Última dança eleitoral

Gilberto Barbosa dos Santos

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A luta pelo principal assento do Paço Municipal será enorme

 

Gilberto Barbosa dos Santos

 

Todos que leem os meus aforismas dominicais e as reflexões que publico aqui às quintas-feiras, como as linhas que se seguem nessa manhã quase fria quase chuvosa do segundo dia de junho, sabem do meu apreço pelo escritor carioca Machado de Assis, inclusive que o meu trabalho de pesquisa foi publicado em livro. Pois bem! Então hoje volto a ele para tentar entender o trebelhar da política local visando o pleito de logo mais em Outubro. Para começar a conversa com os meus leitores, eu busco o capítulo 47 da penúltima enunciação machadiana: Esaú e Jacó. A seção, cujo título reportar o narratário a uma narrativa bíblica, enfoca a tentação que um político Conservador sofre depois que seu partido é apeado do governo ministerial por determinação do Imperador D. Pedro II. A questão é emblemática porque enquanto Jesus, o Cristo – na epopeia bíblica – é tentado pelo Diabo, na ficção Oitocentista, Batista é instado, pela própria mulher, a mudar de lado, isto é, debandar para o lado dos Liberais somente para conseguir um carguinho na estrutura monárquica.

Esse é o universo ficcional e quem tem interesse em saber como termina a história de Batista e sua esposa Cláudia, deve percorrer as páginas do romance ou aguardar a publicação dum artigo que preparo sobre o baile que a mulher do advogado Conservador o convida para dançar. Agora, no plano concreto, onde as relações e os acordos políticos são travados e levados às plenárias apenas para que os filiados chancelem, a coisa é bem diferente, entretanto, não foge muito da representação que as enunciações machadianas nos apresentam desde o final do século XIX. Neste sentido, quero apenas recordar que no último domingo em minha coluna Olhar Crítico, eu apontei que estava sendo costurado um acordo entre os diretórios do PT local e o PSD municipal, objetivando a candidatura a prefeito do ex-presidente da Câmara, Caíque Rossi. No entanto, não apontei em que ponto as negociações estavam e o que elas incluíam, bem como quem encabeçava as conversas entre os petistas e os correligionários do pré-candidato a prefeito, Caíque Rossi.

Tendo esses olhares como pressupostos é que posso afiançar, aos meus leitores, que a coisa está para lá de ser simplória, mesmo que os petistas históricos estejam contra os acordos que veem sendo alinhavados nos bastidores. Existe, em caso da população acatar os lamentos e o canto da sereia entoado pelo ex-presidente da Câmara durante o processo eleitoral, o compromisso do presidente da Funepe, o historiador e mestre em História Social, Cledivaldo Aparecido Donzelli ser o vice-prefeito de Caíque Rossi. Até ai nada demais, a não ser que as conversas estabelecem 21 cargos na estrutura administrativa reservados ao PT, ou seja, sete em primeiro escalão, sete em segundo escalão e sete no terceiro, eis a trindade eleitoreira. Conforme informações extraoficiais que me chegaram, alguns desses postos estão sendo oferecidos aos petistas da chamada ala à esquerda, objetivando a anuência desses para o acordo que está sendo firmado nos bastidores.

É preciso ter claro que esses diálogos encontram-se no mundo da política, levando em conta a hipótese de vitória nas urnas, pois é preciso respeitar o prazo legal, isto é, cumprir o que a legislação prevê. Portanto, nada é oficial e nem pode ser, contudo, a população e o eleitorado, a quem de fato o poder pertence, precisam saber o que está sendo articulado visando o próximo mandato, que começará em 2017 com o beneplácito do cidadão com ou sem cidadania. Diante do que me chegou, fiquei com uma interpelação: quem está coordenando as conversas pelo lado do PSD e do PT? Do PSD, me parece que é o procurador-jurídico da Câmara, o advogado Márcio Reis e do lado petista, o vereador José Carlos Aguirre Monteiro, o Zeca Monteiro que, inclusive, caso seja eleito, estaria tratando da presidência da Câmara no próximo biênio, isto é, 2017-2018 e observando o seguinte, isto é, 2019-2020 que ficaria com um vereador do PSD, caso o povo o reconduza ao posto no Legislativo. Dentro dessa chave, é preciso que se diga que os cargos negociados num futuro governo PSD/PT, há o posto de presidente do Daep (Departamento Autônomo de Água e Esgoto) que teria disso ofertado ao economista e presidente do diretório local do Partido dos Trabalhadores, Evandro Henrique Moreira. Além desse cargo, o arauto do PSD cederia aos petistas, a Secretaria de Educação, Planejamento, de Saúde e também a chefia de Governo que poderia ser destinada a outro partido que tem ligações com os principais caciques do petismo local. Ressalto: essas são articulações mantidas nos bastidores da política penapolense, cujas informações, ainda extraoficiais, foram coletadas por este que vos escreve leitor.

Posto isto, sabe-se que o aval pelos lados dos correligionários do ex-presidente da Câmara e voto de minerva na CIP que onera a conta de luz do trabalhador penapolense, é dado como certo, mas e pelas bandas do PT, como é que a coisa anda? Antes de responder a essa interpelação, fico pensando qual será o espaço que o atual presidente do Sindicato dos Servidores Municipais, Anderson Mioti, o Batata, ocupará nesse organograma, pois conta-me que ele é ligado ao pessoal do PMDB local. E o Partido Solidariedade? Fontes que consultei dão conta de que até o advogado Rubens Bertolini foi sondado, mas não para ocupar a Procuradoria Jurídica da Câmara, pois esse cargo teria sido prometido para outro petista, não da linhagem histórica, mas sim um que ficou ao lado ex-prefeito João Luís dos Santos, durante os oito anos de seu mandato. Mas ai é outra história, importa-me observar neste momento como o trebelhar político leva em conta aquilo que Machado de Assis apontou em seu penúltimo romance, escrito nos primeiros anos do século XX e publicado em 1908, ano da revolta da Vacina.

O que está certo é que a orquestra política, visando o canto eleitoral de Outubro, pode estar sendo formada por músicos do PT e do PSD, sendo que pelos lados do Partido dos Trabalhadores a regência está a cargo do vereador Zeca Monteiro e pelas bandas do Partido Social Democrático, a batuta está com o atual procurador-jurídico da Câmara, Márcio Reis. Desta forma, durma com essa harmonia eleitoral meu caro leitor. No entanto, é preciso saber como os fundadores do petismo local vão se posicionar. Pelo que pude observar, os violinos destes estão destoados com os violoncelos e a notas entoadas pelos caciques do petismo. Em conversas mantidas com alguns desses petistas históricos, uma coisa ficou certa: não vão aceitar essa articulação política. Não vão engolir essa parceria com o PSD, inclusive lembram que num passado não muito remoto, uma junção semelhante provocou o racha na legenda com severos respingos na última eleição, quando o ex-petista Roberto Martins Torsiano foi preterido, antes de ser pelos eleitores o fora pelos signatários desse novo acordo com Caíque Rossi.

Enfim, esses são os ensaios para o grande baile, a exemplo do que ocorreu antes da queda da Monarquia e conhecido como o Último baile da Ilha Fiscal que o governo imperial ofertou aos militares chilenos que visitavam o país – festejo retratado por Machado de Assis em seu romance Esaú e Jacó. Se naquele evento, Cláudia sonhava com Batista conversando com o Imperador e sua filha, Princesa Isabel, aqui no século XXI, muitos petistas alinhados com a linha partidária que tem interesses em determinados cargos na estrutura administrativa, acalentam contar com a anuência do povo para entoarem cantos fantasmagóricos, a exemplo do que ocorreu no plano federal. E o que dizer então dos correligionários do arauto do PSD e postulante a alcaide penapolense, Caíque Rossi?

 

Gilberto Barbosa dos Santos, sociólogo, professor no ensino superior e médio em Penápolis. Pesquisador do Grupo Pensamento Conservador – UNESP e membro do Conselho Editorial e Científico da revista LEVS-UNESP. Escreve às quintas-feiras neste espaço: www.criticapontual.com.br. E-mail: gilbertobarsantos@bol.com.br, gilcriticapontual@gmail.com, e gilberto_jinterior@hotmail.com .

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