De preto…
Começo meus aforismas dominicais tratando de uma problemática que pode ser despretensiosa, todavia, tem tudo a ver com questões que são prementes nessas duas, quase, três décadas do século XXI. As situações envolvendo os descendentes de escravos, mais especificamente dos filhos, netos, bisnetos, tetranetos e outras gerações anteriores dos africanos que foram trazidos para cá como mercadorias destituídas de suas humanidades para serem usadas até a exaustão física. Passados mais de 100 anos que, por intermédio de uma lei que, pasmem meus caros leitores, tem apenas dois parágrafos, o escravismo foi extinto, mas ainda é possível sentir na pele os que os ancestrais passaram nas mãos de capatazes e outros capitães do mato violentos e sanguinários. A filósofa e escritora Djamila Ribeiro abordou essa temática em seu artigo “O dilema do capataz”, publicado pelo jornal Folha de S. Paulo em sua edição do 13 de agosto deste ano. Todavia, a última violência foi praticada contra um jovem, acusado de tráfico de drogas que, ao ser preso pela e algemado por um PM, foi arrastado pela moto em que o policial estavam pilotando, conforme as imagens que correram mundo. Como dizia Toni Morrison (1931-2019), num dos seus vários escritos, a tonalidade da pele evidencia que, quiçá a legislação vigente, muitos ainda se comportam como se a sociedade fosse escravagista.
… à condição…
Posto isto, me parece salutar aqui ressaltar que, a questão toda não é a tonalidade da pele, mas a condição do pretérito do Brasil que está em evidência e sua tentativa de negação, ao invés de a própria sociedade se ocupar em tratar das feridas e consequências de ações que não foram proporcionadas aos descentes de africanos escravizados para que se tornarem cidadãos de fato e direito. O muito que se faz é uma pífia tentativa de se negar que em terras brasileiras não há racismo. Do ponto de vista oficial, ou seja, normativo, não existe mesmo, já que a Constituição Federal diz que todos são iguais perante a lei, contudo, deixando a letra fria da legislação, a coisa muda de figura e não preciso ficar aqui discorrendo uma série de ocorrência que indicam o quanto esse país é racista e preconceituoso, entretanto, seus praticantes negam de pé-juntos que o sejam.
… de negro.
Como afirmei no aforisma acima, a condição dos africanos escravizados era negra e aqueles que os sentenciaram a passar o resto da vida nessa condição, os achavam inferiores. Entretanto, a questão era completamente outra, já que tudo dizia respeito às transações comerciais e as embarcações lisboetas e outras naus tripuladas por traficantes de escravos e piratas. Os países africanos da costa atlântica perceberam o quão lucrativo era trocar prisioneiros de guerras tribais por especiarias que essas embarcações transportavam da região em que estava a Índia e, em virtude disso, empreendiam caravanas pelo interior do continente em busca de pretos que seriam capturados e vendidos como mercadorias aos navios mercantes. Desta forma, os descendentes desses homens e mulheres ainda são observados como seres inferiores por conta da tonalidade de suas peles. Quanto mais escura for, pior. Mudar essa condição que o desafio das próximas décadas.
Carnaval
Mudando completamente de temática, entretanto, permanecendo, mesmo que seja uma lasca na questão racial, não consigo entender porque a decisão de se cancelar o carnaval de 2022 em Penápolis não foi tomada pelos agentes governamentais, escolhidos democraticamente no último pleito municipal. E os vereadores? Quais posicionamentos adotarão? Ficarão em cima do muro, esperando o chefe do Executivo bater o martelo e depois dar palpite disso e daquilo? E o Conselho Municipal de Saúde, qual deliberação tomou? Penso que deveria partir desse órgão, bem como o de Cultura e as respectivas secretárias, documentos sugerindo ao prefeito municipal a não realização dos festejos, inclusive nos clubes da cidade. Isso seria importante porque a sociedade ainda vive em pleno processo pandêmico e a coisa parece estar se alastrando pelo Brasil. Entendo que a prudência agora é a melhor opção, entretanto, a decisão não cabe a este que vos escreve, meus caros leitores!
Desemprego
De acordo com reportagem veiculada por este jornal, pelo segundo mês consecutivo a cidade fechou o expediente do mundo do trabalho no vermelho, isto é, com o número de demissão maior do que o de contratação. Sendo assim a situação é periclitante por vários fatores, entre eles, a necessidade de a cidade mudar sua matriz produtiva e empregatícia. Durante mais de 50 anos, tudo gerava em torno da cana-de-açúcar e de outras culturas agrícolas tornando a zona rural fortíssima, com moradores e várias colônias nos bairros rurais que normalmente tinha a ver com os habitantes, como por exemplo o Saltinho do Galinari. Mas hoje a situação é totalmente outra e as plataformas são mais digitais do que manuais. Sendo assim, o que fazer quando uma pessoa procura emprego e tem apenas o trabalho manual para empregar e tudo já está tecnificado?
Exposição
Deixando um pouco essa problemática trabalhista e econômica para outro momento, não tão distante deste domingo primaveril de dezembro, parabenizo a artista plástica, ou melhor, näif, penapolense, Altamira Borges pela participação no “Salão São Paulo de Arte Näif”. O evento acontece até o começo de janeiro no Museu Municipal “Dr. João Baptista Gomes Ferraz” localizado na cidade de Socorro. É sempre bom registrar momentos como esses em que o mundo parece desacreditar de tudo e todos e a arte está aí para dizer o contrário. É justamente em situações como essa que as expressões artísticas e os artistas mais devem enfatizar suas leituras desse mundo que transforma tudo em mercadoria a ser possuída por aqueles que detêm mais os galardões monetários e suas medalhas enferrujadas pelo orgulha, arrogância e prepotência.
Sentenças
E já que a temática diz respeito àqueles que atropelam tudo em prol de uns niqueis a mais em suas algibeiras, é preciso que se diga, mesmo que seja em primeira instância, que continuam sendo sentenciados os agentes públicos e privados envolvidos com os desvios recursos da área de saúde investigados pela Operação Raio-X. O Interior trouxe em suas últimas edições materiais informando seus leitores sobre tais sentenças. É preciso olhar com a devida acuidade, pois o jornal apenas informou um fato de extrema importância para seus leitores que desejam saber como andam as investigações empreendidas por intermédio da Operação Raio-X. A partir do que foi informado, cada cidadão, possuidor de suas cidadanias, faça suas avaliações no que diz respeito à corrupção dentro das cercanias brasileiras e por que a plutocracia, que desde a Monarquia vem sangrando os cofres públicos brasileiro, se alia a uma burocracia aristocratizada para se enriquecer de forma ilícita. Por hoje é só meus caros leitores, enquanto aguardamos os desdobramentos e as cenas dos próximos capítulos políticos em Penápolis, inclusive porque um vereador foi condenado sob a acusação de estar envolvidos com os demais sentenciados nos desdobramentos da Operação que desmantelou uma quadrilha que se locupletava com o erário público. E-mail: gilcriticapontual@gmail.com, d.gilberto20@yahoo.com, www.criticapontual.com.br.