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Quando chegaram à casa de Eleanora, o rosto de Angélica denunciava que havia mudanças no relacionamento dela com Márcio. Já o jornalista se esforçava para não deixar nada transparecer, até porque o irmão dela era bisbilhoteira e adorava deixar o amigo em saia-justa.
“- Meu amigo, a aranha está te fazendo bem. Ao contrário dos mosquitos que são fisgados nas teias do reino animal, você se encontra muito bem para quem está prestes a ser prisioneiro na torre da Rainha Má e tenho certeza que nenhum Peão vai te socorrer, Cavalo ou Bispo”, disse Amadeu indicando que tinha quase certeza do que teria feito o amigo ficar com aquela cara toda iluminada.
– Amadeu! Não seja indiscreto. Você não queria mostrar para o Márcio a sua série de cartas que será enviada a sua Rainha de Ébano? Então vai lá que quero conversar aqui com a sua irmã, antes dela voltar ao trabalho.
Amadeu arrastou o repórter, enquanto Eleanora levava a filha para a sala e oferecia a ela um vinho. “- Minha filha que cara é essa? Finalmente transaram e você descobriu o quanto Márcio é maravilho?”.
– Muito melhor, mãe. Para não me alongar vou tentar resumir tudo. Ontem eu flagrei Márcio com uma amiga, a Fernanda. Ele desligou o telefone o dia todo e eu não consegui contatar-lhe. Quando o encontrei, não consegui me controlar: joguei chope no rosto dele e da amiga. Um horror!
– Keka como você desceu tão baixo? O rapaz não me parece ser desse tipo!
– Pois é mãe! Chegamos em casa eu o ataquei, ou melhor, o agredir sexualmente. Estava possessa, achando que ele queria era aquilo. Depois corri para o quarto e me tranquei lá, o deixando sozinho na sala. Pensei que me procuraria, mas nada fez. Tomou banho e foi dormir no quarto de hóspedes. Fiquei mortificada por dentro.
– E aí filha, vocês fizeram as pazes? Trepar não significa cessar o conflito. Pelo contrário, pode até intensificá-lo!
– E foi realmente isso que aconteceu. Entrei no quarto e escrevi com o meu batom um pedido de desculpas no espelho e me deitei ao lado dele. Hoje pela manhã acordamos como se não tivéssemos o que falar um para o outro. Coloquei minha roupa e fomos embora. Tomamos café e eu disse que a padaria não era nossa, nem eu era dele e nem ele era meu. Dei-lhe adeus. Estava disposta a não tentar mais nada. Eu me sentia como se tivesse violentado o Márcio.
– Como conseguiu trabalhar?
“- Eu tentei, mas foi foda. Estava tão na fossa que até pensei em viajar a Alemanha e tentar reatar com Rosângela. Mandei uma mensagem para ela nesse sentido e recebi de volta essa imagem aqui”. Angélica mostra para a mãe uma foto dela com Márcio numa noite maravilhosa que tiveram dias atrás.
– Bem feito para você! Não estava com o Márcio? Tudo bem que vivem às turras, mas bastou um vento mais forte e tu já queria se refugiar no antigo, antes de buscar forças para encarar o que o futuro lhe propõe.
– Mãe! Estava desesperada! Eu havia colocado um fim no que vinha tentando construir com Márcio. Ontem à noite eu praticamente o violentei, achando que ele queria comer a Fernanda. Não conseguia mais lhe olhar. Entendi que estava no fundo do poço.
Eleanora olhava para a filha que completou: “- Não queria mais contar nada a senhora. Tinha que resolver as minhas coisas sozinhas. E eu achei que tinha que ser assim. Começar do zero, mas na primeira fraqueza, como acabou de me dizer, tentei correr para o passado, como o Márcio fazia sobre aquela noite que não parava de acontecer dentro da cabeça dele”.
– Mas e aí, como a coisa se processou? Márcio não falou nada. Deixou você ir?
Angélica explicou que ele ficou em silêncio o tempo todo, compreendendo que não havia mais anda a dizer um para o outro. “- Mas quando estava perto da hora do almoço e como tinha só beliscado o café da manhã, estava faminta. Briguei com a secretária. Eu estava uma verdadeira mala sem alças”, explicou a arquiteta.
– De repente a Débora entra em minha sala dizendo que tinha uma pessoa no térreo querendo me entregar um presente, mas queria que eu descesse para recebê-lo. E para mostrar quem era, ele mandou uma imagem: era o Márcio. Quase voei até o térreo, mas não queria me mostrar ansiosa e o tratei como um jornalista.
– Pensei que tivesse se jogado nos braços deles. Loucura para isso você tem.
– Com aquela conversa de jornalista, o deixei nervoso. Mãe! Ele não controlou a gagueira. Tinha ficado gelado, suando às bicas, não sabendo por onde começar. Estava completamente nu.
– Pelado!
– Força de expressão, mãe! Carregava com um buquê de flores e um saquinho. O mesmo que eu usei para lhe presentear com uma calcinha minha. Dentro da embalagem havia a chave do apartamento dele. Falou que foi me buscar para almoçar, pois o meu cheiro no apartamento dele estava quase acabando. Tomamos banhos juntos. Não aconteceu nada, mas precisava? Coloquei uma camisa dele, enquanto ele terminava o almoço. Tinha um equipamento de som que nunca tinha visto lá antes e uns discos com músicas maravilhosas.
– Então é por isso que vocês estão com essa cara de quem viu passarinho verde é?
– E quando a coisa estava deliciosa, a senhora ligou.
– Não estraguei nada?
– Não! Justamente porque viemos aqui para resolver aquela situação do passaporte dele. Depois eu volto para o trabalho e ele, inicialmente deveria ficar aqui a tarde e eu passaria para pegá-lo, mas acho que Márcio tem outras coisas a fazer. Então deixa que decida.
Eleanora abraçou a filha que começava a chorar de felicidades. “- Mãe! Acho que agora a coisa vai”, desabafa a arquiteta, enquanto a matriarca lhe disse ao ouvido: “- Agora controle sua ansiedade. Márcio não é perfeito, mas é o homem que pode trazer maturidade para essa sua cabeça e ao coração. Te digo isso não por ele ser homem, mas pela pessoa que é. Te aguentar não é fácil”, disse completando com um beijo no rosto da filha.
– Agora vá lá chamá-lo e vamos resolver isso rapidinho para voltarem à vida de vocês, enquanto eu fico aqui com o meu Amadeu recuperando o tempo perdido. Estou ajudando ele a escrever as cartas. Eu faço às vezes de Tarsila e ele digita no computador o que quer dizer a ela.
– A senhora está pensando em ficar com ele aqui e alugar o apartamento dele?
– Filha! Tudo vai depender dessa viagem que fará à Alemanha. Se Tarsila voltar com ele para o Brasil, aí veremos o que seja possível resolver. Se não, talvez eu mesma vá morar lá. Acho que essa casa está cheia de memórias do seu pai.
– Está certo mãe. Vou chamar o Márcio.
Quando o casal chegou, Eleanora já estava ao telefone falando com um funcionário gabaritado para agilizar o documento para o jornalista. “-É Antonio. Ele assumirá a diretoria de comunicação das minhas empresas e precisa desse documento para ontem. Organizará tudo o que temos no exterior e centralizar para o Brasil”, explicou a matriarca.
A pessoa do outro lado da linha disse que não conseguiria para aquela tarde, mas para o dia seguinte Márcio poderia procurá-lo no departamento. “- Mas veja bem, meu caro Antonio, tem que sair com o documento em mãos”, pressiona Eleanora.
– Pode deixar. Ele já tem o visto? Qual vai ser a primeira parada dele? EUA ou Europa?
– Primeiro vai para a Alemanha.
– Tudo bem. Talvez eu consiga providenciar o visto também.
– Obrigado Antonio. Quantos gols você gostaria que o seu time fizesse no principal adversário dele?
– Acho que 12 estaria de bom tamanho. Mas se não der para marcar tudo num jogo só. Pode ser em seis partidas.
– Está certo meu amigo. Assista o próximo jogo então e vamos ver se o seu time é bom mesmo!
Márcio ficou sem entender direito aquela coisa de jogo, goleada, uma dúzia de gols. Sabia que a conversa não tinha nada a ver com futebol, mas com alguma coisa relacionada ao “favor” recebido. Melhor não questionar nada. Sabia como funcionava a burocracia brasileira. Só fazia se recebesse um estímulo para além daquilo que o salário poderia pagar.
– Meu rapaz, amanhã você procura essa pessoa. Só diz que tem que falar com ela. Se alguém quiser saber, pergunte o nome e responda: “Não é você”. Então converso com ele. Mas acho que não terá problemas.
– Obrigado mãe.
– Agora vê se encerra logo essa história com a Rosângela. Já deu o que tinha que dar. E você meu rapaz, não machuque mais o coração de minha garota. Ela é toda confusa, autoritária, mas creio que encontrou alguém que fique com ela durante as tempestades. Quando estão pensando em viajar?
“- Se tudo der certo na próxima semana. Vamos esperar tudo isso ficar acertado. Depois compraremos as passagens e o Amadeu vai com a gente”, explicou Angélica.
Márcio olhou para ela e disse: “- Vou lá me despedir do seu irmão. Temos uma tarde cheia. Você vai ao seu trabalho e eu tenho que finalizar o meu projeto para te apresentar e isso inclui o meu amigo-poeta”.
Em conversa com Amadeu, o jornalista disse que na próxima semana iriam todos à Alemanha e levariam as cartas que ele estava escrevendo para Tarsila. “- Meu amigo, não esqueci da caça ao tesouro. Assim que eu encontrar, te aviso e faremos uma festa para comemorar o achado”.
– Obrigado, meu caro repórter. Não esqueça de nossa conversa. Faça minha irmã feliz, seja ousado, cuidadoso e amável com ela. Keka não sabe o que é o amor. Por isso fica perdida quando está com você. Ela é a mulher que estava no fundo do seu copo lá no bar. Você não a enxergava porque ainda não havia se materializado. Quanto a minha pessoa, sei que te dei muito trabalho, mas estava tão perdido quanto ela, aliás ainda estamos. Mas, aos poucos vamos nos encontrando dentro da nova realidade que tens nos ajudado a construir.
– Amadeu! Adoro você. E sei que será muito feliz com Tarsila. Vocês vão poder finalmente realizar aquilo que foi planejado com os jogos de luzes, o tabuleiro de xadrez e o baile em que Rei e Rainha se tornam um só ser. Sem ter essa coisa de um comandar o outro. Agora me deixe ir. Preciso preparar novas surpresas para o meu amor.
O casal saiu da mansão como chegaram: de mãos dadas e almas unidas. Quem pudesse enxergar a energia que emanava do coração dos dois teria uma ideia do que sentimentos compartilhados podem fazer. Para enfrentar as diferenças e os problemas individuais de cada um, é necessário que ambos estejam dispostos a unir as partes mais fortes e os anseios de compartilharem com o outro o que cada um tem de bom dentro de si. Márcio e Angélica, na solidão do silêncio sepulcral daquela manhã, compreenderam o que cada um tinha que fazer.
Chegaram na sede das Organizações Oliveira e a arquiteta convidou o jornalista para entrar. Este se recusou. “- Ainda não é o momento, amor. Depois que voltarmos da Alemanha, poderemos começar a deixar o pessoal me ver mais ao seu lado. Não precisamos dizer nada a ninguém. Fique aí no seu trabalho enquanto vejo umas coisas sobre o projeto que desejo te apresentar. O jantar hoje é por tua conta. Eu fiz o almoço”, disse o jornalista.
Antes que a empresária pudesse dizer alguma coisa, do tipo não saber cozinhar, Márcio lhe beijou, saiu do caro e da janela disse. “- Estou aguardando sobre o jantar”, caminhando em direção a lugar incerto, mas com um vetor na cabeça. Este o levou a loja onde Fernanda trabalhava. Quando ela o viu, a primeira coisa que procurou foi observar se Angélica estava com ele.
– Por que a cara? Parece que viu um fantasma!
– Estou com medo daquela tua mulher! Ela é uma Rainha Diaba. O que ela fez ontem à noite! Olha! Tu és mesmo um santo bundão. Você tinha que mostrar quem é que manda na parada!
– Eu não quero mandar em nada e nem ninguém. Se puder conciliar através da persuasão ótimo. Se não puder, melhor abandonar a disputa.
– Eita homem cagão! Mas qual é o motivo para vir aqui me ver? Sei que não é para comprar roupas. Ela não deixaria.
– Querida. Só vim pedir uns conselhos rapidinho. Vou comprar umas roupas para ela. Mas é para deixar no meu apartamento. Então estou pensando em algumas coisas que não sejam extravagantes, mas sensuais.
– O que você está pensando?
– Sei lá!
– Vou te levar a um setor da loja de roupas femininas e para não te influenciar, ficará sozinho e à vontade.
– Fê! Preciso que essas roupas sejam lavadas e entregues no meu apartamento antes das seis horas. É possível?
-Sim. Vou ligar para a lavanderia e já encomendar o serviço que virá na sua conta. Você tem preferência no aroma?
– Tem isso também?
– Tem seu bobo!
– Acho que Jasmim. Espero que ela goste.
Fernanda deixou Márcio no setor de roupas femininas. As mulheres que lá estavam acharam estranho um homem ali. Não tinha como deixar de chamar a atenção. Ele pegava uma peça, olhava, pensava, imaginava Angélica vestida nela. Separou três calças, três blusas e três vestidos um de cada tamanho e com decotes provocativos diferentes. As cores combinavam, acreditava ele, com a cor dos olhos dela. Foi para o setor de lingerie. Só aí percebeu que estava sendo acompanhado por uma mulher. Virou-se e lhe perguntou: “- A senhora perdeu alguma coisa aqui?”
– Não! É que nunca vi homem comprando roupas de mulher.
– É para eu e seu marido usarmos hoje à noite. Ainda não sabemos se ele vai me dar o cu primeiro ou se sou eu quem vou enrabá-lo, enquanto a senhora assiste. Pode ser assim, ou deseja de outra forma?
– Você não tem um pingo de educado, hein negão!
– A senhora pense o que quiser, mas guarde o conteúdo para o seu próprio ser. Quem sabe ele adore o veneno de sua própria língua.
A mulher saiu e foi reclamar com a vendedora que o tinha colocado naquele setor. Fernanda disse: “- Vai se acostumando, minha senhora. Meu amigo ali é diferenciado. Não gosta que ninguém lhe pergunte nada, a não ser que ele converse. Ele é um amor de homem. Gostaria que de tê-lo como marido. Ele não é lindo?”
– Lindo e desbocado. Com aquela língua perdeu todo o encanto. Cruzes!
Márcio tinha terminado de escolher as peças, inclusive de lingerie. “- Fê, você acha que ela vai gostar? Estou com medo. Fiquei sabendo que as mulheres não gostam que os homens lhe compram roupas.”
– As tontas sim! As que verdadeiramente descobriram o amor, ficarão deslumbrados e acho que a dona mandona, a poderosa Rainha Diaba, vai adorar.
Ao ouvir isso da amiga, lhe entregou as peças e o cartão, também passando o endereço que era para as roupas serem entregues. Chegou ao caixa para pagar, pediu ao gerente acrescentar mais R$ 200. “- No final do dia, por favor repasse para a vendedora. É um presente meu a ela”.
O jornalista voltou andando para o seu apartamento e desta vez estava mais ligado. Não queria ser surpreendido por nem um ato fortuito. Chegou em casa com o corpo encharcado pelo suor. Correu para o chuveiro. Na volta viu que tinha uma ligação perdida. O número era de Angélica, mas diferentemente das outras vezes, não havia outras chamadas.
Retornou a ligação: “- Oi amor. Não atendi porque estava no chuveiro. Cheguei todo ensopado de suor. Eu voltei a pé.”
– Tudo bem, Márcio. Só liguei para te fazer uma pergunta: o jantar vai ser onde? Na sua casa ou na minha?
– Você decide!
– Então está certo. Devo ficar por aqui até umas 19h. Tenho muita coisa para ajustar e vou para a última reunião e depois um café da tarde com os colaboradores.
– Estarei te esperando. Dar uma olhada nessa coleção de discos que tem aqui. Eu não sei quem mandou esse aparelho para cá. Mas os discos são semelhantes aos que eu deixei na casa de minha mãe quando sai de lá.
– Depois descobrimos isso juntos.
– Tudo bem. Bom trabalho.
Márcio fez uma seleção de discos. Separando-o do conjunto de vinis e começou a ouvir e cada uma delas o levava a lugares pretéritos em que sempre teve que fazer opção pelo que pensava ser o certo, não para os outros, mas para si mesmo. Sabia o quanto era defenestrado pelo pessoal. Quando participava das festas universitárias tinha dificuldades de se interagir, optando por ficar no seu espaço, mas logo cansava daquilo e voltava para casa.
Passou a tarde lendo, pesquisando, ouvindo os velhos discos e elaborando o projeto que pretendia apresentar a Angélica. A ideia era montar uma pequena editora para publicar os textos de Amadeu. Ele poderia editá-los todos e lançar como primeira obra da empresa. Se quisesse, o poeta usaria um pseudônimo para não dizer que tinha a criação do selo só ocorreu para publicar os textos do irmão. Ali estava o embrião, mas precisaria saber onde estavam os outros textos do poeta. Desconfiava que os livros estariam no mesmo galpão para onde foram parar as suas coisas quando Eleanora achou que podia mandar e desmandar no mundo. Mas o topete dela foi derrubado pela morte de Jô, um gigante construindo sob uma marquise de barro.
Desligou tudo. Eram cinco horas. Como Angélica disse que ficaria na empresa até as sete, daria tempo de dar uma desligada. Enquanto se preparava dormir, ouviu o barulho de gente que batia à sua porta. Perguntou quem era. “-Fernanda. Vim pessoalmente trazer a sua encomenda”. Abriu a porta e a amiga entrou. Começou a olhar em tudo e finalmente disse: “- Já estive aqui outras vezes, mas tem algo diferente nesse seu apartamento. Está mais arejado. Não tem cheiro de mofo. É! A louraça está tirando o bolor do meu amigo. Obrigado pela gorjeta. A grana que você e ela me deram, salvou o meu aluguel. Então terei mais dinheiro na minha reserva”.
– Querida! Se você quiser, eu converso com Angélica para te arrumar alguma coisa para ti nas empresas dela.
– Deus me livre! Depois do que ela fez ontem? Jamais. Mesmo que ela, por gentileza ou, como pedido de desculpas por ter jogado chope no meu rosto, eu não quero. Aquela mulher é cismada comigo. Deixe eu seguir com as minhas próprias pernas. Meu querido, preciso ir. Tenho um encontro logo mais à noite. Torça por mim. Quem sabe desta vez eu acho o meu macho.
– Fê. Se a coisa apertar, dá um grito que te socorrei.
– Tudo bem, meu querido! Oh! Estou muito feliz por você. Tenho certeza de que ela vai te fazer feliz, mas é claro se você deixar. Às vezes é bom tirar o terno dos termos e usar umas bermudas coloridas.
Se despediram e antes de ir dormir, Márcio abriu a sacola que Fernanda havia lhe entregado, observando que tinha coisa errada lá dentro. Haviam as peças que comprara, mas também outras, como lingerie. Ligou para a amiga e está lhe respondeu: “- Vai por mim. Coisas de mulheres! Se ela não gostar, podemos trocar. Agora manda ver, seu bobo. Ame-a de todo o seu coração. Vocês dois se merecem. Meu amigo, tu precisavas de uma locomotiva que te atropelasse e ela chegou. Estou imensamente feliz por você. Torce por mim hoje à noite. Beijos. Te adoro!”
Não quis tirar as roupas da sacola. Deixaria para que Angélica as visse primeiro. Aprontou o celular para acordá-lo perto das seis e meia e deitou ali mesmo no sofá. O sono foi leve, mas quando acordou teve a sensação de ter conversado com a mãe que lhe dizia que a felicidade se constrói lentamente, tijolo por tijolo. Não precisa pressa, mas firmeza nas decisões. Uma vez tomada, não retroceder jamais. “Será que um dia haverá reconciliação? Queria ser acolhido como Amadeu foi pelos seus familiares. É um sonho que eu não tenho direito de alimentar. Preciso viver o meu hoje e ele com certeza é com Angélica”.
Entrou no chuveiro para tirar os últimos resquícios do sono. Pensou em purificar a casa com um incenso. Como a essência usada na lavagem das roupas que daria para Angélica era de Jasmim. “Acho que seria interessante queimar um”, pensou o repórter, já acendendo e purificando levemente o apartamento.
Sete horas Angélica abriu a porta do apartamento e Márcio tinha pego uma cerveja na geladeira. “- Ué! Falou que ia ficar na empresa até as sete e justamente as sete chega em casa. O que aconteceu?”.
– Não aguentei. Tentei, mas não deu. Queria logo te ver. Estava com saudades. Optei por não te ligar, mas vir o mais rápido para os seus braços. Te amo!
– Dê-me essas sacolas. Teu carro está onde?
– Deixei na empresa. Optei por pedir um transporte até o supermercado e de lá peguei outro, pois já tinha decidido o que fazer hoje. Vou tentar cozinhar para o meu neguinho. Já vou adiantando: não sei cozinhar direito. Quem fazia as coisas era a Rosângela.
– Posso te fazer uma pergunta? A Rosângela está onde? No teu passado, no presente ou vai povoar o seu futuro?
– Desculpe-me amor. Você tem razão. Antes de começar a tentar cozinhar para você aqui no seu apartamento, preciso de um banho. Hoje quero satisfazer um desejo escondido aqui dentro dessa cabeça e no coração. Dormir aqui contigo.
“- Que maravilha. Vai lá tome o banho e escolha o que vestir para essa noite. Espero que goste, mas se não, apenas não me enforque ou me faça engolir as peças”, disse isso e caindo na gargalhada, pois se lembrou dos sonhos que andava tendo.
Angélica se dirigiu ao banheiro, enquanto ele levava as compras para a cozinha. A ideia era enquanto ela se banhava, preparar uma entrada com alimentos à base de vegetais. A segunda surpresa era a de que ele faria a comida. Viu tudo o que ela trouxe e começou a preparar. Escutou os gritinhos dela dentro do banheiro e enquanto preparava os filés de sardinha para serem assados, ela aparece completamente nua, berrando, chorando, o beijando e agradecendo pelas roupas. “- Essas peças devem ficar aqui para quando você vir ter comigo”, explicou Márcio.
– Adorei o cheiro de Jasmim que está nas roupas e pelo apartamento todo. Espera ai! O que você está fazendo? Eu quem iria fazer o jantar.
– Resolvi me antecipar. Você vai ficar um tempão provando aquelas roupas e o jantar poderá sair muito tarde. Agora vai lá. Tome banho sem pressa. Depois que eu terminar aqui, se você ainda estiver lá, terminamos de preparar a comida juntos.
Ela voltou ao banheiro, mas antes deu um beijo no repórter e tomou um gole da cerveja alemã dele. “- Um que gosto diferente, amor. Que cerveja é essa?”. Márcio respondeu imediatamente: “- É a mesma! Só que sem álcool. Agora vai lá minha gostosa. Te quero linda hoje. Se é que seja possível ficar mais bela do que tu és!”