Olhar Crítico

Literatura

“Entendo por literatura não um corpo ou uma sequência de obras, nem mesmo um setor de comércio ou de ensino, mas o grafo complexo das pegadas de uma prática: a prática de escrever”. Escolhi esse excerto que integra o livro Aula [São Paulo: Cultrix, 2007, p. 16], do semiólogo francês Roland Barthes (1915-1980) para iniciar meus olhares críticos deste último domingo de janeiro objetivando parabenizar a jornalista penapolense Mariângela Sampaio de Castro, pela conquista do segundo lugar na 33.ª edição do Concurso Nacional de Contos “Cidade de Araçatuba”, edição de 2021. Ela alcançou essa posição ao enviar para submissão dos jurados do evento a enunciação breve, como dizia o escritor Julio Cortázar (1914-1984), “Desejo irreal”.

 

“Robinsonadas”

Como não conheço a narrativa, ficarei do lado de cá dos meus aforismas aguardando para acessar o enredo confeccionado pela jornalista e, enquanto isso, permaneço aqui com o semiólogo francês para quem “a literatura assume muitos saberes. Num romance como Robinson Crusoé há um saber histórico, geográfico, social (colonial), técnico, botânico, antropológico (Robinson passa da natureza à cultura)” [São Paulo: Cultrix, 2007, p. 17 – grifo do original]. Para quem não sabe, o romance foi escrito pelo londrino Daniel Defoe (1660-1731). Creio que o enredo do filme Náufrago [2001], de Robert Zemeckis e estrelado por Tom Hanks. Na película, uma bola de voleibol vira a personagem Wilson pode ter sido construída a partir do enredo do romance. Aqueles que analisaram com a devida acuidade as obras ou parte dela, do pensador alemão Karl Marx (1818-1883), podem ter se deparado com a expressão teoria robinsonadas.

 

Recomendação

Creio que por essas e outras a leitura do romance seja significativa. Conferi essa narrativa ainda na adolescência e a cada página conversava com Crusoé, tentando compreender não a ação em si, mas o homem antes da atitude e aí sim, compreender, não o realizado para o projetado, analisando quais são as ferramentas que serão usadas para que o abstrato abandone esse universo, se tornando algo real. Imaginemos como seria a vida de Robinson Crusoé se ele não tivesse encontrado a caixa de ferramentas que era transportada pelo navio? Na narrativa, a personagem salva um nativo de ser devorado por outros “selvagens” e o batiza de 6.ª-feira, porque foi nesse dia que o encontrou. No filme Náufrago, Sexta-feira virou a bola Wilson.

 

Negociações

Deixando o mundo da literatura e seus múltiplos narradores para enveredar pelo campo econômico, entendo que o prefeito Caíque Rossi (PSD) tem pela frente uma negociação complicada com o Sindicato dos Servidores Públicos Municipais. A entidade apresentou a pauta de reivindicação da categoria. Do enredo, todos sabem: um puxa daqui e o outro puxa de lá e a verborragia correndo solta, entretanto é preciso sapiência nessas horas e a busca pelo consenso. Dois anos de pandemia deixou todos em frangalhos e as finanças municipais escudadas na movimentação da economia, pagamento de tributos, impostos, repasse do Fundo de Participação dos Municípios está em declínio e as despesas correntes crescentes e ainda tem a LRF (Lei de Responsabilidade Fiscal). Creio que todos saberão chegar a um denominador comum: nem muito ao Sol nem muito à chuva.

 

Inusitado?

O que dizer sobre a ocorrência policial em que foi encontrado nas dependências do almoxarifado municipal um pé de maconha que era cultivado dentro de um vaso e camuflado entre as plantações de mandioca? Apesar de considerar um fato inusitado, entre tantos outros como a perversidade no ato de mutilar um cachorro e deixá-lo agonizando, prefiro não avançar nas temáticas, aguardando as investigações policiais e os culpados sentenciados conforme prevê a legislação nos dois casos delituosos. Claro que fica sempre a pergunta: como o ser humano é capaz de ações tão sórdidas como essas e ainda se arrogar a querência de ser considerado humano? Por mais que eu revire aqui a minha mente e o meu íntimo, te confesso, meu caro leitor, que ainda não encontrei uma resposta plausível.

 

Pandêmicos 

Também esperar o quê? Em tempos pandêmicos, em que o Brasil registra mais de 600 mil mortes provocadas pelo vírus Covid-19, é possível detectar pessoas que ainda descreem do problema e são chamados de negacionistas, por desdenharem da ciência, culpando tudo e a todos, menos as próprias atitudes beirando a mórbida insensatez. É corrente que são necessários a utilização de máscaras, álcool gel e quando possível o distanciamento social. Entretanto, como os dados dos últimos dias indicam, a situação beira ao descalabro e o sistema de saúde brasileiro novamente está perto do colapso e a pergunta que fica é: por que? Reitero a não necessidade de ser aqui extensivo e nem taxativo, pois estamos observando as consequências de atitudes intempestivas ou não e aí cada cabeça uma sentença.

 

Educação

Até o momento em que confeccionava essas linhas, tudo estava ajustado para o retorno às aulas nas escolas de Penápolis a partir da próxima terça-feira, encerrando um mês de férias em que os docentes e as equipes gestoras puderam recarregar as baterias, como se diz no jargão popular e os pais – eis a minha utopia – tenham utilizado esse breve interregno para instruir os filhos, os ensinando a distinguir os espaços públicos e privados e que muitos dos hábitos dos lares não devem ser reproduzidos em ambientes coletivos como as unidades escolares. Nunca é demais recordar que valores éticos e morais são inculcados pelos pais e responsáveis pelos estudantes e as instituições educacionais se ocupam em aprimorá-los nas mais diversas matérias que são oferecidas e também no que diz respeito ao respeito às regras que são elaboradas para que todos possam conviver de maneira harmônica. Portanto, o uso de máscaras é obrigatório no interior das escolas, de acordo com as determinações dos protocolos elaborados pelas autoridades sanitárias e não outros discursos ludibriadores e messiânicos.

 

Condutas

Enfim, todos querem um mundo melhor, resta saber quantos estão realmente dispostos a contribuir para que a segunda-feira comece de forma diferente. Neste sentido, é sempre bom ter dentro da algibeira algumas colocações e dizeres que podem auxiliar na construção de um amanhã diferente do ontem conhecido. Segundo Immanuel Kant (1724-1804), o homem deveria agir de acordo com a máxima, segundo a qual, suas ações seriam universalizadas. Observem bem, meus caros, que há uma necessidade urgente de cada um olhar o próprio espelho objetivando a face que está sendo refletida. Com certeza não é a do semelhante e a atitude deste, mas o próprio ser que reflete o roto no objeto de adorno e estética. Por hoje é só pessoal, na próxima semana pretendo trazer novas informações sobre a criação de uma Incubadora tecnológica em nossa cidade. gilcriticapontual@gmail.com, d.gilberto20@yahoo.com,   www.criticapontual.com.br.

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