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“- Alô! Márcio? Vem para a redação imediatamente! A coisa tá quente por aqui e os diretores do jornal querem falar contigo. Rápido, antes que você engrosse a fila de desempregados diplomados!”
Esse foi o conteúdo do recado que Márcio acessou assim que saiu do banho. Tivera uma noite de cão, sonhos, pesadelos, lingeries, blusas rasgando, cinta-liga, vinho e outras coisas que nem sabiam ao certo o que eram e seus significados.
Pensou em tomar café, mas pelo teor da mensagem recebida achou melhor ir rapidamente para o jornal e, depois da reunião, sairia para tomar café ou, se fosse tarde, almoçaria de uma vez para não atrapalhar suas refeições. Fez o trajeto de casa à sede da empresa pensando sobre no que poderia ser de tão urgente assim. Não tinha feito nada de errado, exceto a conversa com aquela senhora no dia anterior relacionada ao texto que publicara na edição do domingo. “Impossível! Uma coisa de nada! Um texto despretensioso, apenas para preencher o espaço que eu havia pedido a Roberto”.
– Bom dia Mônica! Pediram pra eu vir rapidinho pra cá! Sabe do que se trata?
– Bom dia Márcio! Eu não sei do que se trata, mas acho que você deveria ir preparado! Depois que uma senhora toda distinta entrou na sala do diretor, o clima mudou. É um tal de perguntar se você já chegou!
– Obrigado Mônica! Depois nos falamos.
O repórter se apressou, mas ficou mais apreensivo, sentido o coração vir a boca. Aquela sensação no estômago voltando, indicando que a ansiedade poderia lhe visitar naquele dia. Bateu na porta e ingressou após ouvir o “entre”. Lá dentro, antes mesmo de se dirigir ao diretor-presidente da empresa jornalística, Márcio passou a vista pelo ambiente e se deparou com aquela senhora com quem havia discutido no dia anterior. Gelou, mas se manteve firme, mesmo com aquela sensação da boca seca e o suor frio a lhe escorrer pelas costas.
– Bom dia, João Marcelo!
– Para o senhor, é “bom dia dr. João Marcelo!”
O jornalista se sentiu mais intimidado ainda, pois, nas poucas vezes em que conversou com o presidente, nunca foi preciso usar toda essa formalidade. Percebeu que estava em maus lençóis e que a coisa poderia ser longa, se não conseguisse se explicar. “Mas o que essa senhora está fazendo aqui?”, interrogou-se em silêncio, olhando novamente para a mulher e sem deixar de notar os atributos físicos e a roupa que estava vestida, evidenciando que estava entre os 30 e 40 anos, mas muito bem distribuídos naquele belíssimo corpo.
“-Vamos ao que interessa!” Disse-lhe o diretor, trazendo Márcio de volta à realidade e aquele gosto nauseante a lhe visitar, indicando que tinha que se manter firme para não sucumbir ali mesmo na sala do diretor.
– Essa é dona Angélica Maria …
Não conseguiu ouvir o resto do nome da mulher, pois ficou assombrado. Em sua casa ela lhe disse chamar Tarsila e agora usava outro nome. “Melhor não perguntar nada. Já sei que a coisa vai queimar”.
– Ela me disse que o senhor andou publicando matérias em meu jornal que ia contra os interesses dela e de seus familiares! É verdade?
– Doutor, não sei do que o senhor está falando.
João Marcelo jogou o jornal em direção a ele na página em que estava estampado o texto publicado no dia anterior.
– O senhor está falando deste artigo aqui?
– É!
– O texto é de minha autoria, mas eu nem sabia que dizia respeito a essa senhora que nem mesmo sei o nome dela!
– É Angélica. Tá surdo?
– Mas ontem ele esteve em minha casa, me ofendeu, além de falar dessas linhas aqui, contudo, se apresentou como Tarsila!
“- O nome dela não interessa”, berrou o diretor. “- Se ela está dizendo que essa porra de matéria afeta diretamente a ela e aos seus interesses, o senhor vai parar com essa história. No meu jornal ninguém publica temas contrários aos nossos anunciantes e leitores. O senhor me entendeu!?”
– Agora sai e mande o seu editor vir aqui. Vou me acertar diretamente com ele, mas quero lhe avisar. Se sair mais alguma linha sobre essa porcaria aqui, tanto o senhor quando o seu editor estará no olho da rua. Depois vocês montem um jornal para publicar essas asnices de bêbados que fazem todos os dias as mesmas coisas. Senhor Márcio, o senhor não é chagado a uma cachaça que eu sei, mas faz todos os dias as mesmas. Tem uma vida enfadada que nem mulher consegue ter. Passar bem!
Depois desse esporro, Márcio saiu apressado da sala e todo envergonhado. Foi humilhado novamente por aquela mulher que nem sabia ao certo o nome dela, mas que em menos de 24 horas, o tinha marcado duas vezes como um gado no curral que receberia a chancela de seu dono. Apressadamente foi até a sala de Ricardo.
Entrou na sala de seu amigo e editor com a cara de quem acabara de acordar dum pesadelo e com as axilas toda encharcada, molhando as mangas de sua camisa. Foi logo dizendo: “- O diretor tá possesso e quer falar com você!”.
– Ele já comeu o meu cu logo cedo, querendo saber que porra de matéria foi aquela que você publicou ontem e mandou te chamar. Quando eu estava saindo da sala entrou uma senhora. Ela está lá ainda?
– Está sim, meu amigo e parece que tem ligações com aquele cara que eu vinha tentando arrancar uma matéria especial sobre as loucuras e sandices dele. Mas pelo visto, conseguiu coisa pior.
– Fique aqui! Não vai embora não. Não vou segurar esse rojão sozinho. Vou dividir com você o fumo. Então prepare o rabo para compartilhar o nabo comigo.
Não deu nem tempo de o jornalista esquentar a bunda na cadeira, Ricardo já estava de volta, mais branco do que papel e já foi logo soltando os cachorros em cima do amigo.
– Se eu perder esse emprego por conta das suas maluquices, tu tá fodido comigo cumpade!
“- Mas o que aconteceu?”, pergunta-lhe Márcio, tentando amenizar a ira do amigo que, com certeza, foi ameaçado de demissão. “Porra! Quem é essa dona que fez com que João fique tão emputecido ao ponto de querer mandar-nos embora, por conta duma meia página de jornal sobre uma história sem proporção alguma?”
– Esquece essa história deste alucinado do Amadeu, se não daqui a pouco tu estarás como ele, meu caro. O João Marcelo tá enraivecido. Parece que aquela Angélica colocou a baioneta no pescoço dele por conta dessa sua publicação. Acho que aquele doido com qual você andou falando nos últimos tem alguma ligação com ela.
– E o que eu faço agora, Ricardo?
– Falei pro diretor que ia te dar o dia de folga para que repense algumas coisas e volte amanhã mais tranquilo. Você acredita que a mulher disse que falou contigo ontem e tu estava completamente alcoolizado? Aí o homem ficou mais encolerizado e berrou pra mim dizendo que não paga o seu salário para que fique enchendo a cara de segunda a segunda!
– Tá bom meu camarada. Vou aceitar a sua oferta e ficarei o resto dia em casa. Mas antes, tu aceitas almoçar comigo? Não tomei café da manhã!
– Tudo bem, almoçamos juntos. Só me dê um tempinho pra eu arrumar as coisas aqui e organizar o trabalho para a parte da tarde quando as matérias começarem a chegar para a edição de amanhã.
– Não vou ficar aqui do prédio te esperando, porque se cruzar com aquela mulher, sou capaz de mandá-la novamente tomar no cu, como fiz ontem quando ela foi em casa me atazanar a vida.
– O quê? Você brigou com ela ontem?
– Sim! Mas te conto durante o almoço. Vou indo na frente e te espero no American Bar do restaurante.