Gilberto Barbosa dos Santos
É na condição de cientista social que observo e pretendo analisar o universo político brasileiro, incluindo ai a esfera local e alhures. Portanto, a minha intenção na manhã de hoje é oferecer aos leitores das minhas abordagens sobre o Brasil dominado por uma classe de plutocratas agenciadora duma casta de burocrata com forte viés aristocratiza respalda pelos séculos de escravismo que ainda continuam enfincados nos alicerces do país sem que governo algum ou proposta emancipadora elimine os seus resquícios no presente, um quantum de observação sem peias ideológicas ou partidárias. Mas, por que optar pelo tema no âmbito nacional quando no município teremos eleições em breve com farpas de todos os lados, inclusive político querendo se colocar de vítima, por um lado e por outro, quer-se fazer passar como salvador da lavoura econômica? Deve-se estar perguntando meus leitores semanais. Parece-me que as linhas que se seguirão, poderão buscar uma resposta, se não convincente – mesmo porque não objetivo obter seguidores -, mas pelos menos dentro de um nível de razoabilidade que possa ajudar quem as leem compreender o presente político do Brasil.
Posto isto em caráter introdutório, passemos aos pontos que consideramos significativos para se entender o hoje brasileiro. Sendo assim, o primeiro passo é externar, brevemente, um diálogo que mantive recentemente com um colega de área desde os tempos de graduação em Ciências Sociais no campus da UNESP em Araraquara. A conversa começou por conta das discussões sobre os ventos que sopram da Capital Federal e as diversas possibilidades no campo presidencial, tendo em vista que a presidente eleita em 2014 pode ser afastada em definitivo, já que no presente, a sua desvinculação é apenas provisória. A mídia externa todos os dias operações disso, desdobramentos da Lava Jato que acaba colocando em xeque, quando não dando xeque-mate em algumas figuras da política brasileira. Até ai, nada de novidade na seara da política-partidária-ideológica nacional, não fosse o cidadão brasileiro ser desprovido do mínimo de conhecimento da significância do seu voto na escolha de seus representantes: e olha que encontramos muitos que se escondem nas abstenções e deixam de comparecer às urnas, optando pelo pagamento de multa, sem saber que esses valores corroboram para o Fundo Partidário que é rateado entre os maiores partidos no Congresso Nacional, mais especificamente às legendas que contêm pelo menos 5% de representatividade no legislativo federal.
Passado as eleições a grita torna-se geral, após serem adotadas as primeiras medidas, principalmente aquelas que atingem diretamente o bolso do cidadão comum ludibriado pelo canto da sereia entoada por líderes políticos mais interessados em se encastelar no poder do que criar condições para que o brasileiro se emancipe definitivamente das estruturas escravistas que vigoram silenciosamente até hoje. Diante dessa colocação, ou seja, de que ainda não nos livramos dos grilhões que mantiveram por três séculos o país atolado no sistema escravista, cujas consequências, conforme Machado de Assis aponta através de sua ficção, são os vilipêndios se estenderam do elemento africano ao escravizador – essa observação também pode ser encontrada no livro O abolicionismo, composto pelo diplomata monarquista Joaquim Nabuco. Sendo assim, como é possível uma nação se afirmar alinhada com os preâmbulos liberais oitocentistas, mas, manter em suas entranhas uma das mais vis formas de exploração do trabalho e do homem: a servidão, que não era a voluntária? Seria um liberalismo às avessas, de acordo com as exposições feitas pelo crítico literário Roberto Schwarz em seu texto As ideias fora do lugar? Argumentos aqui e ali não faltam no afã de entender como se processou o ingresso e a absorção de uma corrente liberal então em voga na Europa proletária e burguesa, conforme podemos encontrar nas mais diversas análises e romances que retratam aquele período como Germinal, do escritor naturalista francês, Emile Zola.
Seria um liberalismo meio que ibérico? Para responder essa pergunta, se faz necessário percorrer um amplo caminho teórico que, dependendo do ponto de vista metodológico do investigador social, as primeiras pegadas podem ser encontradas em trabalhos científicos realizados por Sérgio Buarque de Holanda em Raízes do Brasil, ou Raymundo Faoro e o seu Os donos do poder. Qualquer que seja o objetivo a ser alcançado pelo pesquisador, uma coisa é certa: sem revistar os clássicos do Pensamento Social Brasileiro, entre eles, Oliveira Viana e as obras Ocaso do Império; Populações do Brasil Meridional e Evolução do povo brasileiro; Tavares Bastos, Euclides da Cunha, Silvio Romero, a meta não será alcançada. Mas de qualquer forma, devemos acrescentar algumas particularidades que advém de determinadas interpelações relacionadas à inexistência de alguns direitos fundamentais para que o liberalismo pudesse se consolidar de fato entre nós e não apenas um arremedo, para não dizer modismo duma elite viciada em privilégios originários num momento singular de colonização portuguesa – ressalte-se que foi diferente da ocupação da parte espanhola da América. Ou seja, se a escravidão privou uma infindável massa de africanos e descendentes de ir e vir, também estendeu seus braços para vetar a participação efetiva no universo da política destes e de outros que perambulavam pela Corte recheando o imaginário popular como desclassificados. A primeira concessão ocorreu oficialmente após a Princesa Isabel, naquele sábado, 13 de maio de 1888, eliminar o escravismo das cercanias brasileiras, contudo, a segunda, levou muito tempo para, tanto ex-escravos quanto homens livres sem posses pudessem decidir sobre os rumos que o Brasil teria e as consequências para o presente. Isto é, uma massa de despolitizados com direitos políticos, porém, sem condições de efetivamente de participarem da vida ativa na sociedade política, ficando sempre a espera de um milagre que venha do alto do trono!
O resultado é o que todos estão assistindo no presente: partidos e políticos que montaram esquemas de enriquecimento ilícito associados a vários plutocratas que há muito tempo veem recheando suas contas bancárias e engordando seus patrimônios com espúrios acordos ilícitos com o Estado brasileiro. Esse procedimento não é novo, conforme o escritor e político José de Alencar alertava o Imperador D. Pedro II no começo da década de 60 do século XIX, portanto, a corrupção não pode ser vista como algo moderno na sociedade brasileira, entretanto, não se pode atribuir ao passado as dificuldades em se debelar tais aspectos negativos das cercanias brasileiras na atualidade. É preciso ousar, pois não basta à legislação prever sentenças, faz-se necessário que os cidadãos, diante das diversas brechas que a lei permite aos sentenciados por órgãos colegiados, como os Tribunais de Contas estaduais, deem um basta em políticos envolvidos até o pescoço com ações dolosas contra o erário público. Se não se atentar para esse aspecto singular da vida política nacional, não adianta depois, conforme o vem transcorrendo desde a eleição da atual presidente afastada Dilma Rousseff, um rio de lamentações.
Gilberto Barbosa dos Santos, sociólogo, professor no ensino superior e médio em Penápolis. Pesquisador do Grupo Pensamento Conservador – UNESP e membro do Conselho Editorial e Científico da revista LEVS-UNESP. Escreve às quintas-feiras neste espaço: www.criticapontual.com.br. E-mail: gilbertobarsantos@bol.com.br, gilcriticapontual@gmail.com.