10
Nem bem entraram no apartamento, Amadeu foi direto para o quarto de hóspedes e desmaiou na cama. Márcio ficou ali no meio da sala com os dois computadores nas mãos e a arquiteta segurando a garrafa de uísque, ambos um olhando para o outro sem saber o que dizer. Foi o repórter quem quebrou o gelo, perguntando onde poderia colocar os equipamentos para depois serem testados. Angélica lhe respondeu que poderia deixar num cômodo contiguo ao quarto em que o irmão já dormia.
– Depois, por favor, vá tirar essa roupa. Não aguento mais ver você metido nessas vestes ensebadas e não me venha com apego sentimental, que sei que não é nada disso, mas apenas medo do novo, do amanhã, pois o ontem é melhor por ser conhecido do que o futuro desconhecido.
Enquanto Márcio trocava de roupa no banheiro do quarto em que o poeta estava desligado do mundo material, a sua hóspede foi alocar a garra de uísque no bar que ficava na sala e abrir a casa para que o ar fosse trocado. O sol da tarde iluminava completamente a sala. O prédio todo foi pensado nesse sentido. Usar todos os recursos que a natureza pode oferecer, inclusive no que diz respeito à geração de energia. No topo do prédio havia consideráveis placas que armazenavam a energia solar e depois a distribuía para cada apartamento em quantidade equivalente. De modo que cada condômino sabia o quanto poderia usar por mês. Caso ultrapasse o estipulado, pagaria pela energia extra.
Márcio voltou à sala, chamando a atenção da arquiteta lhe pergunta em tom de zombaria: “-Estou ao gosto da madame agora?”, e cai na gargalhada. Enquanto Angélica, devolve a troça lhe passando uma reprimenda. “- Se eu te ver de novo com aqueles trapos, já sabe! Vai ficar pelado na rua, porque vou te atacar a tesourada e só vou parar quando elas estiverem em tiras e você só com a roupa de baixo que, se for velha, terá o mesmo destino”, disse em tom de severidade.
O repórter retornou ao banheiro para fazer a higiene bucal, voltando em seguida, sentando no mesmo lugar do sofá em que estivera na noite anterior. Parecia ser automático, mas esse ato não passou despercebido de sua anfitriã, que lhe perguntou: “- Meu amigo, porque tenho a impressão de que você tem dificuldades em lidar com mudanças”.
– Por que está me perguntando isso patroa?
– Antes que eu me esqueça, pela milésima vez, vai tomar no seu rabo. Patroa e a puta que lhe pariu. Mas voltando ao meu questionamento. Você está sentado no mesmo lugar de ontem à noite. Veste as mesmas roupas, usa camisa que comprou quando tinha 20 anos.
– Mas há alguma razão para mudar?
A arquiteta ficou em silêncio, pois não esperava por uma resposta desta em forma de perguntas, como o seu professor de Filosofia gostava de fazer nos tempos de Universidade. “- Bom. Eu pensava em voltar ao escritório, mas não tenho cabeça para trabalhar. Então ficarei em casa. Você não se importa que eu vá me deitar um pouco. Estou exausta. Acordei de madrugada, fiquei assustada com Amadeu todo zoado, demorei para pegar no sono e quando finalmente consegui dormir, acordei atrasada”.
– Tudo bem. Sinta-se à vontade. Afinal, a casa é sua. Vou dar uma olhada naqueles computadores e ver se é possível utilizá-lo. Acho que será legal e conseguirá manter Amadeu em Terra.
Angélica concordou com ele, dizendo que assim que acordasse queria saber como o repórter pretendia desanuviar a cabeça de Amadeu. Em seguida se dirigiu ao seu quarto, entrou e saiu rapidamente, se dirigindo ao cômodo em que estava o irmão. Foi ao banheiro, pegou as roupas que até momentos antes, Márcio estava vestido. Picotou todas, abrindo duas sacolas plásticas e jogando tudo fora sem que o jornalista percebesse. Caso fosse procurá-las, não as encontraria mais.
Ao voltar ao seu quarto, tomou banho para tirar o cansaço do dia, colocando uma roupa leve, porém sem transparência alguma, se deixando esparramar em seguida na cama em que pela manhã Amadeu flagrara Márcio dormindo. Deixou o pensamento viajar para onde desejava. Lembrou-se dos momentos felizes que passou ali naquele espaço com sua esposa que agora estava do outro lado do mundo e ainda não se comunicou. Decidiu esperar mais só aquela noite. Se não recebe nenhuma notícia, entraria em contato com o pessoal que deixou de prontidão para atendê-la na Alemanha. “Claro que não aconteceu nada, do contrário, eu já saberia. Mas por que o silêncio? Tudo bem que brigamos feio. Ela aprontou, mas ainda somos casadas e não conversamos mais sobre isso”, pensou a arquiteta virando de lado.
Ao fazer esse movimento na cama, foi como se o cérebro de Angélica mudasse a chave mental e tudo passou a ter outra tonalidade, outra estrutura física, biológica e sexual. Recusou-se a se deixar levar para onde a mente indicava e o coração acelerava na medida em que as formas físicas do amigo, que se encontrava na sala, começavam a encontrar guarida nas imagens reproduzidas por um desejo que deveria ser controlado. Neste momento, a arquiteta teve noção clara de que se dividia em três: o corpo queria conduzi-la por um caminho; a razão para outro e o coração indicava certa passionalidade. Teria que encaminhar tudo com maestria, pois ainda tinha esperança de reorganizar a vida com Rosângela, inclusive pensava em passar uma temporada na Alemanha com ela. Adormeceu com esses pensamentos.
Desligou-se por cerca de duas horas. Quando despertou ouviu as gargalhadas de Amadeu. “Com certeza deve estar zoando Márcio”, pensou a arquiteta que saiu do quarto ainda meio sonolenta, se dirigindo para os lados de onde vinham as risadas do irmão. Surpreendeu os dois, cada um num computador, escrevendo e contando para o outro o que estava fazendo, como se fossem crianças. Ao ver a irmã, Amadeu foi logo contar a ela o que estavam fazendo.
– Keka, o nobre jornalista teve uma grande ideia. Me falou que posso escrever diversas cartas para Tarsila e depois colocar dentro das garrafas vazias e mandá-las pelo mar que, com certeza, chegarão ao destino. Imagina quando minha terapeuta souber disso. Vai achar o máximo também. E o que você acha? Não me diga que é puerilidade. O Márcio prometeu corrigir e editar todos os textos, antes deu enviá-los pelos oceanos.
– Você já tem alguma pronta?
– Ainda não! Eu e o repórter estávamos aqui trocando verbos para depois eu torná-los versos e você não sabe a quantidade de coisas que podem rimar com estrelas, cores, amores, detratores. Ele só disse que não podemos usar nada que rime com vingança, ódio, maldade, pois existem coisas mais significativas que podemos dizer à pessoa que se ama, mesma que ela esteja longe e em virtude de algumas vicissitudes. Quanto Tarsila partiu, pensei que tinha partido também meu coração, mas pelo contrário, com ela novamente longe eu percebo o quanto o que sinto por ela aumenta. Quando penso que um dia vamos nos casar no primeiro cometa que singrar os céus numa noite iluminada pelas estrelas, fico todo excitado. Olha só como eu estou.
Ao ver que de fato, o irmão estava excitado, Angélica ficou sem jeito. O rosto ruborizou e Márcio notou e tentou segurar o riso, mas não conseguiu e acabou explodindo numa sonora gargalhada. A arquiteta lançou ao repórter um olhar de revolta, mas como quem tenta disfarçar a vergonha por perceber que Amadeu estava com o pênis ereto só de falar em Tarsila. Em seguida, deu as costas ao poeta e chamou seu hóspede, dizendo a Amadeu que precisava conversa com Márcio.
– Meu irmão, enquanto você resenha e rascunhas as cartas de amor a sua Tarsila, vou ter uma conversa aqui com nosso amigo. Daqui a pouco ele volta para revistar a sua primeira missiva.
Quando chegaram à sala, a arquiteta perguntou ao jornalista: “- Que porra é essa de cartas para Tarsila colocada dentro das garrafas e lançadas ao oceano para chegar até a Alemanha? Nem temos mar aqui por perto. O mais próximo fica uns 200 quilômetros. E se ele desejar jogar essas garrafas, como vamos fazer?
– Dona Angélica. Não coloquemos os carros diante dos bois. Essa é apenas uma ideia que tive hoje quando fui andando com ele até o Bar da Net. Percebi que ele pode ficar mais sossegado se, ao invés de ficar falando por intermédio de charadas, colocar tudo em textos. Não sei se você percebeu, mas seu irmão é um poeta nato. Só precisa botar as ideias no lugar e talvez a escrita pode ser um caminho. Não custa tentar. E quanto lançar as garrafas ao mar, quando o momento chegar, pensaremos. Vamos fazer esse teste hoje. Pode ser?
– Está bem! Confio em você e sei que não quererá zoar a cabeça do meu irmão.
– Por que quereria eu fazer isso? Quanto mais cedo ele ficar na Terra, melhor. Assim sairei o mais rápido dessa cidade.
“- Porra Márcio, pare com essa ideia de ir embora. Será que ainda não percebeu que nem tudo é desgraça em sua vida nesta cidade e tem gente que se importa com você?” Angélica disse isso, dando um leve soco no braço dele, tentando fazer com que ele acordasse e olhasse melhor os fatos.
– Claro! Não posso negar que, quiçá as loucuras ocorridas desde que conheci seu irmão no bar, coisas boas estão acontecendo, como por exemplo, a sua amizade e a dele. Sinto-me bem acolhido no coração de vocês, contudo, temos vidas diferentes. Preciso voltar à redação do jornal. Com toda a confusão que sua mãe arrumou lá, com certeza João Marcelo já fez uma parceria comigo sem eu saber. Ele entrou com o pé e eu com a bunda. Só está faltando eu aparecer com o meu rabo desnudo lá para sentir o bico do sapato dele em cada banda de minhas nádegas.
Ao ouvir essas observações, a arquiteta caiu no riso. “- Está vendo o que você faz comigo? Faz eu rir de coisas tolas, simples, mas que são maravilhosas, porque não tem como objetivo encantar ou conquistar espaço em qualquer lugar dentro do meu coração, nesta cidade, em lugar algum. É como se o hoje bastasse. Isso me faz feliz. Obrigado pela sua amizade”.
Depois de muito tempo, o jornalista sentiu a profundidade dos dizeres de sua anfitriã. Por sabê-la casada, entendeu o grau de leveza de suas palavras: alguém que fica na chuva com o amigo. Não julga, não sentencia, portanto, alguém que pode dar o coração sem medo de levar qualquer pancada. Só não conseguia entender como Rosângela deixou escapar uma pessoa maravilhosa como Angélica. “Está certo que é mandona, autoritária, quer tudo do jeito dela, controladora, mas se relevar essa parte, o melhor dela é lindo”, pensou o jornalista caminhando em direção à janela para observar o espetáculo que a natureza oferecia à humanidade quando o Sol se encaminha ao seu descanso no Ocidente para iluminar o Oriente. Nesse clima, o repórter recordou a pergunta que tinha feito à arquiteta no dia anterior e deu risadas.
– Do que você está rindo, meu amigo?
– De nada, minha cara patroa.
Eles se entreolharam e Márcio deu aquela gargalhada, pois sabia como provocá-la. Era só chamá-la de patroa. “- Vai me dizer o que há em sua alma que acabou chegando ao coração e dividiu com o cérebro?”
O jornalista sabia que a irmã de Amadeu não ia desistir até saber o que lhe ia pela cabeça. Também tinha clareza que não conseguiria esconder o real pensamento. Era como se dissesse uma coisa e olhava para um dos lados em busca de confirmação da mentira. Então o melhor a fazer, era falar a verdade, mesmo que valesse uma bronca.
– Ontem eu lhe perguntei se o verde-esmeralda de seus olhos combinava com o laranja que o Sol tingia o céu, como está fazendo agora.
Angélica olhou para ele e para o céu que era vislumbrado pela janela do seu apartamento. Ficou pensando no que dizer, pois no dia anterior, ao ouvir a mesma pergunta, escolheu o silêncio, até porque não sabia a resposta e não queria lembrar Márcio de que ela tem uma esposa. Então optou por deixar que o som daquela noite responderia. A arquiteta também entendeu que o repórter não estava, ao relembrar o dia anterior, estaria desejoso de uma resposta, até porque não havia nada para se dizer, apenas apreciar o momento ao lado de uma pessoa agradável que lhe transmitia paz em meio a um mundo cheio de tormentas, guerras e muita violência simbólica e ganância de toda estirpe.
– Não sei te responder isso agora, mas tentarei hoje à noite quando estivermos só eu e você. Claro se aceitar o meu convite para sairmos. Acho que merecemos ou não? O que me diz, meu caro funcionário?
– Seu funcionário uma vírgula. A não ser que você seja a dona do jornal e eu não saiba. Posso pensar na resposta, minha cara patroa? E caso eu aceite, como faríamos com o seu irmão?
– Vejo que ele está todo empolgado com a possibilidade de escrever as cartas para Tarsila. Então acho que poderemos passar umas horas juntos. Depois, tenho um dispositivo que posso usar. O apartamento todo tem câmeras e eu reprogramo as imagens para o meu celular. De repente poderemos monitorá-lo à distância e também deixar Rodolfo estacionado aí na frente.
Quando Márcio ouviu o nome de “amigo”, fechou a cara. Lembrou da quase confusão na hora do almoço. Mas tentando disfarçar a contrariedade, disse a Angélica que iria pensar.
– Tudo bem moço do jornal. Agora são 18h, aguardo a resposta até as 19h. Se não vier ou for negativa, sairei sozinha. Não é que eu não vá, mas é que não vou esperar a sua chegada.
Ao dizer isso, Angélica se dirigiu para onde estava o irmão e ficou conversando com ele por cerca de meia hora até ouvir a voz do repórter que vinha lá do quarto de hóspedes. Não era um grito, mas uma voz que saia entre os dentes. Não deu nem tempo de a arquiteta sair de onde estava. Márcio chegou com uns pedaços de pano nas mãos, perguntando a anfitriã o que aquilo significava.
– Restos de uma roupa que até hoje no começo da tarde estava no corpo dum jornalista lambão e seboso. Como sabia que ele teria dificuldades de se livrar delas, eu resolvi dar uma mãozinha junto com a minha tesoura mágica. Desta forma, não tem mais calça ensebada e camisa do século passado. E você teve sorte porque o tênis estava no seu pé porque senão, iria para o aterro sanitário também. E agora o que você vai fazer?
Márcio ficou sem reação e Amadeu caiu na gargalhada, lhe dizendo. “- Eu não te falei para não ficar muito tempo dentro da torre dessa Rainha diaba. Agora ela cortou só suas roupas. Se não chegar junto, vai te deixar só no toco!”. Angélica corou novamente e aí foi a vez de o jornalista cair na gargalhada. “- Vocês são dois tontos. Não quero mais ficar com vocês. E a propósito, meu caro repórter, o tempo está passando. Como vocês dizem lá na redação: deadline. Então fique ligeiro.
Ao terminar de dizer isso, Angélica saiu, sabendo que Márcio estaria olhando para a sua bunda. Talvez não o fizesse descaradamente porque o irmão iria notar e Amadeu era indiscreto, principalmente com o amigo. Antes mesmo de o jornalista tentar olhar, Amadeu soltou: “- Vai encarar, meu caro repórter ou deixará tudo isso para o Rodolfo? Minha cunhada negona está longe e a minha adorável arquiteta está matando cachorro no beliscão. Eu se eu fosse você não desistiria da empreitada”.
O repórter disse de chofre: “ – Não sou assim. Não sei atropelar. E além do mais eu e sua irmã somos apenas amigos. Só isso e daqui a dois dias no máximo eu volto para a minha casa e depois, encerro tudo, construindo morada em outro canto”.
– Meu amigo, não quero ser desmancha prazeres não, mas desconfio que você não alcançará esse objetivo. Conheço essa trintona de ouros carnavais. Quando os olhos ficam no castanho escuro, sai de baixo, corre porque se ela pegar, não deixará pedra sobre pedra. Agora quando as cores começarem a ficarem tingidas de esmeraldas, aí meu caro, ela te abraçará e não te largará mais. Reparou direitinho quando ela fica perto de você?
– Não vejo nada, pois tudo isso não passa de imaginação de sua cabeça que, aliás, deve se concentrar aí nas cartas para Tarsila que depois eu quero revisar, antes de colocá-las dentro das garrafas vazias de uísque que você bebeu.
– Acorda homem de deus. Pelo que ela te falou antes de sair daqui, quer sua companhia para alguma coisa. Se você não for, ela irá sozinha e terá que chamar o Rodolfo para fazer-lhe companhia. Você já imaginou se ela toma uns drinks a mais e não pode dirigir e o garçom-pinguim tem que vir guiando o carro? Não quero nem pensar. Vai por mim, amigo que amigo fica na chuva com o outro. Então não a deixa sozinha essa noite. Está precisando dum colo que a deixe em paz.
– E você, Amadeu?
– Vá se foder! Tu acha que eu preciso duma babá que tem uma bengala grande? Quem necessita dela é a dona deste aparamento. Eu vou ficar aqui com as minhas cartas e minhas garrafas de uísque que preciso esvaziá-las para colocarmos os meus escritos direcionados à minha adorável Tarsila.
– Está bem. Vou me preparar.
– Ah! Não faça a barba! Ela acabou de me segredar que você fica másculo com ela.
– Vai mentir no inferno, Amadeu! Agora só de raiva eu vou raspar o rosto.
Márcio saiu e foi em direção ao quarto de hóspedes para se preparar. Queria fazer uma surpresa. Já chegar pronto e dizer a ela que aceitava lhe fazer companhia naquela noite. Seria bom para espairecer e fazer o teste das cartas. Ver como Amadeu se comportaria. Enquanto o jornalista ia ao quarto de hóspedes, o irmão da arquiteta se dirigiu ao quarto dela. Lembrava quando faziam isso. Conversavam sobre mulheres e homens. Às vezes ela falava dos dois gêneros. No início, ele estranhava, mas depois ficou mais à vontade com a irmã que apresentava gostar tanto de homem quanto de mulher.
Assim que terminou de se arrumar para o encontro com Angélica, o repórter passou de defronte à porta do quarto dela e a viu de pé só de roupa íntima conversando com o irmão que estava sentado na cama. Olhou rapidamente, gostando do que viu, indo direto à sala, se sentando no mesmo lugar da noite anterior e daquela tarde. Ficou pensando no que enxergou: lingerie rosa choque em que a calcinha não marcava, mas estava colada no corpo, delineando o bumbum da arquiteta, sem marcar a roupa que usaria, e o sutiã com alças de silicone. Márcio ficou imaginando qual vestimenta ela estaria usando. Com certeza uma caríssima e uns sapatos de salto alto que custavam mais que o salário que ganhava no jornal.
Não demorou muito e Angélica apareceu toda elegante, porém, bem diferente do que ele imaginava. Estava vestida com uma blusa da mesma cor do lingerie e um shorts azul e um calçado sem salto. Ao ver a cara de Márcio, Angélica foi enfática: “- Como já sabe o que tem por baixo dessa roupa e também o que já conhece pelas transparências de outrora, acho que para essa noite, estou bem vestida. Não acha?”
O repórter olhou novamente e quando ia dizer alguma coisa, a arquiteta já falou: “- Se não gostou fala logo que eu vou e troco e me arrumo do jeito que você desejar”
Márcio fixou-se bem nos olhos dela, percebendo que estavam quase que esverdeados, mas começou a rir. “ – Por que você está rindo? Estou vestida como palhaça? Está escrito na minha testa idiota? Quer falar logo, se não perco a vontade de sair”, despejou as perguntas em cima do repórter.
– Não sei como falar, pois tudo o que disser pode ser interpretado erroneamente.
– Tenta a sorte. O máximo que vai conseguir é levar uma bolsada na cara.
O repórter não aguentou e se desmanchou em risos.
– Seu filho da puta quer falar logo. Estou perdendo a paciência.
– Está bem. Lá vai. Vou dizer e sair correndo. Você está linda, divina. Maquiagem sóbria, roupas bem simples. Eu diria que pronta para uma noite em que a simplesmente reinará.
– Obrigado querido amigo. Estava com medo porque não sabia como me arrumar. Estava temendo que você gostaria que eu me produzisse mais. Ainda bem que eu acertei.
– Eu não me importo com roupas, e sim com quem está dentro delas.
– Caralho não sei porque me preocupei tanto. Vou sair com um cara que precisei picotar as roupas que ele usava, inclusive uma camisa que tinha quase a idade dele.
Ambos deram risadas.
“- E eu posso saber para onde vamos hoje minha Rainha?”, perguntou Márcio todo cerimonioso.
– Vamos no mesmo local em que eu te esperei naquela noite em que você cortou a mão. Só que não quero chegar com você. Eu vou à frente, reservo um lugar só para nós e aí tu chegas depois.
– Por que isso agora?
– Por que acho que não podemos chegar lá como se fossemos namorados. Eu ainda sou quem sou e você é quem é.
– Ou seja, o seu empregado. Vá sozinho. Não vou mais!
– Ah vai sim! Agora vai nem que for amarrado. Eu estou indo e te espero lá. Se não chegar em meia hora, eu mando os seguranças virem te buscar.
– Só quero ver!
– Experimente. Tchau, seu chato!
Ela saiu e Márcio ficou ali parado, pensando, pensando. Amadeu que tinha escutado a conversa começou a falar baixinho: “Rodolfo vai fazer o serviço que o jornalista se recusou a realizar por ter medo de aranhas e pererecas”. Cantou isso duas vezes e Márcio virou para ele e o mandou tomar no cu.
– Faça assim meu caro. Entre no banheiro e se masturbe. É o único jeito que você sabe mesmo. Vai lá dar um pouco de prazer para minha pobre irmãzinha.
“- Está bem. Mas vou chegar um pouco mais tarde”, afirmou o jornalista.
– Você quem sabe. Depois não reclame se ela estiver sentada com um pinguim de geladeira.
– Chega Amadeu. Estou saindo. Vou pedir um transporte. Estou fodido mesmo com vocês dois.