Sobras de um amor… parte II

8

 

Ao acordar, Angélica olhou para o relógio e viu que estava muito atrasada para o trabalho. Percebendo que adormecera sem tirar o macacão, recuperou alguns daqueles momentos da noite anterior, notando que tinha adormecido no colo de Márcio e seu irmão não estava na cama com ela. Então alguma coisa teria acontecido. Foi até a sala e se deparou com o jornalista num sono pesado no sofá. “Ele deve ter levado Amadeu para o quarto de hospedes e ficou aqui no sofá, me esperando, mas não aguentou e acabou dormindo”, pensou a arquiteta voltando rapidamente ao seu quarto e se preparando para um dia que prometia.

Quando terminou de se arrumar, acordou Márcio que estava meio grogue de sono e perguntou à sua anfitriã o que ela estava fazendo no apartamento dele tão cedo e como conseguiu entrar sem a sua autorização.

– Acorda Márcio! Você está em meu aparamento! Olha sô, vai dormir lá na minha cama. Fique atento ao celular. Vou te ligar para levar o meu irmão para almoçar lá no Bar da Net. Enquanto isso eu terei um encontro com meus pais e desfazer todo o rolo que minha mãe fez e te devolver o seu teto. Só não posso garantir que voltará para lá hoje ainda.

Esfregando as mãos nos olhos, o jornalista disse à arquiteta em tom de zombaria: “- Está certo patroa. Pode deixar. Positivo e operante. A senhora está no comando”.

– Ante que eu me esqueça, vá se foder. Não sou sua patroa porra nenhuma e não estou no comando de nada. Entendeu o que é para fazer?

– Sim senhora.

Ao vê-la vestida para trabalhar, Márcio fez uma troça. “- Olha só dona Keka, se eu fosse seu office boy, me masturbaria o dia toda. Só de vê-la vestida assim, já fico todo aceso.

– Pois apague o fogo da sua churrasqueira com essa aliança aqui, pode ser?

Ao olhar para o dedo da arquiteta, ambos caíram na risada e Márcio se dirigindo ao quarto de Angélica para voltar a dormir. Estava exausto e a mistura de uísque com vinho branco pesava-lhe a cabeça. Podia ser de qualidade, mas as duas bebidas nunca combinariam e não seria agora que dariam certo. “Mas acho que dá para aguentar. Um pouco mais de sono e estarei zerado. O dia promete. Espero dormir em casa de hoje para amanhã. Não sei como ficar no meio desse luxo todo”, pensou o repórter enquanto se dirigia ao quarto de sua anfitriã que acabara de ir à sua empresa de arquitetura.

Nem bem se deitou e já sentiu o cheiro de Angélica na cama. Por mais que tentasse se segurar, não conseguia parar de pensar nela como um ser total: uma bela mulher, significativa pessoa que vivia escondida atrás de tanto dinheiro e mandonismo. Por estar só na casa com Amadeu, o poeta amalucado, o jornalista ficou só de cuecas e imaginando a roupa intima da anfitriã, acabou dormindo tendo uma enorme ereção como parceira. Acordou assustado com as gargalhadas do irmão de Angélica.

Márcio não teve tempo de dizer nada, pois o amigo já foi soltando o falatório. “- Vocês andam mais rápido do que eu imaginava. Já está dormindo com a Rainha malvada. O que ela fez para te aprisionar meu amigo? Olha o tamanho da tua vara no meio das pernas. Aposto que estava sonhando com a caranguejeira. E ai, prefere as peludas ou as raspadinhas?”

– Do que você está falando Amadeu?

– Ah, o meu caro repórter, cheio de saber de tudo, quer me dizer que não entende o que eu estou lhe falando? Acordo de madrugada e ela está no sofá dormindo no seu colo. Volto para o meu quarto e acabo de levantar e vejo você de cueca, com o pau duro, dormindo na cama de minha irmã. Você sabe que ela é casada? Se o macho dela te pega, é capaz de tu ficar como eunuco e ir trabalhar num harém. Homem de deus, você não perdeu tempo. Enquanto ela me mantém prisioneiro aqui, tu já vais passando a rola nela! Ai se o todo poderoso Jô te visse nesse estado, não quero nem pensar.

– Quer parar de dizer besteiras, homem de deus. Eu vim para cá depois que sua irmã saiu e foi para o trabalho. E que horas são?

– Sei lá. Acho que eu tenho cara de relógio, mas me parece que passam das 11h.

– Caralho! Tua irmã vai me matar.

– Mas antes ela vai abocanhar essa sua rola gigante e se não gostar, aí sim tu estarás fodido e mal pago. Você que não a come direito que vai levar uma surra aqui do irmão dela. Agora, podemos mudar essa briga para uma partida de xadrez. Podemos começar agora.

– Amadeu! Não dá um tempo!

– Não estou dizendo que já sentou no colo dela. Só foi ela dormir em cima do teu pau para você ter se passado para o lado da Rainha má.

Fingindo que não escutou Amadeu, Márcio olhou para o celular e tinha várias chamadas de um número. “Deve ser de Angélica. Vai me comer vivo”, pensou o repórter saindo do quarto para se higienizar no banheiro do quarto de hóspedes, mas antes ligou para o número.

Ao escutar o primeiro alô, não deu nem tempo de saborear a voz da arquiteta que foi atacando. “- Caralho, não falei para você ficar atento ao telefone. Olha só já passam das onze e meia. Onde você estava? Se masturbando feito um adolescente? O que aconteceu? Amadeu deu trabalho?”

– Calma aí dona Angélica. Será que posso responder uma pergunta de cada vez? Primeiro: cai no sono e acordei ainda a pouco com seu irmão me zoando porque eu estava dormindo em sua cama, dona patroa. Ele está do mesmo jeito. Vou tomar banho e vamos nos preparar para sair. E aí tudo certo com a senhora que tem um jeito todo especial de mandar?

– Vai se foder! Quando estiver saindo, me avise! Preciso destravar a porta para a dupla dinâmica sair para almoçar. Deixei um cartão perto do meu criado-mudo. Está com a senha. Use-o para pagar o transporte e se no caminho precisar de algo mais. Já está tudo certo lá no bar para os dois almoçarem. Não vão dar trabalho e nem passar da conta com o álcool, hein.

– Mais alguma coisa patroa?

– Ah! Obrigado pela noite. Eu ainda preciso saber lidar com essas desligadas do meu irmão. Mas vendo como você faz, vou aprendendo.

– Fico feliz em saber que a patroa está contente com o empregado-mor aqui.

– Por que você não vai a merda e se arrume logo. Se eu te ligar e estiver aí ainda cozinhando o galo, os seguranças arrancarão vocês dois dai de dentro!

– Pois não minha bailarina dos olhos esverdeados.

Antes mesmo de Márcio terminar, Angélica já tinha desligado. Amadeu já estava na porta do quatro pronto. “- Vamos sair logo, antes que a malvada chegue e nos coloque de novo no calabouço, meu caro repórter. Também estou faminto. Preciso encher a pança se não o cérebro ficará oco e o coração batendo em descompasso”.

– Quero antes tomar um banho!

– Nada disso. Coloque logo a sua roupa de jornalista e vamos. A comida nos espera.

Diante da pressa de Amadeu, o repórter pegou a velha roupa de sempre que estava dentro da sacola em que havia colocado na noite anterior. Vestiu-se rapidinho e ligou para Angélica destravar a porta. Assim que ambos estavam na rua, o repórter fez menção de chamar um transporte, mas o irmão da arquiteta fez questão de ir andando. “- Estou precisando andar. Fiquei dormindo muito tempo. Acho que aquela bandida me deu remédios para dormir. Esticar as pernas vai fazer bem e para você também. Se continuar só andando de carro, daqui a pouco estará com a barriga num formato de melancia e quando for guardar o passarinho na minha irmã, o bucho não deixará.

– Amadeu, vai tomar no seu cu com essa história. Sua irmã é casada e com uma mulher e entre eu e ela não há chance alguma de passarmos da amizade.

– Está bem. Se você está dizendo, eu acredito, mas ela eu já não sei. Quando fica perto de você os olhos mudam de cor e os pelos ficam eriçados, feito porco espinho. Se isso não é tesão, eu não sei mais o que é.

– Meu caro amigo, você está imaginando coisas. Daqui a um ano Rosângela voltará e tudo será como dantes. Eu trabalhando num jornal longe daqui, refazendo a minha vida e encontrando um novo amor.

O poeta olhou para o amigo e soltou: “- Sem enterrar o passado, não haverá futuro para esse seu coração. Vai por mim. Eu não desejo outra paixão. Só quero a minha Tarsila. E por acaso você sabe se ela deu o ar da graça? Preciso explicar isso para a minha terapeuta hoje à noite”.

Márcio se fixou bem no olho de Amadeu para ver se estava na terra ou no mundo da lua e falou. “- Eu ainda não sei, poeta. Só se sua irmã souber de alguma coisa por intermédio de Rosângela”.

– Então esquece. Aquela mulher da minha irmã quer ver o capeta usando fio dental, mas não quer nem sentir o meu cheiro por perto. Teve uma vez que vim passar um final de semana com a minha irmã e a coisa sapecou entre elas e eu só escutei a Rosângela dizendo que a amava, mas não carregaria um débil mental nas costas. Achei que ela falava de minha pessoa. Não disse nada para não chatear Angélica, mas na primeira oportunidade pedi a ela para me levar em casa e pegar meu jogo de xadrez. Quando o carro parou num semáforo, abri a porta do carro e sai correndo. Ela e aquela esposa dela ficaram um tempão sem ter notícias minhas. Até que um segurança me descobriu morando numa casa de fundos. Sinceramente não sei como descobriram. Eu não pedia dinheiro, trabalhava e pagava as minhas contas. Ah! Chega. Não quero mais falar disso.

– Tudo bem Amadeu. Quando quiser falar, é só dizer!

Antes de terminar o diálogo com Amadeu, Márcio sentiu o telefone vibrar. Ao olhar o número da chamada sabia que viria bronca pela frente.

– Por que ainda não estão almoçando. Já deveriam estar no bar!

– O bonito do seu irmão resolveu vir a pé. E a propósito, você não tinha encontro com seus pais? Vai para esse compromisso e me deixa em paz aqui. Quando tudo estiver terminado eu te aviso. Parece-me que Amadeu está lucido e me contando umas coisas do arco da velha.

– Ah é! E o que foi?

– Não estou afim de falar agora. Beijos e bom almoço lá com o núcleo duro da família. Cambio. Desligo.

– Márcio você sabe que detesto que desliguem na minha cara.

– Está bem. Tchau! Depois nos falamos.

Deixou Angélica falando sozinha e desligou o aparelho, voltando a conversar com Amadeu que já estava diferente, pois lhe disse que uma estrela veio lhe visitar durante a noite dizendo que Tarsila estava com muitas saudades dele e se veriam em breve. “- Você acha que a estrela mentiu, meu caro repórter?”

– Depende. Descreva-me a estrela e o movimento que ela fez para chegar até você.

– Você quer que eu te conto com a goela seca ou que eu escreva? Acho legal tomar uns tragos e falar com aquela que sempre brilha quando meu coração está acelerado. Ela chega de mansinho dizendo: “calma, meu amor, logo estarei voltando para os seus braços. Lugar sagrado para o nosso amor. É muito lindo sentir que seu coração vai serenando na medida em que os seus olhos vão mudando de cor. Eu sei que é o momento de viajarmos entre as estrelas”.

– Mas e se você escrevesse, como seria?

– Não sei. Quebrei todos os computadores que tinha. Nenhum deles me trazia a Tarsila de volta, então perderam o objetivo em minha existência. Mas quem sabe eu não volte a escrever e mandar os meus versos e minhas prosas dentro duma garrafa e Tarsila recebê-los. O que você acha, meu caro repórter?

– Eu posso até conseguir os equipamentos para você escrever e também as garrafas para mandarmos os textos pelo mar para a sua Tarsila, mas você terá que ficar mais um tempinho no apartamento onde está.

– Tudo bem se você ficar comigo, acho que posso aturar a madame mandona e se pudermos sair para tomarmos uns tragos lá no Bar da Net. O uísque lá é muito bom. Sabia que um dia eu vi um mosquito tergiversando com uma aranha. Parece que ela queria jantá-lo e ele, feito um político, negociando. Aí propuseram um jogo de xadrez e caso o mosquito perdesse, só lhe restava o féretro, mas se a aranha fosse a derrotada não podia mais prender insetos da linhagem do vitorioso. Doido isso, não meu amigo? Bar tem dessas coisas e muitas outras. Por exemplo, neste boteco, tem um garçom que acho que já o vi em outros lugares. O cara parece um pinguim de geladeira e pode ser isso. Por ser semelhante àqueles bichinhos que vivem no continente gelado. Todos se parecem. Então eu fiz confusão.

Enquanto Amadeu terminava de falar, chegaram ao bar e o irmão da arquiteta vai para a mesma mesa de sempre. Rodolfo pega uma garrafa de uísque e quando passa por Márcio, lhe provoca. “- E ai! Já comeu a ricaça dos olhos esverdeados? Ela te deu uma ou a esmeralda para você fazê-la subir nos ventiladores do quarto?”

Diante do olhar fechado de Márcio, Rodolfo continuou a provocá-lo. “- Se não estiver comendo porque é veado e olha que essas madames que tem outras mulheres como esposas gostam de comer o cu dos homens. Então presumo que se não a está furando, está sendo enrabado por ela”.

O repórter, para se posicionar de forma elegante, pergunta ao misto de segurança e garçom: “- Por acaso aconteceu isso com você, meu caro? Alguma mulher te enrabou e depois te jogou fora, te fazendo esse capacho de merda que ameaça os amigos com arma para dizer para a patroa que é macho, que é alfa. Então, talvez quem dê o rabo aqui não seja eu, mas sim aquele que me pergunta, me acusa sem ter certeza de nada. E olha que ele bem pode agredir homossexuais justamente porque gosta da mangueira atrás e não tem coragem para assumir a sua condição que está reprimida, pois se fizer isso cairá de paixão por aquele que te faz feliz pelas portas dos fundos”.

Quando Rodolfo ameaçou ir para cima do repórter, este falou: “- não é assim que resolvemos as nossas questiúnculas. Você perguntou e eu apenas respondi. Se esperava outra coisa, enganou-se meu amigo. Agora se quer sair na porrada, avalie suas forças que eu observo as minhas. Eu não tenho nada, não sou nada e estou de passagem por esta cidade dos infernos, agora acho que tu tens mais a perder do que este sujeito aqui!”.

Ao dizer isso, Márcio se dirigia à mesa em que Amadeu o esperava já com os copos cheios, mas parou e finalizou: “- vai cuidar da tua vida e deixa a dos outros, principalmente a minha, em paz … Cada um cuida do seu cercado e o seu é ser capacho dela. Sonha em usar aquele corpo belo, mas não é de sua apetência, já quer apenas se exibir ao seu lado. Você não é capaz, se quer, de trocar um olhar com ela que não seja através da sua submissão. E agora me deixe no meu canto”.

Em dez minutos Rodolfo voltou com a comida. O repórter perguntou qual era o prato do dia. O garçom-segurança não perdeu a deixa: “- É sempre o que a tua dona escolhe e manda preparar para o lunático do irmão”. Ao dizer isso, Márcio levantou como se fosse partir para cima do garçom e este deu risadas em sua cara. “- Cuidado meu amigo, bater não é o seu forte. Para quem apanhou do amante, da amante e da própria noiva, você está muito valentão hoje. Come aí e esquece essa conversa”.

Amadeu olhou para o amigo e, com um gesto de cabeça pediu para ele sentar e beber o uísque. “- Meu caro repórter, quem nasceu para ser Pateta nunca chegará a Mickey. Vai por mim. Sempre haverá um rodapé querendo ser revestimento, mas não tem qualidade para isso. Acho que Rodolfo tem uma queda pela minha irmã, mas ela preferiu uma negona sarada e inteligente do que um pau burro. Ai eles não aceitam”.

Trocando olhares com Amadeu, Márcio achou melhor ficar conversando com ele do que alimentando a ira do garçom que, com certeza estava com dor de cotovelo ou coisa parecida e quis provoca-lo para ver qual seria a reação. Quase que caiu na tentação de tentar partir para cima, mas se fizesse isso, colocaria o chicote em suas próprias mãos. Melhor deixá-lo em posse do seu provocador.

– Amadeu acho que temos uma coisa para fazer nos próximos dias a começar por hoje. Já que você ficará lá com Angélica, providenciarei umas maquinas para que possa escrever esses seus textos e cartas à Tarsila. Só quero que me permitas, lê-las antes e editá-las para que fique bem organizada. Pode ser?

– Eu topo se o repórter ficar comigo no castelo e não mudar nada do que eu escrever, porque seus textos são horríveis, não tem amor, não tem paixão, parecem que foram confeccionados por defuntos, horríveis. Acho que vai ser legal ordenar o amor pela minha Rainha Preta com as estrelas estão no céu. Sempre do mesmo jeito, com o mesmo brilho a nos encantar todas as noites. Se eu estou triste, converso com elas e com a minha analista. Às vezes ela não escuta porque está ocupada com o seu banquete. Há dias que tem um lauto jantar, aí demora para me atender, mas quando pode, é uma maravilha.

Enquanto comiam, Amadeu parava, bebia uísque e olhava para o teto do bar. Acabaram a refeição e a dupla ficou ali bebendo uma dose atrás da outra e falando de tudo e de nada. De música, de poesia, da vida e sobre o ocaso da humanidade. “- Mas, meu caro repórter, só existe uma coisa que impede o fim. Saber que ele é o recomeço de algo. Então não o tema, pois ele nunca existirá. Os homens precisam parar de correr atrás de dinheiro como forma de fugir da morte, já que mesmo com dinheiro ou sem ele, a transformação acontece. Olha o poderoso Jô. Tem dinheiro que não acaba mais, mas não consegue comprar umas pernas novas e fica o dia todo perambulando para todos os lados vociferando ordens e mais ordens. Sabe que quando eu morava com meu pai, presenciei ele conversando com uma tal de Lourdes e lhe dizia que compraria o Sol, as estrelas, o Cosmo e lhe daria de presente. Jô a chamava de minha maravilhosa amada. Só que o estranho é que eu não via ninguém. Só o velho gesticulando com as mãos e tentando se levantar da cadeira de rodas”.

O repórter prestou a devida atenção para ver se não eram devaneios ou se Amadeu estava falando a verdade ou, se uma simples narrativa para denegrir a imagem do pai que ele tanto detestava. Também pudera. O cara tirara tudo dele, principalmente a mulher de sua vida. “Ele teve sorte de Amadeu não partir para cima, como eu fiz com a Márcia”, pensou Márcio.

Antes de terminar o pensamento, o telefone do jornalista tocou e ele nem precisou adivinhar de quem era a ligação.

– Terminaram? Vão para casa e assim que chegar lá me liguem para eu abrir a porta. Eu encerrei o almoço aqui com os meus pais e estou indo ao escritório acabar de finalizar a devolução do apartamento para você. Temos novidades. Espero que goste. E o meu irmão? Ele está bem?

“- Está tudo bem, dona Angélica”, disse Márcio em um tom mais alto para Rodolfo escutar.

– Por que está falando alto Márcio. Está na rua, não precisa chamar a atenção sobre você. Estranho, porque não gosta que lhe olhem mais do que o necessário.

Ao ouvir a observação da arquiteta, o repórter percebeu o papelão ridículo que estava fazendo. “- Será que consegue comprar dois notebooks hoje à tarde e pedir para o pessoal formatar e levar a noite quando voltar ao seu apartamento?”  – Posso sim, mas não preciso comprar eu pego aqui da agência mesmo. Mas para que você quer?

– Acho que encontrei um jeito de manter Amadeu com os pés no chão. A noite eu explico.

– Então não saiam daí. Já estou passando para pegar vocês. Quero saber que história é esse, Márcio.

– Você está falando estranho. Parece que a sua voz está encharcada. Por ventura brigou com seus pais e encharcou esses lindos olhos esverdeados que tem?

“-Depois eu te conto. Agora preciso ir. Beijos”, disse a arquiteta, desligando o seu aparelho e o repórter fez o mesmo, pensando logo em seguida: “- Meu deus do céu, porque eu fui falar. Ela deve estar toda ansiosa agora e tenho certeza que quebrou o pau lá no almoço. É melhor estarmos aqui quando ela chegar.

Amadeu pediu outra garrafa de uísque. A que havia solicitado estava vazia. Márcio não queria acompanhá-lo, mas quando fez menção de pedir outra coisa, o poeta afirmou que beber sozinho é a coisa mais chata. “- Então o nobre repórter precisa me acompanhar. Eu tenho novidades para você. Quando é que vai publicar aquela série de matérias?”

Quando Rodolfo chegou com o outro copo, Amadeu já tinha se perdido em seus pensamentos e iniciava movimentos estranhos com a mão. Parecia que movimentava peças de xadrez. O garçom olhou e não disse nada. Mas o jornalista pediu para ficar distante, já que Angélica estava chegando para levá-los para casa.

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