, pois na fazenda quererei todos os dias. Então preciso saber se não vou levar gato por lebre na minha lua de mel.

Ao ouvir isso vindo de Angélica, o editor entendeu que não adiantava apressar nada. Tudo teria que ter o seu tempo. Quando chegaram ao apartamento, a esposa desejou se banhar sozinha, enquanto ele foi para o mesmo local de sempre, olhar as estrelas, conversando secretamente com elas. Em seu silêncio pedia que as amigas, que brilhavam todos os dias, mesmo quando a chuva castigava a cidade estavam em outro canto do universo, lhes iluminasse o casamento.

Dialogava com cada uma dela na tentativa de se entender e também o que sentia por aquela mulher que parecia mesmo uma dinamite prestes a explodir. Ela podia ser suave, mas ao mesmo tempo, ser um terremoto quando pisavam no seu calo ou se sentisse ameaçada. “Como posso dar serenidade àquele coração que tantas marcas de sofrimento carrega nesses 33 anos de existência”, pensou alto e em virtude disso, a esposa que saia do quarto em sua busca, escutou.

Ela o vira e pergunta: “-Está pensando em desistir de nós, meu amor”, perguntou Angélica.

– Por que sempre achas quero desistir de nós dois?

– Não sei Márcio. Às vezes creio que tu queiras alguém mais centrada, que não dá tanto show, barraco, que não te faça passar vergonha com os ciúmes exagerado.

– E por que eu faria isso?

– Sinceramente não sei. Eu falei para sua mãe que tu és um homem singular e que não é dinheiro que te fará feliz e que, um dos motivos de meu ciúme, pode ser isso. Medo de que possa aparecer alguém mais interessante do que eu em sua vida.

– Não foi tu mesma quem disse que queria viver o agora! Aparecer está no futuro e não presente, portanto, o meu agora se chama Angélica que quer uma massagem neste exato momento.

– Perdi a vontade. Toda vez que te vejo aqui contemplando as estrelas, fico insegura, achando que sairás voando por essa janela em busca de outra mulher. Me desculpe amor, mas é isso que estou sentindo agora.

– Tudo bem então. Vou tomar um banho e depois dormiremos, se é essa a sua vontade. Amanhã à noite exijo que estejamos na fazenda. Precisamos disso. Faz uma semana que nos casamos e ainda não tivemos um só minuto para nós dois.

Ambos se dirigiram ao quarto e quando Márcio deixou o banheiro a esposa já dormia. Ele, para não acordá-la, foi ler na sala, na tentativa de se desligar um pouco daquilo tudo. A exemplo do que aconteceu na Alemanha, no apartamento de Angélica, o esposo acabou dormindo, tendo o livro ficando sobre o seu peito. Eram três horas quando a esposa deu pela falta do marido na cama.

Quando viu que o esposo estava dormindo no sofá com o livro aberto, ficou ali o olhando, tentando encontrar nele algo que a fizesse desistir a partir daquele momento. Buscou lá no fundo do seu ser a certeza de que o encantamento era passageiro. Enquanto o observava, se lembrou de uma coisa que Judith lhe disse sobre o filho. Era uma excelente pessoa, mas tinha lá suas esquisitices e se falasse não, podia esquecer. Ficou analisando o jeito que o marido dormia, completamente desligado do mundo. Ao invés de acordá-lo, foi ver o céu e tentar entender aquele homem, espartano, que passava horas a contemplar as estrelas.

Ficou pelo menos uma meia hora ali, tentando ler a alma de Márcio no céu estrelado que começava a dar sinal de que poderia vir chuva em breve. Do nada, as estrelas começaram a ser encobertas e raios cruzaram o céu. Entre um clarão e outro, uma troada forte acordou o marido.

– Amor! O que fazes aí na janela? Eu comecei a ler e peguei no sono. Desculpe-me.

– Faz quase uma hora que estou te observando. Quero te entender mais um pouco. Sinceramente não consigo compreender porque não tem tanto apego às coisas materiais e postos, status, carreira, posição, dinheiro.

– Se eu te disser que quero tudo, você promete parar de ficar preocupada com isso?

Angélica entendeu a pergunta, afirmando que o quer do jeito que ele é, sem precisar mudar nada. Ele então a abraçou, dizendo bem baixinho. “- O Senhor da vida pediu às estrelas para me informar que tu, minha esposa, juntamente com sua alma chegaram à terra para que, junto à minha, formássemos um casal feliz, não sem problemas, mas com amor o suficiente para superar os obstáculos. Adorei a reposta à pergunta que eu fiz. Obrigado por ser essa mulher fantástica que tu és: dinamite dos olhos verdes que me deixam sem chão. Te adoro”.

Ao se deitarem, Angélica foi logo se ajeitando entre braços do marido, buscando proteção para aquela noite de sono que prometia ser regada a muita chuva.

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