22.

Depois do telefonema da mãe que, sabendo que a filha ainda não tinha partido, ligou para sacaneá-la, a mandando para casa, Angélica ligou o automóvel se dirigindo à torre, onde a aranha, nos dizeres de Amadeu, prenderia o seu amigo mosquito. Na garagem do prédio, a empresária aperta o pênis do marido dizendo desejar aquele cambio bem aprumado para satisfazê-la. “- Temos muitas horas de atraso. E começaremos por esta tarde. Pode ir desligando esse celular que não quero ninguém entre nós, exceto seu pau encontrando a minha buceta”, disse Angélica de forma provocativa.

Assim que o casal deixa o interior do carro, Márcio agarra a esposa e começa a beijá-la avidamente no que é correspondido, até que ela lhe dá um leve empurrão pedindo para esperar até que cheguem ao apartamento. Ali estavam muito expostos e havia câmeras por todo os lados. Dentro do elevador, o editor fez questão de puxá-la para si apenas para que sentisse o tamanho de sua ereção, apelidada de efeito Angélica.

Já dentro do apartamento, a brasa, que acompanhava o casal desde a saída do restaurante do general, acabou se transformando num imenso fogaréu e enquanto era beijada avidamente pelo marido, Angélica ajeitou a saia, de modo que pode pular no colo do editor que a levou até o sofá. Ao se sentar teve a camisa arrancada pela esposa e os botões foram parar em diversos pontos da sala.

A troca de carícias, aumentava a temperatura entre os dois e Márcio avançando as mãos lentamente sobre as vestes da empresária, primeiro lhe retirando a saia, massageando os glúteos da esposa que ia ao delírio enquanto gemia, mordiscando ora os lábios do esposo para em seguida passar para a orelha, pescoço. Márcio, que urrava de prazer, afastou um pouco a calcinha da empresária de modo a poder massagear os lábios vaginais dela.

Angélica, ao sentir os dedos do esposo lhe tocar a intimidade, lhe chupa o pescoço de puro êxtase, deixando uma marca fortíssima no local em que sua boca sugou a pele do marido. Com a mão esquerda, a empresária segura o esposo pelo pescoço, e com a direita começa a lhe tirar a calça, mas não tem paciência de fazer suavemente, arrancando a peça levando junto a cueca, deixando o falo do marido totalmente exposto para o seu deleite.

Como era de sua natureza, enquanto a esposa lhe devora com os lábios, Márcio, lentamente retira a blusa de Angélica, soltando em seguida as presilhas do sutiã, deixando os seios à altura de sua boca que os sugou, levando a esposa a soltar um gemido alto, enquanto ela sentia seus lábios vaginais serem massageados rapidamente pelos dedos do marido. Bem que tentou, mas não conseguiu se conter e, enquanto sugava novamente o pescoço do editor, Angélica chegou ao clímax dizendo que p amava.

Abandonando a vagina da esposa, Márcio, usando as duas mãos, retira a calcinha, provocando sensações maravilhosas em todo o ser de Angélica que estremeceu novamente quando sentiu o falo do marido roçando a entrada de sua vulva. Com uma das mãos, ele a segurava pelas costas e com a outra, usava o pênis para massagear os lábios vaginais já sensíveis do gozo anterior. Ao introduzir o membro na gruta do amor da empresária, Márcio levanta-se ao mesmo tempo, de modo que o pênis invade totalmente a cavidade sexual de Angélica que vai ao delírio, enquanto o editor a levava para o quarto.

Ao retirar a mulher do colo e colocá-la na cama, o marido é surpreendido quando ela de joelho abocanha o seu membro, colocando-o todo na boca. Márcio viu estrelas de todas as cores, enquanto se segurava para não gozar ali nos lábios da esposa que sugava o seu pênis com volúpia. Quando a empresária começa a massagear o seu escrotal, ele imaginou que não conseguia segurar mais, mas do nada Angélica parou o movimento, como se tivesse percebido que o esposo estava no seu limite.

Ela se deita e pede ao marido para preenche-la totalmente. Assim que ele se deita sobre a empresária, Angélica vira o corpo de modo que o esposo fica por baixo e ela assume o controle. Enquanto subia e descia no pênis do editor, Angélica lhe massageava o tronco. Ao perceber que Márcio estaca prestes a explodir de prazer, ela disse baixinho no ouvido do esposo: “- Goze para mim, meu preto delicioso. Deixe a sua dinamite toda lambuzada com a sua porra gostosa”. Com o pedido feito pela amada, o editor explode dentro dela.

Enquanto sentia os fluídos de Márcio escorrendo de dentro de si, Angélica o beijava de todos as formas, chorando afirmou lhe amar incondicionalmente. Contrariando o que fez das outras vezes, desta a empresária não reiniciou os movimentos para que gozassem mais uma vez, optando por deixar o pênis do marido reduzir a potência, enquanto observava dentro dos olhos, enxergando a alma do esposo exposta naquele brilho gaseado de tanto prazer, amor e satisfação.

Ao sair de cima do esposo, a empresária propôs que tomassem um banho de banheira e depois descansassem um pouco. Rapidamente se dirigiu ao banheiro, preparou a água e já dentro do recipiente, gritou pelo marido. “- Estou te esperando minha paixão”. Junto com Angélica, Márcio a trouxe para o seu corpo, deixando que ela se ajustasse a ele, enquanto a beijava no ombro e costas, fazendo uma leve pressão sobre onde havia aplicado um beijo, percebendo o quanto a esposa relaxava com aquela pequena massagem.

O casal acabou cochilando, sendo despertado somente quando Márcio sentiu vontade de esvaziar a bexiga. Os dois deixam a banheira, enquanto o marido se dirige ao vaso sanitário, ela coloca um roupão após se enxugar rapidamente. Em seguida Márcio se dirige ao quarto, encontrando a esposa deitada sobre a cama sem roupa, pedindo que se deite ao lado dela que se aninha ao corpo do esposo e em questão de minutos, os dois dormem profundamente.

Enquanto Márcio e Angélica iniciam uma tarde de amor na torre da Rainha diaba, nos dizeres do poeta Amadeu, Ricardo leva Fernanda de volta às empresas e tenta uma reconciliação, mas a noiva está irredutível, contudo o posicionamento é mais para delimitar o seu espaço e território do que realmente objetivando colocar um fim no relacionamento. “- Vamos deixar assim Ricardo. A noite em sua casa, conversaremos melhor. Agora estou cheia de coisas para fazer nessa tarde, além do que amanhã cedo tenho reunião com os diretores e não quero perder essa promoção por nada. Uma coisa que eu sempre quis e não abrirei mão por nada, nem para o seu machismo caquético que deveria ter ficado lá no século XIX”, disse a noiva quando deixava o carro, dando um leve beijo no noivo.

No caminho entre a sede das Organizações Oliveira e a empresa em que trabalhava, o celular de Ricardo tocou e ele colocou no viva-voz. Era Romualdo querendo saber como iam as coisas com a noiva. “- Péssimo pai. Eu sempre fazendo merda”.

– Comprei tudo para o churrasco. Antes de buscá-la quero ter uma conversa contigo. Pode ser?

“- Pode sim pai. Adiantarei uns trabalhos na empresa e levarei outros para fazer em casa. Assim chego um pouco mais cedo e conversaremos”, respondeu Ricardo.

– Então está certo filhão! Se você a ama, converse sério com ela. Exponha alguns dos seus limites para que Fernanda não fique te comparando com o amigo. Tua noiva nunca te abandonará se fores sincero com ela.

“- Pai e se ela não quiser continuar comigo”, perguntou o filho evidenciando toda a sua insegurança em relação à Fernanda.

– Você só saberá se expuser o que lhe vai n’alma. Não tenha medo de amá-la como ela é e, tenho certeza de que Fernanda irá contigo até o fim do mundo desde que tu estejas predisposto a fazer isso.

Ricardo conversou mais alguns minutos com Romualdo e cessou o diálogo quando estava entrando no estacionamento do prédio onde trabalhava. Nas Organizações, Fernanda falava com Roberto, antes de se dedicar ao projeto que apresentaria no dia seguinte. “- Fê! Mantenha o Marzinho longe disso tudo. Ele é uma ótima pessoa, mas pode ser meio amalucado e querer encostar Ricardo na parede. Não fale nada disso com ele. Resolva tudo com o seu noivo hoje à noite e lembre-se que é a sua felicidade que está em jogo. Certa ou errada, Angélica é o eterno amor dele, assim como é Danisa e tu a conhece bem: não é flor que se cheire, mas é a mulher que eu amo e sei dos seus amores para com Rick. Agora vamos ao trabalho porque você tem uma carreira para ser construída”.

– Obrigado Roberto. Sei que está na hora deu me desligar daquele leitor perneta, pois quem cuidará dele é a dinamite dos olhos esverdeados que ele adora tanto.

– Sim. Cuide do seu coração e converse seriamente com Ricardo hoje à noite. Todos torcem por vocês. Eu, Danisa, Débora, Esdras, Márcio e Angélica e é momento de curtir a sua promoção.

Dando um beijo na face do amigo, Fernanda se dirigiu à sala que lhe foi improvisada para aquela tarde, já que no dia seguinte, mudaria de andar, indo para aquele em que estava instalada as gerências. “Quem sabe eu não volte para cá como diretora”, pensou a nova gerente para assuntos financeiros rindo sozinha.

No restaurante, Eleanora conversava com Alexandre, tentando trazê-lo de volta ao presente, deixando de lado aquele passado repleto de privações e humilhações. Afinal de dores pretéritas ela conhecia bem, pois sabia o quanto a filha sofria com as sevicias praticadas pelo marido que ameaçava mandar matá-la. Buscando intimidade com o militar, a sogra de Márcio se senta no colo do general, enquanto faz carinho em seu rosto, beijando-o suavemente.

Ele olha para o relógio e observa que os ponteiros se aproximam das três horas. Faz um carinho na bunda da namorada, a convidando para se levantar e recolher os talheres e pratos que ficaram sobre a mesa. “- Colocarei tudo dentro da pia e depois mais tarde eu lavo, antes do Pedro chegar. Ele detesta encontrar o espaço cheio de louça suja”, explicou Alexandre.

Assim que concluíram tudo, Eleanora perguntou o que ele pretendia fazer no restante da tarde. “- Vou para casa dar uma descansada desse emocional todo”, respondeu o militar. Sabendo do recato dele, a mãe de Angélica se ofereceu para lhe acompanhar. Secretamente queria conhecer o mundo onde o general se escondia da sociedade. Alexandre não fez objeção, ainda mais porque a oferta partiu dela.

Já no apartamento, Alexandre foi mostrando a Eleanora cada espaço do imóvel e ela pode ver uma foto em que o namorado estava fardado com as duas estrelas do generalato e num pôster maior o militar estava no centro vestido de cadete, tendo do lado duas mulheres negras e a mais velha segurava o quepe indicando que era calouro na academia militar.

Antes que sua acompanhante lhe perguntasse, o general informou se tratar de sua mãe e irmã. “- Pessoas que eu tenho a maior estima. São minhas heroínas. Sem as duas não teria chegado até aqui. Minha mãe faleceu, como eu disse ao Márcio na entrevista, e minha irmã está numa clínica em Resende. Está com sérios problemas de saúde e os médicos recomendaram deixá-la lá. Mas eu converso com ela todos os dias usando um aplicativo”, explicou o militar da reserva.

“- Foi por conta delas que ficou emocionadíssimo hoje, meu lindo”, perguntou a namorada.

– Sim. Recordar a luta que elas tiveram para eu chegar a um posto de respeito nas Forças Armadas sempre me deixa assim. Estou pensando em visitá-la em breve. Faz um mês que não converso com ela pessoalmente.

“- Quando você for, será que posso ir contigo”, inquiriu Eleanora.

– Claro, mas precisarei preparar o terreno. Não sei como ela ficará ao saber que tenho uma namorada branca. Sofremos muito por conta do preconceito racial. Uns até entendem quando um preto ama uma branca ou vice-versa como é o caso do seu filho com Tarsila, mas há outros que são terminantemente radicais. Não os culpo, pois creio que tem lá suas razões, principalmente do ponto de vista da mulher negra que sofre mais com a solidão quando chega nessa etapa da vida em que minha irmã está.

“- Então está certo meu amor. Fale com ela e depois combinamos tudo. Podemos usar o meu jatinho. Faz tempo que não coloco ele no ar”, disse a namorada.

Alexandre se sentou no sofá, enquanto Eleanora se acomoda ao lado dele e encostando a cabeça no tronco do general, sente os batimentos cardíacos do namorado. “- Nossa! Por que ele está batendo assim”, perguntou ao militar. “- Por quem é que ele bate assim, deveria ser a pergunta, querida”, responde Alexandre.

Ao dizer, o militar, para disfarçar uma ereção, se levanta, perguntando à mãe de Angélica se ela se incomodaria se ele fosse tomar um banho. Eleanora aquiesce com a cabeça e ele segue em direção ao banheiro do quarto, porém, o que Alexandre não sabia é que tinha sido seguido, inicialmente com o olhar e depois fisicamente pela presidente de honra das Organizações Oliveira.

Sabendo que Alexandre se desligava completamente, a namorada lhe deu cinco minutos, tirando a roupa entrou debaixo do chuveiro com ele e já pegando no membro do militar, rindo lhe falou baixinho bem no ouvido. “- Queria vir para o chuveiro para tentar fazer essa coisa gostosa adormecer, hein”.

– Meu deus do céu, que mulher dos diabos. Queres me levar para o inferno, meu amor.

“- Claro que não querido. Primeiro vamos ao paraíso de Dante”, disse Eleanora subindo no colo do namorado, enquanto o seu pênis lhe preenchia totalmente a vagina, levando-a gemidos baixinhos emitidos no ouvido do namorado, pedindo que Alexandre a levasse para passear entre as estrelas.

Depois de dez minutos naquela posição e movimentação, a namorada chega ao orgasmo falando palavras desconexas ao seu general. Assim que se desencaixa do corpo do namorado, Eleanora lhe toma o membro na boca fazendo movimentos rápidos e ao massagear o escrotal do militar, este não consegue segurar e ejacula abundantemente.

Encostado na parede do banheiro completamente extasiado, Alexandre sente quando a sua acompanhante esfrega a bunda em seu membro, fazendo com que a ereção volte e ele continue dando prazer a namorada que, em cinco minutos goza novamente sendo acompanhada pelo general.

Completamente satisfeitos um com o outro, o casal terminou de se higienizar e se jogam na cama. Eleanora pensava em tudo o que estava acontecendo com ela, principalmente o fato de ter encontrado prazer e amor nos braços de um preto, que até tempos atrás era visto por ela como pessoas inferiores. “Meu deus onde foi que aconteceu essa mudança brusca em minha vida”, pensou a sogra de Márcio, enquanto Alexandre percebia que havia algo de diferente nela, perguntando o que se passava.

– Meu amor. Você sabe que fui casada com um grande empresário e não quero fazer comparações, mas desconfio que estou sendo feliz pela primeira vez.

“- Por que você acha isso, Eleanora”, perguntou o general.

– Talvez porque eu não precise fazer nada, absolutamente nada para tê-lo aqui comigo dentro do coração todos os dias. Não tenho que modificar minha essência para te agradar.

“- E isso inclui o que, propriamente dito, minha cara”, quis saber Alexandre.

“- Meu amor não vou te esconder nada, pois acho que estamos bem adultos para isso, mas para tentar entrar no coração do meu marido, o acompanhei num processo de racismo desenfreado que só foi compreendido e cessado depois de uma fala do Márcio, quando Jô agonizava agonizando num hospital”, confessou a namorada.

– Eu li alguma coisa sobre a morte dele, mas não me ocupei muito, pois pertencíamos a mundos diferentes, mas me explique como foi isso, até porque tu acabas de fazer amor com um preto e não foi a primeira vez.

Com medo de ser rechaçada pelo general, Eleanora começa timidamente contando que sabia que Jô tinha um amor secreto dos tempos da juventude, mas que foi assassinada brutalmente pelo fato de ser preta e ter se envolvido com ele.

“- Mas onde entra o racismo dele”, perguntou o general cobrando clareza na exposição dela.

– Ele ficou totalmente desequilibrado com o acontecido e passou a não querer ver brancos se relacionando com pretas e vice-versa, pois fazia com que ele se recordasse do amor não vivenciado com Lourdes. Eu não entendia direito esse processo até que Márcio resgatou meu filho de um mundo de sandice e tentei prejudicá-lo, contudo, minha filha já estava apaixonada por ele e o defendeu, mostrando um homem que eu não enxergava por conta do que havia vivenciado por mais de trinta anos com Jô.

Alexandre, deixou Eleanora na cama e foi se sentar numa poltrona bem próximo e olhava com serenidade, mas em tom de cobrança. Queria saber a história toda. “- Pare de me olhar assim, amor. Desse jeito fico toda encabulada achando que vai me expulsar de sua vida”.

“- Acalme-se. Não sou intempestivo e sempre penso antes de agir”, afirmou o general.

– Foi exatamente isso que Márcio fez comigo e com minha filha, nos derrubando do alto de nossas arrogâncias e empáfias por conta do dinheiro eu achávamos mais importante do que tudo na vida.

O militar ficou em silêncio para que a namorada pudesse continuar a história. “- No dia em que Jô faleceu no hospital, Márcio conseguiu levar meu filho até lá e conseguimos interná-lo para fazer exames, pois estava consumindo muita bebida alcóolica. Fui falar com ele, pois os olhos de Angélica brilhavam como as estrelas em noites em que o céu não tem nuvem alguma. Pedi desculpas a ele pelas minhas grosserias e tentá-lo fazer um sem-teto”.

“- E o que ele lhe disse”, perguntou o militar.

– Que não me perdoaria, pois se o fizesse ali naquele momento, seria por pura hipocrisia e desse comportamento ele não era portador, mas que talvez um dia poderia vir a me perdoar. E depois disso, Márcio desapareceu, sem deixar informação alguma de onde estava.

“- E o que te fez mudar de ideia sobre a questão étnico-racial e a cor de nossa pele”, interpelou o namorado.

– Que nunca devemos sentenciar qualquer pessoa antes de conhecê-la. É preciso deixá-la mostrar quem é de fato. Meu genro poderia ter arrancado muita grana nossa naquele momento de vulnerabilidade, mas optou por sumir no mundo, por uma razão muito simples: estava apaixonado pela minha filha e ela por ele.

“- Mas só esse fato foi suficiente para tu mudar trinta anos de opinião”, quis saber o militar

– Não! Fui vendo como minha filha falava dele, o que fez para encontrá-lo e depois conversei com os familiares de Márcio: o pai e a mãe, sendo que Judith passou quase um mês em minha companhia e ali naqueles dias pude ver o quanto era ignorante. E nesse meio tempo, você apareceu para felicidade do meu coração e agora estou aqui contigo imensamente feliz. Espero que não me atires pedras.

“- Se eu lhe disser que não estou surpreso, mentiria, mas daí a dizer que não te quero como te desejei debaixo do chuveiro, seria hipocrisia, porém, como rechaçar alguém que faz meu coração ficar em paz e me revela seu passado de ignorância desvelado pelo genro preto e a nora preta. Só essas duas coisas já me faziam continuar contigo, não porque é branca e endinheirada, mas justamente pela pessoa que é, que reconhece os equívocos do passado, mas pede uma oportunidade para o amor te fazer feliz”, explicou o general Alexandre.

Eleanora se levantou da cama e foi em direção ao militar que estava sentado numa poltrona, abraçando, o beijando e, ao sentar-se no colo dele, sentiu que o seu falo havia ficado entumecido. Fitando o namorado bem dentro dos olhos, lhe disse: “- Mas que homem mais tarado eu arrumei”, e foi logo fazendo carinho no membro que teve a ereção completada. Em seguida, a namorada o ajustou bem em sua vagina e quando o membro estava todo em seu interior, o general se levantou da poltrona, tendo a namorada no colo, sentou com ela na cama, fazendo amor novamente naquela tarde. Enquanto Eleanora gozava, escorria lágrimas de seus olhos de pura felicidade.

O casal dormiu, mas como era de praxe, por volta das quatro e meia, Pedro ligou dizendo ao general que estava quase na hora de estarem no restaurante. O casal tomou banho rapidamente e, no caminho para o trabalho, a mulher perguntou se podia ficar com ele até fechar o estabelecimento. Desejava alongar aquele prazer que teve com o militar a tarde toda. Encantado pela docilidade da namorada, Alexandre disse que sim, fazendo um movimento com a cabeça.

Nas Organizações Oliveira, Fernanda passava com Roberto os últimos detalhes do programa que apresentaria à diretoria na manhã seguinte. Estava um pouco insegura, mas foi estimulada pelo amigo que lhe dizia. “- Esse encontro é só para justificar a sua ascensão à gerência. Estarei lá, Angélica e o Amadeu, portanto ninguém fará objeção a nada. Vai por mim. Mas se te conforta, eu chegarei mais cedo e conversarei um pouco com o pessoal já falando do seu projeto e a importância dele para o nosso grupo”, explicou o diretor de comunicação.

A futura gerente abraçou o amigo que lhe pediu calma. “- Agora vá para casa e se arrume para hoje à noite. O jantar é importante, principalmente porque anunciará aos pais do seu noivo que será promovida. Depois converse francamente com ele. Olha só, acho que seria interessante ter esse diálogo antes de chegar para o churrasco”.

– Você me dá uma carona Beto, perguntou Fernanda.

Roberto estranhou porque desde que a conhecia, poucas vezes ela o chamava assim, o que às vezes gerou um pouco de ciúmes, pois o tratamento carinhoso sempre foi destinado ao Márcio. Sem dizer nada, o diretor apenas disse “- Então vamos. Danisa quer fazer uns pratos diferentes para nós dois. Deseja comemorar o meu pedido de casamento. Hoje faz quatro anos que eu lhe disse que o meu desejo era passar o resto da vida com ela”.

A futura gerente das Organizações Oliveira riu, recordando do que Roberto tinha dito do amigo: tremendo empata-foda. Ambos saíram abraçados do prédio, mas a cena não passou despercebida pelo pessoal dos departamentos que ficavam no térreo, contudo, ninguém ousava dizer nada, pois sabiam que haviam câmeras por toda parte do prédio.

Quando chegaram na casa de Fernanda, Ricardo já estava lá esperando. Apareceu sem avisar. Cumprimentou Roberto dizendo que precisava ter uma conversa séria com a noiva. Fernanda lhe franqueou a entrada da casa, enquanto se despedia do diretor e amigo que lhe desejou sorte, mostrando o celular para que ligasse se tivesse algum problema.

Já dentro do imóvel, Ricardo foi falando tudo apressadamente. “- Calma Ricardo. Não precisa pressa. Vou pegar uma cerveja para tomarmos e aí tu falas com calma. O mundo não vai acabar”, disse a noiva.

“- Desculpe-me amor é que realmente estou apavorado com a hipótese de você me deixar por conta de minhas estupidez e hábitos que não cabem mais em minha vida desde o dia que te conheci”, conseguiu dizer Ricardo, afastando o temor e o nervosismo.

– Entendo. Um momento só.

Assim que voltou com a cerveja e dois copos, Fernanda viu um Ricardo com os olhos marejados e, com certeza, choraria a qualquer momento. Ela não se sentou ao lado dele, pois queria ouvir tudo o que tinha para dizer e era imprescindível a impessoalidade. Ele tinha que sentir que, de fato ela, poderia sair de sua vida.

“- Eu sei que não sou o homem que você idealiza, mas te amo imensamente”, vaticinou o noivo.

Assim que os dois deram um gole na cerveja, Fernanda lhe pergunta qual tipo de homem ela gostaria de ter ao seu lado.

– Sei lá. Sempre achei que o homem ideal para ti é o Márcio que é paparicado por todo mundo como se fosse um santo.

Olhando bem para o noivo, a noiva foi categórica em afirmar que se Marzinho fosse o homem que ela supostamente idealizava estaria casada com ele e não tendo aquela conversa com o noivo. “-Ele estaria comigo e não dormindo com a presidente das Organizações Oliveira que é minha patroa”, lhe explicou Fê.

– Na verdade, nunca entendi direito esse lance de amizade entre homens e mulheres, inclusive o fato dele ter dormido em sua casa e não ter rolado nada entre os dois.

A noiva, com calma, explicou que é natural ele observar a coisa a partir desse prisma porque nunca viveu uma relação assim. Então, ao invés de agir após observar os fatos, Ricardo reagia levando em conta o que os amigos dizem ser o certo. “- Não há nada entre eu, Roberto e Márcio. Somos amigos que se seguram, se protegem para se manterem vivos. Esse mundão é cruel para quem vacila. Roberto viveu com os tios e foi para a universidade. Dali para adiante era ele e o cosmo. Márcio teve um problema nos tempos em que era noivo e o Roberto que estudou com ele o trouxe para cá. Eu o conheci num bar quando tropecei no pé dele enquanto Marzinho, totalmente desligado, estava com a perna esticada e até hoje eu o chamo de leitor perneta”, informou Fernanda.

“- Isso ainda não me entrou direito dentro da cabeça. Como um homem pode não te desejar. Dormir em sua casa e não dar em cima de ti”, confessou Ricardo.

– Você diz isso a partir de sua visão de mundo e de seus amigos, mas nem todos os homens pensam e agem assim. Márcio e Roberto são diferentes e garanto que há outros tantos por aí, porém, não conhecemos porque nossos universos não se cruzam. Nem todo homem está afim de perder uma amizade sólida por conta de uma trepada tola, uma cantada medíocre para se mostrar para os amigos.

Fernanda despejou mais uma quantidade de cerveja no copo e continuou, já que Ricardo estava ali para sanar algumas questões que eram complicadas para ele. “- Já te contei essas histórias umas dez vezes, mas vou repetir: estávamos eu, Roberto e Márcio no mesmo bar em que conheci o Marzinho. Ele é metódico e não costuma mudar de locais. Acho que é inseguro como tu. O Roberto estava interessado em Danisa, então fui ter com ela que, até aquele momento não me conhecia, dizendo que Márcio queria lhe falar. E o resto você já sabe”, sentenciou Fernanda, se levantando para buscar outra cerveja.

Ao retornar, disse ao noivo que uma coisa muito importante havia entre os três: ninguém se metia na vida do amigo. “- É! Mas você saiu no braço com Angélica por conta do Márcio”, afirmou Ricardo que obteve como resposta o fato de que o ocorrido teve como base o ciúme da esposa do editor que assim como ele, Ricardo, tinha um ciúme enorme dele com Fernanda.

– Meu amor, acho que o que está pegando entre nós são coisas mais importantes do que isso. Parece-me que tu queres trazer para o nosso relacionamento hábitos que não cabem mais e eu não vou aceitar em hipótese alguma, portanto, não tem nada a ver com a minha amizade com Márcio. Somos amigos, mas agora quem cuida dele é Angélica, assim como Danisa se ocupa de Roberto. Então a pergunta que eu te faço é: tu tens condições de cuidar do nosso amor? Se não tiver, entenderei, mas por favor não tente me colocar coleira e desfilar comigo como se eu fosse um troféu que você conquistou. Isso não vai se encaixar nunca e tu não me perderá para ninguém, mas sim para um Ricardo que já não deveria existir mais ou pelo menos não poderia viver com tanta evidência entre nós dois.

“- E o que me sugere amor”, perguntou Ricardo, meio apavorado diante da possibilidade de sair da relação como entrou: com uma mão na frente e outra atrás.

– Que retire esse terno velho se quiser continuar comigo. Não quero andar atrás de ti e nem desejo que fique atrás de mim, mas que caminhe comigo. Almejo formar uma família contigo, pois nunca tive uma e agora que tudo parece conspirar favoravelmente para isso, não quero que suas roupas cheias de bolor atrapalhem. Se tu insistir em mantê-las comigo, é melhor pararmos aqui.

– Entendi.

“- Aproveite e tente compreender quem é o velho Ricardo e o novo que está pedindo passagem”, sentenciou a ainda noiva Fernanda.

“- Então não vais me deixar”, perguntou Ricardo.

– Meu amor, eu só te deixarei, se tu se deixar levar por essas ideias antigas que não cabem mais no presente. Tenho 30 anos e acabo de ser provida a gerente de um importante grupo empresarial multinacional e, sinceramente, não tenho tempo para ficar tentando mudar o passado. O vivido não pode ser revivido apenas apreendido no presente, então vem comigo para um amanhã de paz, pois se quiser ficar com o ontem, pode começar me esquecendo a partir de agora.

Ricardo se levantou e foi até onde a noiva estava já de pé, pois ela pretendia se higienizar, abraçando-a, momento em que Fernanda o sentiu gelado e transpirando bastante. “- O que está acontecendo homem de deus? Tu estás gelado como a um defunto”.

– Medo de te perder. Hoje eu percebi o quanto te amo e preciso de ti em minha vida. Sei que tenho muito que melhorar, mas sem você, sinto que não conseguirei e não quero o velho Ricardo atrapalhando o nosso amor.

Fernanda o abraçou ternamente, beijando-o com amor e para que não avançassem o sinal, ela lhe pediu para ficar à vontade enquanto se preparava para ir ao churrasco na casa dos pais dele. “- Tem mais cerveja na geladeira, mas se quiser deixar para beber junto com o meu sogro, tudo bem”.

Ao entrar no banheiro, Fernanda resolveu fazer um teste com Ricardo. Deixou a porta do banheiro sem trancar, tirando a roupa para se banhar. Quando acabou, pediu ao noivo para pegar a toalha que ela havia esquecido em cima da cama. Ao entrar no banheiro, Ricardo se depara com ela nua, saindo do box. A reação foi automática e a noiva percebeu, mas disfarçou bem, pois o objetivo era testá-lo.

Fernanda se enrolou na toalha, dando um beijo na boca do noivo lhe agradecendo o favor que fez. Entrou no quarto e foi conversando com ele, dizendo que na próxima semana o apartamento de Márcio estaria desocupado. Perguntou-lhe em seguida se ele não a acompanharia na compra dos móveis. Enquanto dialogava com Ricardo, ela colocou três mudas de roupas em cima da cama e o chamou para ajudá-la a escolher qual seria a melhor para aquela noite.

Na hora Ricardo pensou o que Márcio faria e entendeu o que o amigo dela tinha de especial. Não daria em cima dela e de nenhuma outra mulher, mas deixaria tudo acontecer como consequência do amor. O noivo entrou no quarto e se surpreendeu com Fernanda apenas de lingerie, gostando do que viu, enquanto olhava para ela e para as peças, tentando criar mentalmente uma combinação, indicando o que achava que a deixaria bela naquela noite, mais do que já era. Depois disso saiu o quarto, se sentando na sala para terminar a cerveja que havia pegado, enquanto a nova gerente de finanças das Organizações Oliveira tomava banho.

Meia-hora depois Fernanda apareceu na sala toda produzida, perguntando a ele se estava bem para um jantar oficioso. “- Oficioso por que amor”, questionou Ricardo. “-Ué! Não anunciarei à sua família, ou melhor, à nossa família, a minha promoção a gerente de finanças? Então o evento é importante”, explicou a noiva.

Quando entraram no carro, os ponteiros do relógio indicavam que se aproximavam das sete horas. A conversa tinha se iniciado por volta das cinco, mas havia sido proveitosa para os dois lados do amor e a intenção era caminharem juntos dali para frente. Ao entrarem na casa de Ricardo, o pai, para sacanear o filho, assoviou, dizendo que se já não tivesse a nega dele, com certeza disputaria Fernanda com o filho.

A noiva agradeceu, dizendo que não havia espaço em seu coração, pois Ricardo tinha ocupado tudo e com certeza não sairia mais. “- Claro que se quiser permanecer. Do contrário, pode ir embora hoje mesmo”, disse a noiva piscando para o sogro que entendeu a fala dela.

Débora chamou a cunhada para conversar junto com Adélia, enquanto o irmão chamava o pai para comprarem cerveja. No bar, Romualdo conversou com o filho. Pediu desculpas por ter falado daquele jeito com ele na hora do almoço, mas tinha ficado irritado porque ele poderia perder a noiva por coisas bobas e sem a menor importância.

– Eu sei pai! Ela me disse que eu devo decidir. Se o velho Ricardo vai ficar dando pitacos em nossa vida. Porque se for assim, ela desembarca do ônibus que transporta o nosso amor.

“- E o que tu disseste o que a ela”, perguntou o pai.

– Pedi para me ajudar a sepultar aquele Ricardo que não tem mais espaço no presente. Pensei no que Débora me disse na hora do almoço. Fomos almoçar distante dos amigos de Fernanda, pois queremos construir nossas vidas apartadas da deles.

“- E aí você me dá uma dessas. Falar que não sabe o que dirá para os seus amigos quando souberem que a tua mulher ganha mais do que tu. Tivestes sorte dela não ter te mando comer o rabo deles ou dar o seu cu a eles”, falou Romualdo.

– Porra pai. Está me zoando?

– Não moleque. Apenas abrindo teu olho. Tens ao seu lado uma singular mulher. Bonita, inteligente e independente que deseja crescer contigo e você já tem até trabalho na editora do amigo dela.

– Pai! Acho que ela quis me testar hoje. Estava na casa dela conversando sobre tudo isso e em seguida ela foi tomar banho e depois pediu para eu pegar a toalha que havia esquecido em cima da cama.

“- E você pegou”, perguntou Romualdo.

– Sim e levei ao banheiro, mas achei que ela estaria dentro do box, mas não. Estava nua me esperando.

– Você se conteve né, moleque.

– O senhor nem sabe o que eu pensei na hora. Fiquei imaginando o que Márcio faria. Ali eu entendi o que ele tem de especial. O cara não daria em cima de jeito nenhum. Ela se enrolou na toalha, passando por mim, me deu um beijo agradecendo. Depois me chamou para escolher essa roupa que ela está usando. Só que vestida apenas de lingerie.

– Parabéns filhão. Ela quis saber se tudo o que tinha dito a ela antes era verdade ou não.

Na casa, enquanto Débora esperava Esdras, Fernanda disse que pretendia comprar os móveis na semana seguinte para mobiliar o apartamento que Marzinho tinha cedido a ela até a casa ficar pronta. Perguntou se Adélia queria ir junto, diante da recusa foi aconselhada a chamar o noivo.

– Sogrinha, acho que teu filho passou no teste.

Ao dizer isso, Débora entendeu que tudo não passou de uma armadilha que a cunhada e a mãe tinha preparado para o irmão e começou a rir. “- O que foi menina. Por que está rindo”, perguntou Adélia.

– Desse jogo que vocês duas fizeram com o meu irmão.

– Cala a boca menina. Isso foi ideia do teu pai para afastar aqueles amigos de merda dele. Com certeza iriam atrapalhar o relacionamento dele com essa minha amiga aqui.

“- Adélia, não quero nenhum daquele pessoal frequentando a minha casa. Um amontoado de homens que só falta tirar a nossa roupa, como se não soubessem que o temos por baixo. Um horror”, disse Fernanda de forma exasperada.

– Eu sei filha. Via o jeito que eles olhavam para Débora que nem dava bola. Teve um deles que começou com graça com ela e teve a resposta que mereceu. Ela lhe disse que não procurava um pinto, mas uma pessoa que a cabeça de cima controlava a de baixo. Passou meia-hora, Romualdo chamou o rapaz num canto e o convidou a se retirar, enquanto estava com o rosto sem nenhuma marca.

Enquanto Adélia contava a história, Esdras chegou e pelo jeito do olhar dele para com Fernanda, foi como se tivesse jogado um palito aceso num tonel de gasolina.

“- O que há entre vocês dois”, perguntou Débora.

Fernanda não pensou duas vezes e falou: “- Teu namorado aí, que é irmão do meu Marzinho, tem as mesmas ideias machistas que Ricardo. Se eu fosse tu, ficava de olho e já mostrava para ele quem é que manda na relação”.

Debora gargalhando disse. “- Ele que se atreva a achar que vou ser um capacho dele. Que vou servir de troféu para me exibir aos amigos brochas dele. Se quiser fazer isso, ele que dê o cu para eles, chupe o pau deles, pois não encostará um dedo nesse corpo aqui”.

Assim que Debora terminou de falar, apareceu Romualdo e Ricardo que beijou a noiva dizendo que tomaria banho, enquanto o pai preparava o churrasco. O anfitrião observando a cara de Esdras, perguntou o que foi e ele se apressou a dizer que aquelas duas eram de lascar. “- Não se esqueça meu futuro genro que tem eu e a mãe dela; depois seus pais, Marzinho, Roberto, enfim, fiquei sabendo que apareceu um general na jogada. Então, meu querido, seu eu fosse você pegaria suas ideais do século passado e jogava dentro da churrasqueira para serem queimadas enquanto faço churrasco”, disse Romualdo gargalhando.

Enquanto os ajustes para o jantar, de algo oficioso, eram feitos na casa de Romualdo e Adélia, no restaurante de Alexandre, sem dizer nada, Eleanora foi para a cozinha ajudar Pedro que, surpreso explicou o serviço a ela. “-É um prazer tê-la como minha ajudante dona Eleanora”.

– É só me dizer o que fazer Pedro, mas por favor, seja discreto. Ninguém precisa saber que eu estou aqui com o meu amor, o general.

“- Sempre soube que todos vocês detestam aparecer”, disse o cozinheiro.

O militar fazia questão de acompanhar cada frequentador até a mesa que havia reservado, perguntando o que desejavam para beber. Depois os garçons chegavam. Alexandre dizia que era importante o proprietário recepcionar cada cliente, indicando que a presença dele era mais importante do que o dinheiro que tinha para gastar.

No apartamento de Angélica e Márcio, o casal se preparava para comemorar a harmonia que finalmente parecia ter encontrado morada no coração dos dois. Naquela tarde, depois de um sono revigorante, o editor foi o primeiro a acordar, porém não desejou despertar a esposa. Foi ao banheiro, tomando uma ducha rápida, indo até a sala, pegou o romance que estava lendo, mas não ficou muito tempo nesse lazer.

Enquanto o editor viajava na enunciação, Angélica acordou procurando-o na cama e não achando, resolveu tomar um banho rápido, colocando o camisão transparente que tanto tinha mexido com todo o ser do marido. Chegando na sala, o surpreendeu lendo. “- Ah fujão. Estais aí e nem me chamou para fazer companhia nessa viagem literária”.

Ao ver a esposa vestida daquele jeito, Márcio não conseguiu esconder o tesão e quando se levantou do sofá, Angélica viu o efeito camisão. “- Meu deus do céu, que marido mais fogoso eu arrumei”, disse a empresária indo ao encontro do corpo do marido, beijado, já apalpando o membro entumecido. Ao tocá-lo sentiu todo o vigor e o calor que o pênis emitia. Foi o suficiente para ela se incendiar. Em seguida o empurrou para o sofá e já foi puxando o calção dele até os pés, liberando o falo que, ereto, pedia um carinho especial no que foi atendido pelos lábios da empresária, levando Márcio ao paraíso.

Ao senti-lo totalmente pulsando dentro da boca, Angélica se levanta e senta no colo do marido encaixando o pênis entre os seus lábios vaginais, fazendo um movimento com o falo do editor que quase vai a loucura. Enquanto ele respirava fundo entre os gemidos, ela foi se sentando lentamente até que o membro se encaixou totalmente em sua vulva.

Naquele movimento alucinado de vai e vem o casal atingiu o clímax em que os dois gritavam de prazer, prometendo amor eterno ao outro. Depois do sexo, a dupla desmaiou ali mesmo no sofá, sendo que o editor só se deu o trabalho de colocar novamente a bermuda antes de mergulhar no sono.

Acordaram já passavam das seis horas e ainda sonolentos, a empresária perguntou o que o marido pretendia fazer naquela noite. “- Está me devendo uma noite só nossa. Que tal irmos naquele barzinho que fomos na cidade vizinha, enquanto ainda nos prometíamos um para o outro”, propôs Márcio.

A empresária topou e os dois trataram de acordar de fato e se prepararem para uma noite que prometia. As duas almas ansiavam namorar, pois os corpos materiais ainda não tinham conseguido ficar em tal sintonia que poderiam sair como dois namorados e curtirem um ao outro, sem a menor pressa. O final de semana estava chegando e tinha muita coisa a ser feita.

Depois do banho, Márcio escolheu rapidinho sua roupa, até porque sabia bem o gosto da mulher. Agora ela, mexeu, revirou, e ficou na dúvida por isso pediu ajuda ao editor que, ao olhar à lingerie que ela estava usando foi enfático, dizendo que ela marcaria o corpo mais do que precisava. Angélica fez aquela cara de quem não gostou da observação, mas seguiu a orientação do marido, mas o mandou embora do quarto, enquanto escolhia um que a deixasse provocante para ele, mas sem evidenciar a silhueta para quem a olhasse.

Desta forma, ela mesma conseguiu encontrar uma roupa e já saiu do quarto pronta, com a maquiagem combinando com a roupa e com a bolsa que estava usando. A noite prometia, pensou o editor ao vê-la arrumada para um divertido passeio.

– Amor. Tu estás divina. Belíssima.

– Fico feliz que tenha apreciado meu nego delicioso. Agora vamos, pois quero aproveitar o máximo dessa noite contigo.

O trajeto entre as duas cidades foi feito com muita música e conversa entre o casal. Angélica se sentia nas nuvens quando estava assim com Márcio, sem preocupação, medo e nenhuma mulher que pudesse ameaçá-la. Entre um diálogo e uma canção, a empresária prometia a si mesma se controlar. Para ela, o marido parecia ter saído das páginas de um romance em que tudo terminava bem no final.

Não tinha ilusão de que o editor seria perfeito, pois não era e ainda bem que não, mas havia espaço para manobras e não deixar que a rotina acabace com o que ela considerava belo e ao mesmo tempo sublime. Para Angélica, Márcio tinha uma beleza singular externada em seu físico que não aparentava os 35 anos que tinha, além do belo que reinava em sua sublimidade. “Realmente, Márcia perdeu um grande homem e ainda bem que eu o encontrei onde ninguém jamais iria procurar”, pensou a empresária quando já estavam chegando ao barzinho em que passaria boas horas de amor com o esposo.

Assim que entraram no estabelecimento, perceberam um flash, mas desta vez o editor não falou nada, mas sabia que aquilo seria resolvido com serenidade. Ao se acomodarem, Angélica e Márcio pediram uísque e cerveja sem álcool. O editor percebeu que da direção de onde partiu o flash, vinha um homem que reconheceu na hora. Era o seu antigo patrão, João Marcelo.

O antigo funcionário ficou sabendo dos problemas do jornal e o motivo que levou encerrar as atividades. Ele desconfiava que havia algo de errado e quando olhou fixamente para a mesa de onde o ex-patrão saiu, entendeu bem o que havia acontecido. Seus olhos cruzaram com o de Joana que o percebeu, mas fez de conta que não o conhecia direito. Junto dela estava Valdo, o fotógrafo.

João Marcelo se sentou junto do casal, sem ser convidado para tanto. Cumprimentou Angélica e o ex-funcionário dizendo que ficou sabendo do casamento dos dois, lhes desejando mil felicidades. Assim que terminou de falar, Márcio foi direto: “- João, pede para o Valdo apagar todas as fotos que fez minha e de minha esposa. Não viemos assim para sermos expostos e publicados em jornal nenhum. Se sair alguma coisa amanhã, processaremos todos”.

– Calma meu amigo. Até parece que você não foi e continua sendo um jornalista.

– Eu sou e continuo sendo, mas não quero que minha vida pessoal seja exposta sem motivo algum e esse momento aqui não diz respeito a ninguém. É apenas uma noite que eu e minha esposa tiramos para nos divertimos. Espero que me entenda.

– Fique tranquilo. Não sairá nada sobre estarem aqui. Mas o meu objetivo em vir falar contigo é outro. Fiquei sabendo que lançará uma editora. Sendo assim, gostaria muito que tu nos enviastes releases e outros materiais a respeito dos livros que serão publicados e também um convite para o meu jornal estar presente na inauguração.

“- Tudo bem João Marcelo. Você tem um cartão aí e assim que tudo estiver encaminhado, entro em contato contigo”, disse Márcio.

O ex-patrão tirou do bolso do paletó um pequeno pedação de papel contendo todas as informações de que Márcio precisava e, se despedindo do casal, voltou para a sua mesa de origem. Lá chegando fez o comentário com Valdo que atendeu prontamente, pois conhecia bem a família de Angélica e não queria problema com eles.

“- O que ela viu nele”, perguntou Joana, acrescentando que o cara era o mais esquisito de todos. Se vestia mal, com roupas ensebadas, parecendo que não via uma máquina de lavar há muito tempo e os sapatos imploravam por graxa.

“- Vai ver que é justamente isso que louca adora, pois vive cercada de caras cheirosos, sarados e endinheirados”, disse Valdo.

“- Não é nada disso. O Márcio só parece amalucado, mas é um cara de juízo e conseguiu tirar o irmão dela da sarjeta e tenho certeza de que não está com a ricaça por conta do dinheiro. Soube que ele foi parar na UTI por conta dela”, informou João Marcelo.

Enquanto Márcio conversava com o ex-patrão, Angélica percebeu que Joana não tirava os olhos da mesa onde estavam, mais especificamente do seu marido. Assim que o jornalista os deixou, ela quis saber se o esposo conhecia aquela mulher. “- Sim. E você também. Ela era secretária no jornal quando eu trabalhava lá”.

“- E por que ficou olhando tanto para ti? Já comeu ela entre uma reportagem e outra”, perguntou Angélica toda enciumada.

O marido a olhou, começando a rir, pois a esposa não tinha jeito mesmo. O ciúme jamais iria abandoná-la. Só que ao invés de responder mais aquela intimida, o editor a beijou de forma a não restar dúvidas quanto ao amor que ele sentia por ela. “- Isso responde a sua pergunta”, inquiriu Márcio.

“- Comeu ou não”, insistiu a empresária.

Rindo ele repete a história que já havia lhe contado antes, mas parecia que tinha esquecido. “- Ela deve estar olhando porque não acredita no que vê. Soube que estava interessada em minha pessoa, mas me antecipei dizendo que queria mais do que sexo e uma noite apenas. Brigamos feio e depois daquele dia a nossa conversa era estritamente profissional”, explicou o marido.

Depois dessa explicação, Angélica parecia ter se tranquilizado, até flagrar novamente Joana olhando para Márcio. Sem fazer alarde, disse ao esposo que iria ao banheiro retocar a maquiagem. Na verdade, ela aproveitou o ensejo que Joana tinha ido também.

Já dentro do banheiro, enquanto se olhava no espelho, a empresária perguntou à ex-secretária o que ela queria com Márcio, pois não tirava os olhos dele. E já acertou um murro no olho de Joana que gritou de dor. O esposo de Angélica escutou o barulho e observou a mesa em que Joana devia estar, mas não a viu, deduziu que tinha briga no banheiro feminino.

Levantou-se e foi apressado em direção ao local de onde tinha vindo o grito e, ao chegar próximo do banheiro feminino, escutou Angélica gritando com Joana. “- Se eu te pegar olhando para o meu marido novamente, te acertarei o outro olho. Quando teve a chance com ele, ficou com frescura. Agora que está comigo, acho melhor você tentar ciscar em outro galinheiro”, vociferou a empresária que tinha a cabeça de Joana segura pelos cabelos, forçando-a com a cara no vidro.

Uma garçonete entrou correndo no banheiro, perguntando o que estava acontecendo. Angélica olhou para Joana e disse à funcionária: “- Pergunte porque ela está com o olho roxo. Isso é para ela nunca mais ficar encarando marido de outras mulheres”.

Ao sair do lavabo, Angélica se encontrou com o marido que quis saber o que estava ocorrendo. “- Nada! Apenas um acerto de contas com quem não deve olhar para aquilo que não lhe pertence”, explicou pegando na mão do esposo, voltando para a mesa como se nada tivesse acontecido.

Vinte minutos depois, Joana deixa o banheiro e calmamente senta à mesa em que estava, falando baixinho no ouvido de Valdo que percebeu um hematoma em torno de um dos olhos dela.  Ela explicou que havia sido socada pela esposa de Márcio e que por isso não havia mais clima para ela ficar ali.

Ao ouvir o relato, o repórter-fotográfico foi até a mesa em que estavam a empresária e o editor e calmamente perguntou a Angélica se era preciso tudo aquilo. A empresária, de forma pausada disse em tom ameno: “- Foi para ela entender que não deve ficar olhando em demasia para o marido alheio. O Márcio é meu e pronto. Se ela começar com onda, vou quebrar a cara dela inteirinha”, explicou a esposa como se estivesse conversado descontraidamente.

Valdo olhou para o ex-colega de jornal que apenas meneou a cabeça querendo dizer que a peleja era entre Angélica e Joana e que ele não iria se meter. “- Não sabia que tu eras um negão tão frangote assim, meu caro Márcio. Deixar mulher branquela mandar em ti. Isso é coisa de maricas, veado ou se vende para ela como escravo. Só me resta saber se não tudo isso junto”.

Assim que terminou de falar, Valdo só percebeu a mão do editor em sua cabeça, sentindo-a bater direto na quina da mesa, atingindo a região do nariz. “- Acho que bicha e corno é teu pai que te deu o nome, mas tu és filho do padeiro, do leiteiro ou sabe-se lá quem comeu tua mãe, aquela vadia. Agora pegue tua puta e saia desse local, antes que a coisa fique pior para ti meu amigo”, disse entre os dentes o editor.

Antes de sair, Valdo recebeu um lenço das mãos do editor que lhe recomendou usar para não deixar o sangue jorrar pelo nariz, emporcalhando o local. “- Toda vez que olhares para seu nariz, se lembrará que não deve metê-lo onde não é chamado. Passar bem”.

Angélica assistiu à cena atônita, pois ao contrário dela, o marido foi rápido, sem fazer alarde, quebrou o nariz de quem lhe ofendia por puro despeito. “- Meu deus do céu, Márcio. É a segunda vez que te vejo colocando um detrator no devido lugar sem fazer escândalo nenhum. Estou toda molhada”.

– Detesto violência, principalmente a simbólica. Tenho certeza de que pensará duas vezes antes de ofender quem quer que seja.

Assim que o editor terminou de falar, o proprietário chegou para conversar com o casal. “- Os dois podem me dizer o que está acontecendo”.

– Primeiro, acho que o senhor deveria fazer uma triagem com seus clientes e não deixar que racistas entrassem aqui. Minha esposa estava no banheiro, retocando a maquiagem e foi ofendida e não teve outra opção a não ser se defender. Depois o marido da moça veio falar comigo e quando ia sair se desequilibrou e bateu com a cabeça na mesa”.

“- É que tanto ele quanto ela estão dizendo que foram agredidos pelos dois” explicou o comerciante.

“- O senhor quem sabe. Pode chamar a polícia e faremos um boletim de ocorrência por racismo que e é crime inafiançável e imprescritível, sem contar que seu estabelecimento aparecerá no noticiário, que o criminoso é repórter-fotográfico de um jornal aqui da cidade”, informou Márcio, calmamente.

Quem assistia de fora a cena do diálogo entre os três não imaginavam a tensão que havia ali, pois o editor procurava manter tudo sobre controle. João Marcelo sabia que não poderia avançar o sinal, tendo conhecimento do que família de Angélica era capaz e qualquer escândalo ali, poderia arruinar o seu futuro naquela cidade.

Laerte, o dono do estabelecimento se levantou, agradecendo a atenção do casal, enquanto João Marcelo e seus amigos deixavam o barzinho. E tudo se restabeleceu como antes da briga entre Angélica e Joana no banheiro e Márcio ter reagido aos xingamentos de Valdo. Quem conhecia os dois dos tempos de redação sabia que havia mais coisas ali, mas o editor optou por sepultar aquelas desavenças naquele nariz quebrado do fotógrafo.

O editor pediu um uísque, pois aquele momento exigia, enquanto a esposa solicitava outra cerveja alemã sem álcool. E como se nada tivesse acontecido, o casal começou a falar sobre a inauguração da editora que poderia ser realizada dali a 15 dias. Na próxima semana, cuidariam de toda a arrumação e Ricardo faria o trabalho gráfico de divulgação, inclusive colocando imagens dos primeiros livros que seriam lançados, além de um trabalho de divulgação nas redes sociais.

“- É isso mesmo que você quer, Marzinho”, perguntou Angélica. “- É! Mas quero algo que vai além da editora. Desejo ardentemente te fazer feliz. Tudo pode naufragar, menos o nosso casamento. Sem ter você comigo, é como se o Sol se apagasse”, disse o editor beijando a esposa que estava toda eufórica, excitada e muito feliz, pois se sentia segura do lado do marido, tendo a certeza de que Márcio jamais a deixaria, mesmo ela oscilando e tendo crises por conta do passado de violências sexuais que sofreu.

Em casa de Débora e Ricardo, Romualdo cuidava do preparo da carne, enquanto Esdras se ocupava em deixar os copos cheios, pois o futuro cunhado havia sido monopolizado pela noiva que estava imensamente feliz por ter ficado nua na frente dele e até aquele momento ele não ter feito nenhuma alusão ao fato.

Fernanda se dividia entre sentar no colo do tecnólogo e conversar com a futura sogra e a cunhada. Isso aconteceu durante boa parte do churrasco até que Esdras pediu para o noivo se desgrudar dela. Teriam bastante tempo dali para a frente, principalmente depois que ela se mudasse para o apartamento do Marzinho.

Adélia aproveitou a chance e chamou a futura nora para falarem sobre a compra dos móveis. “- Minha filha, eu, Romualdo e Débora estamos contigo, mas diga sinceramente aqui para nós: você não está apenas encantada pelo Ricardo. Ama meu filho mesmo? Não vai deixá-lo antes de se casarem”, interpelou a mãe de Ricardo.

– Adélia, se fosse para eu deixar teu filho, já o teria feito. Eu só quero que entenda que desejo construir com ele um mundo só nosso, como a Danisa tem com Roberto e Tarsila com Amadeu e que finalmente Márcio e Angélica estão percebendo que precisam ter. Não desejo aqueles amigos dele, metido dentro de casa e nem vou deixar que os meus amigos fiquem lá com a gente.

“- Ainda bem filha, porque, apesar de o Rick ser meio cabeça dura, ele é louco por ti”, confessou a futura sogra.

– Outra coisa Adélia. Nunca tive uma família para chamar de minha. Meu mundo consistia em Márcio e Roberto, mas os dois tem lá suas vidas e eu precisava construir a minha e agora vocês aqui são minha família, isso se me quiserem?

Chorando, Adélia abraçou a futura nora, pois sabia que aqueles dizeres vinha de sua alma. “- É segredo ainda, mas deixa o Marzinho desocupar o apartamento que levarei o Ricardo para comprar os móveis e quem sabe dentro de uma semana, não estejamos morando juntos no apartamento e aí ele fica mais tranquilo”, informou Fernanda para alegria da sogra e da cunhada.

– Não fale nada para ele e nem para ninguém. Até domingo, o Márcio desocupará o apartamento e vamos mobiliá-lo a partir do nosso gosto e parte da mobília usarei na nova casa. Aquilo que não servir, colocaremos à venda e o dinheiro doaremos para a fundação que o general Alexandre presidirá.

Assim que Fernanda terminou de falar, Ricardo chegou para saber do que elas conversavam e a noiva foi em sua direção o beijando, dizendo que o assunto era a beleza dele e como ele a fazia feliz. Vendo toda aquela cena romântica, Débora deu um tapa bem de leve nas costas do irmão, saindo junto com a mãe para os lados em que estavam Rodolfo e Esdras. O pai aproveitava esses momentos para sondar as intenções do irmão de Marzinho para com a sua filha.

Na residência de Roberto e Danisa, o ambiente era festivo, pois a esposa fez questão de usar o evento para realizar o chá de bebê. Como o significado do nome dela dizia respeito às pessoas que promovem grandes encontros, não havia ninguém do lado de Roberto. Ele não se importou, pois ficou o tempo todo na churrasqueira conversando com alguns maridos das amigas da esposa.

Todos queriam saber como era o trabalho nas Organizações Oliveira. Havia informação de que ele era o homem de confiança da presidência. Para não ser indelicado, indicando que não estava afim de falar nada sobre o seu mundo fora de casa, o diretor disse que qualquer dia, com a autorização poderia levá-los para conhecer a estrutura das empresas. Disse isso sabendo que jamais tal evento aconteceria.

“- E aquele seu amigo que casou com a ricaça. É verdade que ele é homossexual e ela também e o casamento é só para que os dois escondam isso de todo mundo”, perguntou Álvaro que gerenciava um posto de gasolina. “- Meu caro Álvaro, acho que deveria perguntar isso a eles. Qualquer dia desses vamos lá abastecer o carro em seu posto de gasolina e aí você aproveita e questiona sobre a sexualidade deles”, disse Roberto de forma exasperada.

– Porra, amigo não custa dizer. Ficará aqui entre a gente.

“- Álvaro, entre tu e o Márcio, tenho certeza de que ele ficará comigo debaixo de chuva. Já tu, não sei. Então, fiquemos assim: és casado com uma prima de minha esposa e acho que está de bom tamanho. Gostas de picanha berrando ou no ponto”, perguntou o anfitrião ao convidado.

Os homens que começaram a circundar Roberto, na esperança de obter informações sobre o universo privado das Organizações Oliveira e do seu relacionamento com a família de Angélica, entenderam que ele não diria nada, nem uma vírgula se quer e talvez por isso teria já iniciado como diretor de comunicação do conglomerado, sem ter ocupado antes cargos menores.

“- Mas por que tanto mistério, meu Roberto”, disse Marcão, que era casado com outra prima de Danisa.

“- Não tem mistério nenhum, até porque vocês foram convidados para o chá de bebê que a minha esposa está esperando e eu resolvi fazer esse churrasquinho e não para ficar falando de coisas do meu cotidiano no trabalho. Se fosse para isso, seriam convidados para conversarem comigo lá nas empresas”, explicou o executivo das Organizações Oliveira.

Marcão virou o copo de cerveja na boca, falando em seguida: “- Todo mundo sabe que tem rolo entre você, o negão e aquela loira que sempre estava entre os dois e que o emprego nas organizações tem a ver com tudo isso”.

– Meu caro, eu só vou te falar uma vez e espero não precisar mais me dirigir a ti: eu não falo da minha vida profissional com quem não está envolvido no meu trabalho. Você não faz parte desse rol, então por que eu te diria alguma coisa? Olha só como tu és fofoqueiro e maldoso. Quer jogar o verde para colher o maduro, só que comigo não cola. Estou com Danisa, graças a Fernanda que nos apresentou. Talvez essa sua observação, seja fruto de sua cabeça infeliz que não consegue ser diferente e caminhará sozinho para o fundo do poço construído pelo seu ego”.

Todos que o cercavam se entreolharam quando ele disse: “- Da próxima vez que vierem à minha casa, prepararei um roteiro sobre os itens que podemos conversar e os que não estão em negociação. Podemos falar de futebol, de música, literatura, enfim, menos sobre o mundo do meu trabalho”.

Nesse momento Danisa apareceu dizendo aos convidados que o filho que estavam esperando tinha sido contemplado com um pequeno percentual das ações de um supermercado que já estava funcionando na cidade, mas faz parte de um conglomerado de outra cidade e tem relações com os pais do amigo de Roberto.

O marido ficou em silêncio, apenas olhando para a esposa que entendeu ter falado além da conta. “- Como é que é isso”, perguntou Marcão. “Então tu és acionista de uma cadeia de supermercados e não quer falar nada para a gente? Não estou dizendo que tem a ver com aquele preto com que tu andavas a tiracolo”.

Roberto não pensou duas vezes e acertou um murro no nariz do indivíduo que foi ao solo, e ao levantar percebeu que sangrava. “- Isso é para tu fechar essa boca de esgoto. Não falei para não falar sobre o que não sabes, fofoqueiro de salão de cabeleireira de quinta categoria”.

A mulher de Marcão veio em direção ao esposo e começou a esbravejar contra o diretor que foi calmo ao afirmar-lhe que nunca tinha ido à residência dela desrespeitar quem quer que seja, portanto, exigia o mesmo em sua casa.

Outros dois homens levaram o visitante ao banheiro para estancar o sangue que jorrava do nariz, enquanto Danisa se dirigia ao marido pedindo mil desculpas. Sabia que tinha exagerado no que falou. “- Amor, pelo amor de deus, me perdoe. Pensei que estávamos entre amigos”.

“- Danisa! Meu amigo é o Marzinho, a Fernanda, você e o nosso filho que está para nascer. Coloque isso dentro da sua cabeça. Quando começam a querer saber de mais de nossas vidas, pode ter certeza absoluta que podem ser tudo, menos nossos amigos”, explicou o marido a esposa que começava a entender porque todos do círculo de relacionamento íntimo do esposo, eram discretíssimos.

“- Agora compreendo porque vocês são tão reservados”, afirmou Danisa.

Quando a esposa acabou de falar, Marcão e sua mulher foram até eles e o rapaz pediu desculpas por ter sido tão indelicado. Roberto lhe olhou dizendo categoricamente: “- Não perguntei nada sobre a sua vida, justamente para não lhe abrir espaço para entrar na minha. Uma coisa é estar em minha casa num evento social, outra é querer compartilhar comigo de coisas que não lhe diz respeito”.

Olhando para todos os que ali estavam, Roberto foi enfático: “-Minha casa estará à disposição de todos, mas desde que respeitem os limites estabelecidos por eu e minha esposa. Não convidamos ninguém para ficarmos nos ufanando disso e daquilo. Nunca fui exibicionista e não serei agora. Se quiserem minha amizade será desta forma: a partir das minhas regras, principalmente dentro de minha residência”.

Marcão e a esposa perceberam que a partir do episódio do soco que o homem levou do anfitrião, não havia mais clima para ficarem ali e se despediram formalmente indo embora. Logo depois, cada casal seguiu o mesmo destino. Danisa abraçada ao marido, disse que o episódio tinha lhe mostrado porque ele, Márcio e Fernanda eram tão discretos e fechado entre eles. “- Me perdoe amor, por ter cometido essa gafe”. O diretor se limitou a beijar a esposa, dizendo que tudo estava bem.