Sobras de um amor … parte III

12.

 

         Já dentro do apartamento, Márcio foi a cozinha preparar algo para beber. Tinha sede, mas não estava pensando em água. Ao abrir a geladeira, encontrou umas garrafas de cerveja sem álcool, apanhou uma e se dirigiu até a sala, enquanto Angélica estava no quarto para deixar a bolsa e pensar numa roupa para aquela noite. Já tinha mudado parte do guarda-roupa e outras peças estavam na sala de Roberto na sede das empresas. Ele organizaria o bazar da pechincha e as outras atividades alusivas à criação da fundação. O diretor havia lhe explicado que tudo estaria pronto dentro de uns 45 dias.

Quando a esposa chega a sala, o esposo estava no mesmo lugar de sempre só que desta vez, ao invés de ter em mãos um copo de uísque, segurava a garrafa de cerveja. Enquanto observava o Sol aprontando as malas e tingindo o céu de laranja, se desligou completamente do mundo. Suas memórias voltaram para o dia do casamento com Angélica. Parecia algo não real e que tudo era um sonho. “Meu deus do céu, um espetáculo desse todos os dias e minhas esposa belíssima, deixando sua alma se fundir à minha naquele domingo”, pensou meio alto, sem perceber que o seu sussurro era ouvido por uma pessoa que se encontrava a dois passos dele.

Virou o líquido na boca e disse de si para si. “Se o paraíso for isso, sou grato a ti, Senhor da vida. Caminharei com minha esposa por toda a eternidade. Só desejo te fazer uma perguntinha: o que preciso realizar para tornar minha esposa mais feliz, meu deus”.

“- Continue sendo esse esquisitão que eu atravessei o estado para trazer de volta ao meu coração”, disse Angélica com os olhos bem esverdeados e com um pouco de lágrimas. “- Você já me faz imensamente feliz e quando faz essas declarações praticamente em silêncio, é sinal de sua alma quer se encontrar com a minha por todo o sempre”, completou a esposa.

– Não sabia que estava aí bem pertinho. Se soubesse, não teria pensado em sussurros.

– Meu Marzinho. Eu gosto de te ver assim, completamente desligado e sempre quis saber para onde tu ias, mas agora eu sei. Direto para se encontrar com a minha alma que te ama imensamente.

Ao dizer isso, a empresária o puxa pela mão e se sentam no sofá. Ela lhe tira a garrafa de cerveja das mãos, para poder se ajeitar no colo dele. “- Amor, hoje você e o Roberto deram provas para todas nós como protegiam a Fernanda. Se não fossem os dois, ela só se meteria em roubadas uma atrás da outra. E que loucura o Rafael querer esfaquear minha mãe”.

– O general disse que ele é covarde, pois desejava acertar o general, já que com a briga no quartel, foi expulso do Exército quando fazia curso para ser promovido a cabo. Mas sinceramente, não estou afim de falar disso agora. Tua mãe vai fazer o Alexandre dormir lá na mansão. Até acho que ele vai dar um trato em Eleanora. Os dois estão precisando.

Ao dizer isso, Márcio cai na gargalhada. Aquele sorriso que chega aos olhos que tanto encanto provoca em sua esposa. Ela olha para ele e começa a beijá-lo suavemente, aumentando a intensidade na medida em que a temperatura do corpo foi aumentando e o esposo massageando lentamente algumas partes das costas, da bunda, apertando-a com potência até que começou a sentir a esposa lhe mordiscar os lábios.

Ao se acomodar mais no colo do editor, a empresária sentiu a força do falo que despertou para o corpo dela que, estremece ao sentir o calor, a intensidade e a extensão. Do jeito que estavam, foi mais fácil para o esposo se levantar com ela no colo, colocando a deitada no sofá, retirando lentamente a calça que Angélica usava. Enquanto o marido era todo delicadeza, a esposa já se apressava, abrindo o zíper, arriando a calça e já colocando a mão dentro da cueca em busca do pênis do marido.

Ele se afasta em tom provocativo, enquanto a empresária o auxilia a retirar o resto da calça. Imediatamente Márcio ajeita a calcinha dela de modo que possa tomar o sexo de Angélica na boca, provocando novos espasmos e calafrios. A esposa força a cabeça do editor a ficar entre as suas pernas, enquanto tenta controlar os gemidos que se tornaram gritos quando a empresária tem o primeiro orgasmo.

Angélica deixa o sofá e coloca o marido sentado no lugar em que ela estava antes. Em seguida, começa a massagear o escrotal de Márcio que revira os olhos de prazer, urrando quando a esposa coloca o seu sexo na boca, fazendo movimentos de para cima e para baixo.

Ao perceber que o marido estava em seu limite, Angélica sobe no colo dele, deixando que o membro se alojasse inteiramente em sua vagina, continuando a fazer o mesmo movimento feito anteriormente com a boca. Em cinco minutos, ela estava se contorcendo em cima do membro do editor e lhe mordendo a boca, explodindo num gozo que foi seguido por Márcio e ambos atingiram o clímax juntos.

O editor achou que iriam dar uma pausa ou deixarem para continuar a noite, contudo, Angélica manteve os movimentos do jeito que estavam com Márcio reagindo positivamente os desejos da esposa. Ficaram mais uns dez minutos até que chegaram, juntos, novamente ao êxtase para a satisfação plena do casal.

Márcio e Angélica foram se banhar, desejando descansar pelo menos meia-hora e, assim que os convidados chegassem, os dois não estivessem com aquela feição de cansados por transarem antes do jantar. A empresária colocou o celular para despertá-los trinta minutos antes do horário marcado para o encontro de casais. O evento estava marcado para as sete e meia. A dupla desmaiou e ao acordar a chuva que caíra pela manhã voltara a castigar a cidade.

Antes mesmo de saírem da cama, o celular de Marzinho estava chamando. Léo queria saber o que poderia levar para o jantar. O irmão pensou e pediu para que ele comprasse carnes que seriam assadas numa churrasqueira elétrica que havia no apartamento ou mesmo na chapa. Para acompanhar, legumes e saladas. “- Ah! Pode trazer uns peixes, vinho branco, cerveja com álcool e com álcool. Aqui em casa tem uísque para você e o Roberto”, disse Márcio listando o que deveria ser adquirido.

Assim que o marido desligou, levou a maior bronca da esposa. “- Já não comeu carne vermelha o suficiente na hora do almoço? Hoje passa porque meu marido me comeu tão gostoso que abrirei uma exceção”, afirmou Angélica querendo manter o ar de contrariada. Para abrir espaço na sua garagem para os carros de Roberto e Leônidas, a empresária conversou com uma moradora que tinha uma vaga sobrando no estacionamento. Confirmado o empréstimo do espaço, a esposa do editor desceu e fez a manobra necessária, deixando as suas duas vagas para os dois visitantes.

O primeiro a chegar foi Roberto e Danisa. O diretor também levou algumas coisas e alimentos para comerem, enquanto o jantar ficasse pronto. As duas mulheres se enfiaram no quarto de Angélica e começaram a conversar. A empresária queria saber da gravidez e como ela ficou depois daquela confusão no restaurante no começo da tarde.

– Angélica fiquei apavorada, mas por outro lado, o que Márcio revelou a respeito do garçom me deixou ao mesmo tempo aliviada e envergonhada. Aliviada porque os dois nunca tiveram nada mesmo com a Fernanda. Eles a protegiam de caras safados e idiotas como o tal do Rafael. A vergonha foi por conta de que, em algum momento, cheguei a pensar que Roberto estivesse mentindo e sendo encoberto por Márcio.

– Eu fiquei tão aliviada. Se bem que aquele filho de uma puta queria matar minha mãe, mas ainda bem que o general dela chegou a tempo e resolveu a peleja toda e o ex-funcionário está preso. Acho que no fundo, ele queria era acertar as contas com Alexandre e com nossos maridos, mas apelou e tentou acertar minha mãe.

– E você e o Marzinho. Passou aquela ciumeira danada?

– Se eu te disser que passou, estarei mentindo, mas posso te afiançar que estou mais serena. Ainda não engoli a história da tal Alice querer publicar um livro contando uns lances dos dois nos tempos de adolescência, mas também não posso ficar como uma neurótica perseguindo fantasmas!

– Ele realmente é um ser singular e qualquer mulher, com juízo atinado, gostaria de estar em seu lugar. O amor que ele lhe tem é enorme e provou isso ontem, sem contar que te defendeu várias vezes contra aquele segurança que vivia fazendo armações para cima dele em parceria com aquela Márcia.

“- Pelo que você me disse, então tu não tens os pinos no lugar ou vai dar em cima do meu marido”, perguntou Angélica de forma bem sarcástica.

Rindo, Danisa lhe respondeu apresentando a barriga de quase quatro meses de gravidez. “- Olha aqui onde está toda a minha existência. Sou imensamente apaixonada por Roberto e gratíssima a tu e ao seu marido pela oportunidade em suas empresas, onde ele finalmente está colocando toda a capacidade em funcionamento. Agora com o percentual que ganhou no supermercado, está todo empolgado. Adoro o Marzinho, mas ele teria que ser dez mil vezes melhor do que meu esposo. Nossos santos não batem”.

– É eu sei! Soube da história que vocês se conheceram.

Danisa observa bem Angélica, afirmando que pelo que conhece do editor, ela não teria a paciência que a empresária tem com o marido. “- É metódico demais. Demora para acordar, chegando ao ponto de ficar horas vendo a mesma coisa. Ele morou com Roberto na universidade e, mesmo pintando oportunidade de ir para as baladas, sair com as garotas, o cara optava por ficar em casa lendo. Cruzes. Se eu tivesse um homem desses como marido, brigaria todos os dias”.

A anfitriã fitou a convidada, respondendo que foi justamente esse lado espartano dele que chamou a sua atenção. “- O mundo, o tempo, o relógio, parecem não existir na cabeça de Márcio, Danisa. Não sei se você me entende. É a pessoa para me desacelerar e sentir a vida e não atropelar tudo”.

– Por ser assim que Fernanda não se interessou por ele. Ela desejava andar de roda-gigante em alta velocidade e seu marido queria ficar no carrinho de tromba-tromba ou naqueles cisnes. Mas ontem vi que ele é todo brasa quando tentam atravessar o seu caminho. Se tu souberes levar esse lado dele, será imensamente feliz. É claro que é um homem desejável por muitas, mas tem uma armadura que ninguém sabe que existe.

– Eu te contei que quando fui buscá-lo lá no Pontal, não foi difícil achá-lo, justamente porque faz tudo igual. O pessoal o chamava de esquisitão. Teve um dia que brigamos e ele saiu do hotel me deixando sozinha, indo para a rodoviária. Quando cheguei lá, Márcio estava de pé, mas parecia que só o físico permanecia ali, a alma e a cabeça estava em outro lugar.

– Foi isso que Fernanda disse quando o conheceu. O cara, num barzinho onde todos conversavam com todos, desligado com a perna esticada lendo um livro como se não existisse ninguém ao seu redor.

As duas continuaram a conversar até que escutou a voz de Leônidas e Mariana que acabavam de sair do elevador. O irmão pediu ao editor para ajudá-lo com as compras, no que foi prontamente atendido, inclusive Roberto foi junto e Angélica já chamou a cunhada para continuarem a conversar na sala. Ofereceu-lhe algo para beber, mas a recém-chegada parecia estar com algo dentro de si que a incomodava.

Ao sentir as dificuldades, a empresária estimulou a cunhada a dizer, mas ela estava ressabiada por conta da presença de Danisa. “- Mariana, Danisa é das nossas e esposa do sócio de Leônidas, de modo que não precisa ter receios para falar. Além do mais, Judith tem em Roberto o seu quarto filho, afinal a família de Márcio passou a ser a dele também”.

– Sabe o que é: conversei com a sua mãe e Judith, explicando minha situação, desejando que, se fosse possível, você me desculpar por conta de minhas infantilidades por agredir o seu marido como venho fazendo.

“- O que está acontecendo Mariana”, lhe perguntou Angélica que desviou a atenção porque o marido e os dois homens chegavam com as compras. “- Venha, vamos conversar no quarto. Danisa, nos de uns minutinhos”, perguntou a anfitriã.

– Claro Angélica, acompanharei esses homens na cozinha. Se não fiscalizar jantaremos sola de sapato ensopada.

Ao ingressarem no quarto da empresária, Mariana descambou a chorar, sendo confortada pela cunhada. Passado o surto de lágrimas, a esposa de Leônidas tenta esboçar as primeiras palavras até que solta de uma vez: “- Estou com medo de que tu roubes meu lugar no coração de Judith! Ela é praticamente minha mãe. A minha biológica morreu e me deixou com meu pai e, quando completei 18 anos, me presenteou com a casa, dizendo que era a única coisa que podia me dar. No dia seguinte, deixou um bilhete dizendo que havia saído para procurar melhores condições para nós dois. Junto ao texto havia uma quantidade de dinheiro que me ajudaria a viver por dois meses.

Angélica escutava tudo em silêncio. “- Senti meu mundo desabar. Fiquei péssima por uma semana, bebia, gritava, xingava, mas nada disso ia adiantar, pois estaria me destruindo, além de ficar me vitimando. Na segunda-feira procurei trabalho e fui empregada num dos supermercados da família de Léo. Fiquei no meu mundo, não falava muito, minha vida era de casa para o trabalho. Num sábado à noite, quando terminou o expediente no supermercado, o mundo parecia que ia acabar em água”, explicou Mariana.

Prestando atenção na narrativa da cunhada, Angélica a estimula dar sequência, até mesmo para que ela se sentisse mais à vontade com todos. “-Léo se ofereceu para levar em casa. No começo fiquei meio ressabiada, não queria aproximação com os proprietários para além da relação empregados/patrões. Mas se eu não aceitasse ficaria ali um bom tempo”, narrou a esposa de Leônidas.

– Ele me deixou em casa e no trajeto conversamos muito sobre o trabalho e ele perguntou se eu estudava e o curso que fazia. Disse que não estava na faculdade por conta de algumas tragédias em minha vida e o que ganhava nas empresas deles era o suficiente para eu viver.

– Leônidas não te perguntou sobre as tragédias?

– Não! Nisso ele se parece um pouco com o irmão. Se você não falar, não ficam te perguntando. No domingo era minha folga e quando cheguei na segunda-feira, fui chamada ao escritório. Achei que seria demitida por ter aceito carona de um dos diretores. Você sabe né! Pássaro quando está cagado, o debaixo caga no de cima.

– Quando foi atender o chamado, na verdade, era um pedido de casamento?

Mariana cai na gargalhada. “Não”. O convite era para eu assumir um posto de chefia em outra loja deles na cidade. O funcionário tinha se aposentado, mas era necessário que eu voltasse para a faculdade. Achei aquilo estranho, mas topei a empreitada.

– Quanto tempo fazia que trabalhava com eles?

– Um ano! Fui tentar dar conta do que as funções exigiam e a partir daí tive mais contato com Leônidas e comecei a notar que me olhava diferente, mas ao mesmo tempo, achava que era impressão minha, porém toda vez que eu o flagrava, sentia o meu sangue queimar e quando ele se aproximava, eu gelava.

– A sensação era de nudez total!

– Como sabe Angélica? Ele já te olhou assim?

– Não! O irmão dele fez isso comigo e até hoje não consigo mais ficar vestida quando estou com Marzinho. É como se quem estivesse ali não era o meu físico, mas minha alma. É algo doido, mas que me fez atravessar o estado para trazê-lo de volta. Se eu ficar sem ele, podem me internar.

– Minha sogra te chama de dinamite dos olhos esverdeados.

– Bom! Depois do que o Marzinho fez ontem, se eu sou dinamite, ele é uma bomba atômica. O ciúme dele provocou a demissão de três diretores, enquanto o meu só causou a demissão de Fernanda.

As duas deram risadas e Mariana disse que num domingo, quando ela saia do trabalho, Leônidas a convidou para almoçar na casa dele. “- Olha a desculpa dele: ‘comer sozinho deve ser chato para caramba. Eu falei de ti para a minha mãe e ela não quer que você almoce os domingos sem ter companhia. Então venha conosco, meu pai está nos esperando’”.

– Tentei recusar, mas aqueles olhos me deixavam sem chão e eu não sabia se estava com calor ou com frio. Então pensei que não custava nada, até porque iria passar uma tarde na solidão em casa e para variar dormindo. Quando cheguei lá fui abraçada por Judith e aí não consegui sair mais da vida deles e hoje estou aqui casada com um homem espetacular e esperando um filho dele.

– Então por que a bronca com meu marido?

– A bronca era contigo, mas na minha cabeça eu não conseguiria te alcançar, então tinha que te atingir de alguma forma e o caminho mais perto era tentar humilhar o seu marido, mas ele parece ser intocável. Nada o derruba, exceto se mexerem contigo ou com aquela desmiolada da Fernanda. Ele vira uma locomotiva desgovernada.

– Você acha que ele tem alguma queda pela Fernanda?

– Não! Eles se cuidavam. Era como se os homens que ela arrumasse tinha que ser aprovado por ele, e as mulheres com quem ele saia precisava passar pelo crivo dela. Coisas de amigos e sei que é assim até hoje e o que aconteceu no restaurante foi prova disso.

– Me explique por que me atacar? Eu cheguei a pensar que tu tinhas uma paixonite recolhida pelo meu marido.

– Medo de que Judith preferisse você a mim e me abandonasse. Ficava sem chão toda vez que ela te elogiava. Cheguei a achar que era por conta do teu dinheiro, mas fui vendo que não, porém não sabia definir aqui dentro o que estava acontecendo comigo. Até que ela e sua mãe me fizeram ver o obvio: ciúmes.

Angélica deu uma gargalhada e em seguida explicou: “-Desse veneno aí eu conheço bem. Fiquei durante muito tempo do mesmo jeito que você. Brigava horrores com Fernanda, achando que Judith preferisse ela à minha pessoa. Um dia aqui em casa eu e ele tivemos uma discussão feroz por conta disso. Quando eu disse isso a Judith o motivo ela caiu na gargalhada, me dizendo que eu deveria ter perguntado a ela”.

– Olha só como fomos bobas, com medo de perder a mesma pessoa fantástica em nossa vida.

– Judith adora Fernanda, mas não gostaria de ver o filho casado com ela. Segundo a nossa sogra, ela é muito desmiolada.

As duas se entreolharam e Angélica propôs, as três fazerem um programa na terça-feira à tarde. “- Eu, você e Danisa. Terei terapia, mas assim que terminar, passo na casa dela e te pego lá no supermercado. Depois a deixamos com o marido e tu vem para cá. Você e Leônidas dormirão no quarto de hóspedes e aí poderemos conversar até mais tarde”.

Antes que Mariana dissesse alguma coisa, a empresária já foi dizendo que estava tudo certo e foi pegando a cunhada pela mão, saindo do quarto. “- Achei que essa conferência não acabava mais”, cobrou Márcio.

– Estava aqui conversando com a minha cunhada, acertando os detalhes do nosso programa amanhã no final da tarde. Eu, ela e Danisa e não adianta nenhum dos senhores fazerem objeção: já combinamos e os três que se virem com comida e o diabo a quatro. Já que terão muito trabalho com esse supermercado e a editora, nós três aqui vamos dar uns giros por aí.

As três ficaram na sala falando sobre amenidades e o assunto acabou enveredando pelo universo da moda. Mariana e Danisa quis saber como Angélica escolhia suas roupas e ficaram surpresas quando foram informadas que a empresa estava refazendo tudo e muitos dos modelos que usava antes de conhecer Márcio iriam para o bazar da pechincha.

“- Por quê”, perguntou Mariana.

– Para evitar o que aconteceu ontem. Márcio não é adepto de muitas transparências, lingeries marcando o corpo, se bem que eu nunca gostei também. Não aprova muitos decotes. Já travamos brigas homéricas por conta disso. Mas eu o entendo. Ele mudou muito o seu jeito de vestir para se adaptar ao meu gosto, inclusive quando voltou comigo do Pontal foi deixando as roupas pelo caminho, então, entendo que também posso fazer isso, mas sempre vou apresentar os códigos de barra.

Como Mariana e Danisa se entreolharam, a anfitriã se antecipou dizendo que não havia problema alguma em modificar completamente o guarda-roupas, até porque ela estava vivendo um outro momento em sua existência que não condizia mais com a Angélica que havia nela antes de Márcio aparecer.

“- Você ama mesmo o Marzinho”, perguntou Danisa.

– Não é segredo para ninguém que eu largaria tudo para ficar com esse homem que, ontem, não pensou duas vezes em me defender. Sem contar que já havia socado o médico que o consultava, mas ficava me jogando charme.

Mariana não acreditou no que Angélica lhe contava, mas diante do que o cunhado havia feito no domingo na mansão, entendeu que Márcio era mais ciumento do que ela. O editor observa muito e depois encerra a conversa de forma direta, sem muita diz-que-me-disse.

“- Cunhada! Foi como o general disse: Márcio é ninja, tem olhos nas costas e é pontual na defesa, até parece uma cobra que só dá o bote quando tem certeza de que acertará o alvo”, afirmou Mariana.

Assim que a esposa de Leônidas termina de falar, Márcio aparece na sala para informar às mulheres que o jantar estava pronto. Todos ajustados em seus devidos lugares próximo de seus respectivos cônjuges, o tema foi logicamente as ações do domingo e do ocorrido no restaurante na hora do almoço.

“- Agora com calma, Marzinho, me conta como foi esse negócio do diretor dar em cima da sua mulher e você partir a cara dele na porrada”, perguntou Léo. O anfitrião tentou desconversar, mudar de assunto pois aquele já está enchendo o saco, contudo foi forçado a falar, pois todos queriam saber e Angélica vibrava com aquilo. Só de lembrar do marido entrando na piscina e encostando Tales no canto e, com a mão no pescoço dele, dizendo que se tentasse relar a mão em sua esposa, a coisa ia ser diferente.

– É muito simples, meu caro Léo. Jamais vou atravessar com quem quer que seja. Tu nunca me verás olhando diferente para a tua esposa, assim como Roberto tem essa certeza disso. Se sou assim, exigirei o mesmo dos outros homens para com a minha esposa. Todos nós nos observamos e isso é natural, até que meio automático, mas daí já chegar colocando a mão, apresentar conduta inadequada ou tentar me desqualificar para chamar atenção de Angélica ou das mulheres que estiverem comigo, a coisa muda de figura.

– Como é que é? Mulheres? Pensei que seria sempre no singular. Que história é essa de mulheres? Quer me explicar meu marido, do contrário, nem pensem deitar na cama comigo hoje, pois corre o sério risco de amanhecer com a língua de fora.

Diante da cobrança de Angélica, todos caírem na gargalhada, até porque sabiam que ela era assim mesmo. Se sentisse cheiro de outra mulher no marido, podia ter certeza que o pau quebraria. Aliás, os dois eram assim, mas Márcio era mais cirúrgico, como disse o general.

– Olha só! Aqui nessa mesa há três mulheres. Tem a sua secretária, Fernanda, Tarsila, minha mãe, Eleanora, enfim, todas elas fazem parte de minha existência. Então imagina se alguém começa a fazer graça com Mariana e eu esteja perto. Confusão na certa.

– Agora eu entendi, porquê eu que te pego olhando para as outras, aí a coisa ficará complicada.

Enquanto o jantar acontecia de forma serena no apartamento de Angélica, na residência dos pais de Ricardo e Débora a situação era semelhante. Todos receberam Judith como se, além da mãe de Esdras, fosse também de Fernanda. Afinal a moça era amicíssima de Márcio, chegando ao ponto de se for obrigada a escolher entre o filho de Romualdo e Adélia, ela ficaria com a amizade que conservava há cinco anos com o editor.

Foi Adélia quem fez as vezes da casa, deixando Judith a vontade. “- Desculpe-nos pela simplicidade de nossa moradia. Não é como a mansão de Eleanora e garanto que também não chega aos pés da sua, mas espero que se sinta à vontade”.

“- O que uma casa precisa para acolher as pessoas é harmonia com os anfitriões nos recebendo de coração aberto. Aposto que em breve vocês nos visitarão em nosso reduto. Eu e Rogério já viemos muito para cá. Agora queremos recebê-los em nossa residência”, disse a mãe de Esdras que completou dizendo que haveria tempo para tudo.

Para poupar trabalho para as mulheres, Romualdo e Ricardo organizaram um churrasco e Esdras foi chamado para formar a trinca dos homens, enquanto Débora, Fernanda conversavam com as duas senhoras. Queriam aprender muito sobre a vida com elas.

Foi Fernanda quem começou a falar, de maneira atropelada, porque nunca recebera tanto amor e atenção como vinha tendo nos últimos tempos. “- Calma, minha filha. Haverá tempo para tudo. Meu filho me disse algumas coisas sobre você e sua amizade com ele, mas quero saber como anda esse coração por aquele rapaz ali”, disse Judith indicando para Ricardo.

– Ciumento para caralho, mas creio que uma semana na geladeira o deixou mais calmo e também depois que viu a surra que Marzinho deu no Tales porque ousou passar a mão em Angélica, entendeu que entre eu e o seu filho existe uma grande amizade. Compreendeu porque eu quase destronquei o pescoço da galega dele quando foi parar na UTI.

Todas ficaram em silêncio, pois sabiam que uma das virtudes de Fernanda era a franqueza adquirida na labuta diária, lutando para sobreviver em ambientes dominados por titãs do egoísmo, da hipocrisia, da ganância e da vaidade. E se apegou ao amigo justamente por ele ser diferente e jamais a deixaria cair. “-Confesso que fiquei com medo do casamento do seu filho e cheguei a torcer para que não desce certo. Sentia que Angélica me tirava ele, mas Roberto e Danisa me ajudaram a entender que estava errada. Márcio se casou com a mulher que ama e por quem é completamente aloprado. Sim. Para aguentar as loucuras dela, só amando muito. Quando o vi na UTI do hospital entrei em desespero e fiquei mais doida ainda quando ela apareceu e ele foi embora com ela. Eu queria cuidar dele até que ficasse bom, pois sabia que faria o mesmo comigo. Mas por outro lado, ali percebi que gostaria de ser amado por um homem da mesma forma que Marzinho ama aquela dinamite dos olhos esverdeados.

Quando Ricardo se aproximou da noiva, Adélia o expulsou. “-Aqui não tem anda para ti. Se ocupe de cuidar do jantar para a sua noiva. Quando o assunto for de seu interesse eu te chamo”. Ao ouvir isso, Romualdo e Esdras caíram na risada. “- Toma! Tu achas que sua noiva vai sair voando com uma vassoura. Ali é cadeado blindado. Quando se casarem, ela será totalmente devota ao Marzinho”, disse Romualdo rindo de sair lágrimas dos olhos.

– Porra pai! Agora que está passando a neura, o senhor tem que me lembrar que esse sujeito existe.

– Meu filho! Relaxe! Você só levará uns sopapos do Marzinho se não fizer Fernanda feliz. Então reze e faça tudo certo para ela não chegar na casa dele ou nas empresas, falando que você é isso e aquilo, pois a noite com certeza sua cara vai apanhar mais do que tamborim em desfile de escola de samba.

Esdras ouviu tudo e deu risadas. “- Cunhado. Meu irmão é mais general do que o namorado de Eleanora, mas é de boa. Mesmo sabendo que, às vezes, tu estando com ele, é como se andasse no fio da navalha”.

Ricardo ouviu e ficou pensando na cena do editor em cima do Tales, esmurrando a cara do diretor e Eleanora pedindo socorro. “- Rick não tente ser como ele. Tenho certeza de que não vais gostar. Somente a doida da Angélica para amar aquele jeito espartano que ele tem. Aquela doida ameaçou ficar pelada num terminal rodoviário lá no Pontal, caso ele não voltasse com ela”.

Ao saber da informação, o namorado de Fernanda ficou imaginando a cena e começou a rir. “- Do jeito que ele é todo enciumado até com as roupas que ela usa, imagina que ela tiraria uma peça no meio do povão”, disse rindo Ricardo.

– Então meu filho! Ame essa mulher e esqueça as suas paranoias com irmão do seu cunhado aqui. Sei que Esdras será um bom genro. Primeiro, porque se pisar na bola com a Deb, enfrentará um batalhão, começando pela mãe dele, depois o pai, Marzinho, enfim.

– Eu sei disso Romualdo, mas até onde compreendo, não tenho motivos algum para roer a corda. Fiquei observando todo o trabalho que Rogério fez para que eu pudesse estar com a sua filha. Entendo perfeitamente que entre eu e o trabalho dela, se eu não estiver correspondendo, serei dispensado.

Adélica pergunta se já tinha alguma coisa para comer. “- Vocês ficam aí só se encharcado de cervejas e estão esquecendo de nós aqui. O estomago já pede comida”.

Não demorou cinco minutos e a primeira rodada de carnes, linguiça, frangos e queijos foi servida por Ricardo que, ao fazer menção de servir primeiro Fernanda, recebeu uma dura de Judith. “- O que é isso menino? Primeiro as pessoas mais velhas. Você terá a vida toda para servir a sua futura esposa. Me dê aqui uns pedaços, meu estômago começa a paquerar os outros órgãos que estão próximos a ele”.

Débora perguntou a Rick e a Fê quando estavam pensando em sair do quase sim para o sim definitivo. “- Bom! Primeiro, temos que esperar a inauguração da sede da editora. Marzinho prometeu me deixar morar no apartamento dele, mas como ainda o usa como escritório da firma, é melhor aguardar”.

– Como é que é? O “seu” Marzinho vai te deixar morar lá de graça? Nem pensar. Ele está pensando o quê?

– Vou morar lá e pronto! Se quiser vir comigo, ótimo. Se não quiser, pode ficar aí com o seu orgulho de macho bichado. Está para nascer o homem que mandará em mim. O máximo que tolero é andar do meu lado, mas jamais achar que vou correr atrás dele.

Adélia observa o filho e com o olhar lhe disse que é melhor saber levar a coisa, do contrário, baterá de frente com a esposa sempre. “- Enquanto não pagamos aluguel, podemos pensar em construir a nossa casa. Sua irmã pode fazer o projeto para nós. Com o meu salário e o seu, podemos construir tudo junto”.

– Preciso arrumar mais um emprego. O que ganho não dá.

– Não dá ou está com vergonha por que eu ganho mais do que ti? Se for isso pode falar, e aí esquece. Comigo não tem essa porra de macho mandar, ganhar mais do que a esposa. Olha o Marzinho! Se ele ficasse com essa frescura como tu, não tinha casamento. Angélica tem mais dinheiro do que ele e ainda assim se recusa a trabalhar com ela e quer construir tudo com a esposa, mesmo sabendo do patrimônio dela”.

Foi Débora quem jogou a pá de cal em cima dos preconceitos do irmão. “- Tu podias ir dormir sem essa, mas ainda fica pensando como aqueles calhordas dos seus amigos. Quer casar com a minha amiga aqui, deixe de querer que ela se ajuste a ti e busque uma forma de harmonizar seus interesses”.

– Oh pai! Vem me socorrer aqui são quatro contra um.

– Eu não! Não mandei você ter ideia de velhos. Tua noiva já está lá na frente e tu carregando coisas do século XIX.

Fernanda levanta e dá um abraço no sogro. “- Teu pai tem mais modernidade dentro da cabeça do que tu dentro do saco. Acorda moleque. Quero me casar contigo porque te amo e não para que seja o meu pai, meu dono, querendo me guiar”.

Fernanda volta à mesa e Ricardo volta para perto da churrasqueira sendo vaiado pelo cunhado. “- Brinca com ela, Ricardo. Acho que você precisa ir se acostumando com a ideia de que ela não precisa de ti para nada, nem mesmo na cama”, explicou Esdras.

“- Como é isso”, perguntou Romualdo.

– Romualdo! Fernanda é independente e jamais aceitará ser subjugada e sustentada por aquém quer que seja. O que ela busca em Ricardo é outra coisa e ele precisa entender isso. A noiva tem 30 anos, é bela, tem presença, está com tudo em cima. Pode ter o homem que quiser, mas não é isso que ela deseja. Angélica é doida pelo meu irmão por isso. Marzinho jamais deixará ela cair. Minha cunhada sabe que se olhar para qualquer um dos lados da vida, meu irmão estará lá. No espiritismo, o pessoal fala que existe um cordão de prata que liga o corpo a alma e Márcio e Angélica estão ligados por esse fio invisível chamado amor.

Percebendo que Ricardo prestava atenção, Esdras completou: “- O homem não precisa impor nada à mulher que é especial em sua vida.  Olha meu pai e minha mãe. Quem você acha que manda? Ele ou ela? Os dois têm voz ativa, mas se o assunto diz respeito aos filhos, o velho só entra quando é necessário. Na sexta-feira à noite, ele deu uma dura na Angélica e no Marzinho que brigavam dentro dum quarto de motel”.

Esdras continua explicando ao cunhado. “- Observe o que Fernanda aprecia em ti e veja se os seus defeitos são maiores do que as qualidades. Ela não fará parte do seu ciclo de amizades, não porque seja superior, mas porque é diferente. Fernanda quer coisas diferentes: boa conversa, bom papo e uma pessoa que fiquei com ela na chuva. Afinal ela perdeu os seus dois guardiães. Pode ser meio louco, mas creio que tu terás que ser uma mistura de Roberto e Marzinho”.

– Como assim?

– Marzinho é chato para caralho e muito certinho, mas completamente fora de órbita. Vive no mundo da lua. Olha o dinheiro que a mulher dele tem e ainda assim, o cara não dá a mínima. Não serve para ser o macho de sua noiva, mas é o cara que segura a onda dela. Roberto é completamente o oposto do meu irmão. Centrado, tem ambição, mas sabe que não pode tudo, ainda mais tendo Márcio por perto. Se tiver cabeça, irá longe nas empresas, além de se tornar sócio do meu pai.

Todos observaram Esdras quando este disse a Ricardo. “- Então meu amigo, ao invés de bater de frente com ela, propõe um projeto de vida juntos. Se o Marzinho ofereceu o apartamento, more lá e faça como ela te falou: projetem uma casa para vocês e uma vida juntos e pare de ficar de guerrinha boba com o meu irmão e com Roberto. Perderá sempre. Eles estavam aqui com ela quando a conheceu.

Enquanto o namorado de Debora conversava com o futuro cunhado, mais uma rodada de carne saiu e as mulheres ficaram felizes e, Fernanda observando o noivo longe, foi ver o que estava acontecendo. “- O que foi meu preto”, perguntou a noiva. “- Não foi nada. É que fico tentando achar um jeito de te fazer feliz, mas parece que sempre estou chegando atrasado”.

– Não tente substituir o Marzinho em meu coração. Nem ele e nem Roberto. Eu os amo, porém não como homens, mas condição de pessoas que me deram todo o suporto emocional que precisei nos últimos cinco anos. Você viu isso no shopping na hora do almoço. Pare de se preocupar com eles e gaste toda a energia me amando do jeito que eu gosto, preciso e mereço.

– E como é isso?

– Está vendo só! Enquanto ficou criando fantasmas relacionados ao Marzinho e ao Roberto, se esqueceu de perceber o que eu quero, preciso e desejo ter contigo. Amor. Não quero e não preciso ser apresentada para ninguém. As pessoas que eu amo estão comigo: você, Roberto, Márcio, Judith, Eleanora, Angélica, Danisa e seu pai. Para que eu preciso de mais? Não irei para cama com seus amigos e sim com o homem que eu adoro. Quero uma rotina contigo, como essa de hoje. Estou imensamente feliz. Na falta de uma, ganhei duas mães: a minha sogra e Judith.

Ao dizer isso, Fernanda abraça o noivo, o beijando despudoramente até ser chamada atenção pelos outros participantes do churrasco. Ao invés de voltar com as mulheres, ficou ali com o noivo, conversando e prestando atenção no jeito que ele fazia o churrasco, enquanto Esdras conversava com Débora, Judith com Adélia e Romualdo.

Na mansão, o general bem que tentou ir embora, mas Eleanora começou a chantageá-lo, dizendo que não havia passado o susto com o ocorrido na hora do almoço, estando com medo de dormir sozinha. Alexandre disse que iria em sua casa e voltaria em seguida, precisava pegar umas coisas.

Ele atrasou dez minutos do combinado e quando entrou na casa, a namorada estava toda ansiosa, dizendo que achava que o seu Alê não voltaria, que a tinha enganado e que não queria mais saber dela. Ao ouvir isso, o general começou a rir e a dona da mansão quis saber o motivo.

– Acho que sei de onde sua filha tirou a mania de chantagear o pobre do Márcio.

Eleanora olha e cai na gargalhada, dizendo que o fruto não cai longe do pé, abraçando o namorado, sentando em seguida com ele no sofá e logo depois no colo dele. A mãe de Angélica logo sentiu o volume no meio das pernas de Alexandre, perguntando o que era aquilo que acabara de acordar. “- Eu chamo isso de efeito Eleanora”.

Ela tentava avançar o sinal, mas é contida pelo militar. “- Ainda precisamos jantar. Estou faminto, amor”, disse Alexandre que obteve uma resposta bem sacana: “- Achei que tinha fome de outra coisa”.

– Também, mas esta pode ser saciada durante a noite, mas a que eu tenho agora pode impedir minha concentração.

– Então vamos providenciar o jantar, mas hoje tu não me escapas, homem de deus.

Numa outra parte da mansão, Tarsila e Amadeu conversavam serenamente. Já haviam jantado e o assunto era o primeiro dia de trabalho do poeta nas empresas. “- Tarsila, saberei de tudo conforme combinei com Roberto. Ele preparou todo um material para eu me inteirar da situação e os setores que comandarei e os que ficarão à disposição de minha irmã. Faremos todas as segundas-feiras reuniões como as de hoje”.

– E os diretores que foram dispensados? Quem ficará responsável pelas áreas deles?

– Roberto me disse que amanhã conversaremos com aqueles que gerenciam os setores e trabalharão nos respectivos setores. Se derem conta, serão efetivados, senão, voltarão aos seus postos anteriores.

– Então precisamos dormir cedo amor. Não quero que tu chegues cansado no seu primeiro dia de trabalho. Vamos para a cama e enquanto o sono não chega declararemos uns versos um para o outro.

Amadeu topou, mas bastou sentir a bunda de Tarsila em seu pênis que ficou todo ouriçado, acontecendo o mesmo com a tradutora que apagou a luz central, acendendo os abajures. O casal só conseguiu dormir depois de chegarem umas cinco vezes ao êxtase. Entre um verso e outro, os dois dormiram um nos braços do outro.

Eleanora e o general terminaram de se alimentar, sentaram na sala e ficaram conversando sobre tudo e nada, mas ao mesmo tempo, ela tentava lhe sondar a alma, pois o sentia ainda reservado. “Realmente, ele se parece com o marido de Angélica. Nunca sabemos como chegar. É preciso tato”, pensou a namorada de Alexandre que, ao senti-lo tenso, disse que tomaria e depois o esperaria no quarto.

Ao se levantar, ela foi puxada pelo militar que a segurou no colo, a beijando e dizendo: “- Não tenha medo. Não te deixarei cair nunca. Pelo menos se me deixar seguir contigo, começando por esse banho”. Com esse pedido, os olhos dela brilharam, pois não espera tal convite. “- Então vamos, homem de deus”, exclamou Eleanora já afoita para o que a noite lhe prometia.

Ela entrou primeiro no banheiro. Seria a primeira vez que ficaria nua na frente de um homem, desde que o marido faleceu. Alexandre entendeu toda a ansiedade dela e aguardou ser chamado. “- Pode vir amor”. A timidez era dos dois, mas Alexandre sabia que teria que tomar a iniciativa, caso desejasse ter uma noite de amor com aquela mulher que o encantava tanto.

Quanto ele entra no boxe, já abraçando a namorada pelas costas, ela sentiu o falo ereto do militar. Eleanora bem que tentou segurar, mas não conseguiu, respirando de forma ofegante, vira se para Alexandre e ao mesmo tempo em que observa o membro duro. Ao acariciá-lo, a namorada estremeceu toda, lhe voltando as costas, sentido o pênis ereto ser esfregado em suas nádegas. O casal ficou naquele jogo até terminarem o banho.

Ela deixou o chuveiro primeiro, cobrindo o corpo com um roupão, enquanto o militar ficou mais um tempo, saindo logo em seguida. Ao chegar no quarto, viu que a iluminação estava reduzida com um cheiro de jasmim. Ao se sentar na cama, já sentiu a namorada subindo em seu colo, o beijando, mordicando suas orelhas e buscando com uma das mãos o seu membro do. Ao senti-lo todo dentro dela, Eleanora começa a arfar e, ao mesmo tempo, chorar e rir, pedindo mais dele dentro dela.

Para surpresa dela, Alexandre fica em pé, mantendo o falo dentro da namorada, e a deitando na cama para lhe dar mais prazer. Ora ele estava por cima, para no momento seguinte, Eleanora mudar de posição, comandando o jogo sexual que durou por cerca de vinte minutos quando os dois sincronicamente atingiram o clímax.

O casal se deixou ficar ali até que a temperatura voltasse ao normal. Alexandre se levantou, indo ao banheiro para se higienizar e logo estava de volta pronto para dormir, enquanto ela foi em seguida. De onde o general estava observou ela caminhar nua para o chuveiro. Tirando algumas celulites, a namorada estava belíssima. “- E quem liga para algumas celulites quando o coração está em festa e em paz ao mesmo tempo”, pensou o militar apresentando um leve sorriso nos lábios.

Assim que chegou ao quarto, a empresária notou esse leve sorriso e quis saber o motivo, mas diante do silêncio do general, perguntou e não obtendo resposta sentenciou: “- Não gostou do meu corpo? Bem como do que fizemos”.

– Por que tem sempre que pensar em algo negativo? Acabei de fazer amor contigo. Achei excelente, mas tem algo a mais aí. Transei com uma mulher singular que está comigo não pelas minhas estrelas, mas pela pessoa que sou. É como se, quando ela gozou junto comigo, tivesse tocado minha alma. Isso é maravilhoso. Espero não estar errado.

– Homem de deus! Tu és poético, e fala justamente aquilo que também senti. Sei que não deveria, mas quando você me penetrou foi como seu eu estivesse experimentando pela primeira vez a relação sexual. Não sei se porque com Jô sempre tentei conquistá-lo, chegar à sua alma e nunca consegui. Por isso caíram lágrimas. Me desculpe amor.

– Querida! Já lhe disse várias vezes e volto a repetir: não tenho nenhum interesse em substituir Jô dentro do seu coração. Se ainda tiver um lugarzinho aí para o meu coração, ficarei imensamente feliz. Você teve uma vida e dois filhos com ele. Eu estou chegando agora. Nos conhecemos a poucos meses e aconteceu de tudo nesse tempo e hoje que ficamos mais íntimos um com o outro, então não precisamos apressar nada.

– Está certo, meu bem. Agora vamos dormir. O dia foi longo, mas a noite compensou toda a correria. Obrigado por gostar de mim como sou. O casal dormiu ao som da chuva que desabava por boa parte da cidade.

Na residência de Romualdo e Adélia, em virtude da chuva, não deixaram Esdras e Judith saírem da casa. Ela dormiu no quarto com Débora e Fernanda. Esdras com o irmão dela.

No apartamento de Angélica, quando a chuva começou a cair, Roberto e Danisa deixaram o prédio. O casal desejava dormir em casa. Desde que engravidará, a esposa não conseguia ficar à vontade em lugar algum quando fosse dormir. Quando visitou os pais foi a mesma coisa. Ela dizia que a casa não era mais dela. O seu canto era aquele que foi preparado com tanto carinho pelos amigos do marido.

Leônidas até que tentou voltar para a mansão, mas não teve jeito. Foi convencido pelo irmão a ficar, já que o temporal havia aumentado. “- Te empresto um pijama e Angélica arruma alguma camisola para Mariana”, afirmou Márcio.

Olhando para o relógio e vendo que os ponteiros se aproximavam das onze e meia, disse ao irmão que a mulher precisava tomar banho para descansar. A empresária foi com ela até o quarto de hóspedes, indicando o banheiro e em seguida levou uma toalha e camisola e roupa íntima para a cunhada. “- Tome! Nunca usei esse lingerie. Fique com ele”, disse a anfitriã.

Mariana olhou as peças e pode ver que eram de marcas caríssimas. “- Por que está fazendo isso. Deve custar muito”, exclamou a cunhada. “- Não vejo pelo preço, mas pela funcionalidade. Não marcam a minha pele e com o marido ciumento que tenho, caem bem no meu corpo e acho que ficará lindo no seu”, explicou Angélica saindo do quarto para que a hóspede ficasse à vontade.

Na cozinha, Leônidas e Márcio conversavam sobre os próximos passos no supermercado. Lógico que o irmão fez um convite para o editor se juntarem a eles no empreendimento que foi logo recusado. “- Não entendo nada dessa joça e ela foi adquirida para dar um chão para o Esdras. Minha cabeça está na editora que devo lançar dentro de no máximo vinte dias”.

– Está certo, Marzinho. Nós achamos um terreno bem perto do atual prédio e quem sabe não conseguiremos dentro de um ano comprá-lo e dar início às obras. Débora se prontificou a montar um projeto para a nova loja.

“- Depois vamos ver esse espaço, Léo”, disse Angélica. “- Quem sabe não o adquirimos e o valor tu inclui no passivo do supermercado em nome do Márcio e quanto as coisas começaram a fluir e os lucros diminuírem o tamanho passivo, vocês começam a devolver para nós. Façamos isso em forma de investimento que só queremos vê-lo de volta quando a loja for inaugurada e se sustentar sem recursos da matriz”.

Assim que Angélica termina de dizer, Leônidas escuta a esposa lhe chamar no quarto de hóspedes. “- Boa noite Marzinho. Amanhã falaremos mais sobre isso e quem sabe eu não volto já com o terreno comprado e dou essa notícia para Rogério. Boa Angélica”.

A chuva parecia não dar trégua e o casal anfitrião ficou mais uma meia hora na cozinha abraçados e repassado tudo o que tinha acontecido naquele dia. “- Que segunda-feira longa e louca”, disse Márcio aspirando o ar como quem queria limpar os pulmões.

– Então vamos nos higienizar e dormir. Fizemos muitos exercícios hoje e os nossos corpos pedem cama, além do meu que deseja a proteção do meu marido aqui.

Os ponteiros do relógio apontam quase duas horas quando o casal finalmente, depois de se amar novamente, se desligar sendo iluminado por luzes fraquinhas que vinham dos dois abajures.

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