Olhar Crítico

Hábito

Começo meus olhares deste domingo perguntando vos, meus caros leitores, o que provoca o entortar da boca: o cachimbo ou o hábito de pitá-lo? Para ajudá-los na reflexão, sugiro o filme Um príncipe em Nova Iorque. Não a projeção inteira, mas tão somente as partes finais quando o príncipe encontra numa plebeia americana a esposa ideal, mas o rei diz que tal união é impossível, pois vai contra as tradições do reino e ele não as poderia mudar. A rainha então o indaga dizendo pensar que ele fosse o governante de Zamunda, portanto, o único capaz de alterar as coisas, permitindo que o filho fosse feliz com a sua escolhida plebeia. Sempre assisto o filme e fico pensando sobre determinadas passagens e esta é uma das minhas preferidas.

 

Legislação

Somarei a esta passagem outra, só que desta vez do que, em minha singela opinião, o maior escritor brasileiro: Machado de Assis (1839-1908). Segundo ele, no Brasil não bastaria alterações nas leis vigentes. Haveria a necessidade de uma mudança nos hábitos dos moradores, desde o sopé da pirâmide social até as categorias mais altas da sociedade. Contudo, precisaria olhar se a Nação é capitalista ou apenas um arremedo deste sistema que esconderia suas reais relações: estamentais. Por que as duas abordagens feitas nesses dois aforismas iniciais, devem estar-se perguntando meus leitores. A resposta pode ser muito simples: nem bem começou essa nova legislatura na Câmara de Vereadores, bem como definida a sua mesa diretora, a presidente já se envolveu em polêmica com um blogueiro da cidade. E o mais interessante em sua resposta, até onde este colunista teve conhecimento, diz respeito à manutenção de um quadro de assessoria em virtude de ser hábito, portanto, sem necessidade de mudanças. Como disse a esposa do rei de Zamunda: pensei que ela fosse a presidente!

 

Marcando-passo

Se a sociedade esperar todas as fases recursais para começar a colocar ordem na Casa, levar-se-á toda uma eternidade para mudanças. Essa minha pequena assertiva faz com que eu recorde uma polêmica envolvendo o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e um de seus ministros ou coisa parecida. O assessor estava sendo acusado de desvios e corrupção. O presidente, conforme ele mesmo diz e consta nos anais da história recente deste país, pediu que o servidor se afastasse do cargo e provasse que não tinha nada a ver com a peleja. O assessor aceitou o pedido e, depois de provar a inocência, voltou a ocupar o cargo. Esse fato pode ser isolado nos emaranhados de arapucas e atos delituosos que a governança brasileira tenha praticado desde a Colônia. Um exemplo são os ditos “santo do pau oco” e “quintos dos infernos”: duas expressões marcantes dos tempos das descobertas das Minas quase que Gerais. Aguardemos, meus caros leitores, os capítulos desta nova novela política penapolense que, de nova, não tem nada!

 

Brados e slogans

Diante do exposto acima, fico cá com uma interpelação: durante a campanha ouviu-se o brado do toureiro, ou melhor, do candidato que, a exemplo de Fernando Collor de Mello chegando ao atual mandatário das Terras de Maria Chica, que tudo seria diferente, caso fosse eleito, pois, uma vez na Câmara, o postulante seria a voz do eleitor naquelas tribunas. Curioso slogan para quem se dizia ser a novidade, mas mantem-se compromissos baseados em hábitos, mesmo que a lei e lógico algumas decisões judiciais tenham apontado que há irregularidades na manutenção do cachimbo na boca do fumante inveterado. Vai entender, meus caros parceiros de leituras dominicais. Uns diriam: coisas da política. Eu, do meu lado, tenderia a concordar com os escritores Machado de Assis e José Martiniano de Alencar (1829-1877) em suas assertivas sobre o mundo da política brasileira.

 

“Augusto República”

Só para que o meu posicionamento não seja confundindo com a famigerada ideologia que muitos, nas paragens de Maria Chica gostam de apregoar-me sem, no entanto, apresentar argumentos que não sejam meros palavrórios, quero dizer-te meu amigo leitor que o cronista Machado de Assis tem um texto belíssimo sobre uma festa numa das residências monárquicas, na qual em seu final haveria um leilão destinado às entidades assistenciais do reino. Interessante notar que o monarca e sua corte doaram para o evento apenas frangos. O pregão foi conduzido pelo respeitável e honorável leiloeiro Augusto República. Já o monarquista-conservador José de Alencar diz em várias de suas cartas destinadas ao Imperador que este deveria tomar cuidado com os plutocratas que estavam sugando as riquezas de seu trono através de muitas mutretas. Acho que a leitura dessas missivas, publicadas pela ABL (Academia Brasileira de Letras) como Cartas de Erasmo ao Imperador seria alvissareira para os que acompanham semanalmente meus olhares.

 

Pandemia

Quando o covid-19 deixará de existir? Pergunta difícil de responder, justamente por conta de vários fatores, entre eles, o que foi manchete deste jornal na última quinta-feira, 14 de janeiro. De acordo com aquela notícia, 22,9% dos infectados em Penápolis têm entre 30 e 39 anos. Depois em outra matéria, o leitor encontrará a informação, segundo a qual, o isolamento social está abaixo da média. Fatos comprovados pelos dados e números, portanto, nada especulativo. Sendo assim, fica-me uma interpelação, meus caros leitores: por que isso está acontecendo? De quem é a culpa? Do vírus? Creio que indicar um culpado, me parece relativamente fácil, pois apontar o dedo na direção do outro que perambula pelas ruas da cidade, feito o flâneur imortalizado nos poemas de Charles Baudelaire (1821-1867) presentes em seus versos que formam o livro As flores do mal. Acredito que não ficar zanzando a esmo pode ser uma ótima alternativa para que os percentuais sejam reduzidos nos próximos dias.

 

Super-homem

Já que iniciei meus aforismas críticos de hoje abordando o mundo do cinema e da literatura para entender algumas coisas que vêm acontecendo nas Terras de Maria Chica, creio que o mesmo expediente pode ser utilizado para compreender essa coisa de não acreditar que esteja exposto ao vírus e posteriormente engordar os dados estatísticos dos contaminados e mortos pelo vírus.  Lembro-me de um herói das histórias em quadrinhos que reinou nas telonas do mundo todo: o homem que veio de um planeta que explodiu por conta de ações equivocadas de seus habitantes. Todos sabem que o ser em si era o filho do cientista Jor-El, membro do conselho científico de Krypton.  O rebento foi mandado para cá dentro duma capsula protetora. Conforme crescia, o ente extraplanetário percebia poderes que o tornava imortal. Claro que isso está no campo da ficção, contudo em tempos pandêmicos, há relatos pelos quatro cantos do país de sujeitos que, acreditando em bravatas governamentais, se acham imunes ao vírus. Pensemos meus caros leitores em nossas ações. E-mail: e-mail:   gilcriticapontual@gmail.com, d.gilberto20@yahoo.com,   www.criticapontual.com.br.

 

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