Problemas econômicos e políticos no Brasil

Gilberto Barbosa dos Santos

 

Afinal, o problema do Brasil é econômico ou político? Ou os dois ao mesmo tempo? É tentadora a busca por uma resposta, seja ela no campo teórico ou ideológico, contudo, me parece que antes de campear objetivando encontrar um ponto em que os dois universos estejam comungados, se faz necessário repensar um pouco sobre as raízes deste país, conforme nos propôs o pensador brasileiro Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982) na obra Raízes do Brasil (http://www.tecnologia.ufpr.br/portal/lahurb/wp-content/uploads/sites/31/2017/09/HOLANDA-S%C3%A9rgio-Buarque-Ra%C3%ADzes-do-Brasil.pdf). Se por um lado, propõe uma volta aos antepassados nacionais – meus leitores não querem mais percorrer as ruas empoeiradas das grandes cidades, principalmente aquelas criadas na esteira da chegada da Família Real ao Brasil em 1808. Conheço um grande aglomerado de pessoas que não tem mais paciência em ficar ouvindo que, se não se resolver o problema de fundamento desta Nação, de nada adiantará ficar propalando aqui e ali mantras, segundo os quais apenas no momento em que acontecer isso, quando ocorrer aquilo é que realmente se viverá numa pátria edênica.

Se isso é fato e, caso eu resolva concordar com quem se ocupa em ler as linhas que publico aqui todas as semanas, então deixarei o passado para um segundo momento que pode ser explorado ainda no corpus desta enunciação ou em outra narrativa, quando a temática for alvissareira. Desta forma, vou direto ao ponto: a problemática brasileira do presente começa no mundo da política e na inoperância e inapetência do nosso eleitorado que analisa tudo a partir do ponto de vista do imediatismo e de conseguir levar vantagem em tudo, nem que para isso, boa parte da sociedade seja prejudicada, conforme ficou explanado no grande esquema de corrupção investigado pela Operação Lava Jato. Para que os desvios ocorram, é preciso que haja conivência de todos os integrantes da cadeia que alimenta o sistema, ou seja, do corruptor que é corrupto, do corrompido que é corrupto e do sistema e das leis que permitem que os plutocratas e seus asseclas se fartem com o dinheiro público e não lhes acontece nada, exceto uma prisão aqui e outra ali, mas, ai vem o foro privilegiado que é o mais importante numa eleição para o Legislativo.

No presente, o Brasil está passando por um período eleitoral e, conforme disse a um amigo recentemente: desde que acompanho o universo eleitoral, a partir da não posse de Tancredo Neves, eu nunca vi um pleito com tamanho ressentimento, violência verbal, recrudescimento e truculência. Não é preciso nomear os postulantes, mas apenas recuperar fatos das últimas eleições em que muitas pessoas desfizeram sólidas amizades por conta duma sigla, dum projeto de governo mentiroso que culminou com o impeachment, provocado, não por crime comum, mas sim por um delito no universo da política, já que a mandatária resolveu administrar o país sem o aval do Congresso Nacional, a exemplo do que aconteceu no começo da década de 90 do século passado com o ex-presidente Fernando Collor de Mello, fazendo com que a observação de Karl Marx (1818-1883) ganhasse eco, já que o mesmo disse que a história sempre se repete: uma vez como farsa e outra como tragédia! Olha o drama político do último impeachment brasileiro – não há um posicionamento de minha parte em prol de quem ocupava o cargo naquele momento, pois o processo de cassação foi legal, já que dentro da lei.

Mas por que a truculência desta vez ganhou repercussões de drama? Pela ausência clara de um projeto político para o Brasil! A maioria dos postulantes ao cargo máximo da Nação não possui um projeto de governo para o país, mas apenas o desejo atroz de se tornar o mandatário do Brasil e para se atingir esse fim, lança mão de recursos escusos para não dizer reacionários. Discursos verborrágicos disto e daquilo, quando não, amontados de coisas que não condizem com o que o brasileiro espera a partir de 2019! Desta forma, pode-se dizer que 2018 já terminou, ou melhor, está em vias de acabar, pois só se fala em eleições, que o dólar subiu, desceu, que candidato tal disse isso e aquilo, que vai acabar com os registros do SPC e outras negatividades na vida do cidadão que, por acreditar no canto da sereia vermelha e escudada num populismo econômico e distorção do desenvolvimentismo, está endividado por longos anos.

Não consigo vislumbrar programas eficazes para três problemas importantes que o Brasil ainda não equacionou e isso, vem desde a libertação pelo alto dos escravos e de quebra do sistema escravagista. Os africanos foram libertos, porém, os senhores de escravos não foram alforriados de suas práticas, hábitos e costumes. Em virtude disso, ainda se assiste sujeitos que se acham melhor do que o outro porque a família fez isso e aquilo, entretanto num passado em que o tronco era a resposta para o africano que lutava pela sua liberdade total. Ainda são sentidas até hoje as consequências daquele 13 de maio, por que a decisão não foi tomada levando em conta o amanhã daquela massa que passou séculos no cativeiro e a partir daquele momento se tornou amorfa. Há aqueles pesquisadores que acreditam que ocorreram debates sobre o que fazer com os escravos e seus descendentes, entretanto, toda discussão sempre dizia respeito a excluí-los e não incluí-lo no mercado de trabalho assalariado que nascia naquele período com a chegada dos imigrantes e uma pequena industrialização.

Contudo, a lei foi promulgada e publicada num sábado na primeira quinzena de maio de 1888 tornando todos iguais perante o código, conforme eu disse a um grupo de alunos um dia desses aí. A igualdade tão sonhada pelos franceses revolucionários de 1789, finalmente chegou ao Brasil por intermédio de um ato do alto do trono, enquanto os descendentes de africanos aguardavam para pegar as migalhas que caiam das mesas dos poderosos e tinham que fazer reverência a esse procedimento de concessão. Sendo assim, mesmo que a lei dizia que todos tinham direito a liberdade, esse mesmo código não garantia educação, salário digno, aperfeiçoamento enquanto mão de obra. Os resultados todos já sabem, entretanto, entrou governo, saiu governo e a coisa permaneceu a mesma e, ao que tudo indica nessa truculenta campanha eleitoral, vai permanecer por mais quatro anos em virtude da ausência de projetos coerentes para o Brasil do futuro.

Se não há programas a ser defendidos pelos postulantes ao principal assento em Brasília, o que resta então aos seus eleitorados? Defender ideias toscas, imediatistas? Quem digladia com os adversários ou quem deseja outa mercadoria política diferentemente desta que está em liquidação, normalmente são aqueles que desconhecem profundamente o problema do Brasil ou estão muito ressentidos porque acreditaram que a fonte do dinheiro que jorrava a partir da capital federal jamais iria secar, entretanto, tudo ficou um atoleiro só e agora, o barro está secando apresentando as rachaduras nos orçamentos familiares e, em virtude disso, é preciso deixar o buraco econômico em que se meteram. A culpa é de quem? Dos políticos que, enquanto encantavam, douravam a pílula do consumismo, embolsavam parte da riqueza do país.

 

Gilberto Barbosa dos Santos, Sociólogo político, editor do site www.criticapontual.com.br, autor do livro O sentido da República em Esaú e Jacó, de Machado de Assis; professor do ensino superior e médio em Penápolis; pesquisador do Grupo de Pensamento Conservador – UNESP – Araraquara e membro do Conselho Editorial e Científico da revista LEVS (Laboratório de Estudos da Violência e Segurança) – UNESP – Marília; escreve às quintas-feiras neste espaço: e-mail: gildassociais@bol.com.br; gilcriticapontual@gmail.com. www.criticapontual.com.br.

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