Olhar Crítico

História

Para se entender o presente, principalmente de uma Nação como a brasileira com suas miríades de problemas sociais e econômicos, se faz necessário compreender, mesmo que seja um quantum, sua história pretérita. E se possível, e aí a função dos historiadores e demais cientistas sociais, entender o ontem a partir fatos e não dos interesses de grupos e seus autocratas. Uma visão clara e imparcial poderá proporcionar um posicionamento mais coerente e não pautado no achismo, na vingança, no ressentimento principalmente por não ter conseguido a tão sonhada ascensão social que muitos almejam. Ninguém é contra o progresso e a melhoria da qualidade de vida, entretanto, se, para que uma meia dúzia se enriqueça enquanto o restante da plebe passa fome, é preciso questionar os próprios valores quando se é favorável a realidades como estas. Pois bem, lançando um ligeiro olhar ao nosso passado, eis que me deparo com a expressão “amigo do rei” e de como ela sobrevive até em nossa sociedade, seja aqui ou alhures, tingindo o capitalismo brasileira com cores estamentais.    

 

“Amigo do rei”

“No dia em que d. João desembarcou no Rio de Janeiro em 1808, recebeu um ‘belo presente’ de um traficante de escravos local: a melhor casa da cidade situada num belo e vistoso terreno. ‘Ceder’ a Quinta da Boa Vista à família real assegurou a Elias Antônio Lopes o status de ‘amigo do rei’ e um visto de entrada no mundo de privilégios da corte. Nos anos seguintes, e como consequência do seu ‘ato dadivoso’, ele não só enriqueceu muito, e rapidamente, como acumulou títulos de nobreza” [Lilia Moritz Schwarcz. Sobre o autoritarismo brasileiro. SP: Cia das Letras, 2019, p. 95]. Como os meus leitores dominicais podem observar, o ato em si datado do começo do século 19, portanto, há duzentos anos, não se esvaiu das cercanias brasileiras, fazendo com que a sociedade brasileira em si, e aí não adianta culpar o Estado porque ele é a cara de seu povo, permaneça ainda enfincada até o último fio de cabelo no estamento colonial.

Fatos e não boatos

Mas por que começar o domingo – primeiro dia da semana – tratando de questões desta envergadura, deve se estar perguntando o meu leitor. Entendo que antes de, somente retratar fatos, é preciso compreendê-los não apenas em si, ou seja, na sua construção, mas lendo-os como elementos fundantes de algo que se encontra no ethos de formação, isto é, na forma como o país construiu e perpetua suas mentalidades. Daí seja possível analisar a manutenção de certas medidas, usando como justificativas que as coisas já eram assim quando assumiu o tal posto que deveria ser usado para revogar equívocos e ações inconstitucionais. Vejam bem, meus caros leitores, quando um postulante a um cargo eletivo, faz sua campanha diz muitas coisas, ressaltando suas virtuosidades, entretanto, ao se apossar do assento passa apenas a se preocupar com sua reeleição e construindo inimigos imaginários.

 

Cacos e mais cacos

Bom, deixando essas questões para outro momento, mas evidenciando que se quisermos reduzir os cacos a serem recolhidos num momento pós-pandêmico, é preciso que cada um faça a sua parte e, neste sentido, enalteço aqui a ação dos proprietários de um supermercado da cidade em disponibilizar vales compras e uma caixa de bombons aos profissionais da saúde que estão na linha de frente do combate a essa peste que grassa o país, ceifando a vida de milhares de pessoas, deixando outras aleijadas, pois a deficiência não fica só no aspecto físico, mas também naquele que perdeu filhos, irmãos, avós, pais e amigos. A partir de atos como esses, seria interessante a população colaborar e deixar de se aglomerar de forma desnecessária, circulando somente quando não for possível ficar em casa. E usar máscaras como importante elemento de contenção da circulação desse vírus que a cada variação fica mais letal.

 

Boletim pandêmico

No último boletim pandêmico que este colunista teve acesso, momentos antes de confeccionar as linhas que se seguem, os dados indicavam 110 mortes em Penápolis. Claro que esse número pode ser maior neste domingo quando os meus leitores percorrerem meus aforismas críticos. Será que nem esse fato muda a cabeça do cidadão? Será que as dores dessas 110 famílias não o comove? Sei que cada um terá seus motivos para alegar o econômico, contudo, todos, sem distinção, foram afetados por essa moléstia. Uns mais, outros menos, então não dá para se fechar no próprio umbigo se achando o único prejudicado pela pandemia. Também não podemos deixar de enfatizar situações em que o sujeito só pensa em si, em detrimento do seu semelhante, e depois arvora-se ser o cristão suprassumo, mas não é capaz de estender os braços a quem procura abrigo e proteção – para lembrar a frase de uma canção do final dos anos 80 do século XX.

 

UTI lotada

De acordo com matéria divulgada por este jornal no dia 26, 90% dos leitos da UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) da Santa Casa local estavam ocupados com pacientes vitimados pelo covid-19. Se a máxima “é tempo de murici e cada um cuida de si” pegasse da forma invertida, ou seja, cada um cuidando de si mesmo adotando todas as medidas preventivas prescritas pela ciência, sem abraçar negacionismos e seus politiquismos, provavelmente o país não estaria nesse caos, computando mais de 300 mil mortes desde que a pandemia foi detectada dentro dos limites brasileiros há um ano. Achávamos que a coisa toda poderia ser rápida e a vida retornar o seu curso natural, entretanto o que se viu foi completamente o contrário, me fazendo pensar a partir do sociólogo francês Emile Durkheim (1858-1917) e as instituições que são “coercitivas”, pois externas ao sujeito. Qual foi a instituição que disseminou questionamento infundados sobre o papel da ciência? Se pensarmos com Augusto Comte (1798-1857) e sua lei dos três estados, ao agir assim, essas instituições estão no campo teologal, metafísico ou científico?

 

Oxigênio

Em outra matéria divulgado por este jornal, também na última 6.ª-feira, havia a informação de que as autoridades do setor de saúde no Estado faziam alerta sobre o estágio crítico no abastecimento de oxigênio utilizado no tratamento de pacientes com covid-19. Entendo que os prefeitos dessas localidades estão cientes da problemática que precisa ser solucionada. Exemplos de tragédias não faltam, principalmente da região amazônica, de onde surgiu uma variante letal do vírus pandêmico. Resta saber quais são as ações que podem ser articuladas em parceria com o governo estadual, federal e população. Não adianta os gestores das áreas atingidas pela pandemia queimarem as pestanas no sentido de achar solução, se o cidadão, fica circulando pelas ruas da cidade afirmando que faz atividades física que é isso e aquilo, mas não se previne de acordo com as determinações dos cientistas. Antes do choro letal, conscientizemo-nos, já que os sinos tocam para todos, indistintamente. gilcriticapontual@gmail.com, d.gilberto20@yahoo.com,   www.criticapontual.com.br.

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