Sobras de um amor … parte II

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O repórter acordou meio atordoado ainda com resquícios da bebedeira da noite anterior com Angélica. O primeiro porre juntos que os embriagou de amor, poderia dizer um poeta que, aprisionado na teia de aranha, assistisse tudo o que rolou na noite anterior, porém, sem aquilo que muitos gostam: sexo. Para Márcio, uma reunião como aquela valia muito mais do que estragar tudo só para percorrer o mesmo caminho que muitos homens faziam, apressassem só para ter o que dizer aos amigos no dia seguinte.

Ainda meio zoado, escutava um barulho, o mesmo que o tinha despertado. Era o celular que não parava de tocar. Ao atendê-lo, não deu nem tempo de dizer alô, Roberto já foi despejando tudo no ouvido do amigo. “- Briguei com Danisa e a coisa foi feia. Quase sai da linha, mas me lembrei do que aconteceu contigo. Ontem à noite liguei para você, mas o seu celular parecia desligado, pois ninguém atendeu. Sai de casa para não piorar as coisas e não tinha para onde ir. Acabei vindo para o jornal. Dormi aqui e sei que preciso trabalhar, mas estou sem cabeça”, desabafou o amigo e chefe de Márcio.

– Calma. Fiquei aí e trabalhe normalmente. Não deixe ninguém saber do ocorrido. Não fale nada. Não atenda ela. Daqui a pouco eu chego e vamos tentar achar uma solução juntos.

Enquanto o repórter falava com seu chefe, Angélica que dormia ao seu lado, acorda meio ressacada por conta do porre que tomou com o amado. Aos poucos vai recuperando a memória e se lembrando das coisas. Fita Márcio que está sentado na cama falando ao telefone. Assim que desliga, é abraçado pelas costas pela arquiteta que lhe pede desculpas por ter estragado a noite que ele preparou com tanto carinho para ela.

– Amor! Está tudo bem … Quem disse que uma noite maravilhosa só o é se terminar em sexo? Você se embriagou de paixão e eu cuidei de ti. Só isso!

– Mas eu vomitei?

– E daí? Eu dormi no banco da praça e você me resgatou com o seu amor. Então ontem foi tu que vomitou por estar embriagada de uísque e felicidade. Adorei te dar um banho. Depois arrumei tudo. Mais tarde darei uma melhorada na sua roupa que também ficou naquele estado inaugural, foi batizada, mandarei para a lavanderia e tudo ficará como dantes.

– Meu deus! Que vergonha. Você me deu a roupa com tanto carinho e eu a lambrequei todinha.

– É só lavar e tudo bem. Querida. Você vai para suas empresas hoje? Tenho que falar com o Roberto. Ele está todo fornicado

– Eu vou usar uma dessas roupas que você me deu.

Vamos tomar um banho e nos arrumarmos para sair. De manhã ficarei atrás dessas coisas da editora e dando um suporto ao Roberto. A tarde tenho que resolver a questão do passaporte.

– Não terá surpresas hoje?

– Quem sabe!?

Quando Márcio se levantou da cama foi que Angélica se deu conta da nudez do repórter e da própria. “- Por que eu dormi desse jeito? Nós transamos?”, pergunta assusta a arquiteta.

– Não! Eu te dei banho, como já disse, e te coloquei na cama assim, como está agora, peladona e gostosona. Você dormiu completamente nua e eu também. Mas não passou disso. Estávamos bebaços de amor.

Quando Márcio ia entrando no chuveiro, Angélica entrou junto e agarrando o jornalista, o beijando e massageando o seu sexo. “- Acho que alguém acabou de acordar”.

– Acho melhor não seguir em frente.

Mas dizer para Angélica parar é a mesma coisa que pedir para continuar. A empresária continuou fazendo o que tinha em mente. Ficou ali por pelo menos uns dez minutos. Beijava-o, alisava-o até que Márcio não se segurou, ejaculando abundantemente. A arquiteta vibrou muito ao ver como ele ficava enquanto gozava.

– Realmente seu irmão tinha razão: você é uma Rainha Diaba…

Terminaram de se banhar, se prepararam para sair. Angélica pediu um transporte. Foram direto para o escritório dela. “- Tomarei café lá e o senhor faça o mesmo com Roberto. Pegue aqui esse cartão. Use-o. Aqui está a senha. Qualquer coisa me ligue”, explicou a empresária.

O repórter também desceu no escritório de arquitetura, indo a pé até a redação do jornal. Lá chegando encontrou Roberto meio que sem norte. “- Vamos tomar café e você me conta tudo e vamos ver o que pode ser feito”, disse Márcio, acalmando o amigo que antes mesmo de saírem da redação começa a falar como que precisando tirar algo de dentro do coração.

– O motivo foi cobranças, meu amigo. Ela diz estar cansada de minha paralisia profissional. Atirou-me na cara que sou apático como você e querer morrer no jornal que está indo mal das pernas. Quando ela me chamou de fracassado, o sangue ferveu. Ainda bem que pensei na tua tragédia e me contive. Se não seríamos dois a correr dum passado horrível.

– Roberto. Pode trabalhar tranquilo. Você dormirá em meu apartamento até essa confusão toda passar. Agora me responda uma coisa: vocês se amam? Se estão juntos por algo que não seja o amor, então é melhor parar por aqui. Lembro-me que você ficou enfeitiçado por ela e Danisa por ti e logo já estavam falando de casar, morar juntos. Não tenho moral alguma para colocar o dedo na tua ferida, mas acho que se precipitaram um pouco. Ainda bem que não tem um filho na parada.

– Não sei, meu amigo! Faz dois meses que não vejo nenhuma embalagem de absorvente pela casa. Se ela estiver grávida, aí fodeu tudo. Como vou bancar um filho nessas condições? O que ganho mal dá para a nossa boca. Ela teve que parar de estudar e me culpa por isso.

– O momento não é para tentar cessar o som dos trovões ou querer dominar os raios. É se acalmar e tentar equacionar. Fica lá em casa por uns tempos. Se desconecte dela e decida se você realmente a ama e tente lhe desvendar o caráter. Será que ela quer coisas materiais além do que você pode fornecer-lhe ou está assustada com a hipótese da chegada de um filho? Se a questão for essa última, é possível resolver. Agora se for a primeira, mesmo que você dê tudo a ela, ainda assim estará insatisfeita. Lembre-se do Midas. Queria ouro e os deuses lhe concederam o poder de transformar tudo em ouro e ele terminou numa solidão terrível.

– Se eu vou ficar no seu apartamento, você ficará onde? Ou vamos dormir na mesma casa e fazer festas homéricas? A Fê conhece uma turminha porreta. Já estou até vendo, a mulherada dando em cima de tu e você ali naquela conversa disso e daquilo.

– Não vai rolar nada disso! Há outras coisas acontecendo.

– Estou sabendo. A Fernanda me contou que aquela bacana, irmã do maluco que você tentou fazer uma matéria, jogou chope no rosto dela e no seu e tu não reagiu. A Fê disse que ela manda em você, mas que te ama mais do que todo o dinheiro dela.

– Essa é uma longa história que um dia, se der, eu te conto. Agora o mais importante é você se tranquilizar para fazer o seu trabalho. Diga-me uma coisa: sabes inglês? Ou pelo menos arranha a língua de Shakespeare?

– Sei, mas o basicão. Acho que semelhante ao teu alemão ou até menos. Por quê?

– Se a Fê te contou da Angélica, também deve ter lhe falado dum cargo que eu supostamente iria ocupar nas Organizações Oliveira. Pois é! Achei que era tudo cascata, mas não é. Eu não aceitei. Não tenho vocação para usar terno e gravata e ficar enfurnado em salas com ar-condicionado em intermináveis reuniões. Como não ficarei trabalhando no jornal, vou montar uma editora para, inicialmente publicar uns textos poéticos e crônicas que o irmão dela escreve. O cara é um poeta nato, meio amalucado, conversa com uma lagartixa imaginária e a chama de sua terapeuta.

– Como é que é? Rapaz, tem gente doida nesse mundo.

– Bom, independentemente de o cara ser normal ou meio aluarado, vou publicá-lo e quero a sua ajuda em minha editora. E já vou adiantando. Sem remuneração. Se um dia a empresa tiver lucro, tu ganhas alguma coisa.

– Meu amigo! Acho louvável essa sua iniciativa, mas não vou embarcar nessa. Estou perto de perder o meu casamento por ausência de dinheiro e você vem, feito Caronte, querendo me levar ao inferno com essa editora e sem dinheiro. Estou fora! Não sou tão desapegado das coisas materiais como você. E se Danisa estiver mesmo grávida, independentemente do casamento, o filho é minha responsabilidade. Não quero ver o mundo criá-lo. Além do mais será minha extensão. Danisa poderá até ser minha ex-mulher, mas o filho nunca se tornará um ex.

– Bom. Essa é a segunda parte do que eu tinha para te falar. A primeira você vai morar no apartamento por uns tempos, mas o preço do aluguel é me ajudar na minha empresa.

– Caralho! Você está andando muito com aquela ricaça. Está agindo e pensando como ela.

Ambos caíram na gargalhada. “- Agora vem a terceira parte do que eu tenho para te falar. Em breve vou para a Alemanha e você ficará esse tempo morando lá em casa, até que as coisas se ajeitem entre você e Danisa. Se ela estiver grávida, quero ser o padrinho junto com a Fê. A empresa eu até aceito negociar, agora essa de ter um afilhado, está fora de discussão.

– O que você vai fazer na Alemanha.

– Tomar cerveja, comer as comidas típicas e assistir partidas de futebol.

– Vai se foder! Eu sei que não é isso e tem a ver com aquela loira que circula com você para cima e para baixo. Outro dia o colunista social mandou uma foto em que ela aparecia contigo num barzinho chique na cidade vizinha.  Eu não publiquei porque sei que ficaria uma fera comigo e ela me processaria. Falei ao colunista que a foto tinha se extraviado. O texto eu sabotei. Ele fazia uma aposta dizendo que você era o novo amor da desejada nova presidente das Organizações Oliveira.

– Que filho de uma puta. Deixa eu encontrá-lo.

– Eu conversei com João Marcelo e expliquei o ocorrido. Ela chamou o colunista e disse que nada que dissesse respeito a você e aquela gente, era de interesse do jornal e de nossos leitores.

– Obrigado Roberto. Você sabe como eu odeio essas coisas de aparecer, ainda mais ao lado de Angélica.

– Mas me diga uma coisa: qual é o seu lance com ela?

– Nenhum! Apenas profissional. Agora mesmo com a editora vou lançar os textos, crônicas e poesias do irmão dela. Ainda não tem título certo, mas deve se chamar Crônicas de uma lagartixa.

– E o que você sabe sobre a prisão da Márcia e do assassinato daquele segurança que era garçom no Bar da Net?

– O mesmo que você e o os jornais noticiaram. Os dois casos estão associados. Ele comia a Márcia que fazia tráfico internacional de entorpecentes. Ela foi presa e os comparsas o mataram para mandar um recado a ela. Você sabe como essas coisas funcionam.

– Não sei porque, mas acho que essa história está mal contada e sei que tu não vai me dizer mais nada. Ah! A Márcia foi condenada a 30 anos de prisão, inicialmente em regime fechado e, como tinha ido para um presídio de segurança máxima, ficou lá guardada. Um satanás a menos para te perturbar meu amigo.

– Águas passadas. Quero viver o hoje construindo o amanhã e ele passa pelo que eu vou te falar agora. Ainda nada oficioso, mas que poderá vir a ser nos próximos dias ou quando eu voltar da Alemanha. Aquela vaga de diretor, que me ofereceram, poderá ser sua, se quiser. Agora se declinar, tudo bem. Será o meu presente para o pai do meu primeiro afilhado. O que acha?

– Se rolar, vai ser genial. Ai poderia reatar com a Danisa.

– Se você reatar com ela primeiro e, mesmo que assuma o cargo, não vai lhe dizer nada. Deixe ela te procurar Roberto! Quando te conheceu sabia que tu era assim, então que porra é essa de querer te pressionar a ser diferente? Deixe-a na torre dela. Assim que souber que está grávida, se é que está mesmo, virá como uma onça para cima de ti. Aí tu fazes as devidas mediações, mas antes descubra o que sentes por ela e ela por ti. Por que se não for amor, vocês dois serão infelizes.

– Márcio! Você me deixou mais sereno. E tu vai ficar onde? Vai dormir na rua?

– Não. No momento certo você será o primeiro a saber. Não insista. Sabes que não gosto de ficar falando sobre o meu devir. Quando tudo for, eu te falo. Faço questão de dizer ao meu grande amigo, meu irmão. Te adoro, amigo, mas espera. Participas dos meus momentos ruins e estará sempre presente nos melhores acontecimentos.

Ao olharem no relógio, viram que já passavam das dez horas. Mas a conversa foi profícua para Roberto que ficou mais sereno. “- No final do dia eu passo na redação para te deixar a chave do apartamento. Preciso fechar algumas portas que um jornalista curioso quererá abrir. Tenho que dar uma organizada também. E nada de arruaças lá. Não é porque está dormindo de bunda com a Danisa que levará quengas para a minha casa”, sentenciou Márcio.

– Está cero, meu caro. Pode ficar tranquilo. E olha se esse cargo virar, vamos dar uma festa.

– Esquece essa porra de festa. Não gaste dinheiro. Se tua mulher estiver grávida, o dinheiro deverá ser revertido ao seu filho e também para satisfazer um desejo dela: voltar para a universidade. Mudem para uma casa em que possam viver bem e respirar um oxigênio diferente. Não precisa de eventos para aparecer na coluna social e na segunda-feira estarem sem um centavo no bolso. Vai por mim.

Saíram da cafeteria e caminharam abraçados um bom pedaço do caminho. Quando entraram no jornal, Joana informou que Danira havia ligado várias vezes. “- E o que você disse a ela?”

– Que o senhor tinha saída para fazer uma cobertura jornalística e não tinha hora para voltar.

– Joana! Se ela ligar novamente diz que eu devo voltar só no final do dia. Tudo bem?

A secretária respondeu que sim, mas pensou: “Esses dois. Quando estão juntos, esquecem do mundo. Coitada da Danisa. Tanto homem bom para se casar, foi logo se enroscar com esse inútil. Mas não é problema meu. Agora se Márcio me desce uma chance, sei lá, de repente até poderia acontecer umas transas bem loucas”.

Assim que os dois entraram na sala de Roberto, Danisa ligara novamente. “- Danisa, o editor saiu e ainda não voltou. Quando ele entrar em contato conosco eu aviso e passo o seu número ele”.

– Aquele filho de uma puta tem o meu telefone! Não precisa passar porra nenhuma a ele.

Ficaram mais um tempo dentro da sala do editor conversando sobre o projeto da editora. Márcio disse que se desse a louca até poderia publicar umas coisinhas que andou resenhando, mas se o fizesse seria sob pseudônimo. Não ficaria bem o dono da editora se publicar. Eram onze e meia quando o jornalista deixou a redação se despedindo de Joana que não deixou de notar como Márcio ficava sexy com aquela barba por fazer. “- Eita negão bonito, mas o que tem de belo, tem de complicado. Só queria ele por uma noite”, pensou Joana voltando a sua atenção para o trabalho.

O futuro empresário do ramo de livros decidiu voltar a pé até o escritório de Angélica. Não seria mais uma surpresa, pois tinha feito isso na manhã anterior, mas não falara com ela desde o momento em que a deixou cedinho em seu trabalho. Chegou no saguão do prédio, pedindo para falar com a arquiteta. “- É para o senhor subir”, respondeu Débora.

Quando Márcio entra na antessala, quase foi engolido pelo olhar da secretária. “- O senhor é muito mais belo do que pela fotografia. De onde saiu será que não tem alguns igualzinho ao senhor?”, disse isso lhe dando uma piscada e rindo ao perceber que o jornalista ficou incomodado.

Quando Angélica saiu, ficou toda efusiva, notando que ele estava diferente. “- O que foi? Aconteceu alguma coisa? Alguém te desrespeitou?”. Antes de responder, Márcio deu risadas. “- Essa moça que pediu para eu subir, me perguntou de onde sai se não havia ninguém parecido comigo”.

A secretária ficou assustadíssima, porque não esperava que ele fosse dizer à Angélica. E tentou se justificar, tentava remediar de todas as formas e a patroa para colocar mais lenha na bisbilhotice de Débora, disse-lhe: “- Jogue água no fogo que tens ai no meios das pernas. O meu amigo aqui vai entrar para o clube dos casados em breve e veio aqui para eu fazer o projeto da casa que vai viver com a sua esposa.  Venha cá em minha sala, senhor Márcio, vamos fazer um pré-projeto a partir de suas intenções.”

Quando entraram na sala da arquiteta, ela o agarrou, beijando desesperadamente. “- O que está fazendo aqui seu louco? Já sei! Se exibir para a mulherada que trabalha comigo. Tive que relevar a cantada da Débora, mas depois vou lhe chamar a atenção”

– Para quê? Só para ela saber que eu já vou me casar? Ai você diga que a minha esposa é uma arquiteta amalucada que toma uma garrafa de uísque com o futuro marido e apaga nos braços deles.

– Mas o que você faz aqui?

– Te convidar para almoçar comigo. Depois eu tenho que tirar o passaporte e em seguida dar uma geral no apartamento. Fiquei na rua novamente. Emprestei a minha casa ao Roberto ficar. Brigou com a mulher ontem à noite e acabou dormindo na redação. Então vou dormir num hotel até embarcarmos para a Alemanha.

Angélica não falou nada. Pegou da lista telefônica e começou a folhear. “- O que você está fazendo Angélica?”. A arquiteta o fitou com os olhos brilhando e falou: “- Estou vendo se acho aqui na lista um hotel que aceita eunucos. Sim! Porque você vai para um deles só se for capado. Minha cama está com saudades do teu corpo”.

Largou o livro de telefone em cima da mesa, indo em direção ao jornalista. “- Amor não sei se tenho estômago para comer alguma coisa. Está tudo virado aqui dentro. Já vomitei duas vezes agora pela manhã. Mas vou contigo para te fazer companhia”.

– Está tudo bem. Então vamos. Você prefere ir andando ou vamos de carro?

– Vamos de carro. Só quero desfilar pelas ruas com você depois que tiver uma aliança nesse dedo. Se eu ver alguma mulher te olhando, sou capaz de espancá-la.

Márcio gargalhou e levou um beliscão. “- Pare de rir assim. Sabe que eu fico sem noção com muito tesão”, disse a arquiteta pegando a bolsa para saírem. “- Débora, estou saindo para almoçar com o senhor Márcio. Eu volto dentro de no máximo duas horas”.

– Dona Angélica, mil desculpas pelo gracejo que fiz com o seu cliente. Estou completamente envergonhada. O senhor me desculpas.

– Tudo bem. Não vejo problemas algum. Galanteios é sempre bom. Faz melhorar nossa autoestima, animando a nossa alma. Portanto, nos deixa bem. Você também tem lá seus atributos. Aposto que os homens caem aos seus pés.

Quando já estavam quase na porta de saída, Angélica falou alto: “- Vamos amor! A comida pode esfriar”. Quando o jornalista se aproximou dela dentro do elevador levou outro beliscão. “- Acho que você não tem noção do perigo. Ficar cantando minha secretária na minha frente é altamente arriscado. Morre você e ela. Se cuide neguinho”.

–  Só fui gentil com a moça que tinha ficado toda encabulada com a cantada que me deu, e em seguida foi denunciada à patroa. E por que você me chamou de amor na frente dela? O que estava pensando?

– Não disse por nada! Mas ele entendeu. Se ficar ciscando muito perto de você eu arranco as penas dela com pinça. Agora, seja gentil comigo e com meu corpo que anseia pelo seu.

Quando chegaram ao restaurante que Márcio costumava almoçar com Rodolfo, Angélica olhou e não sentiu apreço por nenhum dos pratos. O repórter repetiu o mesmo ritual, sem perceber que o fazia, mas arquiteta viu e ficou intrigada. Ela já tinha visto ele fazer aquilo outras vezes, mas achou que era em virtude por estar em lugar desconhecido.

Para não ficar de estômago vazio e só olhando enquanto Márcio se alimentava, a empresária se serviu de verduras verde-escuras e alguns legumes cozidos, além de um pequeno pedaço de peixe. Quando Márcio foi pegar carne vermelha, ela só o olhou e este entendeu o recado. Ao se sentar, a arquiteta fitou o prato dele e já soltou. “Bebemos muito ontem. Não convém comer coisas pesadas hoje”.

– Tudo bem amor. E o que sugeres no jantar? Sopa?

Angélica ficou em silêncio, mas louca para falar do que viu ele fazendo. “-Márcio. É impressão minha ou você tem algumas manias esquisitas? Eu já te vi fazendo isso outras vezes e achei que era viagem minha. Você repetiu uns movimentos aqui que o flagrei em outros restaurantes, inclusive quando voltávamos para cá.

– Que hábitos?

A empresário olhou e achou melhor não falar nada. Conversaria depois com ele. “Está explicando porque o pessoal naquela cidade o chamava de esquisitão. Os amigos devem saber que ele tem essas manias”.

Quando o garçom chegou e perguntou o que iam beber, a arquiteta se antecipou, dizendo: dois chás verde e gelado.

– Você vai tomar dois?

– Claro que não né! Um é para o meu estômago e outro para você.

Ao dizer isso, ela olhou para o atendente dizendo que era só isso.

Terminaram o almoço, voltaram para o escritório de Angélica e ambos foram se higienizar. A secretária tinha saído para almoçar. Quando o casal ia saindo porque Angélica insistiu em levá-lo ao órgão que emitiria seu passaporte, Debora vinha entrando e quando os viu, baixou o olhar.

Quando estavam dentro do elevador novamente, Angélica informou ao amado: “- Está vendo como ela entendeu o recado, meu amor!”

– Que recado?

– Meu deus do céu, mas tu és desligado mesmo hein. Bem que minha mãe disse que para morrer de repente, você levará um século.

O repórter fez aquela cara que estava sem entender absolutamente nada e acabou recendo um beijo da arquiteta que falou: – Ainda bem que você demorará todo esse tempo, sendo assim eu tenho um século para ser feliz contigo”.

Ao deixar Márcio no departamento, informou que o pegaria em casa depois do expediente. “- Lá pelas sete estou passando lá e esteja pronto. Minha cama está com saudades deste corpo gostoso aí”.

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