Olhar Crítico

Pandemia

Quereria eu poder iniciar meus olhares neste domingo primaveril de dezembro tratando de outra temática, entretanto os fatos estão aí e a vida segue, mas não do jeito que o sujeito social, consciente de sua cidadania, gostaria e sim da maneira como os incautos vêm apregoando desde o início dessa pandemia lá nos primórdios de 2020. Embora os dados sejam de meados da semana que terminou ontem, eles assuntam, pois dizerem respeito aos internados na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do hospital da cidade. Os pacientes são vítimas do Covid-19 que, ao que tudo indica está longe de ir embora, já que há informações de que uma mutação originária da África do Sul começa a se espalhar pelo Brasil.

 

Máscaras

É interessante que em momentos como esses, os dedos de muitos se coçam na tentativa de apontar um culpado, entretanto, será que ao agir dessa forma o sujeito social não está tentando se esconder na culpa alheia? Todos sabem que é obrigatório o uso das máscaras faciais como medida eficaz contra a transmissão do vírus, todavia, quanto mais se perambula pelas ruas da cidade, flanando aqui e ali ou até mesmo se deslocando para seus locais de trabalho, os transeuntes flagram miríades de outros semelhantes andando para aqui e para acolá sem o dispositivo de proteção!

 

Medidas

Há ainda aqueles que dizem, quando vão cumprimentar os colegas através de um expediente importante, que aquele procedimento é desnecessário. Desta forma, a pergunta que fica neste domingo, meu caro leitor, é por que a ignorância vence a ciência e não digo daquela advinda das pessoas iletradas, mas sim das propaladas por quem tem um certo cabedal de informação que pode ser transformado em conhecimento. Sei que responder essa interpelação é um tanto complicado, mas ao mesmo tempo, é muito simples: se posicionam do lado contrário à vida por acreditarem em líderes políticos e seus asseclas messiânicos, mais interessados na manutenção do status quo ou na estúpida ideia de imunidade de rebanho como se o ser humano fosse um animal irracional.

 

Números

De acordo com informações veiculadas por este jornal até o momento em que essas linhas eram produzidas por este que vos escreve, meus caros leitores, os números davam conta de que a cidade já havia registrado 9.587 casos de Covid-19 em suas cercanias, dos quais 253 dos contaminados haviam ido a óbito, sendo que desse total 145 homens e 108 mulheres. Entretanto, quiçá toda a problemática envolvendo as questões pandêmicas, ao que tudo indica, parte dos humanos ainda permanece incessível à dor dos familiares que perderam parentes e entes queridos vitimados pela variação do vírus H1N1. E olha que o vírus da gripe já provou outros estragos aqui no Brasil por intermédio da Gripe Espanhola entre 1918 e 1920. Uma olhadinha nos anais da história pode indicar situações de rejeições ao uso de máscaras e outros expedientes necessários para conter o avanço do vírus. Em virtude disso eu vos pergunto, meus caros leitores: para quem os sinos dobram?

 

Praças

Claro que a praça é do povo, assim como o céu é do Condor, como disse certa vez o poeta dos escravos Castro Alves (1847-1871), entretanto, é preciso observar de que maneira esses logradouros seriam ocupados pela população. Entendo haver aí nos olhares do poeta baiano e autor de O navio negreiro, um quantum significativo de alegoria, exigindo de todos nós uma compreensão mais detalhada do problema desde que o Brasil era uma colônia e posteriormente sede da coroa lusitana e por fim República. Todos têm consciência de que a república significa, em linhas gerais, coisa pública, isto é, do público, entretanto, se é de todos, porque vem sendo, ao longo das décadas, apropriada por grupos privados e outras plutocracias que se enriquecem às custas de uma pesada e onerosa burocracia?

 

Competição    

Soma-se a essa problemática toda, a questão envolvendo a competição no mundo da política, cujo objetivo é apenas a apropriação do poder público pelo setor privado que não aparece, mas é como aquela mão invisível criada por Adam Smith (1723-1790) sobre a regente do mercado. “A competição política constitui o próprio jogo e nela estão implícitos os enfrentamentos, as disputas, as negociações, os acordos e as coalizões”, nos dizem os cientistas sociais Cláudio Gonçalves Couto e Rogério Bastos Arantes num ensaio que objetiva analisar os anos de FHC à frente da chefia do Executivo Federal. O trabalho integra o livro Ciências Sociais na atualidade, lançado em 2009 pela Editora Paulus.

 

Dimensões

“Trata-se da dimensão dinâmica da realidade política, enquanto as condições paramétricas estáveis constituem a sua dimensão estática. Noutras palavras, o jogo político diz respeito à ação (e à interação), ao passo que as condições paramétricas dizem respeito à estrutura no âmbito da qual ocorrem as ações (e interações). É também no âmbito dessa competição que se definem, nos limites das regras estabelecidas, os que ganham e os que perdem, os que ocuparão os cargos públicos (efetivos ou não) e os que ficarão excluídos do poder, os aliados e os adversários etc.” [Cláudio Gonçalves Couto e Rogério Bastos Arantes. Constituição ou políticas públicas? Uma avaliação dos anos FHC. Ciências Sociais na atualidade. São Paulo: Paulus, 2009, p. p. 33-88].

 

Bibliografia

E já que a temática são os anos do governo do cientista social Fernando Henrique Cardoso, recomendo aos meus leitores, uma série de livros daqueles tempos, principalmente os quatro volumes intitulados Diários da Presidência, de autoria do próprio ex-presidente e professor da USP. Muitos dizem-se contrários aqueles oito anos, contudo, uma análise racional pautada na conduta científica e não tão ideológica assim, pode apresentar significativos olhares sobre o pretérito não muito distante e o presente brasileiro em que o país é administrado por um grupo que não possui qualidades para gestar um país de dimensões continentais como o Brasil. Portanto, é preciso estudar profundamente não só o momento, mas também o que levou a Nação estar de joelhos diante duma categoria política de caráter duvidoso, pois os mesmo que estão alinhados dentro do Centrão, são os mesmos que sempre lá estiveram sangrando os cofres públicos. Sendo assim, creio que vale a pena percorrer as páginas do livro da antropóloga e professora da USP, Lilia Moritz Schwarcz: Sobre o autoritarismo brasileiro, bem como outra obra de FHC: Crise e reinvenção da política no Brasil. Se os meus leitores chegarem a esses dois exemplares, penso que podem avançar até os textos que formam o livro Caminhos da esquerda, do professor da USP, Ruy Fausto (1935-2020). Pode também dar uma passada pelas linhas que compõem o livro Os limites da política, escrito por José Arthur Giannotti (1930-2021) e Luiz Damon Santos Moutinho. É isso aí: e-mail: gilcriticapontual@gmail.com, d.gilberto20@yahoo.com,   www.criticapontual.com.br.

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