Educação: enfeite de museu

Gilberto Barbosa dos Santos

 

Os meus leitores semanais devem estar enfadados com essa temática, isto é, a educação! Entretanto, enquanto o Brasil continuar produzindo bizarrices no setor e a população aplaudindo, ou se mantendo de costas para a área, me parece que nunca será demasiado abordá-la. Sendo assim, penso que o descaso com esse universo começa dentro dos lares, porém, conforme já aventei aqui várias vezes, as residências sociais carecem de muita coisa, principalmente afeto como elemento norteador de relações sentimentais mais saudáveis, para não dizer duradouras, portadoras de projetos de convivência entre os membros familiares. Mas até ai todos já sabem as origens das mais diversas problemáticas que envolvem esses ajuntamentos de pessoas que possuem poucos ou frágeis laços de parentescos. Em virtude disso, creio que já cheguei ao fim de mais uma tentativa de enunciação objetivando auxiliar, mesmo que de maneira ínfima, os homens a buscarem os equilíbrios possíveis em suas jornadas terrenas.

Seria demasiado fácil concluir a reflexão de hoje desta forma, até porque não há mais o que escrever sobre os descalabros que a sociedade vem assistindo nos últimos tempos: alunos sem o menor respeito por eles mesmos e por aqueles que se predispõem a ajudá-los a transformarem informações em conhecimento. Se eu for me deter no âmbito econômico e salarial, é melhor procurar outra coisa para fazer, pois a educação deste país, como se diz no jargão popular, “é bananeira que já deu cacho”! Diante do exposto, é preciso observar que qualquer país que dispensa relevantes recursos com o setor, acaba dando saltos consideráveis. Entretanto, gastar muito não significa eficiência na execução orçamentária e o Brasil é uma prova evidente desse descalabro que pode ser resumido pela ação daquele cidadão que abre o chuveiro de casa para encher o copo com a água. Ou seja, o copo fica cheio, todavia, o desperdício é maior do que a quantidade armazenada em seu invólucro. Sendo assim, não há como se esconder do famigerado “eu não sabia”, “vou anular meu voto”. A problemática não se encontra apenas na categoria política, mas, sobretudo naqueles que, quando escolhem seus representantes, o fazem esperando algum benefício, a exemplo do que ocorria na Corte Luso-brasileira até novembro de 1889.

E por falar em Corte, observe-se a tragédia que acometeu a história do Brasil na noite do último domingo. O maior museu brasileiro virou, em questões de minutos e horas, um amontoado de cinzas. Enquanto as labaredas ardiam pelo céu carioca, a maior parte do pretérito desta Nação estava sendo consumida pelas chamas. Todos são cônscios das causas do “sinistro” – como os incêndios são chamados no campo da seguridade. Falta de manutenção, sendo que coisa de dias as autoridades haviam sido alertadas da problemática, contudo, nada foi feito e agora vem o governo federal acenando com recursos financeiros. Mas para que, agora que tudo se resume a cinzas e ruínas? Proselitismo dum governo que nasceu morto, mas não depois do impeachment e sim bem antes, já que a chapa foi eleita após apregoar aqui e ali um amontado de mentiras para ludibriar o povo e tentar se perpetuar no poder, a exemplo do que acontece em algumas das autocracias espalhadas pelo Globo e pela América Latina numa tentativa desastrosa de fazer com que o populismo ressurja com toda força usando chavões envelhecidos e com gostos horríveis: o tal do bolivarismo.

Mas o meu tema hoje não é a famigerada eleição de 2014, mas sim as suas consequências para o país: uma das maiores crises econômicas que esse país já viveu acompanhada de um grau elevadíssimo de endividamento das familiares brasileiras. Isso é notório, entretanto, muitos não veem uma luz no fundo do túnel e ai se faz aposta em truculência, discursos e outras verborragias toscas objetivando apenas chegar ao poder. Neste sentido, dou vazão às observações marxianas, segundo as quais, a história se repete: uma vez como farsa e outra como tragédia. Sendo assim, se em 2014, as eleições podem ser configuradas como “farsa” tendo em vista a quantidade de mentiras que foram propaladas pelos marqueteiros e defensores de certo tipo de governança populista, agora em 2018 se o eleitor não ficar atento vaticinará a tragédia. Mas não vou me deter nesse quesito, para não ser adjetivado como defensor deste ou daquele postulante, mesmo que pudesse, não faria isso em um texto meu publicado na mídia local e nem em seu site (www.criticapontual.com.br).

Parece-me que o escopo aqui é entender que as chamas que consumiram fisicamente a instituição, são as mesmas que devoram a educação brasileira há muito tempo, sem que o povo reaja, aceitando tudo que vem do alto do poder, esperando que mais e novas migalhas sejam jogadas do trono. Ironicamente foi pelos ares justamente a história da Coroa Lisboeta que, ao ser banida em 1889, deixou ao Brasil Republicano um legado de privilégios delegados a uma casta de burocratas aristocratizados que se acostumou a se locupletar com a plutocracia que sobrevive até hoje, como aquela arraia miúda que ficava pregada nas paredes dos castelos medievais, conforme Machado de Assis (1839-1908) dizia: foi-se o medievalismo e suas construções, mas ficaram os hábitos, principalmente na sociedade brasileira que amarga, anos após anos na UTI socioeconômica sem dar a menor esperança de cura aos seus súditos, ou melhor, brasileiros.

Sendo assim, é possível indicar que o incêndio do Museu pode ser considerado uma tragédia anunciada, já que, como informou o jornal francês El País, o gasto para lavar os carros dos deputados federais era cinco vezes mais do que o orçamento destinado ao museu (https://brasil.elpais.com/brasil/2018/09/04/politica/1536015210_491341.html?%3Fid_externo_rsoc=FB_BR_CM). Desta forma, não tem como vir a público agora e dizer que vai liberar recursos para a entidade que só tem as paredes de pé. Não tem o que se dizer, mas apenas que novamente o Brasil passa vergonha no exterior e justamente numa área significativa: a sua memória. Afiançando a tese, segundo a qual, aqui não haverá futuro, pois o país que não conhece ou despreza sua memória da maneira que é feita nas paragens que nos levou o poeta João Cruz e Souza (1861-1898), jamais conseguira construir um amanhã em que a cidadania plena de o ar da graça. Com essa constatação, que venho afirmando há tempos, a tarefa dos pesquisadores – me incluo nessa categoria – será árdua, até porque o museu que virou cinzas abrigava significativo acervo, entretanto, faltava à educação contemporânea brasileira para compor o rol de peças daquela instituição. Enfim, recuperando um dos principais escritores brasileiros: se foi um museu, mas ficou uma educação arruinada, sem condições de fornecer aos estudantes do presente uma perspectiva futura e isso é culpa das autoridades constituídas e um exemplo claro disso foi o ocaso do Museu Nacional que estava sob a responsabilidade da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) que agoniza por falta de recursos oriundos do Tesouro Nacional.

 

Gilberto Barbosa dos Santos, Sociólogo político, editor do site www.criticapontual.com.br, autor do livro O sentido da República em Esaú e Jacó, de Machado de Assis; professor do ensino superior e médio em Penápolis; pesquisador do Grupo de Pensamento Conservador – UNESP – Araraquara e membro do Conselho Editorial e Científico da revista LEVS (Laboratório de Estudos da Violência e Segurança) – UNESP – Marília; escreve às quintas-feiras neste espaço: e-mail: gildassociais@bol.com.br; gilcriticapontual@gmail.com. www.criticapontual.com.br.

 

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