Sobras de um amor … parte II

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Assim que entraram no apartamento, Amadeu já desperto pediu o computador para mostrar a Márcio o que já tinha feito. O repórter buscou os equipamentos e montou lá no espaço em que decidiram que seria o local no qual ficariam escrevendo. “- Vamos logo meu caro repórter. Daqui a pouco tenho que ir para a mansão jantar com minha mãe! Você achou que fiz certo? Ela me pediu perdão por ter machucado a Tarsila. O que devo fazer?”

– Meu amigo, não existe lugar melhor para estarmos do que na casa, no colo de nossa mãe. E posso te dizer mais: dona Eleanora merece que você a perdoe. Com o tempo e com serenidade, você saberá a razões dela e conviverão numa boa. Inclusive será necessário que sua Rainha de Ébano também a perdoe, mas acho que sua mãe quer primeiro o seu. Hoje é o primeiro passo que darão nesse sentido.

Enquanto Márcio conversava com o amigo, era observado pelas duas: mãe e filha que se afastaram em silêncio para não quebrar a sinergia dos dois. “-De fato, Keka, o rapaz e Amadeu se parecem muito. Quando estão juntos, se desligam do mundo”.

– Mãe! O Márcio encontrou Amadeu no bar numa noite em que estava tudo ferrado para ele. O boteco lotado de gente, não havia nenhuma mesa para se sentar, exceto um assento junto à que o Amadeu ocupava. Márcio se sentou, iniciando a conversar, pensando em publicar uma matéria com meu irmão. Daí em diante não se desgrudaram mais e o resto da história a senhora já sabe. Mas tem uma coisa interessante. Márcio um dia me viu brigando com Amadeu, mas nem percebeu quem era. Ele é completamente desligado. Anda na rua como se não estivesse na Terra e sem pressa para nada.

– Esse para morrer de repente vai levar um século!

– Na rodoviária da última cidade em que esteve, aguardava o ônibus como se não existisse ninguém do seu lado. Não sei como consegue viver assim, desligado do mundo. A senhora sabe como eu consegui encontra-lo?

– Não! Como?

– Ele estava fazia uns dois ou três dias na cidade e todo mundo já sabia quem ele era. Justamente por conta desse jeito dele. Chegava no restaurante a mesma hora, comia do mesmo jeito, saia na mesma hora. Entrava no hotel da mesma forma e sumia no quarto. Ao beber a noite, repetia o ritual no bar. E o mais doido. Entrou numa loja e comprou um monte de roupas iguais, só mudando a cor. Chamavam-no de “esquisitão”.

– Você tem certeza que é ele quem você quer?

– Eu tenho certeza de que é o meu prego enfincado no concreto. Faz o meu mundo parar de girar sem sentido. Eu vi isso hoje pela manhã quando a amiga dele o descreveu. Disse ainda que só não quis ficar com ele, porque é muito certinho.

– Filha! Você se incomoda se eu for tirar um cochilo, enquanto Amadeu se diverte com as tais cartas?

– Em absoluto, mãe! Pode ir. Enquanto isso, verificarei umas coisas por aqui. Selecionar umas roupas que serão vendidas no bazar beneficente. Preciso abrir espaços para os modelos que estarão ao gosto de Márcio.

A matriarca foi para o quarto rindo. A filha era daquele jeito mesmo. Não havia como mudar. Ainda bem que estava feliz com aquele repórter amalucado como o filho. “Aquele rapaz não é flor que se cheira. Keka está pensando que mandará nele. Esses homens que fazem tudo do mesmo jeito, são controladores. Não gostam que nada saia do lugar. São flexíveis, mas se falar não é não. Não sei como ela conseguiu trazê-lo de volta”, ao terminar o pensamento a mãe da arquiteta já estava deitada, e escutou Amadeu e Márcio dando gargalhadas. Ouviu quando o filho perguntou ao jornalista se havia gostado do título da carta.

“Amadeu só Amadeus: crônicas de uma lagartixa”

“No fim, o começo e sempre foi assim desde o princípio. No início, estava o caos indicando o encerramento de tudo quando a luz se forjou a partir dos cacos do caos que desapareceu no firmamento, levando consigo seus dois filhos: Tânatos e Caronte. Então eu vos pergunto, minha cara amada Tarsila, será que para a luz se concretizar, deve haver a intervenção da deusa Minerva?  Nunca os conheci, mas sei que a iluminação que se faz Sol, firmou uma parceria com a Lua. Um brilha durante o dia e a outra fulgura a noite, tendo como parceira uma miríade de lanterninhas do cinema e, desta forma, a humanidade pode reinar tranquilamente no orbe em dois períodos consecutivos. O mais interessante nessa simbiose entre o Sol e a Lua foi que a união dos dois forjou nossos corações um para o outro e, desde então, não enxergamos mais escuridão. Numa parte do tempo, enquanto Prometeu, por ser intrometido, tem o fígado devorado, nosso amor é iluminado pelo poder magnético e divinizador das estrelas. Na outra parte, enquanto o mesmo titã usa a energia solar para regenerar o seu órgão debilitado, o Sol mantém nosso amor aquecido. Me aguarde paixão. Essa mesma garrafa que transporta esse belo libelo dedicado aos nossos sentimentos contidos nesta forma verbal “amor” e “amar”, me levará em breve até você. E olha só: daqui uns tempinhos formaremos o nosso divino par: Rei branco, Rainha preta e vamos dar xeque-mate nessa hipocrisia que os incautos chamam de racismo. Do sempre… Amadeu que te ama como o verbo divino manda amar o seu próximo”.

– Agora chega, meu chapa. Deixe-me aqui com a minha rainha e vai lá ter com a sua. Ela quer o seu colo. Precisamos unir forças para dar um xeque-mate definitivo nessa porcaria de as pessoas ficarem definindo as outras pela cor da pele. Minha irmã é louca por você. Não deixe ela ir embora.

– Ela é muito ciumenta, meu amigo!

– E que mulher mandona não é ciumenta? Imagina se ela souber que conquistou sua alma. Tu não terás mais paz. Ela te ligará de hora em hora para falar de qualquer coisa. Se você for a uma loja com ela. Tenha paciência. Espere, aguarde e espere novamente e ainda assim ela ainda voltará para casa dizendo que não comprou o que quis. E ai de você se falar que tal roupa não ficou boa no corpo dela. Será um deus nos acuda com elas entrando em crise existencial e, se estiverem em TPM, fale, corre e se tranque no banheiro. Porque se te pegarem, tu serás um cadáver. No tribunal vão alegar que estavam aqueles dias enquanto você comete grama pela raiz.

– Amadeu! Nunca tinha visto por esse prisma.

– Não tinha visto porque só sabe se masturbar. Vai por mim. Aquela mulher é doida por ti. Eu senti isso quando soube foi lá no seu apartamento brigar contigo. Na segunda-feira te afrontou no seu emprego. Obtive a informação que ela passou o domingo inteirinho falando de você. Que era isso e aquilo, topetudo, arrogante, tratou-a como uma qualquer. Ela subiu no salto e prometeu te aniquilar.

– Como é que é? Aniquilar-me e agora vive dizendo que me ama?

– E ela conseguiu te aniquilar mesmo. Está aqui todo borrado por ela. Só de dormir na cama dela, ficou de pau duro.

– Como faço para sair dessa sinuca de bico e ter minha vida de volta?

– Que vida de bosta tu tinhas. Vivia me perseguindo. É essa existência que você quer? Não se apequene meu amigo. Minha irmã só quer uma coisa de ti: que você a ame incondicionalmente, independente do jeito que é: mandona, autoritária. Ela me falou que só consegue paz quando está contigo. O Márcio que ela aniquilou era aquele igual aos sapatos e roupas que tu usavas, tudo sem vida, opaco como um dia nublado que não chove e nem o sol aparece. Agora sai daqui. Deixe eu poetizar uns poemas em versos para a minha amada que está do outro lado do mundo, lendo Goethe*, bailar ao som das minhas rimas.

Márcio passou pelo quarto de hóspedes e viu Eleanora dormiu num sono profundo. “Acho que o primeiro depois das despirocadas de Amadeu”, pensou. Ao passar pela porta do quarto de Angélica, a flagrou toda entretida com as roupas. Achou melhor não entrar, já que a arquiteta não tinha notado a sua presença. Olhou para o relógio, observando que os ponteiros se aproximavam das 18h. Foi até o bar, preparou um uísque e se deixou ficar ali de pé, vendo o Sol pintar o céu dum magnifico laranja.

Não sabe o tempo que passou naquela contemplação, mas voltou a Terra quando Angélica lhe abraçou por trás dizendo que ficaria com ciúmes daquela beleza que tanto o encantava. “- Realmente, meu neguinho se perde diante de tanta beleza. Acho que a Lua quer roubá-lo de meu coração. Preciso ter uma conversa séria com ela”.

Ao se virar, foi beijado pela irmã de Amadeu que acrescentou: “- Amor, falei para a minha mãe que você é de outro mundo. Idêntico ao meu irmão. Se desligam totalmente. Ficam imobilizados como mosquitos na teia. Não mexem um músculo. São capazes de passar horas assim, como você estava olhando esse belo pôr do sol”.

– É Keka! Acho que não sei se sou a pessoa que espera. Um cara que se desliga completamente do mundo, não tem as mesmas ambições que outros indivíduos, enfim, penso não ser a tampa que teu coração busca.

– Deixe de bobeira. Você não acha que quem tem que decidir isso sou eu? A única ambição que eu desejo de ti, sabendo que tens condições de me atender, é me fazer feliz como agora. Estou conseguindo me reconciliar com a minha mãe, com quem era brigada há anos! Nos ajudou a ter o meu irmão conosco, saiu com altivez do racismo que minha mãe cultivava porque não conseguia tirar o amor da vida do meu pai de dentro do coração dele.

– Como é que é?

– Isso mesmo amor!

Para explicar direitinho a situação, Angélica puxou Márcio pelas mãos e se sentaram. “- Meu pai amou uma mulher quando era jovem e trabalhava com o meu avô. A moça era preta e chamava Lourdes. O pai dele descobriu, mandando sequestrar, violentar a jovem, a matando, registrando tudo isso, em seguida enviaram as fotos para o Jô. Tempos depois apresentara minha mãe para ele.

– Quer dizer que o todo-poderoso doutor Jô morria de amores por uma preta que foi brutalmente assassinada a mando do pai? Que coisa de louco. E por que sua mãe o acompanhou nesse ódio reverso? Sim, porque ele devia odiar o pai por tamanha crueldade e não os pretos que sempre foram vítimas.

– Eu sei disso tudo amor, mas acontece que minha mãe sabia disso e queria tirar essa mulher de dentro do coração do meu pai e não conseguia. Creio que de forma inconscientemente, ou sei lá o quê, ela transferia isso tudo para todos os pretos. Você entende agora? Por isso que te pediu perdão. Por entender que precisava se livrar desse peso que carregava n’alma.

– Então aquilo que Amadeu me contou foi verdade. Seu pai estava conversando com o fantasma dessa Lourdes. Vocês sabiam que a Tarsila era preta e estavam com medo que essa sujeira toda viesse à tona. Você me usou para esconder tudo isso. Proteger este racismo todo de sua família. Tchau. Não quero ouvir mais nada.

Ao tentar se levantar, foi puxado para o sofá e pela primeira vez escutou Angélica gritar com ele: “- Quer calar essa maldita boca e me escutar. Caralho Márcio! Assim não dá. Pare de achar que todo mundo o detesta porque é preto. Claro que tem gente assim, mas eu não sou assim. Será que dá para me entender?

“- Eu sabia que ela era preta, meu caro Márcio”, disse Eleanora já de pé. “- Deixe-me a sós com ele. Preciso lhe explicar algumas coisas. Por favor, nos deixe a sós. Vai lá terminar de separar as suas roupas”, ordenou a mãe.

Ao sentar-se, a mãe de Angélica ofereceu mais um uísque ao repórter.

– Olha aqui, meu caro jornalista. Minha filha é doida pelo senhor. Ela está cheia de grilos e um amontoado de coisas para colocar em ordem dentro dela. Então se o senhor não for capaz de ajudá-la a viver esse amor que sente por ti. Pode ir embora. Chama o elevador e desapareça. Você parece marica. Não sabe conversar, resolver as coisas. Tudo você ameaça ir embora! Vai. Seu cagão de merda.

Angélica escutou tudo lá do quarto e quando chegou na sala, só ouviu: “-Não te pedi para ir organizar as suas coisas. A conversa é entre eu e esse senhor que precisa aprender umas coisas se quiser ser meu genro um dia”.

Márcio engoliu em seco. E quando pensou em falar alguma coisa, Eleanora não deixou, partindo para o ataque. “- Meu rapaz, você me ajudou a entender que meus filhos não podem pagar por equívocos meus e do pai deles, inclusive por conta duma atrocidade que praticaram com o amor da vida dele. Você vive fugindo de uma noite em que sua ex-noiva, por ser uma cadela, dava para outro homem, estando numa orgia. Agora se coloca no lugar do meu marido, que até outro dia guardava as fotos em que no verso estava escrito que o amor da vida dele foi brutalmente assassinado só porque era preta e não deveria se envolver com brancos.

Márcio escutava tudo em silêncio.

– Agora. Aproveite que ela vai me levar embora e saia junto e siga a sua vida. Vai cultivar essa sua dorzinha em outro lugar. Minha família já tem problemas demais para solucionar. Não há espaço para que um jornalista fracassado fique dando chiliques toda vez que a pessoa que o quer, não consegue lidar com uma situação que é complicada para ela. Passar bem. Adorei conhece-lo, mas achei que tivesse maturidade.

Eleanora se levantou e falou para Angélica. “-Ele desce no elevador junto conosco, mas não entra no carro. Ele que vá procurar colocar fim a noite maldita dele em outro lugar. Ou ele vira homem, assumindo a própria vida ou que fique andando de cá para lá em busca do elo perdido enquanto ele dá outros”.

Ao chegar no lugar em que Amadeu estava, Eleanora disse carinhosamente ao filho. “Está na hora. Vamos. Hoje combinamos de passar a noite juntos”.

Amadeu arrumou todas as coisas e disse ao Márcio: “- Não mexa em nada. Amanhã continuaremos”. Em silêncio todos entraram no elevador e o jornalista, mudo seguiu calado. Quando chegou no térreo, sem dizer nada, desceu e esperou que a porta fosse aberta. Amadeu percebeu que ele não ia entrar e perguntou o motivo. Foi Márcio quem respondeu: “- Não vou com vocês, meu caro. Tenho um assunto para resolver lá do jornal. Amanhã nos veremos”. Os três entraram no carro e a porta foi aberta e o repórter saiu em silêncio.

Eleanora no banco da frente instruía a filha. “-Não cede! Ele precisa levar umas esfregas. Porra! Você atravessa o estado para trazer esse filho de uma puta de volta. Disse que o ama, vai terminar o seu casamento e ele fica com esse cu doce. Deixa ele se foder um pouco para ver se vira homem”.

– É mãe! A amiga dele me disse muitas coisas boas sobre ele, mas falou que ele não servia para ela, por ser muito carola. Me falou ainda que eu precisava encontrar a alma dele. Se eu não conseguisse isso, jamais seria feliz com ele, ou seja, lhe dar o presente que gostaria de receber.

– O presente dele é um NÃO bem grande na cara. Não vai ficar procurando ele pela cidade, feito uma tonta. Deixe-o se foder sozinho.

Fizeram o restante do caminho em silêncio, enquanto Márcio ficou um tempo ali defronte ao prédio, começando a andar a esmo pela cidade. Durante a caminhada percebeu que não tinha para onde ir. Não podia ir incomodar Roberto. Ele tinha lá seus problemas e não queria azucriná-lo com os seus. Com a cabeça completamente revirada, o repórter pensou no Bar da Net, mas optou por não ir. Não seria o ideal. Queria fugir de tudo e de todos. Ficou quase duas horas andando, feito barata tonta, sem saber qual rumo tomar. Quando percebeu estava na mesma praça de outrora.

Ao se sentar no banco, lembrou de Amadeu dormindo num daqueles, entre um pensamento e outro, acabou dormindo ali mesmo, acordando todo molhado pela chuva que precipitou uns dez minutos depois que Márcio adormeceu. Estava tão amargurado com as verdades que Eleanora jogou em sua cara, e envergonhado, que não tinha coragem nem de abrir os olhos. Por isso se deixou ficar naquele banco, mesmo com a chuva lhe castigado e encharcando o corpo, enquanto dos seus olhos vertiam lágrimas. Chorou como naquela noite em que foi socorrido por Roberto, após surpreender a noiva transando na cama em que deveriam passar a noite de núpcias e ser surrado pelos três que participavam do bacanal.

Debaixo daquela chuvarada e com aquelas lágrimas vertidas do centro de sua alma, entendeu que não dava para mais continuar. Estava sem forças, Eleanora o nocauteara. Resolveu não se mover. Deixar tudo como estava e depois, se houvesse amanhã, verificaria o que dava para fazer do que sobraria desta segunda noite macabra, se restasse alguma coisa.

A chuva foi se acalmando com Márcio adormecendo entre choros e soluções. Naquele momento pensava na mãe que fazia cinco anos que não a via por conta daquela noite maldita que o perseguia. Entre o sono e o estado de vigília, escutava passos apressados. Não se importava. Não tinha nada de valor. Estava literalmente a um passo da mendicância e o culpado era ele mesmo. Os passos foram se aproximando e ele se manteve do mesmo jeito. Não tinha por que se ocupar. O que poderiam levar dele? Uma roupa encharcada pela chuva, um rosto lavado pelas lágrimas, uma alma que encontrou o amor, mas o corpo não deixou que ela a vivenciasse aquela paz que aqueles olhos esmeraldinos lhe transmitiam.

Os passos se aproximaram e pararam. “É agora. Serei executado. Os ladrões verificarão que eu não tenho nada e me matarão. Já estou vendo a manchete de amanhã: ‘Jornalista em andrajos é assassinado na praça principal da cidade. No momento chovia torrencialmente, e as autoridades policiais acreditam que o repórter foi morto numa tentativa de latrocínio”.

– Seu filho da puta! O que está fazendo aqui nesse banco todo encharcado? Seu imbecil, idiota. Tenho vontade de matá-lo. Só não faço isso porque te amo. Seu retardado mental. Estou te procurando faz horas. Rodei a cidade inteira. Só faltei ir ao necrotério. Mas lembrei que só tinha um lugar onde essa porcaria poderia estar, mas por conta da chuva, achei que não seria aqui. Mas era onde eu deveria ter vindo primeiro. Vamos embora. Anda!

Ao se virar, Márcio viu que era Angélica quem estava ali.

– Sua mãe me expulsou de sua casa, de sua família e de seu amor.

– E ela estava certa em fazer aquilo. Você é um bundão do caralho. Mas é a pessoa que amo muito. Agora vamos.

Ao se levantar, Márcio perguntou: “- E se eu não quiser ir?”

Levou um tabefe na cara e outra resposta; “- Você não tem querer. A resposta é uma só. Você vai nem que for amarrado e, se precisar eu chamo meus seguranças. Aí a coisa vai feder para o seu lado”, disse a arquiteta o puxando pela mão.

Ao chegar no carro, ela entrou primeiro e pediu para ele esperar um pouco. Tirou a blusa, a estendendo no banco do carona, mandando ele entrar. Ao olhar e ver que a arquiteta estava só de sutiã, já levou uma bronca. “- Não precisa olhar. Isso não é para seu bico. Como minha disse. Você precisa ser muito homem para tocar. Esquece”.

Fizeram o trajeto em silêncio. Entraram no apartamento e Angélica lhe disse. “- Vá para o chuveiro tomar banho e tirar essa roupa molhada. Vou preparar uma bebida quente para você”.

Assim que Márcio entrou no chuveiro, Angélica pegou o celular e ligou para a mãe. “-Achei o idiota dormindo no banco da praça todo encharcado. A senhora acha que pode isso, mãe?”

– Desculpe-me filha por ter dito tudo aquilo para ele, mas estava vendo que teria que se rebaixar para ele. Isso não! Agora ele que faça por merecer o seu amor. Não vou me intrometer nas suas coisas, mas também não quero vê-la rastejando atrás de ninguém. Já basta o que eu fiz, prejudicando você e o seu irmão. Boa noite filha.

Assim que Márcio saiu do banho vestido com o roupão, já foi sabatinado por Angélica que estava com os olhos meio que amendoados. “- O que deu em você, seu idiota?”

– Ué! Sua mãe me expulsou daqui.

– Minha mãe te expulsou. Eu não! Fiquei quieta para não brigar com ela na frente do meu irmão e ainda bem que você deu uma desculpa esfarrapada. Mas porque não foi para um lugar onde eu te acharia? Por que não foi para o Bar da Net?

– Não suporto olhar para a cara do Rodolfo. Com certeza eu sairia no tapa com ele. Ele é o seu segurança e ainda por cima está afim de você. Então lá era o último lugar que eu iria. Também não incomodaria Roberto. Fiquei andando a esmo pensando na porrada que sua mãe me deu.

– E você bem que mereceu. Toma aqui esse conhaque.

– Onde estão as minhas coisas. Dê-me a chave do apartamento. Vou embora. Não tenho mais coragem de olhar para ti, à sua mãe e nem para o Amadeu. Dona Eleanora tem razão. Todos têm razão. Eu sou um saco de merda que escreve umas merdas que ninguém lê. Você deveria ter me deixado lá onde eu estava.

Antes mesmo de terminar de falar, Márcio sentiu um empurrão e caiu sobre o sofá e Angélica já estava em cima, beijando-o, dando tapas nele e chorando. “- Não faça isso comigo novamente. Não saia da minha vida. Minha mãe só te disse tudo aquilo porque gosta de ti e quer que você acorde, ficando comigo. Me ame do fundo de sua alma. Não tenha medo do que eu tenho para lhe dar. Me falaram que quando eu atingisse sua alma, saberia o presente que você merecia. Então não fuja de si mesmo. Não tente escapar da felicidade que estão te oferecendo”, disse a arquiteta saindo de cima dele e vendo pela primeira vez o pênis ereto e o tamanho do órgão de Márcio, que se ocupou em cobri-lo rapidamente.

– Não sou digna de vê-lo, de senti-lo, de amá-lo?

Márcio não sabia o que dizer nem o que fazer.

– Se não sou, me ensine a ser, porque amo muito o dolo dele. Embora seja um medroso, mas uma excelente pessoa.

Ao dizer isso, ela deu a mão ao repórter que ficou de pé. Ela se encostou nele e sentiu todo o calor e a extensão do pênis de seu amado. Enquanto o beijava, Márcio desatou-lhe o sutiã e em seguida, soltou as fivelas da calça que assim que chegou ao chão, ele encaixou seu membro entre as pernas da arquiteta. Os dois ficaram ali, sem dizer nada um ao outro, apenas sentindo o calor que vertia do corpo de cada um, deixando o coração batendo descompassadamente.

Márcio sabia que não dava para avançar o sinal, mas começou lentamente a acariciar os seios de Angélica que responderam as caricias se enrijecendo na medida em que as massagens feitas pelo repórter se intensificavam e ela o beijava mais profundamente.

A empresária parou de beijá-lo, fixando bem os olhos do repórter. “- Meu amor. Não me deixe. Tenha paciência. Eu vou me livrar desse maldito bloqueio”. Márcio em resposta diz a arquiteta: “- Me ensine a te amar sem medo e do jeito que você merece”. Se beijaram novamente e desta vez os dois estavam em prantos.

Sentaram-se no sofá e Angélica perguntou se ele não estava curioso para saber o que tinha no pacote que estava junto com o livro.

– Nessa confusão toda, até me esqueci. Desculpe-me amor. Você pode ir lá pegar?

“- Claro”, disse a arquiteta.

Na volta, trouxe uma dose de uísque para Márcio e uma garrafa de vinho que tinha trazido da casa da mãe. Era o mesmo que ele tinha escolhido para o jantar do dia anterior. Quando o repórter viu a garrafa e o brilho nos olhos da arquiteta, deu aquela olhada no corpo dela. “-Pare de me olhar assim. Quer me deixar mais nua do que já estou”.

“- Um brinde ao presente. Espero que goste”, disse Angélica.

Cada um tomou um gole da bebida e Márcio abriu o pacote. Ao ver o que era ficou de boca aberta. “-Quer fechar essa boca e me dizer se gostou ou não?”

– Primeiro, quero saber porque me deu esse livro?

– Só se você me falar se gostou!

– Eu só posso dizer se gostei ou não se você me falar para que me presentou com?

-Diga se gostou!

– Está bem! Adorei.

– Eu te dei para que você me ajude a quebrar esse maldito bloqueio.

Márcio não resistiu e deu aquela gargalhada que sabia deixava a arquiteta toda excitada.

– Essa risada é para começar a me auxiliar a abandonar aquelas noites horríveis.

Ele não respondeu, puxando a para si. Dando-lhe um intenso beijo, enquanto na outra mão segurava o exemplar do Kama Sutra Ilustrado.

* Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832), um dos mais importantes poetas da Alemanha. Autor de obras como Os sofrimentos do ovem Werther

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