Olhar Crítico

História

Há exatos 130 anos, a Princesa Isabel colocava fim a uma das páginas mais abjetas da humanidade: os mais de três séculos de escravidão que ensanguentou esse país. Enganam-se aqueles que pensam que, naquela manhã de sábado quando o decreto era publicado na imprensa carioca, o Brasil estava dando um passo em direção à sua modernização. Primeiramente porque o fim do cativeiro não foi uma consequência das lutas dos africanos e seus descendentes – não que estes, por intermédio de um quantum de abnegados que os defendiam, não tinham defensores -, mas tão somente por pressão do capitalismo internacional – leia-se britânico que desejava instalar aqui no Brasil o seu braço mercadológico e produtivo. Desta forma, é possível especular que a ação da regente nada tinha de benévolo para com os escravizados, mas sim para com o capitalismo inglês.

 

Consequências

Passados mais de um século, o brasileiro ainda esbarra em gigantescas mentalidades senzaleiras que acreditam serem superiores aos demais cidadãos em virtude da ausência tonal em suas alvas peles. Neste ponto fica-me uma interpelação: o preconceito é algo inato no ser ou inculcado pelo meio e, desta forma, de difícil dissolução quando o indivíduo se encontra em seu estágio adulto. Sendo assim, me parece que o homem que emite mensagens de forma preconcebidas no presente, não foi um bebê que emitisse sentenças inferiorizando seus semelhantes, mas aprendeu a fazer isso com aqueles que foram responsáveis pelo seu processo de socialização primária, ou seja, durante os almoços ou outros eventos comensais que lhe foram imputados, de forma coercitivamente – para pensar como o sociólogo Emile Durkheim (1858-1917) – as visões pré-concebidas de mundo e sobre os outros sujeitos que não fazem parte do circulo familiar.

 

Sem alteração

Bom! Essa é uma narrativa que muitos conhecem, mas muito poucos estão se ocupando em mudar, pois para tais sujeitos sociais a culpa é sempre da velha sociedade e suas estruturas excludentes escudadas na exigência de um inexistente mercado. Desta forma, o outro pensado como perfeito, porém, abstrato é que está ordenando o sentido materializado em esdrúxulas ações que desclassificam o outro pelo seu pertencimento étnico. Esse processo não é novo em nossa sociedade, portanto, sem essa de dizer que é fruto da modernidade, já que é uma mera consequência de existires pretéritos perpetuados no presente por abjetos indivíduos que se querem superiores aos demais. Desta forma, me parece que a data não tem nada de importante, na medida em que o decreto de 13 de maio de 1888 não mudou absolutamente nada na sociedade da época e o que se vivência hoje são seus nefastos resquícios.

 

Dia Delas

Se por um lado, ao completar 130 anos da Lei Imperial 3.353, de 13 de maio de 1888, a famosa Lei Áurea, os descendentes de escravos e africanos têm pouca coisa ou quase nada para se comemorar, aqueles que ainda têm suas mães ou às que são mães tem muita coisa para comemorar. Eu deixei a condição de filho e estou somente naquela de ser pai, portanto, aqueles que permanecem ainda como filhos preservem suas mães, principalmente porque existem ex-maridos, ex-esposas, ex-amigos, ex-isso e ex-aquilo, mas ex-mães não tem. Então, o dia de hoje como todos os outros anteriores e os posteriores deve ser de reverência àquela que nos legou a principal parte do nosso existir: a vida. Acredito que o maior presente que um filho possa dar a uma mãe não tem nada a ver com coisas materiais, mas tão somente uma conversa que dure horas e que o conteúdo seja repleto de coisas boas e não aquela murmuração das dificuldades da vida, afinal, elas enfrentaram dificuldades maiores para nos legar essa maravilha chamada vida.

 

Peleja eleitoral

Deixando o universo materno com as famílias nesse significativo dia, e adentrando no mundo da política – esse sim, um vulcão que entra em erupção a qualquer momento. Se em Brasília, os ventos candangos afastaram o ex-presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Joaquim Barbosa (PSB), da disputa presidencial, deixando órfãos muitos eleitores que tinham aventado depositar nele seus votos-consciências, também trancafiaram por 12 anos o ex-presidente da República e criador do estilo lulopetismo de governar uma nação, Luiz Inácio Lula da Silva. No Estado de São Paulo, a peleja promete ser quente, principalmente dentro do ninho tucano. É que, ao que tudo indica, o atual governador do PSB costurou o apoio do PSDB ligado ao ex-governador Geraldo Alckmin que acalenta há muito o desejo de presidir esse país – será que consegue? Por outro lado, o ex-prefeito João Dória, bem ao estilo José Serra (PSDB) abandonou o assento no Palácio das Indústrias – seguindo modelo dum político populista, Jânio Quadros (1917-1992) – quer dar um salto: de chefe do Executivo paulistano para governador do Estado em menos de quatro anos. Nessa desenfreada busca, ele rachou o PSDB ao meio e, se a legenda não abrir o olho, todos ficarão sem nada no final da peleja eleitoral de outubro.

 

 

Em Penápolis, paragem com pouco mais de 65 mil habitantes, dos quais, aproximadamente 45 mil são eleitores, administrada pelo arauto do tucanato local, me parece que um grupo de pessoas começa a se articular, dentro do possível, para cobrar os vereadores, inclusive com página nas redes sociais. Atitude louvável, mesmo que por trás dela exista o ímpeto de se disputar uma vaguinha na Câmara Municipal. Não vejo demérito algum nas ações, em forma de cobrança, que essas pessoas vêm perpetrando e semeando no interior da política penapolense. Ter cidadania é isso: lutar pelos seus direitos, cobrar os representantes da coletividade; ter uma participação mais eficaz na vida ativa da polis e também dos penapolenses. Ser ativo politicamente, além de estar presente nos conselhos comunitários, não é pedir favores para os representantes e sim cobrar atitudes e ações que visem sempre o bem coletivo e não de determinados grupos. Sendo assim, logo após a morte de uma professora, supostamente por falhas no atendimento do privatizado Pronto-socorro, o zum-zum foi grande, mas permaneceu tudo na mesma, os vereadores não se mobilizaram, ficando apenas na vociferação de uns abnegados cidadãos preocupados com a saúde penapolense. Fico por aqui, na expectativa de que, quando os meus leitores estiverem consumindo esses aforismas dominicais eu já tenha concluído a leitura do livro Crise e reinvenção política no Brasil, de autoria do cientista social Fernando Henrique Cardoso – ex-presidente do Brasil. E-mail: gilcriticapontual@gmail.com; gildassociais@bol.com.br. www.criticapontual.com.br.

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