Sobras de um amor … parte III

10.

 

         Novamente ambientada entre os seus, Angélica se soltou mais, porém não desgrudou do marido. Contudo começava a entendê-lo melhor, sem precisar daquela marcação acirrada. Afinal, todos ali o conheciam e sabiam que o marido dificilmente faria uma canalhice com ela. E mesmo que outras mulheres se aproximassem dele, ela saberia, pois percebeu que Márcio não conseguia esconder nada dela.

Eleanora observando que tudo estava calmo, então o almoço poderia ser servido. Inicialmente foi pensado para ser à beira da piscina, mas como o encontro seria um pouco mais formal, foi realizado dentro da mansão. Assim que todos estavam ajustados à mesa, a anfitriã faz questão de dizer que tudo aconteceu muito naturalmente.

– São tantas coisas que gostaria de compartilhar com meus amigos e agora também sócios que eu não sei por onde começar. Tenho receio de me perder pelo caminho.

“- Segure nas mãos do seu general e comece”, soltou Amadeu para fazer com que a mãe ficasse mais tranquila.

– É justamente isso que eu gostaria de anunciar aos meus amigos. Agora é oficial. Consegui finalmente arrancar as estrelas que o meu amor aqui tinha na farda invisível que usava. Além de ser meu sócio nesse novo empreendimento, do qual eu e ele não sabemos absolutamente nada, é também o homem que ocupa 24 horas meu coração. Sou imensamente grato por tê-lo aqui comigo.

Alexandre escutava tudo em silêncio, enquanto a namorada dizia; “- Com o pouco tempo de convivência conosco, ele já pode perceber que a chapa é quente. Mas não de um calor negativo e sim daquela temperatura que nos acolhe e nos mantêm aquecido por um longo tempo. Eu sinceramente espero que seja por toda a eternidade”, explicou Eleanora, fazendo um movimento sútil para o general se levantar.

Assim que está completamente aprumado, é beijado pela anfitriã e alguém grita. “- Aquele que tirar foto já sabe. Que cada um de nós saibamos guardar esse momento na memória e no coração”.

Mariana resmunga no ouvido do marido. “- Tinha que ser esse bunda-mole do seu irmão com essa mania de não fotografar nada”.

Judith e Rogério escutaram o comentário por estarem bem próximo do casal, mas optaram pelo silêncio, até porque o general se adiantou, afirmando estar muito feliz pela recepção que recebeu do coração da amada. “- Não sou de falar muito, até porque estou me ambientando na vida civil, mas encontrei uns olhos encantadores que cultivarei para seguirem comigo até a que eternidade”.

Quando Eleanora pensava em dizer o outro motivo, não deu tempo, pois Amadeu todo ansioso foi logo dizendo: “- Keka! A partir de segunda-feira estarei contigo nas empresas. Ocuparei o cargo de vice-presidente. Mas isso se você concordar e o seu marido também. Afinal, eu serei escritor da editora de Márcio, então preciso que ele me libere para fazer uns bicos nas Organizações Oliveira”.

Todos caíram na gargalhada por conta do jeito que o vate falou. “- Meu caro amigo, diante do enunciado, o bico será feito em minha editora e eu fico muito feliz por isso, pois o seu lugar é lá junto de Angélica administrando tudo aquilo que Jô, certo ou errado, batalhou para deixar para vocês.

Angélica ficou imensamente feliz com a notícia, deixando o seu lugar para abraçar o irmão. “Obrigado Amadeu. Você me deu um excelente presente de casamento”.

“- Mas eu não vou ficar o dia todo. Só meio período, o outro quero curtir a gravidez do meu primeiro filho e escrever uns versos para o bebê”, sentenciou o vice-presidente das Organizações Oliveira.

“- Tudo bem. Podemos organizar de modo que eu fico num período do dia e você em outro”, explicou Angélica.

Eleanora observou atentamente o casal de filhos trocando amabilidades e combinando situações que seriam ajustadas no domingo durante o churrasco. “- Agora eu quero saber se a secretária que eu indiquei para a diretoria está pronta para assumir suas funções”, perguntou a anfitriã olhando para Roberto.

– Dona Eleanora…

“- Para nós aqui que estamos entre amigos pode retirar esse pronome de tratamento, meu caro Roberto”, sentenciou a anfitriã.

– Bom! Eleanora, eu sinceramente acredito que ela esteja pronta, mas acho melhor ela mesma dizer, afinal a escolha foi da presidente de honra, tendo  além disso, um substancial aumento salarial.

Automaticamente todos os olhares se voltaram para Fernanda e ainda mais surpreendentes foram os de Márcio e de sua esposa.  “- Eu creio que sim, mas só saberei ao ser testada pela presidente e pelo vice-presidente. Sei apenas que na segunda-feira estarei lá de prontidão para assumir minhas novas funções, Eleanora”, explicou a secretária de Angélica e Amadeu.

Márcio ficou muito feliz pela promoção da amiga e não perguntou de quem foi a ideia, pois nem precisava já que entendeu o motivo da sogra. Angélica foi a que ficou mais surpresa, mesmo entendendo que aquilo foi uma ação de sua mãe para que ela deixasse de implicar com a amiga de seu marido. Eleanora deveria ter uma razão para ter agido daquela maneira.

Para evitar, conversas paralelas, a sogra de Márcio foi direta ao ponto. “- Como meu filho voltará à vice-presidência das empresas, juntamente contigo achei por bem promover alguém de nossos quadros que fosse de nossa inteira confiança, assim como o Roberto se tornou nosso diretor. E a propósito, ele é quem vai administrar os meus 25% no supermercado que Rogério comprou para o Esdras gerenciar e como sei que o meu namorado aceitará, ele também topa que tu tomes conta dos 25% dele.

Diante do colocado pela sua amada, o general informou ao diretor, alçado à administrador, que daria um presente ao filho que estava por vir e teria o nome dele. “-Então o meu presente ao rebento que o casal espera será 5% desta sociedade. Faça render e quem sabe no futuro tu não adquire os meus outros 20%”, estimulou Alexandre.

A ideia que Eleanora, Alexandre e Rogério tinham em mente era, no futuro, deixar com Esdras um bom percentual do negócio, mas ele teria que fazer por merecer, além do coração da secretária e sócia de Angélica na agência de arquitetura.

Quem ficou se roendo toda foi Mariana porque parecia que tudo gerava em torno da vida de Márcio e o seu marido seria sempre o coadjuvante de Rogério e nunca se desvencilharia do pai para dar voo solo. Quando ela ia cochichar algo com o marido, Judith sentenciou: “- A inveja apequena não o invejado, mas aquele que lhe tem inveja, minha cara nora. Trabalhe mais e inveje menos as pessoas que estão em seu entorno te mostrando algo”.

Diante do que a sogra disse, a esposa de Leônidas se fechou. Compreendia como a sogra sabia pegar no ponto certo de cada um, os deixando sem ação. A nora tinha certo que teria que conversar com Judith, do contrário, ela viria como uma locomotiva para cima dela.

Por mais que todos os participantes tentassem não transformar o evento num almoço de negócios, a situação acabou chegando a esse ponto, pois havia muito o que ser acertado e agora com o presente dado por Alexandre, Roberto teria que trabalhar dobrado, além de ser o braço direito de Márcio na editora. Aos poucos a mesa foi sendo desocupada e o caminho foi um só: parte ficou pelo interior da mansão, inclusive Alexandre foi convidado a conhecer a adega e escolher uns vinhos para a ceia.

Judith chamou Leônidas para uma conversa. “- Traga a tua mulher aqui. Quero ter uma conversa com ela. Somente nós duas. Não quero que ninguém nos interrompa”.

“- O que aconteceu mãe”, perguntou o filho.

– Depois que eu conversar com tua esposa, ela decide se te conta ou não”, informou Judith.

Assim que Mariana chegou, a sogra consultou Eleanora se podia usar o seu escritório para um diálogo com a nora. Tendo a entrada franqueada, ambas ingressaram no cômodo. Assim que Mariana se acomodou, já recebeu a primeira intimada: “- Desembucha logo! O que foi que Márcio lhe fez? Ele está para cá faz mais de cinco anos, nunca lhe dirigiu a palavra a não ser de maneira respeitosa”, cobrou a sogra.

Mariana ficou em silêncio. “- Diga agora! Do contrário, vou chamá-lo aqui e tu terá que dizer tudo na cara dele. Tenho certeza que Marzinho não gosta de conversa paralela. Você é minha nora e não tem obrigação nenhuma de gostar dele ou de quem quer que seja que esteja nessa casa, mas deve respeitá-lo, pois sei que ele o faz pata contigo e nunca, mas nunca mesmo falou nada sobre ti ao irmão”.

– Dona Judith. Eu sei que estou errada. É que fico enciumada com tanto paparico em cima dele, como se fosse intocável, um deus que deve ser posto num pedestal, enquanto Leônidas parece não existir. Agora estou grávida e ninguém fala nada, como se meu bebê não existisse”.

A sogra olhou para a nora e começou a rir. “- Minha filha! Você está prestes a ser mãe. Então comece a compreender certas coisas que acontecem em seu entorno. Márcio não é o paparicado de ninguém. Ele apenas é diferente dos demais homens que você já conheceu. Eu só falava as escondidas com meu filho justamente por conta de uma briga entre ele e o pai. Leônidas e Esdras ficou com a melhor parte. Seu marido tem tudo junto a Rogério, Esdras nunca foi forçado a tomar decisão alguma, enquanto o Marzinho estava aqui se afundando no ostracismo”.

– Novamente lhe devo desculpas, minha sogra.

– Aquele rapaz que vai assumir a vice-presidência das empresas, o Amadeu, estava num mundo de alucinações só e ninguém conseguia tirá-lo de lá. Foi o Márcio quem conseguiu fazer isso e o devolveu à família, além de ter sido humilhado pela mãe do poeta. Agora vai lá e pergunte a Eleanora o que ela sente pelo Marzinho?

“- Eu sei disso, mas como te informou, estava enciumada”, confessou Mariana.

– Você no final da semana que vem voltará para a casa com seu marido que provavelmente ficará com o maior percentual dos nossos negócios e sabe porque isso acontecerá? Por que Márcio não quererá aquilo que não trabalhou para ter. Ele está mergulhado na construção da editora dele e de quebra tem uma esposa completamente desparafusada que o ama tanto quanto é doida. Sendo assim minha filha, acho que o sentimento que nutres pelo meu filho não o envenenará, mas sim, se tu não abrir o olho, te encherá de mágoas e eu, sinceramente, não quero que meu neto seja gestado num útero, cuja mãe é amargurada e invejosa. Espero não precisar ter mais uma conversa desse nível contigo. Se eu puder te pedir duas coisas, eu digo agora: continue a fazer Leônidas feliz e seja uma excelente mãe para o meu neto.

Mariana escuta tudo em silêncio e de cabeça baixa e em silêncio.  Quando Judith ameaçou sair do escritório, a nora o abraça chorando, lhe pedindo desculpas pela cegueira construída pelo seu ego que não a deixava ver as coisas de maneira coerente. “- A senhora sabe que eu a tenho como uma segunda mãe. Então espero que aceite minhas sinceras desculpas”, disse Mariana.

– Respeite meu filho, principalmente por ele está nos domínios dele e da família da esposa que ele escolheu. Agora vamos que haverá festejos até amanhã e vai se preparando, pois deveremos voltar aqui quando Marzinho for inaugurar a editora dele.

Sobra e nora deixaram o escritório sem o menor sinal de que as duas tinham tido uma conversa complicada. Leônidas conhecia bem a mãe e sabia que o pito dado na esposa era de quebrar todos os ossos do rosto. Assim que Judith se afastou, ele perguntou para a esposa o que tinha ocorrido. “- Sua mãe escutou o comentário que eu fiz à mesa sobre o Márcio e é lógico que não gostou e acabei de levar a maior bronca”, informou Mariana.

– E você acha que ela não faria a mesma coisa se Débora tivesse feito comentários semelhante ao que fizestes à Márcio, a meu respeito? Ou se Angélica tivesse dito a mesma coisa. Judith não tem pesos e medidas diferentes para os filhos. Todos passam pelo mesmo processo dela e do Rogério. Não ouviu o que ela falou para mulher do Marzinho, mesmo ela não estando aqui? Nem Eleanora saiu em defesa da filha.

– Eu sei Léo, mas às vezes, eu não consigo me segurar.

– Marzinho tem lá as suas esquisitices, mas nunca me falou um nada sobre ti e tenho certeza de que não falará, exceto se eu perguntar. Então espero que não fale mais nada a respeito dele, até porque ele mora aqui e nós em nossa cidade.

– Tudo bem amor! Tenho certeza de que isso não acontecerá novamente.

Quando o casal deixa o local que ficava perto do escritório, viu que Angélica, Amadeu, Roberto e Fernanda estavam sentado numa mesa à parte conversando. O tema era um só: o trabalho que começariam na segunda-feira. Ninguém tocava no assunto, mas foi Angélica quem pediu: “- Fernanda, me ajude a não ter tanto ciúme de ti com o meu marido. Eu sei que vocês são amigos e que eu cheguei depois”.

Amadeu deu risadas para quebrar o gelo. “- Minha irmã. No trabalho, Fernanda e Roberto serão empregados e profissionais. Nossas vidas pessoais não podem ser levadas para dentro as empresas e eu tenho certeza de que esses dois darão conta do recado. E pelo que me consta, a Fernanda já encontrou a tampa dela que tem tanto ciúmes quanto você do Márcio. Preciso perguntar para Judith o que o filho dela tem de tão especial assim”.

– Angélica! Também precisarei de sua ajuda para acalmar o gênio ciumento do Ricardo. Eu sei que se Marzinho pegá-lo de jeito, a coisa ficará complicada. Tua mãe veio com uma conversa sobre se eu e o seu marido já tínhamos transado ou trocado beijos e eu disse que não.

Roberto que escutou tudo calado, foi direto ao ponto para acabar com aquelas desconfianças todas sobre Fernanda e Márcio. “- Angélica, me responda uma coisa: pelo pouco tempo que tu conheces o Marzinho e todos nós, você acha mesmo que ele e a Fê tiveram alguma coisa antes de ti aparecer na vida dele”.

– Por que está me perguntando isso, Roberto?

– Justamente porque Fernanda será a secretária da diretoria e você é casada com Márcio. Se tu, enquanto patroa e esposa, tiver alguma dúvida com relação ao que tanto ela quanto o seu marido lhe dizem, a situação ficará insustentável.

– Eu tenho ciúmes do Márcio com relação a qualquer pessoa, mas em específico com as mulheres, contudo, ele tem me auxiliado a compreender tudo para depois superar.

Foi Roberto quem colocou as coisas em seu devido lugar. “- Se Fernanda e Márcio tivessem trocado um beijo que extrapole o afeto que um tem pelo outro, tenho certeza absoluta que nem você e nem Ricardo não teriam se aproximado dos dois. Observe que ninguém sabe absolutamente nada de sua vida com o Marzinho e o que um sabe todos sabem, pois os dois deixam isso transparecer, mas o resto, não. O meu amigo sempre foi hermético desde os tempos que eu o conheci na universidade. E se ele está te dizendo que nunca teve nada com a Fernanda, pode ter certeza absoluta de que ele diz a verdade”.

– Eu sei disso, meu caro Roberto, tão bem como a maior parte diz respeito às minhas inseguranças e, pelo que conheço de Ricardo, também deve ser o mesmo motivo. Mas acho que eu e Fernanda só vamos conseguir serenar nossos relacionamentos se passarmos para os respectivos namorados, segurança. E é o que mais quero nesse momento.

Enquanto a esposa estava nessa reunião meio que ajustada às pressas, Márcio conversava com Tarsila pedindo desculpas a ela pelo comportamento da esposa. “- Márcio! Eu adoro você e estava completamente enganada a seu respeito e, observando de fora você e Angélica, sei que se a deixar, ela ficará sem chão a exemplo do que aconteceu com Amadeu enquanto eu me acovardava diante do racismo do pai dele e do dinheiro. Mas hoje não quero trazer o passado para o presente e só viver o aqui e o agora e o devir desses momentos. Então tenha paciência com ela. O Amadeu me disse que a irmã nunca amou ninguém e tenho certeza de que nem mesmo a minha irmã sentiu isso por ela”.

– Obrigado Tarsila. Precisarei muito desse seu apoio. Consegui identificar o gatilho que aciona essa espiral de ciumeira. No momento, Angélica precisa do amigo e não do homem. Devo me preparar também para o fato de que, passado todo esse vendaval, ela poderá me deixar justamente porque o lance dela é ficar com mulheres e não com homens.

– E se isso acontecer, o que você fará, meu caro?

– Abrir espaço na vida dela para que encontre a pessoa que possa ajudá-la a se realizar nesse quesito também. Eu a amo, mas isso não significa que a queira aprisionada junto a mim a partir de uma situação que não existe mais. Desejo que descubra qual o espaço que tenho na vida dela. Até agora não conseguimos pensar em nada, pois só registramos explosões, brigas e muita ciumeira.

– Qualquer coisa se precisar, eu e Amadeu estamos aqui. Sabemos que adora seus pais, mas tem coisas que eles não conseguirão entender, portanto, lhe ajudar ou coisa parecida.

Assim que Tarsila terminou de falar, Márcio agradece abraçando-a, pois percebeu nela alguém que lhe é semelhante. “- Olha só meu irmão! O que acabamos de vir. Meu marido abraçado com a sua esposa”, disse Angélica tentando esconder o ciúme que sentiu.

Foi Tarsila quem adiantou e, dando risadas, disse: “- Minha cara cunhada, seu marido é um homem interessantíssimo, mas teria que melhorar e muito para chegar perto do que Amadeu significa em meu coração, em minha vida, em meu universo e em minha eternidade”.

“- Eu sei Tarsila”, disse Angélica, tentando desmontar o desconforto que ficou por conta do comentário que ela fez e, por não conseguir esconder o ciúme que sentiu ao ver Márcio abraçando com a cunhada.

As estrelas começavam a tingir o céu com o seu brilho quando Eleanora, que havia sumido com Alexandre, apareceu na varanda para dizer que o seu general havia escolhido o cardápio para a ceia, bem como o vinho. Enquanto a anfitriã fazia o anúncio, Rogério e Judith conversavam com Esdras e Débora. A futura arquiteta estava imensamente feliz por saber que poderia finalmente vivenciar o que lhe vinha na alma, o sentimento especial por Esdras.

– Minha filha, estou de olho nesse rapaz. Ele sabe que os dias de passeio no parque acabaram. Se pisar fora do riscado, me avise. Esdras tem conhecimento de que o passo que demos hoje pela manhã, é para que tenha tranquilidade e vivencie contigo o que sente por ti.

– Obrigado Judith, mas Esdras entende que antes deu gostar dele, me amo muito, então não me submeterei a nada que não esteja de acordo com os meus princípios para ficar com ele. Não adianta pisar na bola e depois pedir perdão, desculpas. Para isso existe a razão, portanto, deve pensar antes. O meio em que eu vivo, como ele pode observar, todos não são chegados à exposição e pelo que pude notar, nem Rogério. Olha o que Angélica está enfrentando por não controlar o ciúme excessivo que tem de Márcio.

– Débora! Tu tens muito juízo e nada de se casar antes de obter o diploma e sua estabilidade emocional, profissional e financeira. Esdras que faça por merecer tudo isso, inclusive ter uma formação para não ser tão obtuso.

Enquanto a mãe puxava a orelha do filho indicando à namorada dele que jamais acobertaria patifarias para com a secretária da esposa de Márcio, Angélica e o marido conversavam e é claro o assunto era o comportamento dela. “- Caralho, amor! Não precisa fazer essas orações. Sei que deveria pegar mais leve, mas porra, me ajude ao invés de ficar com essa ladainha na minha cabeça. Eu te amo e tenho medo de amanhã não estejas comigo. Vamos fazer assim, se eu não extrapolar, conversaremos em casa”.

– Desculpe-me! Também preciso me emendar e lhe dar um pouco de serenidade.

“- Amor! Nesses mais de 90 dias você já fez mais por mim do que minha família em meus 33 anos de existência. Acho que nós dois estamos sensíveis das confusões de ontem”, disse Angélica alisando o rosto do marido, o beijando de leve. “- Só de estar comigo aqui e caminhar do meu lado já me acalma e muito minha alma”, completou a empresária.

Assim que a esposa termina de falar, Eleanora chama todos para a ceia. Como ninguém tinha mais nada para anunciar, as conversas foram diretas, cruzadas e cada um falando duma coisa, até que Débora disse que gostaria de elaborar projeto para um novo prédio para o supermercado. “- E é claro, gostaria que a minha patroa-sócia se empenhasse nisso. Pode ser Angélica”, inquiriu a secretária.

“- Claro! Farei com o maior prazer, mas se tivéssemos uma área definida, ficaria tudo mais tranquilo. Mas na segunda-feira pensaremos nisso juntos, minha cara sócia”, informou a arquiteta.

Os diálogos se seguiram até perto das 23 horas quando Márcio puxou o assunto de encerrar as comensalidades, já que no domingo estariam todos lá novamente, inclusive os pais de Debora e Ricardo. Fernanda já tinha tudo mais ou menos resolvido dentro de si, mas só aceitaria reatar o noivado se o namorado tivesse uma conversa definitiva com Márcio e Angélica. Ela não achava justo que o casal, que já tinha tantos problemas entre eles para resolver, ter que ficar aturando a ciumeira besta do noivo da secretária da diretoria.

Todos se despediram e Eleanora queria que o general ficasse, mas ele, apesar da insistência dela, se recusou. “- Não! Amor! Podemos esperar. Hoje você está com visitas e, quando for para eu dormir aqui contigo, desejo que seja só nós dois. Pode ser”, perguntou Alexandre.

– Está certo, homem teimoso. Mas vou ficar te observando. Se eu sentir outro cheiro de xereca em você que não seja a minha, já sabe.

O general ficou todo encabulado, pois não esperava que Eleanora fosse falar assim com ele. Diante da reação do namorado, ela se recordou quando Tarsila falou que o seu general era um Marzinho mais velho. A anfitriã deu um sorriso que deixou Alexandre nas nuvens.

Cada um dos que estavam na mansão desde a sexta-feira procurou o devido ajustamento naquela noite. Fernanda retornou com Roberto e Danisa e ofereceram uma carona para Débora que, ao chegar em casa foi sabatinada pelo irmão desejoso de saber tudo e, lógico, como Fernanda se comportou. “- Meu irmão! Se tu pretendes reatar o noivado amanhã, vá preparado porque se o Marzinho for igual ao pai dele, você estará como aquele sujeito que atira pedra na casa de marimbondo achando que dá tempo de correr”.

– O que está sabendo?

– Absolutamente nada. Só acho que tu terás que ter mais do que pau para que Fernanda coloque novamente a aliança na mão direita e comece a construir contigo uma vida a dois. Olha só o que fizeram com Esdras. Claro que gostei, mas aquele pessoal dele é todo meio maluco e aquela mãe dele é um trator. Do mesmo jeito que está do meu lado, se eu não fizer o filho dela feliz, a coisa entortará. A nora dela fez um comentário sobre o Márcio e a coisa fedeu. As duas se fecharam no escritório e Marina saiu de lá outra.

– É! Eu sei que a coisa não é fácil. Mas essa semana de terapia me ajudou e muito, porém, ainda assim aquele Marzinho não me desce, ainda mais quando Fernanda o chama de “meu Marzinho”!

– Ela foi promovida a secretária da diretoria, mas não diga nada. Espere que te conte. O irmão de Angélica assumirá na segunda-feira a vice-presidência e Fernanda foi deslocada do cargo que tinha junto ao Roberto para assessorar a presidência. Isso quem determinou foi Eleanora que ficou sócia no supermercado que Rogério adquiriu para Esdras gerenciar.

– Minha irmã! Tu vais entrar numa turma de amalucados.

– E tu acha que você não? Ou está acreditando que se casará com Fernanda, achando que a afastará dos amigos? Se for com esse pensamento, é melhor começar a esquecê-la. Entre ti e eles, com certeza, Fernanda escolherá os amigos. Se a ama mesmo, não a obrigue fazer essa escolha, pois com certeza, sairá perdendo. Ela não busca sexo, não quer aparecer e com certeza quer discrição.

Ricardo ficou pensativo, enquanto Débora sentenciava: “- Se estiver pensando coisas diferentes com ela, acho melhor se reorganizar. Vocês já transaram”, perguntou a irmã pegando o noivo de Fernanda de surpresa.

– Ainda não! Não quis acelerar nada.

– Então continue assim porque não é sexo que ela quer contigo. Na cabeça dela isso é um complemento importante, mas não o principal. Fernanda quer um homem e não um pinto que pensa ter autonomia. A amiga de Marzinho deseja estar com aquele homem que se apresentou a ela no jantar de noivado do amigo dela.

– Eu falei isso com o pai. A mãe disse que Fernanda parece desmiolada, mas sabe muito bem o que quer é tem em Márcio e Roberto seus guardiães e não fará nada que desapontará os dois.

– Aqueles dois já tiraram ela de muitas enrascadas e se perceberem que tu não é o que diz ser, meu irmão, você pode aparecer cravejado de diamantes que ela não dará um passo para ficar contigo.

– A coisa é assim?

– Pode escrever que sim, querido. E eu estou com ela. Você se enrolou desta vez. Nem bem começou a namorar com ela e começou a contar vantagens para os seus amigos. E te digo mais: ela não participará do circuito que tu frequentas, ainda mais agora que virou secretária da diretoria e, com certeza, terá que aprender outras línguas, principalmente o inglês.

– E o que eu faço amanhã Deb?

– Vá preparado. Os braços de Eleanora é gigante. Afinal! O que sentes por ela?

– Eu achava que tudo poderia ser algo passageiro, mas essa semana distante dela e passando pela terapia, percebi que é algo que vai muito além, contudo, terei que ver a situação de dentro para fora, conforme o pai me disse. Fernanda só parece ser independente, mas é um cristal muito bem protegido por aqueles dois doidos. Aliás, os três se protegem do mundo. São como aquele triângulo dos três lados iguais.

– Então seja digno de receber em seu coração esse cristal. Danisa foi a primeira a chegar e sabe como a situação funciona entre os três amigos. Quando ela brigou com Roberto, o primeiro lugar que achou foi a casa de Fernanda. Ela sabia onde o marido de Danisa estava, mas não disse nada. Quando Fê brigou contigo, foi para a casa deles e dormiu lá e depois ficou no apartamento do Márcio.

– Com ele lá?

– Deixa de ser idiota! O Márcio estava em lua de mel com a esposa na fazenda da família dela. Está vendo como tu é burro, meu irmão. Roberto defende Fernanda que defende Márcio que defende Roberto e assim vai. A mulher do diretor percebeu isso e vive muito bem com o marido porque foi Fernanda quem apresentou o marido a ela.

– Está bem Deb. Vou me serenar e resolver tudo isso numa boa amanhã lá na mansão.

Enquanto Ricardo e Débora se despediam para dormir, Márcio e Angélica conversavam serenamente no apartamento. Ela finalmente o credenciou para entrar e sair do imóvel. A esposa foi tomar banho primeiro, estava querendo ficar uns minutos a sós com ela mesma. Como havia dito no começo da tarde para Tarsila, Márcio entendeu que a arquiteta precisava mais do amigo do que do homem. Assim que ela terminou sua higienização. colocando um baby-doll não muito chamativo, disse ao editor que ele podia se banhar.

Quanto terminou, Márcio percebeu que a esposa não estava na cama como das outras vezes, mas sentada no sofá. Assim que ele chegou no espaço, Angélica o pega pela mão, desejosa de saber tudo o que conversou com a mãe dela e Tarsila.

– No bate-papo com Tarsila, afirmei que estava começando a compreender que tu precisas mais do amigo do que do homem e que preparava para me afastar se eu percebesse que nós não funcionaríamos como esposos. Mais ou menos foi sequência do que falei à tua mãe. Não te deixarei até que passe todo esse terremoto dentro de ti, inclusive que esse gostar do Márcio homem pode ser uma onda passageira, pois tu podes descobrir que teu lance é mesmo ficar com outra mulher.

– Com base em que tu chegou a essa conclusão?

– Primeiro: você estava toda encanada com a questão de transarmos ou não. Com um medo terrível que eu pudesse me realizar sexualmente com outra mulher, mesmo te dizendo que isso não é o mais importante em minha existência. Sei que gostas de homem também e temos uma sinergia belíssima na cama, mas isso só pode continuar quando tu estiveres um pouco mais harmonizada consigo mesma.

– E se você estiver completamente errado?

– Mas esse é o meu maior desejo. Estar errado e poder continuar contigo até o fim da eternidade, entretanto, não posso esconder do meu próprio íntimo que vivestes com uma mulher durante sete anos. Portanto, não são sete dias, sete semanas, mas basicamente um tempo considerável.

– É! Mas eu não estou mais, desde que você apareceu em minha existência.

– Porém, em que circunstâncias eu surgi em sua vida.

– Então tu achas que tudo o que fiz não foi por te amar?

– Preste atenção no que vou te dizer, pois considero isso significativo: a maior parte do seu ciúme advém do fato de desejar que todos façam aquilo que tu queres e você só passou a me vir diferente quando não fiz isso. Veja bem: em nenhum momento, estou colocando em dúvida o que tu sentes, mas é importante entender tudo isso, pois durante a terapia intensiva que iniciará na segunda-feira isso poderá vir à tona.

– Bom. Eu prestei bastante atenção no que me disse, mas agora quero que você faça o mesmo exercício que eu. Quando tu foi parar na UTI, depois de nossas sucessivas brigas, enquanto estavas hospitalizado, passei por várias sessões de terapia. Cheguei a ficar mais de três horas conversando, falando de tudo, de minha pessoa e de como és especial, portanto, duma coisa eu tenho certeza: o que sinto por ti não é fogo de palha.

Enquanto Angélica falava, o marido, silenciosamente prestava atenção nela. “-Agora quando procuramos fora do casamento aquilo que não temos em casa, devemos entender porque isso acontece. E contigo, meu Marzinho, tenho tudo: carinho, afeto, amor, amizade e uma pessoa que não está comigo por conta do meu dinheiro; um ser que não me enxerga como caixa-eletrônico. Agora, minha insegurança existe, porque, às vezes não estou sabendo levar essa onda de casada com uma pessoa maravilhosa como tu é e, sempre fico achando que alguém vai me tirar você”.

Márcio esboçou uma fala, mas foi contido pela esposa: “- Agora, assim como tu, também posso, ao longo de nossa jornada juntos, ficar balançada por outra pessoa. Tenho consciência disso, e talvez por isso que fico sempre em desarmonia, por achar que isso pode ocorrer amanhã ou já estar acontecendo, mas sei que agora estais comigo e isso é o mais importante. Que marido conversa tanto com a esposa para ir ajustando a união”, perguntou Angélica se levando, dizendo esperar que ele não vá querer dormir no quarto de hóspedes por conta dessas dúvidas que ainda carregava com ele.

Márcio, ao invés de fazer o mesmo movimento que a esposa, a puxou para si, fazendo com que ela se sentasse em seu colo. “- Não vou dormir em quarto de hóspedes coisa nenhuma. Meu lugar é na cama junto da minha esposa. Ficarei lá com ela, até que me expulse”.

A empresária o beija ternamente, pedindo para irem dormir. “- Acho que chega dessa conversa toda. Passamos mais tempo discutindo aspectos filosóficos e psicológicos do nosso amor do que realmente o vivenciando. Só que me ame do jeito que sou, até porque não sei ser diferente do que sou quando estou contigo: completamente nua como me deixou naquele dia em seu apartamento”.

Antes mesmo que a esposa pudesse dizer mais alguma coisa, Márcio a beija ternamente se levantando com ela em seu colo e caminhando para o quarto. Naquela noite, Angélica não queria ser amada pelo homem, mas sim pelo amigo. Desejava mais do que tudo, ter uma noite tranquila nos braços da pessoa que havia virado a sua vida de cabeça para baixo nos últimos 90 dias. Pela primeira vez, não sentiu medo de que no dia seguinte, Márcio não estivesse mais do seu lado.

O casal desperta quando Márcio se levantou para tomar água e, como faz desde que começou a dormir tendo o marido do lado, Angélica tenta achar o seu corpo na cama e nada. “- Será que esse homem foi embora, justamente agora que eu liberei a entrada dele no prédio”, se perguntou baixinho a empresária que não reparou que o marido estava ali próximo e escutou.

– Do que você está falando, dona?

– Nada não!

Márcio olha para a esposa e cai na gargalhada, depois voltando para a cama junto da esposa, dizendo baixinho em seu ouvido: “- Só saio daqui e de sua vida se seu coração me expulsar e ainda assim, tentarei retornar”. Ao ouvir isso, foi como se Angélica sentisse o corpo inteiro estremecer. O editor a puxou para o seu corpo e ajustando-a ao seu tronco informou: “- Te amo muito, minha dinamite dos olhos amarelos”.

“- Você promete mesmo, meu Marzinho, que sempre estará aqui comigo, independentemente do que acontecer ou eu fizer por conta dos meus exageros”, interrogou a esposa.

– Amor. Uma mulher que ameaça ficar nua num terminal rodoviário para eu voltar com ela, merece toda as constelações do universo, bem como o meu amor. Também sei que não sou fácil, mas vamos crescer juntos nesse casamento. Afinal, nunca fui casado, se bem que cheguei perto, mas aqui e agora contigo é que estou vivendo tudo o que pensei e desejei desde a adolescência. Agora vamos dormir mais um pouco. Temos um almoço na sua mãe daqui a pouco.

Márcio deu um beijo na testa da esposa que se aninhou mais ainda entre os braços do marido, dormindo logo depois. Se sonhou não se lembrou, mas sempre recordava daquela manhã dominical quando o esposo começou a remover, lentamente, camada por camada, as barreiras que a impediam de ser feliz, não só com o editor, mas consigo mesma. Angélica sabia que se não se encontrasse dentro de si mesma, dificilmente teria equilíbrio para compartilhar o paraíso que o editor lhe ofertava diariamente.

Os dois despertaram uma hora depois com os respectivos celulares tocando. De um lado, Judith cobrando a presença do filho na mansão e do outro Eleanora querendo saber quando a filha e o marido chegariam para o churrasco. Ao olharem para o relógio, os dois perceberam que as horas já iam alta, quase perto do meio-dia. Levantaram e rapidamente ficaram prontos para o almoço. Queriam chegar reproduzindo a noite que tiveram: harmônica. Angélica parecia estar mais apaixonada ainda pelo seu Marzinho e este mais doido de paixão pela sua dinamite de olhos esverdeados.

Quando chegaram de mãos dadas na mansão, foram recebidos por Rogério, Judith e Eleanora. Alexandre resolveu ficar no canto dele. Não queria colocar o carro diante dos bois, mas ficou feliz com a cena que viu. Márcio e Angélica de mãos dadas e sorridentes, indicando que finalmente tinham se acertado. “-Eita casal de amalucados”, pensou o general colocando um sorriso nos lábios que foi visto por Tarsila que lhe disse: “-Aposto suas divisas de que esse sorriso foi motivado pelo que viu”.

Diante do que ouviu, Alexandre acabou de escancarar a ação e aí todos viram os olhos, do homem de armadura, brilharem. Por sabê-lo tímido, Eleanora deixou passar, mas o seu general teria que explicar aquele sorriso e as luzes advindas do globo ocular.

Todos já estavam na mansão: Fernanda que chegou, como de praxe, com o amigo Roberto e Danisa. Débora com os pais e Ricardo, que nem ousava se aproximar da amada. O general chegou cedinho, como se ainda estivesse vivendo nos tempos da caserna.

Eleanora levou a filha para a adega dizendo que queria escolher um vinho branco para beber a noite com o general. “- E ai filha! Como você e o Márcio estão? O homem é osso duro de roer. Metódico até a medula, parecido com o meu general.

– Mãe. Eu sei que esse homem vai comigo até o inferno, mas preciso confiar mais no amor que eu lhe tenho. De fato, é um chato de galocha quando começa a filosofar. Dá vontade de mandar ele tomar no cu, pois parece que a solução para tu estão nos livros e não na vida.

– Filha! Tu sabias que o cara era essa enciclopédia. Tanto é que trocou suas empresas pela criação de uma editora.

– Sim mãe! Mas tem hora que enche o saco.

– Ora! É muito simples: anuncie agora a separação dele e lhe explique que o motivo é a sua erudição enciclopédica.

– E deixar ele dando bandeira por aí? Se ele olhar para outra mulher como me desnudou aquele dia em seu apartamento, eu não o acho mais. A Fernanda me disse que havia mesmo umas putas atrás dele, mas ela as bloqueou.

– Keka! O Márcio, como qualquer outra pessoa tem um lado belíssimo e outro que muitos chamam de defeitos ou manias. Penso que é erudito e não é à toa, mas procure notar quando ele é assim contigo e com os amigos.

– Pelo que eu entendi, foi se fechando para o mundo e construindo outro através dos livros desde os tempos do ensino médio. Não conseguia se ajustar aos colegas e tinha que conviver com eles, então focava nas aulas e se desligava deles e levou isso para a universidade. Creio que esse foi um dos motivos que a psicóloga terminou com ele. Falta de ambição da parte do Marzinho.

– Deixe-me te fazer uma pergunta: as qualidades dele são maiores que os defeitos e manias?

– Por que está me perguntando isso, dona Eleanora.

– Por uma razão muito simples: ele já percebeu que as qualidades que tu tens são maiores do que esses seus ataques de ciúmes. Observe que nesses 90 dias, Márcio não te disse nada do tipo: quero que você seja assim ou de outra forma. A única coisa que lhe solicitou foi para não usar roupas transparentes e muito decotadas. E isso é por conta do jeito reservado que tens.

– A Fernanda me disse ontem que o ama, mas não o quer para si como esposo, pois é muito certinho, do tipo chega na hora marcada. E eu já sou louca por ele por conta disso. Eu sei onde estará e o que realizará. Por isso, tenho certeza de que meus ciúmes excessivos são por conta de minha insegurança com relação ao mundo e ainda mais por saber que o meu dinheiro não tem significado algum para ele.

– Me responda à pergunta filha.

– Ele é perfeito mãe! As qualidades são significativas e tirando essa chatice enciclopedista dele, não o mudaria em nada.

– E quando esse saber, essa chatice enciclopedista dele aparece?

Angélica parou entre uma garrafa de vinho e outra e ficou pensando. A pergunta de Eleanora era para lhe provocar reflexão. Ou seja, Márcio não era o chato enciclopedista que ela dizia, mas apenas uma pessoa com conhecimento que poderia ajudá-la a atravessar aquele momento nevrálgico que estava passando e, se toda vez que ele falava, a irritava era por que a filha estava errada.

– Entendi mãe. Obrigado.

– Ama as qualidades deste ser que se casou contigo e respeite as manias, que muitos chamam de defeitos.

Mãe e filha saíram da adega e quando procuraram Márcio, não o achou, mas se deparou com Fernanda que queria lhe falar a sós. “- Pode falar. Eu e minha mãe não temos segredos algum e você entendeu perfeitamente porque não gostamos de nos expor. Eu é que sempre extrapolo essa regra”, disse Angélica.

– O Ricardo está aí e veio com uma conversa se vamos reatar ou não o noivado, mas acho que ele tem que lhe pedir desculpas, bem como para o Marzinho. Se não se entender com o meu amigo, esquece. Não abro mão da amizade de Márcio para ficar com homem algum.

Angélica ficou surpresa com o que a sua secretária dizia. “- Quando eu briguei contigo, ele me falou que iria se casar contigo e não abria mão de nossa amizade. Acho que o Ricardo precisa entender isso. Será que podemos conversar agora? Não quero ficar com esse troço engasgado na garganta durante o almoço”, disse Fernanda, apresentando ansiedade em sua fala.

– Está bem! Mãe, podemos usar o escritório?

– Pode sim filha.

Assim que ouviu o sim, Fernanda saiu, chamando o namorado e o amigo e todos se entocaram para o escritório.

Angélica se sentou no colo de Márcio para sinalizar ao ciumento do namorado da secretária que não havia nada entre o marido e Fernanda. Foi Ricardo quem começou. “- Márcio e Angélica, peço desculpas aos dois por conta do meu ciúme da Fê ter afetado o relacionamento de vocês dois, a ponto deu achar que ele e Fernanda tivessem um caso. Brigamos feio na segunda-feira e eu entrei em desespero e, na terça-feira, cheguei a segui-la quando ia para o trabalho com Roberto. Ele me ameaçou se eu voltasse a fazer aquilo novamente”.

Angélica conhecia bem o marido e fez pressão sobre as pernas dele para que não se levantasse, pois poderia esmurrar Ricardo. “- Não precisa me dizer nada. Meu pai já me chamou a atenção; Débora me surrou naquela noite mesma e minha mãe até mandou um pau de macarrão para Fernanda, indicando que estou sozinho nessa parada”.

Todos tentaram segurar o riso, mas foi complicado, pois quando a mãe manda um pau de macarrão para a nora é sinal de que o filho está sem moral alguma em casa. “- Eu amo Fernanda e ela revirou meu mundo todinho. Confesso que achava legal contar para os colegas com quem eu estava namorando, mas percebi que fazia papel de idiota e isso me afastava dela. Ontem à noite minha irmã me disse que entre Márcio e eu, com certeza, se Fernanda fosse forçada a escolher, com certeza, você venceria a parada.

“- Mas o que eu tenho”, perguntou o editor.

– É aí que quero chegar, Márcio. De fato, você não tem nada, não é nada, até que as pessoas lhe atribuam valores. Quem te vê andando pela rua, diria que tu és um lunático, até conhecer a tua essência e eu pude ver isso convivendo um pouco com os seus e entendi o que minha irmã quis me falar ontem.

“- E o que foi”, perguntou Angélica.

– Que Márcio está casado contigo porque te ama e isso não significa que teve que abrir mão dos amigos, inclusive Fernanda. Eu não preciso lhe invejar nada, pois se ela está comigo é porque tem sentimentos nobres pelo que sou e não pelo que sempre mostrava para os meus colegas. Entendi porque todos aqui detestam holofotes e tu não curte fotos, imagens e não curte Angélica desfilando de biquíni quando não esteja dentro da piscina. Você não precisa se autoafirmar apresentando uma bela mulher.

Todos o escutavam em silêncio, pois entendiam que se ele não falasse explodiria. “- Finalmente compreendi que Fernanda quer o homem que eu sou e lhe apresentei naquela noite do noivado de vocês. Débora me fez ver que eu cheguei depois e que Roberto e Márcio protegem o cristal que é, sei lá, minha namorada, minha noiva, ou ex. Minha irmã me falou que Danisa compreendeu isso rapidamente quando brigou com Roberto e só pode pedir ajuda a Fernanda e que vocês agem desta forma. Enfim, não preciso ser idêntico a ti para ter Fernanda 24 horas comigo”.

Do nada, Fernanda avançou para Ricardo beijando-o, sem o menor pudor. Ricardo completou dizendo que soube ali na mansão que a namorada seria secretária da diretoria e que o irmão de Angélica voltaria às empresas na segunda-feira e que a promoção foi determinada por Eleanora.

– Diante disso tudo, eu sei que se quiser continuar com Fernanda terei que entender o universo dela e saber que todos vocês fazem parte do que ela é e também se auxiliam. Espero não atrapalhar tudo isso e se puder contribuir de alguma forma, ficarei muito satisfeito.

– Ricardo! Eu morro de ciúmes desse homem. Já sai no tapa com sua namorada duas vezes, inclusive fui responsável pela demissão dela na loja em que trabalhava, mas ela tem me ajudado a entender esse amor que nutre pelo meu marido. É algo que eu desconhecia por conta do meu dinheiro. Sempre achei que poderia ter tudo e todos, mas nada do que tenho compra o que esse homem me dá diariamente. Então, curta e ame Fernanda, pois ela merece e hoje nos destes provas de que realmente é merecedor do coração dela.

– E você Márcio?

Quando o editor falaria alguma coisa, Angélica não deixou, dizendo a Ricardo. “- Vai curtir a sua noiva. Coloque essa aliança no dedo, pois de cagaço eu entendo e olha que atravessei o estado para trazer esse homem de volta. Aproveite o churrasco e quero ela amanhã cedinho nas empresas”, disse a empresária.

Fernanda tirou a aliança da bolsa e colocou no dedo direito, enquanto Ricardo fazia a mesma coisa e o casal saiu do escritório. “-E você não vai dizer mais nada. Não vai se meter no namoro dos dois. Ricardo estava cagando nas calças de medo que você não deixasse Fernanda reatar com ele. Penso que agora eu e tu temos que cuidar de nós. E não se esqueça que temos Débora para olhar os passos desse sujeito.

Angélica se levantou do colo do marido e de olhos bem esverdeados, foi até a porta do escritório e a trancou. Quando chegou bem próximo dele, disse baixinho em seu ouvido. “- Você pensa que eu não senti tu me chamando para fazer coisas deliciosas com esse seu pau divino”, interpelou Angélica, de forma sacana subindo novamente no colo do marido, o beijando loucamente.

Márcio começou acariciando a bunda da esposa que na medida em que o esposo avançava para dentro da bermuda que ela usava, a temperatura ia subindo e o casal ficando mais aceso e o clima entre os dois mais quente. A empresária começou a tentar abrir o calção do editor e apressadamente o arrancou com a cueca e tudo.

Márcio, se levantou da cadeira tendo Angélica no colo, a colocando sobre a mesa e, lentamente foi tirando o short primeiro e depois a calcinha e quando a esposa pensou que ele já introduzia seu membro em sua vagina, o esposo partiu para o sexo oral, provocando espasmos, calafrios e respiração ofegante na empresária que gozou logo em seguida. Antes de continuar, o marido ficou alguns segundos fitando a leveza que a mulher apresentava depois do primeiro orgasmo.

Lentamente, foi passando seu membro sobre os lábios vaginais da esposa que tentou segurar, mas não conseguiu, explodindo novamente num gozo que a fez ficar com os olhos esgazeados, contudo, antes mesmo de se recuperar, Angélica sentiu o membro do marido lhe invadindo lentamente a vagina fazendo com que ela puxasse pela camisa o corpo de Márcio para si, o beijando loucamente, mordendo seus lábios e entre lágrimas, dizia que o amava loucamente e que não saberia viver sem ele.

Da mesma forma como introduziu o pênis na esposa, o marido continuou o movimento e quando sentiu os lábios vaginais de Angélica sugando avidamente o seu pênis, tentou se conter, mas o desejo foi mais forte e ele ejaculou, perdendo as forças e, apoiando o peso do corpo sobre os braços, afirmou amá-la com devoção.

Depois de alguns minutos o casal saiu de cima da mesa, ajustando as roupas, deixaram o escritório, ingressando num dos quartos da mansão e entrando no chuveiro e lá se amaram novamente e de forma mais intensa. Ao deixarem a mansão em direção a piscina, Judith notou que havia alguma coisa diferente com os dois. O filho estava com o cabelo molhada e a nora também.

– Meninos! Vocês não têm casa não? É lá que certas coisas devem ser feitas e não aqui onde tem um monte de gente e visitas. Tua mãe chamou uns diretores para oficializar a volta de Amadeu à vice-presidência das empresas.

– Sogrinha querida, existem coisas que não podem esperar, principalmente quando se está com um homem delicioso como o seu filho. Muitas vezes, o desejo não respeita a razão.

Ao dizer isso, Angélica dá um beijo na face da sogra e a abraça ternamente. A sogra respondeu ao afeto e agradece a nora por fazer o filho feliz. Ambas deixam a varanda e se dirigem aos sombreiros que foram instalados ao lado da piscina onde todos estavam e Fernanda usando um discreto biquíni, enquanto Adélia lhe cochichava. “- Filha! Não se esqueça de cobrar a fatura. Não deixe que eles pensem que mandam no pedaço. A última palavra é sempre nossa. Você colocou esse biquíni não porque ele mandou, mas porque você quis”.

Judith chegou perto das duas querendo saber qual era o assunto do cochicho. Adélia informou e a mãe de Márcio só confirmou. “- É assim mesmo. Sempre anote tudo e cobre. Relação de troca equivalente, minha querida”, sentenciou a sogra de Angélica. A empresária, de biquíni, se juntou ao pessoal na piscina e Márcio só olhando, de leve, tentando fazer com que não percebessem, mas a esposa estava amando aquele cuidado todo.

A sogra percebeu os movimentos dos olhos do filho em relação a nora e chegou perto dela e lhe perguntou se ela ainda estava ali. “-Ué! Por que Judith”, inquiriu Angélica. “- Não é por nada não filha, mas acho que tem um certo Mar que não tira os olhos de ti. Eita ciúme danado. Não mude nada e nem vai lá ficar perto dele. Não vai fazer o gosto dele não. Fique à vontade”, orientou a sogra.

Enquanto todos conversavam e davam risadas, Judith chegou perto do filho e falando entre os dentes. “- O que tua mulher te deu dentro da mansão não foi o suficiente? Tem que ficar secando ela? Está com medo que ela caia nos braços de alguns deles”, perguntou a mãe a Marzinho.

– Do que a senhora está falando mãe?

– Do seu ciúme, seu abestado. Está na cara que tu está se roendo de ciúmes dela. Se tu fores lá, vai se ver comigo. Só lhe transmita segurança, pois é o que ela quer agora.

– Está certo mãe.

Do nada o general tirou Márcio para conversar. “- Meu querido, estou com uma dúvida aqui e queria sua opinião. Mas, por favor, seja sincero. Eleanora me pediu, e não foi vez só para, para eu dormir aqui na mansão, mas ainda não vejo clima para isso, além do seu pessoal estar por aqui. Não é nada relacionado aos seus, é que fico meu sem espaço. Não sei se me entende”, perguntou Alexandre.

– Meu caro general, o que lhe posso sugerir é uma coisa simples: se ela te falar nessa história novamente, diga-lhe que assim que os meus parentes voltarem para a cidade deles, vocês dois conversarão. Eu e Angélica combinaremos com Tarsila e Amadeu para ficarem conosco lá em casa e ai vocês dois ficam mais à vontade. Pode ser?

– Assim acho que eu ficarei mais tranquilo e me posiciono.

Enquanto Márcio conversava com Alexandre, um dos diretores faz um gracejo com Angélica dentro da piscina e o editor não pensa duas vezes, mergulha na água e encostou o homem no canto da piscina e com as duas mãos no pescoço dele diz de forma firme: “- Vá brincar assim com a tua mulher ou as suas negas. Se encontrar a mão em Angélica, tu poderás sair daqui com ela engessada”.

Assim que terminou de intimar o diretor, Márcio deixou a piscina e todos ficaram espantados. Márcio se encaminhou rapidamente para a área do estacionamento, tentando se acalmar. Quando Angélica saiu da piscina, vestiu uma saída de praia e quando o alcançou, percebeu que o marido estava completamente alterado, nervoso e trêmulo.

– Des… cu… lpe-me a… mor. Sei que… é dire… tor de suas em… presas, mas não consegui me con… trolar. Achei que ele tinha passado da conta e não queria vê-lo encostar a mão em ti. Detesto brincadeira de mãos.

Judith tentou sair atrás do filho, mas foi contida por Eleanora. “- Não devemos nos meter, minha amiga. Se tu conheces Márcio saberá me dizer se ele tem ou não razão em agir daquela maneira. Agora eu vou conversar com o meu diretor”, informou.

Assim que chegou próximo à piscina, Tales que deixava o espaço sabia que a corda arrebentaria para o lado dele. Apenas com um olhar, a anfitriã o chamou. Assim que sentaram na varanda, ela perguntou o que tinha acontecido. “- Dona Angélica lhe peço desculpas. Eu apenas joguei água em sua filha e passei a mão no ombro dela como fazia no escritório. Sei que atravessei o espaço que vocês sempre delimitaram para nós, mas nunca imaginei que o marido dela fosse ciumento desta forma”.

– Tales. Pelo que conheço do meu genro, você fez muito mais do que isso. Ele costuma observar sem que as pessoas notem que esteja fazendo isso e, provavelmente, te surpreendeu com olhares maliciosos para a minha filha. Entre ele e tu, ficarei com quem faz Angélica feliz. Então pense bem o que vai lhe dizer, porque da reação dele dependerá sua permanência em minhas empresas. Você trabalha conosco faz muito tempo e sabe que não é permitido certas intimidades.

Enquanto Eleanora conversava com o funcionário que sentiu a merda que fez, pois sabia que o genro dela viu mais do que todo mundo e compreendeu as intenções dele para com a sua esposa, Angélica tentava acalmar o marido. “- Calma meu amor. Nunca que te vi tão alterado assim por conta do ciúme e de uma brincadeira tola dentro da piscina. Tales trabalha conosco faz muito tempo e me conhece há pelo menos uns 15 anos”, tentou explicar a empresária.

Um pouco mais calmo, Márcio disse que isso foi no passado e ele deveria ter entendido que há espaço entre o funcionário e a pessoa. “- No casamento, eu já o flagrei alisando seu braço e quase fui lá partir a cara dele, sem contar que ficava te buscando com os olhos. Roberto que me segurou. Hoje desde o momento em que você chegou lá de biquíni, eu o flagrei várias vezes com olhares de cobiça em teu corpo. Então ele que vá desejar a mãe dele. Caralho! Eu não cobiço ninguém, porque esses abestalhados que acham que tem posição social querem tirar uma onda com a minha cara”, desabafou Márcio.

– Amor vamos voltar. Não podemos ficar aqui distante.

– Se eu voltar, com certeza vou partir a cara dele em dois.

– Depois eu é quem sou a dinamite de olhos verdes? Está se vendo quem realmente é o explosivo aqui.

– Tenho paciência, mas não avance sobre aquilo que é meu. E você é minha esposa até o momento em que não quiser ser mais. Entendeu porque sempre lhe solicito para colocar saída de praia? Aquele idiota estava te olhando desde quando chegamos e aí ele aproveitou que eu conversava com Alexandre para avançar o sinal, mas eu me virei e vi a ação antes mesmo dele começar. Se ele tivesse passado a mão em sua bunda, estava com a cabeça no fundo da piscina.

– Quer se acalmar homem de deus? Tenho certeza de que não acontecerá novamente isso.

Para colocar panos quentes no problema, Eleanora chegou até Márcio e disse que precisava falar com ele, sem a filha por perto. Assim que Angélica saiu, a sogra lhe pega pelo braço e caminha com ele. “- Meu filho! O que foi aquilo? Sinceramente nunca te vi agir assim. Tudo bem que esmurrou o médico que cantava Angélica, mas dar um ultimato no meu diretor. Me fale o que aconteceu”.

– Eleanora. Primeiramente quero te pedir desculpas. Perdi o controle.

– Querido pelo tudo que passou com a minha filha, eu sei que tem mais coisas aí.

– No dia do meu casamento, esse rapaz passou a mão várias vezes no braço de Angélica e eu estava para lhe dar uns sopapos. Além de ter visto ele olhando várias vezes para ela e fazendo comentários com os outros diretores e olhando para a bunda dela. Não sou nenhum idiota. Tento sempre me manter harmônico, mas não atravessa meu espaço.

Eleanora se mantem em silêncio, estimulando o genro a falar, pois sabia que o diretor não tinha contado a verdade. “- Hoje desde que Angélica chegou à piscina que ele ficava com os mesmos olhares e conversava com outros diretores. Penso que achou que eu não via e entendia os olhares e as conversas mantidas entre eles. Eu sei fazer leitura labial”.

– Está bem! Vocês dois vão conversar e conforme for o resultado, não haverá mais clima para ele continuar entre nós. E não me venha com essa de não demiti-lo, se eu precisar, o farei.

Tales sabia muito bem o que fez, porém, não imagina que Márcio era detalhista, quieto, mas muito observador. A anfitriã voltou sozinha, enquanto o genro ficou com a esposa que acabava de abraçar a sogra, pois o marido estava uma pilha.

– O que aconteceu meu filho?

– Nada! Somente um sujeito que atravessou o sinal, achando que sou idiota, bobo e que Angélica tinha me colocado uma coleira. Desde o meu casamento que ele está com graça, mas hoje não tinha Roberto para me segurar.

“- Quer se acalmar, Marzinho”, pediu Judith.

– Mãe eu amo essa mulher e não vou deixar que filho da puta nenhum venha folgar com ela. Se fizer, vai levar o que procurou. O recado a esse bastardo foi dado.

Enquanto a cena se desenrolava no estacionamento, os diretores que havia comparecido ao almoço estavam em roda conversando e tentando acalmar Tales que pressentiu que tinha feito merda. “- Dona Eleanora me disse que esse genro dela é meio ninja. É na dele, mas parece coruja, tem olho nas costas”, disse o diretor que perguntou a Roberto o que sabia mais dele.

Para colocar pilha em Tales, o amigo de Marcio disse: “- Ele estudou comigo e era aluno aplicadíssimo em linguística e fez curso de leitura labial com os melhores especialistas do Brasil”. Ao observar a reação do pessoal, Roberto ainda fez questão dizer que o esposo de Angélica era fluente em Alemão, Francês e Italiano.

“- É! Meu caro Tales, mexeu em cumbuca errada”, informou Roberto.

Outro diretor chamou a atenção dos ouvintes quando tentou associar uma história que ouviu num barzinho. “-Parece que oito policiais foram afastados e depois transferidos e terão problemas em suas promoções porque colocaram a arma na cara do genro de uma bacana aqui da cidade. Será que foi esse o cara”, perguntou João Aberto que trabalhava no Recursos Humanos.

Assim que o diretor de RH terminou de falar, Eleanora chamou Tales e Roberto. Pediu para o diretor do setor de Logística o aguardar na sala. “- Roberto, colocarei o Márcio frente a frente com ele para saber o que aconteceu de fato. Só que estou meio receosa da reação do marido de Angélica. O que achas”, perguntou a anfitriã.

Tudo isso acontecia na maior discrição, pois os outros diretores voltaram para a piscina, enquanto o almoço terminava de ser preparado. “- Não vejo problema algum desde que o Tales fez não afete o íntimo dele. Mas pode chama-lo. Eu ficarei por aqui na varanda”.

Todos chegaram e Angélica quis entrar com o marido, mas foi dissuadida pelo amigo. “- Aguarde aqui. É só uma conversa e tudo estará bem”, disse Roberto à empresária.

– Não sei não Roberto. Márcio ficou transtornado. Parece que a brincadeira na piscina foi a gota d’água. O que você sabe dessa bronca do meu marido com Tales?

– Angélica. Em seu casamento com o Marzinho, ele viu o Tales passando a mão em seus braços várias vezes e eu consegui contê-lo, mas acho que tem mais coisas, pois o seu marido faz leitura labial e é muito discreto. Então acho que a pegada é outra. Mas vamos esperar.

Dentro da casa, Tales sentado e Márcio em pé ouviu Eleanora perguntar ao diretor o que ele tinha a lhe dizer sobre o comportamento inadequado com a presidente das empresas na frente do marido dela.

Diante do silêncio dele, foi Márcio quem começou e foi direto. “- Diga aqui para a minha sogra qual foi o comentário que o senhor fez com mais dois diretores no dia do meu casamento com a presidente das empresas”.

Tales permanece em silêncio e Márcio acrescenta: “- E o que foi que o senhor comentava com seus amigos diretores, antes de minha esposa entrar na piscina? Você quer que eu diga, ou será homem o suficiente para dizer aqui o que falava na conversa fiada com seus parceiros”.

– Como você sabe disso Márcio?

– Eu fiz curso de leitura labial, coisa fundamental para nós jornalistas. Então no dia do meu casamento, esse seu diretor, que agora não tem vergonha de assumir o que falou porque é moleque, comentou com outros diretores, inclusive tem dois deles lá fora. Eles não acreditavam que a sua filha, com tanto dinheiro, havia escolhido um macaco para casar e além de tudo tinha trazido toda a pretaiada dele para nadar em sua piscina”.

Eleanora ficou vermelha. “- Eles ainda apostaram que iam me tirar do sério para eu partir para cima de um deles. Só não aconteceu isso porque Roberto me segurou. Agora me diga, senhor Tales, se estou mentido? Por que o senhor ficou passando a mão nos braços de minha esposa em meu casamento? Ela lhe deu essa liberdade”, perguntou Márcio.

A anfitriã estava passada, mas pediu para Márcio continuar. “- Hoje ele fez a mesma coisa e disse aos amigos que desconfiava que eu era maricona e que iria provar para eles, indo fazer gracinha com Angélica dentro da piscina. Sem contar que a estava cobiçando desde que chegamos”.

Tales se levantou e disse para Eleanora: “- Eu bem que disse ao seu marido para não deixar seus filhos se misturarem com essa gente que daria confusão. Esse pessoal não tem postura, não sabe se colocar em sociedade, por isso eu comentei com os caras: uma mulher linda como a sua filha que tinha se casado com uma preta sapata e agora está com esse…”

Antes de falar o que pretendia, Tales foi acertado por um soco no rosto desferido por Márcio que aproveitou que ele estava capenga, desferiu outro e pulou em cima do diretor o esmurrando com raiva. Eleanora gritou por Roberto que chegou apressado com Angélica e Rogério. O diretor tentou tirar Márcio de cima de Tales, mas não conseguiu. Foi preciso Rogério, Leônidas e o general tirar o esposo de Angélica de cima do diretor que estava com o rosto cheio de sangue.

Judith chegou e deu uma dura no filho. “- O que é isso Márcio. Não é espancando as pessoas que resolvemos os nossos problemas”.

– Ele assediou Angélica no dia do meu casamento depois de fazer aposta com aqueles dois ali. E hoje novamente fez isso, dizendo que minha esposa tinha se casado com um homossexual e agora durante a nossa conversa me ofendeu por conta da cor de minha pele. Não tenho sangue de baratas: não mexe com o que é meu e nem com a minha alma preta. Dona Eleanora, peço-lhe mil desculpas, mas esse seu diretor estava entalado na minha goela desde o dia do meu casamento.

Márcio saiu da sala e indo em direção ao local em que estava antes, enquanto Eleanora chamava os seguranças para cuidar dos ferimentos do rosto de Tales, determinando que os outros dois diretores ficassem ali. A conversa não tinha terminado.

Enquanto o pessoal tentava acalmar Márcio, Angélica estava transtornada porque não conseguia ver tudo aquilo que o marido observou o motivando a dar aqueles murros no diretor. Tarsila, Amadeu, Ricardo, Débora, Esdras e Fernanda e o restante do pessoal voltaram para a piscina. “- Agora eu acho que Angélica sossega o facho e compreende o que Márcio pode fazer pelo amor que lhe tem”, disse Tarsila enquanto o resto dos ouvintes olhavam para o noivo de Fê.

“- Eu não sabia que o seu amigo fazia leitura labial e que tinha esse olhar, como falaram mesmo: como coruja, tem olhos nas costas”, disse Ricardo. “- Meu caro Ricardo, o meu cunhado é quieto, na dele, mas não pisa no calo dele. Uma vez eu tive que segurá-lo, pois queria socar um segurança de minha irmã porque fez um comentário infeliz sobre ela”, disse Amadeu.

No estacionamento, Rogério tentava acalmar o filho. “- Pai me desculpe, mas não deu para segurar. O cara estava desrespeitando minha mulher dentro da casa dela e por conta de uma aposta com aqueles outros dois idiotas”.

“- Marzinho. Eu te entendo e sei que tu estavas em seu limite. Estamos todos juntos. A tua esposa apenas tentava não ser ignorante e poderia ter lhe dito isso em casa e amanhã resolver nas empresas, mas o problema é que você viu e não foi uma única vez e os caras achando que nós somos de segunda linha”, disse Judith.

Angélica apareceu, abraçando o marido pedindo para ele se acalmar que a situação seria resolvida. “- Eu sei amor, mas aqueles três bundas-mole farão um inferno em sua vida e de sua família. Mas não consegui me segurar. Eu tentei, mas não deu”.

– Deixe que minha mãe resolverá isso, mas com certeza não será hoje e sim amanhã. Vamos aproveitar a reunião em que Amadeu será apresentado como vice-presidente e os três estarão lá. No momento, serão retirados da casa pelos seguranças e continuaremos o nosso almoço.

Em questão de uma hora, estava tudo equacionado, mas ainda a cabeça de Márcio continuava meia bagunçada já que não costumaba sair do eixo com facilidade. “- Meu filho. Está tudo resolvido. Amanhã, eu, Angélica e Amadeu decidiremos o que fazer com aqueles três. Então quer dizer que o senhor faz leitura labial e os olhos parecem de águia”, ao dizer a sogra que estava ao lado do general começou a gargalhar.

“- Por que você está rindo, Eleanora”, perguntou o genro.

A sogra olhou sério para ele e para a filha que desde a confusão não desgrudava do marido. “- Se Angélica precisasse de uma prova do amor que tu tens por ela, agora o tem agora e é a segunda vez e você é cirúrgico. Aqui fugiu do controle, porque Tales quis te provocar e não tinha saída: era tu ou a cara dele. Perdeu ele.

De mãos dadas com o seu general, a anfitriã saiu para agilizar o churrasco. Naquela confusão toda, ficou tudo paralisado. Angélica permaneceu com o marido ali na sala e finalmente compreendeu porque ele era discreto e pedia comedimento nas roupas, usar saída de banho quando estivesse fora da piscina, não gostava muito de fotos e muitos rapapés.

– Amor! Roberto me disse que quando o Ricardo os seguia, ele informou ao noivo de Fernanda que se fosse contigo, a coisa ia ficar complicada para ele. Você é ciumento e silencioso, mas quando explode parece uma cobra que dá o bote certeiro. Num instante eu te vi conversando com o general e logo em seguida estava com a mão no pescoço do Tales.

– Vamos esquecer essa história e seguirmos com o nosso churrasco?

– Vamos! Mas a prova de amor que me destes no escritório e em baixo do chuveiro, eu vou querer mais dela hoje à noite. Ah! Te quero amanhã cedo comigo nas empresas.

-Ah! Isso não!

– Isso sim! Desejo que todos saibam quem é o meu marido para que não ocorra coisas desagradáveis como as de hoje.

– Tudo bem! Mas não vou enfeitado feito pinguim de geladeira. Quero apenas um jeans, sapa-tênis e uma camiseta.

– Está bem! Mas que homem! Te adoro meu Marzinho.

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