Sobras de um amor … parte II

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         Depois daquele susto por conta da pressão, Márcio voltou para o quarto, ficando internado mais três dias enquanto passou por três sessões psicológicas que não indicaram haver nele tendências suicidas. Antes de sair do hospital, Roberto e Fernanda foi conversar com ele sobre o seu destino. Podia ficar na casa da Fê ou junto do amigo, mas Angélica ameaçou fazer o maior escândalo se ele fosse para outro lugar que não a casa dela.

– Meu amigo! Você quem decide. Quem assinar sua alta ficará responsável pela sua recuperação e, sinceramente, não sei se ela está apta a fazer isso.

– Roberto e Fê! Adoro vocês dois. São meus irmãos, mas a minha história com ela é complicada. Se eu não for com Angélica, não dará sossego e vocês dois precisam trabalhar, toca a vida e te quero na minha editora, hein. Não se esqueça disso e eu e Fê seremos seus padrinhos do seu herdeiro. Eu sei que você está morando em meu apartamento.

– É! Angélica nos cedeu o espaço até que arrumamos outro lugar. O proprietário pediu a casa em que morávamos. Disse que precisava arrumar para colocar um parente em dificuldades.

– Tudo bem. Fique lá o tempo que precisarem.

Fernanda olhou pra Márcio e falou firme. “-Tu és um bundão mesmo. Quase perde a vida por conta dessa mulher e ainda sairá do hospital com ela. Definitivamente você não serve para mim. É muito mole, mas te adoro mesmo assim Marzinho”.

O enfermeiro bate na porta e entra afirmando que o paciente está de alta e precisa liberar o quarto. Fernanda bate o olho no rapaz e no crachá e como quem quer gravar alguma coisa, falando baixinho para si mesmo. Márcio foi o único que viu a cena e diz para o amigo. “-A nossa Fê ataca novamente. Não vai ficar doente em querida!” Ela entendeu o recado e ficou vermelha.

Angélica já entrava atrás do enfermeiro, pegando Márcio pelo braço. Pode deixar, ele vai comigo lá para casa. Entraram no carro e Márcio deixou o vidro do carona aberto, escutando quando Fernanda disse. “- Se a diaba quiser te cozinhar no caldeirão, é só chamar a Super Fê e seu fiel ajudante, o mascote Roberto”. Todos riram, menos a arquiteta que fechou a cara para a amiga.

– Mocinha inconveniente.

– Se eu me casar contigo, se prepare. Ela será assídua em nossa casa, assim como Roberto, Danisa e o filho deles. Ah! Talvez o enfermeiro que me informou que eu precisava deixar o quarto também. Percebi como ele olhou pra Fernanda e ela anotando mentalmente o nome dele.

– Você falou em casar comigo?

– Sim. E com quem mais?

– A minha terapeuta disse que se você topar podemos fazer umas sessões juntos.

– Não é a mesma do seu irmão?

– Do meu irmão?

– Ué! A lagartixa com quem ele conversava quando estava de porre.

– O mocinho aqui tem que passar longe da bebida alcóolica!

– Você preparou o quarto de hóspedes para eu ficar?

Angélica ficou em silêncio. Em seguida recebeu a ligação de sua mãe. “- Está tudo bem sim. Ele está comigo agora e vou levá-lo para casa agora. Amanhã a senhora e o Amadeu vem visitá-lo”.

– Está certo filha. Vou dizer isso ao Amadeu.

Ao desligar, a arquiteta aperta a mão esquerda do repórter e ele percebeu que ela estava úmida e gelada. “- O que é isso? Que mão gelada e úmida? Está acontecendo alguma coisa?”

– Sim! A mesma coisa que aconteceu com um certo alguém que apareceu na minha empresa me convidando para o almoço. Medo de perder algo que ainda nem começou direito, mas que podemos endireitá-lo. Achei que não quereria voltar comigo. Ficar em casa e deixar eu cuidar de você.

– Eu juro que tentei. Queria muito te esquecer. Achei que um porre me ajudaria a lavar a alma, permitindo que eu começasse do zero no dia seguinte, mas eu acordei tempos depois numa cama hospitalar e soube que fiquei em coma alcóolica por vários dias.

– Ficou vários dias, deixando todos preocupados. Parecia que tua alma não queria voltar para o corpo. Nesses dias eu li muita coisa sobre isso. Queria entender o que acontece contigo. Estava apavorada e sozinha. Não podia contar a verdade para minha mãe. Roberto e Fernanda com o dedo na minha cara me acusando de ter feito da sua vida um inferno.

– Como te disse. Eu não tentei me matar. Só bebi além da conta e fazia dois ou três dias que estava nessa toada, bebendo mais do que comendo. O organismo saturou e colapsou. Acho que foi isso.

– A partir de agora não importa mais nada. Vou cuidar de você e assim que estiver pronto vamos à Alemanha. Preciso terminar com Rosângela. Agora é ela quem me cobra estar lá para resolver a nossa situação. Tenho para comigo que ela está com outra.

– Isso importa para você?

– Por que você está me perguntando isso?

– Se isso importa tanto, acho melhor me deixar com os meus amigos. Eu só volto contigo se for para acabar com essa palhaçada entre você e essa professora. Do contrário, pode dar meia volta. Eu ligo para o Roberto e fico com eles.

– Amor! Está tudo definido aqui dentro”, diz a arquiteta apontando o coração e a cabeça. “Só falta aqui em baixo”, indicando a sua vagina.

Ambos caíram na gargalhada, porque a explicação foi bem doida. “- Tudo bem. Quantas vezes é para eu ir a terapia contigo?”, pergunta Márcio.

– Ela faz atendimento em domicílio. Se você quiser, podemos marcar em casa.

– Melhor não! Não quero gente estranha em nossa casa.

– Como é que é? Nossa casa?

– Ué! Eu não estou indo para tentar nada. A partir de agora, não sou mais seu quase noivo e sim seu marido. Agora se não quiser e tiver algo contra, pare agora e fale ou se silencie para sempre.

Angélica parou o carro e se debruçou   sobre o volante chorando de emoção. Abriu a porta do carro e ficou na calçada falando alto: “- SIM!!! CLARO QUE QUERO ME CASAR COM VOCÊ, MEU PRETO LINDO!”. Todo mundo que passava ficava olhando e Márcio ainda bem combalido pelos dias internados, pedindo para a empresária voltar para dentro do carro.

Ela entra e com os olhos mais verdes ainda, abraço o jornalista que pede para seguirem em frente. “- Mas por enquanto, vou dormir no quarto de hospedes para não atrapalhar você na cama”

– Não vou nem te responder neguinho. Nem vem com essas historinhas. Agora que sei que és totalmente meu e Fê nenhuma no mundo vai me tirar você. O quarto de hospedes será para a sua mãe quando ela vir para o nosso casamento.

Mesmo combalido, Márcio deu risadas querendo reproduzir aquela gargalhada com os olhos que a deixa louca de tesão. “- Está bem minha Rainha Diaba, como diz o meu futuro cunhado, o poeta Amadeu”.

Chegaram em casa e Angélica cuidou muito bem do jornalista e futuro livreiro. Não quer falar do recente passado, quando ele esteve ali pela última vez e o casal entrou numa espiral que levou Márcio ao coma e ela quase a loucura. Quando descobriu que o amado estava hospitalizado na UTI de um hospital público não pensou duas vezes, o removendo para a clínica particular onde seu pai passou as últimas horas em vida.

Ao sentá-lo no sofá, a arquiteta disse baixinho no seu ouvido: “- Agora neguinho você não tem como fugir da teia dessa aranha de olhos esmeraldinos. Estou tão feliz de você estar aqui comigo e praticamente casado. Só falta a aliança e as tratativas do civil”.

O repórter aproveitou o tom de confidência e disse no mesmo tom no ouvido de Angélica: “- Te amo loucamente, minha dama esmeraldina. Não mude nada do que você é. Me apaixonei por essa mulher que move montanhas para fazer a pessoa que ama feliz”. Ao dizer isso, Márcio percebeu os olhos de sua amada mais brilhantes e esverdeados. “- Amor vou pegar água para ti”.

Quando ela chegou com o copo, o jornalista reparou que o líquido tinha tonalidade diferenciada. Perguntou o que era e obteve como resposta que era água de coco. “-Bebida alcóolica nem pensar. Recomendações médicas. Então bastante água de coco para hidratar e a boa H2O”.

Enquanto o repórter consumia o líquido, o telefone de Angélica toca. “-Alô! Mãe! Está sim. Eu o trouxe”, afirmou a arquiteta que se distanciou mais do jornalista para conversar mais tranquilamente com Eleanor. “-Ela está aí? Ele vai adorar. Não vou lhe falar nada. Será uma surpresa”.

– Foi difícil trazê-la! Aquele marido dela deveria fazer parceria com o teu pai. Eita homem teimoso! Expliquei a ela que precisava vir ver o filho. Já tinha um pessoalmente chegando à cidade para trazê-la. Eu só escutava o marido xingando o filho, falando horrores e ela tentando justificar. Enfim ela já está aqui e se hospedou. Amadeu se apossou dela, falando maravilhas do filho. Só a noite eu vou contar a situação de saúde dele. Amanhã, antes de sairmos daqui eu te ligo.

– Obrigado mãe. Tenho certeza de que ele vai adorar a visita da minha futura sogra. Ela ficará hospedada aqui, me ajudando com ele. Preciso voltar as empresas e agilizar tudo para ir a Alemanha. Ele só aceitou voltar comigo se fosse na condição de marido. Estou firme na terapia. Não deixo mais. Deveria ter ouvido a senhora e ter ido antes. Mas comecei agora e isso é o que importa. De hoje para adiante.

Quando Angélica voltou à sala, Márcio cochilava no sofá. Efeito dos remédios. Era para deixá-lo dormir, só não podia ficar sem comer. Antes de preparar o jantar dele, a arquiteta o ajustou no móvel de modo que pudesse ficar mais confortável. Colocou uma música suave e ficou um tempo só olhando, sem nada dizer, mas o coração sinalizava serenidade. “- Eu entraria em parafuso se morresse. Não sei como seria o meu amanhã. Graças a deus que foi socorrido a tempo. Agora eu entendo porque ele adora Roberto e aquela amalucada da Fernanda”, com esse pensamento a empresária se dirigiu à cozinha para preparar o jantar ou o que se pareceria com algo semelhante. Deveria ter pedido à mãe para fazer, mas era necessário se desvencilhar de tais comodismos.

Da cozinha a arquiteta escutou Márcio se mexendo no sofá e conversando. Achou estranho. Não tinha ninguém com ele. Deixou a sopa aquecendo em fogo brando, indo ver o que se passava. “- Eu não tive culpa alguma. Ela me disse que eu não lhe servia, pois estaria sempre à minha frente e não queria carregar um estudante a tiracolo”, dizia o jornalista. A arquiteta ficou escutando, mas do nada ele parou de falar.

Passados uns vinte minutos, o repórter acordou, ficando sentado no sofá, porém, em silêncio. Recordando o sonho, lembrou que a mulher que aparecia era a professora da Universidade com quem se envolveu depois de conhecê-la numa festa. “Por que sonhar com ela? Isso aconteceu há muito tempo”, pensou Márcio que tentou se levantar, mas ao forçar sentiu tudo rodar, voltando a se sentar pesadamente, movimento percebido por Angélica que foi ter com ele.

– Amor! Quer jantar já?

– Preciso ir ao banheiro! Você pode me levar.

– Claro!

A empresária o ajudou até chegar ao banheiro. “- Deixe a porta aberta”, pediu ela. Percebeu quando Márcio se sentou. Ele se antecipou. “- Do jeito que estou se fizer xixi em pé, vou emporcalhar todo o vaso. Então, melhor assim”. Essa ação surpreendeu a arquiteta. “- Realmente. Ele é de outro planeta e muito frágil. Mas não vou deixá-lo ser tragado pelas doideiras desse mundo”, disse para si mesmo.

Quando Angélica o amparou para voltar, o conduziu à mesa para se alimentar. Enquanto ele ingeria a sopa, perguntou por que a arquiteta não lhe fazia companhia. Sem dar resposta, a arquiteta pegou um prato e o acompanhou. Estava curiosa. Pensou em perguntar, recuou, mas perguntou sobre o que ele disse enquanto dormia.

– Nos meus primeiros anos de faculdade eu conheci uma professora de psicologia lá da universidade. Chegamos a sair algumas vezes. Havia carinho, afeto, mas sempre pensava em passar daquele ponto, ela me dizia que ainda era cedo e que precisava me conhecer mais. Um dia do nada, terminou tudo, dizendo que não queria ficar desfilando com estudante a tiracolo.

“- E por que eu não tive culpa?”, foi o que disse no início.

– Acho que deve estar associado ao fato de que passei uns dois anos achando que ela me largou porque eu fiz alguma coisa de errado, como querer vê-la todos os dias, ir ao cinema, barzinho. Realizar aquelas coisas que os jovens de 20 anos faziam.

– Você acredita que pode estar aí a sua dificuldade de relacionamento? A Fernanda me disse que saiu com poucas mulheres desde que chegou aqui.

– Não posso de falar com precisão. O que posso lhe dizer é que foi uma experiência profunda para a minha pessoa. Dali em diante, passei a não aparecer muito em lugares públicos. Quando ia as festas, procurava não me interagir. Estava sempre desconfiado de alguém pudesse me sacanear.

– E depois disso você voltou a ver a tal professora no campus?

– Sim! Várias vezes, mas sempre evitava olhar para ela ou quando dava, desviava caminho para não cruzar com ela.

– Quantas namoradas você teve na universidade?

– Só essa professora. Depois me dediquei integralmente ao curso e foi lá que aprendi as línguas que sei, mas hoje não servem para nada. Quase morri por ingestão alcóolica. Nem o francês, o italiano e o meu alemão serviram de nada. Só ia restar um corpo inerte dentro dum féretro.

– O Roberto te salvou.

– É! Amo aquele cara. O único amigo que me acompanhou desde o término do curso. Ingressamos juntos e sempre fizemos os trabalhos acadêmicos em parceira. Dividíamos o dormitório no alojamento e virava e mexia, tinha que dormir na sala. Ela estava com mulher no quarto. Sempre me dizia que se eu precisasse, era só falar.

– E você nunca levou?

– Não!

– Queria algo mais do que simplesmente trepar com elas. Acho que resumir o relacionamento a um pênis e uma vagina é se apequenar e empobrecer a pessoa que está contigo. Acho que uma noite de sexo envolve muito mais coisas: o corpo, o sentimento, algo que tenha começo, meio e continuidade. Se for para colocar e tirar, depois de gozar, posso me masturbar. Bom! Eu penso assim e procuro seguir o que eu acho certo. Sei que para muitos, eu sou trouxa, deixo de comer as mulheres que aparecem na minha vida.

– Eu não te acho trouxa. Mas apenas uma pessoa que sabe o que quer.

– Se uma mulher tiver somente a buceta para me dar, esquece. Pode guardar para ela. Não me preocupo com quantidade e sim com qualidade e falar de qualidade com quem não sabe o que é isso, é perda de tempo. Então, para que dizer? Melhor fazer, tendo e dando prazer à pessoa que está contigo.

Angélica ficou em silêncio depois de ouvir o que Márcio disse. Entendeu que ele estava disposto a ajudá-la. Fernanda tinha razão e ela com uma ciumeira danada. “Meu deus como fui tola. Quase perdi esse homem por não ter equilíbrio o suficiente para entendê-lo”.

– Amor. Só me responda mais uma coisa e eu não te pergunto mais nada! “-Você sabe que convivi sete anos com Rosângela numa relação homoafetiva. Você aceitaria, por exemplo, que eu ficasse com ela e você?

– Não! Nem tenho nada contra quem aceita. Continuaria a ser seu amigo, mas não dividiria você com ninguém e jamais pediria para aceitar uma terceira pessoa entre nós. Eu falei para tua mãe e torno a repetir. Se quiser ficar com ela, eu me afasto. Compreendo a sua bissexualidade. Mas se quiser ficar comigo, terá que ser só comigo!

A arquiteta voltou a ficar em silêncio, enquanto terminavam o jantar. Depois recolheu os pratos, os levando para a pia, enquanto Márcio ficou ali olhando para ela, sem dizer nada. “- Por que me fez todas essas perguntas? Pretendes tentar uma reconciliação com a professora? Se for, é só me avisar. Não gosto de surpresas. Eu ligo e peço ao Roberto para vir me buscar”.

– Já fiquei muito confusa nesses dias, mas entendi que não posso ficar fugindo e voltar com ela, seria retroceder a um ponto que eu já superei. Quero ir adiante e isso significa viver harmonicamente contigo. Também perguntei para eu ter certeza sobre as coisas que pensei durante esses dias em que você esteve hospitalizado e fui estigmatizada pela Fernanda e pelo Roberto. Eu os entendo agora. Você parece um vaso de cristal e eu estou imensamente feliz por estar com ele aqui comigo como amigo, amante, e futuro marido.

Ela o levou para sala, pedindo para aguardá-la enquanto ajeitava tudo na cozinha. “- Sei que a comida não lá grandes coisas, como a dona Judith fazia para ti, mas acho que deu para o gasto”, justificou a arquiteta.

– O que minha mãe tem a ver com essa história toda? Vocês não falaram nada para ela? Se falaram é capaz de ter um treco e brigar com o meu pai.

– Quem tem o contato com ela é o Roberto e até onde sei, ele não faria nada sem a sua autorização.

Márcio ficou no sofá pensando em tudo e no que tinha acontecido com ele e o tempo que passou em coma. Olhou para o relógio e viu que se aproximava das dez horas e a sonolência voltando. Angélica esperou chegar no momento certo, lhe deu o remédio e o levou ao banheiro para tomar banho. Os dois entraram na banheira e ficarem ali se olhando, trocando carícias na medida em que ele suportaria. Saíram e se aprontaram para dormir. A arquiteta já tinha roupas dele ali, inclusive um pijama.

– Obrigado amor. Mas você pensou em tudo mesmo, hein. És de fato uma Rainha diaba, a governante do meu reino.

Deitaram e logo o sono para ambos chegou. Desde que descobriu que o jornalista estava na UTI que a arquiteta não dormia direito. Acordava no meio da noite chorando, apavorada com a hipótese de Márcio não aguentar e vir a óbito. Mas tudo passou e ele estava ali com ela e todo dela, como sempre desejou, desde que descobriu que o amava.

No dia seguinte, se higienizaram e Márcio já apresentava um pouco de melhora. Tanto é que conseguiu tomar banho sozinho, enquanto Angélica preparava o café para os dois. Nada muito sofisticado. Terminada a refeição, o jornalista foi para o sofá, no canto que gostava de ficar. Estava meio cochilando quando escutou o elevador parando. Ao abrir o olho não acreditou no que viu. Sua mãe estava indo em sua direção aos prantos.

– Filho! Meu Marzinho, o que aconteceu? Está tão abatido.

– Estou bem mãe. Agora sim! Só tive uns probleminhas, mas o Roberto e a Fernanda cuidaram de mim.

– E o que tu fazes nesse apartamento chique? Por que não está naquele que eu pagava o seu aluguel? Anda! Fale menino. O gato comeu a sua língua.

– Antes de te falar alguma coisa. Estou imensamente feliz por vê-la. Estava com muitas saudades. A senhora chegou em boa hora. Essa cozinheira é uma excelente mulher, mas no fogão, não sei não! Como futura sogra dela, lhe de umas dicas se não ficarei mirradinho a cada dia que passa.

– Como é que é? Essa moça aí vai ser minha nora? E dona Eleanora é a mãe dela? Por que não me disseram nada?

“- Porque queríamos que ele lhe dissesse”, explicou Angélica. “- A história é longa, mas eu e minha mãe vamos sair para fazer umas compras enquanto a senhora mata esses cinco anos de saudades do filho e que filho! Quero que a senhora saiba que o amo muito”.

– Obrigado dona Eleanora por cuidar do meu Marzinho.

– Mãe, onde está o Amadeu?

– Está lá entretido com as tais cartas para mandar para Tarsila. Disse que já são mais de cem. Uma para cada ano do casamento deles.

– Depois deixa ele aqui para conversar um pouco com o Márcio.

– Falei a ele que o amigo estava viajando para resolver coisas da editora.

Mãe e filha saíram enquanto olhavam para mãe e filho. “- Filha! Agora ele arriba. Dona Judith tem aquele jeito de mãezona, mas é uma general. Se cuida. Você que não trate bem do filho dela que o leva embora e você fica chupando o dedo”, disse rindo Eleanora.

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