Sobras de um amor … parte II

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Organizado o jantar com as duas matriarcas, o casal foi almoçar no shopping e no mesmo restaurante que marcou vários acontecimentos na vida dos dois, principalmente a primeira briga que ninguém esquece. Sentaram-se o garçom chegou para atendê-los. Desta vez Márcio agiu mais rápido do que a arquiteta: “- Quero cerveja sem álcool e picanha na pedra bem gordinha. Estou com enormes saudades da comida brasileira feita em nosso país”.

– Pois não! E para a senhora dona Angélica o que vai ser?

– Primeiro, cancela o que esse meu amigo aqui pediu. Os médicos recomendaram nada de gordura, então se a picanha for magrinha pode ser. E antes da cerveja, pode lhe trazer água de coco.

Márcio olhou para a futura esposa, percebendo que seria osso duro de roer a vida com ela, mas não abriria mão de nada. O desejo de ficar o resto da eternidade com Angélica o ajudaria a pular obstáculo. “-Tudo bem. A carne pode ser magra, mas não abro mão de minha cerveja sem álcool. Sei que vocês têm uma alemã ai muito boa”.

– E o que vai ser dona Angélica?

– Quero peixe grelhado, com salada e muito legume. Para beber, um vinho branco.

– Sim senhora!

Quando o atendente saiu, a arquiteta foi enfática: “-Não vou deixar meu marido abusar de nada. Só tem uma coisa que quero que ele seja bem abusado: nas massagens, na minha felicidade e me fazer girar junto com o ventilador. Essa última parte ainda estamos montando o equipamento, mas chegaremos lá, meu Marzinho, meu Marzão, minha paixão”, finalizou Angélica.

Márcio se limitou apenas a lhe pegar a mão, a olhando e para os seus dedos. “- O que foi amor”, o interpela Angélica. “- Estou aqui pensando, controlando a minha ansiedade para ver neste dedo uma aliança com o meu nome e neste outro aqui outra com o seu nome”.

– Você quererá um cerimonial para isso?

– Não! A pegaremos na joalheria e faremos isso num apartamento com um casal de amigos e uma amiga.

– Não vem me dizer que quer a Fernanda participando disso?

– Sim! Ela é minha amiga e nos adoramos. Ela sabe que você é a minha existência. Vai brigar contigo se me fizer infeliz. Além do mais, Fê já se convidou e se souber que fizemos uma recepçãozinha na casa de Roberto e Danira, não vai nos perdoar, sobretudo, o seu futuro marido.

– Está bem! Mas se ela ficar com graça, já sabe. Enfio a mão na cara dela.

O futuro editor a fitou dando risadas, mas controlou a gargalhada. “- Onde está aquele sorriso que me alucina? Não vem de dizer que vai esconder para ofertar a outra”, intima a empresária.

– Falaram-me que tesão na hora da refeição não combina, então preciso controlar, não quero ficar viúvo antes de me tornar seu marido.

– É isso que tu queres né! Ficar viúvo e sair por atrás delas. A mulherada gosta de um viúvo novo, belo, gostoso e que tem um sorriso capaz de enlouquecer qualquer uma. Sem conta o olhar que desnuda a mulher sem lhe colocar as mãos.

– Sinceramente, não sei do que você está falando. Eu olho normalmente para todas elas.

– Eu que te pego olhando de outra forma para elas.

Assim que terminou de falar, o almoço foi servido. Enquanto ingeria sua refeição, Angélica prestava atenção em Márcio. Metade era amor, a outra metade era dividida em duas partes: uma para não desgrudar dos olhos dele e a outra o ciúme.

Terminaram o almoço e combinaram de dar uma passeada pelo shopping e desta vez de mãos dadas. Não tinham mais o que esconder de ninguém. Estavam juntos e isso era o que mais importava, contudo, sempre evitavam locais em que podia ser fotografados. Nunca se sabia quando apareceria um jornalista abelhudo. “- Meu neguinho sabe muito bem o que é isso. Foi mexendo no que não era da conta que acabou preso em minha Torre de amor”, disse a arquiteta rindo.

Ambos pararam na livraria. Angélica aproveitou para dizer ao futuro marido que precisava ir ao banheiro. Márcio ficou ali escolhendo uns livros para serem consumidos nas próximas semanas. Teria que ler muito e combinar com a empresária que o lançamento da editora precisaria ser significativo para indicar que não era mais uma no mercado.

Após escolher sete obras de escritores variados, entre os consagrados e os iniciantes, o jornalista deixou o local sem entender porque Angélica havia desaparecido. Se, por um lado, achou esquisito, por outro até gostou, pois poderia passear pelo shopping livremente e olhando móveis para colocar no seu apartamento-escritório.

A arquiteta lhe revelou que na segunda-feira pegaria todos os documentos da casa, fazendo a última vistoria no imóvel. À noite, durante o evento, entregaria a escritura para os dois, dizendo que eles tinham 48 horas para desocuparem o apartamento de Márcio, e na próxima segunda-feira, Roberto participaria da primeira reunião nas Organizações Oliveira.

Pensando nessas coisas e andando absorto fitando as vitrines, o jornalista viu a arquiteta dentro de uma loja de lingerie. Ficou um tempo observando os movimentos dela e depois viu quando ela passou para uma parte em que ficava o setor de objetos voltados para o universo sexual. Achou inconveniente ficar ali e estragar a surpresa que ela lhe faria.

Enquanto Angélica escolhia as surpresas, Márcio foi até a praça de alimentação. Sentou-se e pediu um suco de abacaxi com hortelã. Assim que a bebida chegou, também apareceu Fernanda. “-E ai sumido! Como andam as coisas? Você por aqui? Achei que ainda estaria na Alemanha? E a amada”, interroga Fernanda.

– Ciumenta do mesmo jeito, mas agora acho que mais serena. Chegamos da Alemanha nessa madrugada e hoje de manhã já fomos providenciar as alianças. Fê, estou muito feliz, mesmo sabendo que será uma barra. Ela é tinhosa, geniosa, quer tudo do jeito dela. Sente-se aí.

– Onde ela está? Desde o dia em que ela me jogou chope no rosto, fico meio ressabiada. Queria partir a cara dela quando você foi parar na UTI. O Roberto me segurou. E sua mãe? Ainda está por aqui?

– Sim! Está lá na mansão da família dela. Preciso proporcionar um encontro com Roberto. Dona Judith deve partir amanhã, mas logo estará de volta. Espero que retorne com meu pai e meus outros irmãos.

– Fique sossegado. A mãe de sua dona levou Judith lá no apartamento onde Roberto e Danisa estão morando até resolver o problema da casa deles.

– Fernanda. Segunda-feira à noite faremos uma surpresa para o casal. Vamos participá-los de nossa união, convidar o Roberto para ser diretor de comunicação das empresas, mas só se ele for meu braço-direito na editora. É o mínimo que posso fazer por eles. Agora estou pensando em ti, ainda não sei como posse lhe ajudar na concretização de seu sonho.

– Seja feliz e estará me ajudando de montão.

Assim que terminou de falar, Fernanda olhou e viu Angélica vindo em direção aos dois. “- Vixi maria! Fodeu”, exclamou a comerciária.

– Tua namorada, noiva, esposa, dona, sei lá o que, está vindo para cá. E não dá para eu levantar e sair porque já me viu.

– Fique de boa. Ela não fará nada. Você é minha amiga e pronto.

Angélica chegou, se sentou e já foi atacando. “- Não esperava vê-la aqui. Estava combinando com ele de irem ao motel?”

– Não! Se eu quisesse comer o Marzinho, já o teria em minha cama e dinheiro nenhum no mundo, nem esses olhos esverdeados, o tiraria de lá. Ele estava aqui me contando que já compraram as alianças. Estou muito feliz por saber que meu irmão-amigo vai ser feliz porque está com a mulher que virou a cueca dele do avesso, sem ele perceber.

Márcio olhou para as duas e ficou em silêncio. Foi a empresária quem quebrou o silêncio. “- Estava te procurando e não sabia para onde tinha ido. E o que vejo? Você com a Fê a tiracolo”.

O jornalista deu uma risadinha, dizendo: “- Então eu pedi esse suco porque me deixou na livraria dizendo que ia ao banheiro. Estava aqui convidando a minha amiga para ser minha secretária particular na editora, mas ela se recusou. Disse-me que não podia aceitar o trabalho, pois minha mulher tem um ciúme maior que a muralha da China e quer me ver feliz com ela”.

Angélica ficou desconcertada. “-Fernanda, me desculpe. É que sou doida por esse homem”.

– Estamos sabendo. Ele agora é blindado. Nenhuma mulher pode chegar perto. Dona Judith nos falou.

– Ué! Você conversou com a minha mãe?

– Sim! Almoçamos juntos. Eu, ela, a dona Eleanora, Roberto e Danisa. Angélica! Vai amar esse homem assim no inferno! Sinceramente o homem que eu encontrar quero que me ame como esse negão aqui te ama. Nenhum homem tomou um porre e quase morreu porque me amava.

– Amor! Vamos embora? Estou cansada. Ainda sentindo o impacto da viagem e a noite temos que jantar com nossas mães.

“- O que é isso que tem nessas sacolas”, pergunta Márcio.

– Nada que não lhe interessa. Eu não perguntei o que tem dentro das suas, por que fica curioso com as minhas?

– Fernanda, está indo embora? Quer uma carona?

– Estou sim, mas a sua esposa não vai me querer dentro do carro dela.

– Não tem problemas, pedimos um transporte para nós dois.

Angélica ficou vermelha, com cara de irada.

Saíram do shopping e Fernanda não parava de falar de Judith. Angélica não abriu a boca. Só ouvindo a conversa dos dois. Deixaram Fernanda em sua casa que, antes de descer, disse que tinha ido ao shopping comprar umas coisinhas para usar a noite com o novo namorado.

Quando chegaram no prédio, Angélica descambou a falar. “- Se ela falasse mais uma coisa de Judith, eu partiria a cara em dois. Está na cara que está forçando a barra para que tua mãe seja contra o nosso casamento, escolhendo ela para ser sua esposa. Eu não suporto essa Fernanda. Vê se fica longe dela. Eu não respondo pelas consequências”, esbravejou a arquiteta, saindo do carro e batendo a porta.

– A porta do carro tem culpa do seu ciúme bobo?

– E você vai tomar no seu cu. Se quiser ir embora, pode ir. Aproveita que estamos aqui embaixo.

Márcio não pensou duas vezes, saindo do prédio, mas não foi longe. Achou um lugar e se escondeu. Queria ver o tempo que duraria o chilique da arquiteta. “Impressionante. Ela fica sem chão. Morre de ciúme da Fê. E por mais que nós dizemos que não há nada, ainda assim vira uma locomotiva desgovernada”, pensou o jornalista que começou a se dirigir ao seu antigo apartamento. Seria bom conversar com Roberto e Danisa.

Quando já havia andado uns dez quarteirões, estando no meio da distância entre a Torre de Angélica e o que deveria ser seu apartamento, o telefone toca. Antes mesmo de dizer alô, já escutou a voz chorosa da empresária. “- Amor, onde você está? Me desculpe. Eu me descontrolo. Tenho um medo terrível de que Fernanda tire você de mim. Onde você está”, pergunta insistentemente Angélica.

– Estou bem longe de você e de seu ciúme doentio. Se eu quisesse ficar com Fernanda não teria ido a Alemanha contigo. Não teria feito tudo, além de ser humilhado por ti e seu dinheiro, para tirar o seu irmão daquele mundo de sandice. Já te falei mil vezes: não tenho nada com Fernanda. Ela não faz o meu tipo de mulher e nem eu o homem que ela sonha. Meu pau fica duro por você, mas acho não entende isso. Tchau.

Márcio desligou o telefone e ligou direto para Roberto que atendeu prontamente. “-Alô meu amigo. Ainda está na Alemanha?”

– Não Roberto! Cheguei de madrugada e estou indo ao seu/meu/nosso apartamento. Talvez tenha que dormir aí.

“- O que aconteceu”, lhe pergunta o amigo

– Assim que chegar te conto.

“- Mais uma das brigas com a ricaça”, sentencia Roberto.

– Aquela mulher é doida de pedra. Tem um ciúme mortal da Fernanda e acabou de me mandar embora. Tínhamos um jantar com minha mãe e a mãe dela hoje à noite, mas como?

– Venha para cá. Caso ela apareça antes, eu digo que não chegou ainda.

– Obrigado amigo. E Danisa? Como está?

– Está bem! Não falei nada que fui demitido. Disse apenas que estou em férias e as contas eu paguei com aquele dinheiro que você deixou na minha conta bancária.

Dez minutos depois que Roberto havia desligado o telefone, Angélica bate à porta do ex-chefe de Márcio. Já entra completamente amalucada. “-Roberto cadê o Márcio? Eu sei que ele está aqui”.

– Angélica! Por que não se senta e me conta o que aconteceu? Assim, nesse alvoroço todo não chegará a lugar algum.

– Eu e Márcio brigamos agora a pouco e pelos mesmos motivos de sempre. Eu morro de ciúmes de Fernanda.

– Então não é aqui que você deveria procura-lo e sim na casa da Fê. Acho que é lá que ele deve estar. Se não for lá, acho melhor buscá-lo num boteco, depois no necrotério. Sim! Porque se ele beber, é ataúde e ai, minha querida, a dona Judith não vai te perdoar nem na outra encarnação.

– Obrigado Roberto. Vou lá! Se eu encontrar com os dois. Pode chamar a polícia. Alguém vai morrer, começando pela Fernanda.

Ao sair do prédio, Angélica está espumando de raiva. Roberto liga para Fernanda e explica o que está acontecendo. “- Enrola ela aí, até o Márcio chegar aqui e eu conversar com ele. Você sabe como engambelar a ricaça”.

– Porra meu! Você e o Márcio só me metem em rolo. Dar seus paus para eu gozar nenhum dos dois querem, mas, para segurar o rojão dessas mulheres doidas que vocês arrumam, eu sirvo. Só vou fazer isso porque amo aquele negão e sei que a loira é pirada. Se ficar sem o sabugo preto na bunda é capaz de morrer.

Assim que terminou de falar, tanto Fê quando Roberto caíram na risada, enquanto Angélica já chamava na porta. Assim que a comerciária abriu, a empresária já queria partir para cima de Fernanda que, em um grito, acalmou a fera.

– Quer calar essa boca! Aqui você não manda. Você pode até mandar no pastel do meu amigo, mas em mim não. E se não se acalmar, a mesma porta pela qual você entrou pode ser usada para sair. O que você quer saber? Se o Márcio está me comendo? Deixa de ser tonta, idiota, menininha mimada. Tens na mão um homem de verdade, que te ama, que viaja contigo para o outro lado mundo para que você resolver seu casamento com outra mulher, sem saber se tu voltarias com ele. Deixa de ser insegura e olha o que tens em mão. Almoçamos com a mãe dele e ela só falava em você, porra!

Angélica sentou e ficou muda, gelada enquanto Fernanda esbravejava. “-Eu devia ter te sentado o braço quando fez ele quase morrer de tanto beber. Ele é um babaca, um idiota, um homem que faz tudo do mesmo jeito, mas tem um coração que eu não encontrei em macho nenhum. Basta vê-lo comigo que fica com esse fricote todo, achando que ele já me comeu ou vai me comer. Esquece. Se isso tivesse acontecido, você não teria encostado a mão nele, mas pode ter certeza que não rolará, porque ele não me enxerga como mulher, mas apenas como pessoa. Se eu perder a amizade dele por sua causa, se prepara. Eu vou partir a sua cara em duas e não é essa merda do seu dinheiro que vai me impedir de fazer isso”, vocifera Fernanda.

A empresária escutava tudo atônita, sem reação, apenas sentindo a boca secar enquanto a amiga de Márcio continuava a falar sem parar. “- Eu sinceramente não te entendo. Bonita, rica, pode ter o homem ou a mulher que quiser aos seus pés, mas foi se enrabichar por um cara como o Marzinho. Todo certinho, carola, metódico, quase um santo. E ainda por cima tem chilique quando ele conversa com a amiga de coração. Sinceramente, tomara que ele enfie o pé na sua bunda e te mande passear e olha que sou capaz até de ajudar outra mulher a conquistá-lo, só para saborear a sua derrota.

“- O que você quer que eu faça”, finalmente pergunta Angélica.

– Porra! Quero que ame esse homem que é doido por você. Tu viraste a vida dele de cabeça para baixo. Foi atrás dela na divisa do estado quando ele queria paz para entender o que ia n’alma e no coração. Não queria sentir o que sentes por ti, pois sabia que seria essa confusão toda, mas ainda assim, você não respeitou o tempo dele. Está sempre querendo mandar em tudo, deseja afastar os amigos dele. O levou do hospital para a sua casa. Brigou com ele, ofendendo-o na frente da mãe dele. E o cara, ainda assim, continuou contigo. E você ainda me pergunta o que quero ou o que queremos que faças? Hoje era para ser o jantar com sua mãe e dona Judtih e o que fazes? Chilique porque viu ele conversando comigo. Não marcamos nada. Eu tinha comprado umas coisas para usar hoje à noite com meu namorado e acabei o encontrando lá e o que tu fizeste? Já foi me atacando. Espero sinceramente que ele termine contigo para que eu possa apresentá-lo a outras mulheres que, pelo menos, possam amá-lo e não transformar a vida dele num ringue de boxe.

Quando Fernanda terminou de falar, o telefone toca. “- Alô! Oi Roberto! Está sim e acabei de lhe dizer o que acho que essa dondoca histérica precisa ouvir. Torço para o Márcio enfiar o pé no rabo dela. Vou apresentá-lo a umas quatro ou cinco amigas que vivem me perguntando dele.

Angélica arregalou os olhos e desandou a chorar. “- Por favor, Fernanda não faça isso. Eu amo aquele homem. Se ele me deixar, entro em parafuso novamente.

– Quem está chorando aí Fernanda?

– Quem você acha? A dona do mundo. Faz as cacas porque não pensa e depois chora pelo leite derramado. Ligue para dona Judith e diga que o jantar de hoje entregou água. A ex-quase-futura nora dela, acabou contudo, perdeu Márcio para ela e para o ciúme doentio.

– Pode deixar, Fê! Eu ligo sim. Estou sabendo que ela vai embora amanhã e pode levar o Marzinho. Mas diga para as suas amigas que ele ficará fora mais uns dias e depois quando voltar, estará disponível.

Para sacanear Angélica, Fernanda colocou no viva-voz.

Ao voltar a falar com Roberto, foi para o outro cômodo e ali conversaram de maneira diferente. “- Ele está aqui sim. Está sem chão. Não quer vê-la, mas morre de amores por ela. E não quer decepcionar dona Judith novamente”.

Quando Fernanda ia continuar a conversa, Angélica avançou para tomar o celular das mãos dela e a coisa ficou complicada. Acabaram discutindo com a ligação aberta. Roberto olhou para Márcio, lhe dizendo: “-Vai lá e acaba com essa porra toda, meu irmão. Você tem que aprender a segurar essa mulher e a onda de ciúmes dela. Olha aí, estão se esmurrando”.

Márcio pediu um transporte que chegou rapidinho. Em cinco minutos estava na casa de Fernanda. Entrou berrando com as duas. “-Vocês estão loucas é! Que porra é essa? Que merda estão fazendo? E você Angélica porque agrediu Fernanda? Que nível chegaram. Caralho! Eu detesto chamar a atenção e o que as duas estão fazendo? Saindo na porrada. Qual foi o motivo?”.

– Essa sua Rainha diaba aí não sabe te segurar e cismou comigo. Acha que eu quero dar o rabo para ti ou tu queres me comer. Eu não sei qual é a razão disso tudo?

Passado o alvoroço, os três sentaram para se acalmar. Márcio calmamente pediu a Fernanda que fosse tomar um banho. Ficaria ali esperando-a e depois Angélica tomaria o dela e as duas iam se entender. “- Não quero nenhuma conversa. Parecem duas pirralhas do colegial brigando por conta do gostosão da escola. Deprimente isso”.

– Márcio, me desculpe!

– Não vou conversar contigo agora. Depois nos falamos.

Assim que Fernanda saiu do banheiro, enrolada numa toalha, Márcio foi firma com Angélica: “- Agora vai você. Fê empreste uma toalha para ela se enxugar”.

Quando a arquiteta entrou no banheiro, Fernanda descarregou tudo em cima dele. “-Meu amigo! Se afaste dessa mulher. Ela vai te arruinar. Hoje vocês deviam estar se preparando para anunciar o noivado e, no entanto, tu está aqui tentando nos acalmar. Essa filha de uma égua quase acaba com a minha noite. Ainda bem que não fiquei com nenhum hematoma”, desabafou Fê.

Angélica saiu do banheiro com os olhos repleto de lágrimas e sem olhar para Márcio, sentou ao lado de Fernanda lhe pedindo desculpas por tudo o que provocou e pela briga. “- Fernanda, mil desculpas pelo meu comportamento. Eu amo esse homem e estou sentindo que vou perdê-lo para as minhas infantilidades, para a minha falta de maturidade. Ficarei imensamente grata se me perdoar, mas se não, entenderei. Márcio, você pode ir comigo, por favor?”

– Aguarde lá no carro que já estou indo.

A empresária saiu e ficou o esperando no carro.

– Fernanda! Não vou deixar de ser seu amigo por conta da ciumeira dela. Você e Roberto vieram antes dela. Eu a amo muito e ela tem um caminhão de problemas e não vou deixa-la sozinha agora, por issso não serão mais incomodados com as minhas pelejas com ela. E por favor, não fale nada disso para dona Judith. Faremos o jantar hoje, amanhã minha mãe vai embora. Na segunda-feira vamos à casa do Roberto e da Danisa e quero que esteja lá e espero que leve o seu ficante ou algo parecido a isso.

– Querido. Eu irei, mas não vou levar meus paus em festas nas quais eles não cabem. Eu te peço desculpas, mas não consegui me segurar. Eu sei que se casará com ela, porque o sentimento de vocês e principalmente o seu pode segurar muita bronca, mas cuidado. Eu, Roberto e Danisa não queremos te ver novamente num quarto de UTI.

Deu um beijo de despedida na amiga. “- Fê te amo mocinha. Se cuida hein!” Ao deixar a casa da comerciária, Márcio entrou no carro e antes que Angélica pudesse dizer alguma coisa, foi duro com ela. “- O escândalo do chope na cara de minha amiga não bastou. Você tinha que vir aqui e arrumar essa confusão toda. E por quê?”

– Márcio eu te amo e perco o juízo quando penso que posso te perder.

– Eu sei que me ama. Vamos para o seu apartamento. Vais tomar um banho decente e me explicará direitinho que barraco foi esse. Não vou deixar de ser amigo de Fernanda por conta do seu ciúme doentio. Vai se acostumando. Eu não vou comer a Fê. Eu quero transar com a mulher que eu amo. Eu vou esperar o tempo que for preciso. Coloque isso dentro da sua cabeça. Será que isso não basta para ti.

– A Fernanda acabou comigo. Falou um monte, inclusive que vai te apresentar para umas cinco ou seis amigas dela que andam perguntando de ti. Aí o sangue esquentou em demasia.

– A Fernanda pode querer me apresentar um monte de mulheres, mas será da mesma forma que eu querer apresentar um monte de homens descentes para ela. Se todos forem igual a mim, esquece e se todas elas forem iguais a Fê, nem pensar. E além do mais, estou muito, mas muito feliz em poder começar uma vida nova contigo. E a propósito, o que foi fazer dentro daquele sex-shop daquela loja de lingerie?

– Como sabe?

– Eu sei tudo que preciso saber. Agora vamos embora. Tu precisas tomar um banho e se serenar para o jantar com nossas mães. Espero sinceramente que essa baixaria de agora a pouco não se repita mais.

– Está certo amor. Estou sem palavras, completamente envergonhada.

Quando saíram, Fernanda ligou para Roberto. “- Meu amigo. O pau quebrou aqui. Se Márcio não colocar um ponto final nisso, essa mulher é capaz de dar umas tesouradas nele. Ela já picou várias roupas dele”, disse Fernanda.

– Você está bem Fê?

– Estou sim! Eu estava com ela entalada desde quando Márcio foi parar na UTI. Agora estou com a alma lavada. Mas ai dela se fizer o Marzinho infeliz. Eu arrebento com ela.

Ambos deram risadas e cada um voltou para o seu mundo, enquanto Márcio e Angélica se dirigiam para o apartamento da arquiteta. Quando lá chegaram o relógio marcavam perto das cinco horas. Tinham ainda umas duas horas antes do jantar na mansão.

Quando estavam dentro do apartamento, o jornalista pediu para Angélica preparar a banheira. Sem falar nada, ela deixou tudo pronto e o chamou. Ele tirou toda a roupa e entrou na água, pedindo para ela fazer o mesmo. Em silêncio, sem dizer nada, a empresa entrou. Márcio já tinha ajustado o celular para despertar as seis e meia.

Trouxe ela para perto de si, a abraçando por trás. Ela percebeu que ele não ficou excitado e quis saber o motivo. “- Agora você precisa do amigo e não do meu pau. Relaxe. Converse contigo mesma, enquanto escutamos essa música esotérica”.

Ela se virou, o fitou no olho, o beijando, agradecendo a paciência dele. Enquanto Angélica pensava, cochilava, acordava, Márcio estava totalmente desperto. Pensava no que havia dito para Fernanda sobre a empresária. Passou a mão pela cabeça dela, beijando suavemente. “- Não vou te deixar sua boba. Você é o melhor presente que o universo podia me dar”, disse baixinho achando que a arquiteta estava dormindo, mas ela não estava. “- Você também é, meu amor. Só espero ter sabedoria para vivenciar o que esse presente tem de belo e sublime para me oferecer”, disse Angélica, voltando a ficar em silêncio, momento em que apenas o som dos batimentos cardíacos e da respiração eram ouvidos.

Assim que a água perdeu todo o calor, os dois saíram da banheira. Se enxugaram, se jogando na cama. Márcio se ajeitou de tal forma que a empresária se aninhou em seus braços, começando a chorar. Ao contrário do que fez das outras vezes, o jornalista não disse nada. Só ficou ali esperando como um amigo que fica na chuva com o outro. Entre choro e soluções, Angélica dormiu e Márcio em seguida. O casal foi despertado pela música do celular.

O repórter a chamou dizendo que deveriam se arrumar para o jantar com Eleanor e Judith. “- Amor! De que jeito gostaria que eu me vestisse”, pergunta Angélica. “- Hoje é um dia importante para nós. Então escolha sua roupa para essa noite”.

Enquanto Márcio colocou um jeans, sapa-tênis, camisa branca de botão e um blazer azul marinho, Angélica vestiu um macacão preto, aberto nas costas e com leve decote na frente. Quando a viu deixando o quarto, piscou para a amada, dizendo que estava deslumbrante. “-Vamos para o nosso primeiro compromisso como namorados. Te amo, minha Rainha diaba”.

Ela o abraçou, se sentindo leve. Sabia que Márcio não tinha esquecido a briga da tarde, mas naquela noite não tocaria no assunto. O jantar era importante, pois o amor precisa ser maior para superar essas querelas. Com a rusga com Fernanda, parecia ter entendido que não precisava tê-la como inimiga, mas sim como aliada. Márcio estava totalmente voltado para fazer o relacionamento dar certo e uma prova estava ali. Ela tinha aprontado novamente, mas o namorado sabia que o problema seria contornado e a futura cresceria mais um pouco.

 

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