Gilberto Barbosa dos Santos
Em 2008, quando o advogado estadunidense, Barack Hussein Obama II, se tornou o 44º presidente dos Estados Unidos, publiquei na imprensa regional um artigo enfocando dos possíveis riscos de uma certa Obamização. Na época, objetivava, com tal reflexão, fazer um alerta às pessoas que veriam naquele feito americano as possibilidades de o Brasil, num futuro não muito distante, eleger um negro para chefiar o Executivo Federal. EUA e Brasil tinham estruturas e ethos formador diferente, principalmente no tocante à democracia. De lá para cá, surgiram em nosso país tantas personalidades emblemáticas, como o ex-presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), o jurista Joaquim Benedito Barbosa Gomes – o primeiro negro a presidir a Corte Suprema [existem informações de que há outro lá nos primórdios da República]. A Nação também foi governada por uma mulher, Dilma Vana Rousseff que administrou o país entre 2011 e 2016, quando sofreu o impeachment [o segundo de um chefe do Executivo Federal depois de promulgada a Constituição de 1988] conforme determina a Lei 1.079, de 10 de abril de 1950. Há quem diga que tudo não passou dum golpe de certa elite nacional. Existem controvérsias, entretanto não vou entrar no cerne da querela, pois quem acompanhou o processo, que culminou com a deposição do ex-presidente Fernando Collor de Mello em 1992, pode enxergar semelhanças políticas nos dois fatos.
Bom! Meus caros leitores devem estar se perguntando quais os motivos me levaram a introduzir essa peleja envolvendo os ex-presidentes, bem como fazer um breve relato das recentes questões políticas deste país. O primeiro ponto de minhas respostas advém do fato de que no último domingo, 15 de novembro, feriado republicano, participei de um programa radiofônico com interfaces com as redes sociais, promovido, por intermédio duma parceria entre o INTERIOR e a Rádio Difusora – como bem disse o coordenador dos trabalhos daquela tarde dominical, o jornalista Gilson Ramos: os dois veículos de comunicação mais antigos da cidade! Naquela ocasião, minha presença foi tão somente a de ser um dos entrevistados do programa. Coube-me a tarefa de explanar questões alusivas ao universo da política, participação dos jovens nesse importante segmento de nossa sociedade, Fake News e brigas fratricidas que levam rompimentos entre amigos e familiares e voto facultativo ou não! O escopo não foi o de abordar a eleição municipal em si, disputada por dois ungidos do atual prefeito. Os resultados daquela peleja eleitoral, todos já sabem: o primeiro, ciceroneado pelo chefe do Executivo foi Caíque Rossi (PSD), que presidiu a Câmara de Vereadores no primeiro biênio do primeiro mandato do atual chefe do Executivo. Vale lembrar que esse fato provocou, na época, o rompimento do prefeito com o seu vice. O segundo pupilo, foi Carlos Alberto Feltrin (MDB) atual vice, do alcaide da paroquia política local e arauto dos sociais-democratas da cidade – importante salientar que este foi Chefe de Gabinete no último mandato do ex-prefeito João Luís dos Santos (PT) sucedido pelo atual mandatário – que deixará o cargo dia 31 de dezembro com uma miríade de problemas com a Justiça.
Em linhas gerais, esses são os acontecimentos, que narrei de forma sucinta para tratar da questão propriamente dita que não tem nada a ver com as rusgas protagonizadas pelos dois políticos penapolenses, que estiveram, nos últimos doze anos dependurados, de alguma forma, nas asas do poder local. Posto isto, passo ao que interessa aos meus leitores: a problemática envolvendo o afastamento dos jovens da política e o desencantamento da população com os políticos. De uma forma geral, conforme os dados do pleito de domingo, dos 47.097 eleitores registrados em Penápolis, 14.932 se abstiveram de votar. Acho interessante apontar aqui que, esses cidadãos-eleitores para não terem problemas futuros, por exemplo, tirar passaporte, fazer empréstimos bancários e assumirem cargos públicos depois de passarem pelos exames seletivos, terão que pagar uma multa. Para se ter uma ideia dos valores que irão parar nos cofres públicos e levando em conta o valor da multa de R$ 3,51, os faltosos pagarão em sua totalidade aproximadamente R$ 52.420,00. Agora é preciso saber qual o destino desses valores? Comporão o Fundo Partidário, ou seja, serão repassados aos partidos políticos, levando em conta a quantidade de cadeiras que cada legenda tem no Congresso Nacional, mais especificamente, Câmara Federal.
Diante do exposto, me parece que os meus leitores, se eu ainda os tiver aqui comigo até esse ponto de minha reflexão, entenderam que, de qualquer forma, o cidadão contribuirá para que a situação política no Brasil continue do jeito que está: o público se confundindo com o privado, e a relação simiesca em que o dinheiro da coletividade, aferido através de impostos e tributos, sustenta uma casta de plutocratas que, conforme nos apresenta o escritor José Martiniano de Alencar (1829-1877) em seu livro Cartas de Erasmo ao Imperador, existe desde os primórdios da Monarquia e vem sugando a máquina da administração pública, empobrecendo cada vez mais o país, enriquecendo desta forma, uma oligarquia que se apropria do poder através do voto direito numa democracia de pouca participação por ser mais deliberativa. A operação Raio-X deflagrada aqui em Penápolis no final de setembro, é um exemplo cabal do que estou abordando aqui. A população deu o seu recado nas urnas: rechaçou o indicado do atual prefeito e não reelegeu nove dos 13 vereadores da atual legislatura. Por que será? Costuma-se dizer que em time que está ganhando não se mexe! Portanto, os votantes entenderam que o imobilismo dos seus representantes no Legislativo foi vital para que os descalabros perpetrados por uma camarilha que se apropriava dos recursos públicos como se fossem privados fossem apresentados à sociedade pelos promotores do Gaeco que investigam os atos corruptivos dessa turma.
Vejam bem, meus caros leitores, as informações grafadas acima não são invencionices deste que vos escreve, mas fatos que estão vindo à tona nos últimos meses e, com certeza, fez com que o eleitorado pensasse duas vezes em dar mais quatro anos para uma pequena oligarquia que se encastelou no poder local nos últimos tempos. Fenômeno este que vale uma análise sociológica e política mais detalhada e com a devida acuidade, sem pedantismo e partidarismo, além de toscos ideologismos regados a fanatismos metodológicos. Será que a eleição do novo prefeito, que já foi vereador e presidente da Câmara, indicará novos rumos à política local e à cidade, de um modo geral? Não posso afirmar, pois enquanto vocês, meus caros, estão lendo essas linhas, estar-se-á completando quatro dias do pleito que sufragou Caíque Rossi como vencedor, obtendo 35.49% dos votos válidos. Mas uma coisa é certa: o poder que é do povo, sempre volta ao povo e este, silenciosamente, sem aquele bate-boca – digno das passionalidades perpetradas por casais que não se entendem mais, mas se recusam a separar por conta de muitas coisas, como dinheiro, status e outros penduricalhos mercadológicos – retira o poder daqueles que o usurparam em benefício próprio ou de sua pequena oligarquia, camarilha e castas de mandarins. Meus caros leitores, a democracia tem dessas coisas! Por isso que digo sempre: a democracia em primeiro lugar e, posso não concordar com os resultados das urnas, mas elas são soberanas e apresentam a vontade de uma população. Agora a questão de o povo não gostar de política, talvez o caminho do analista deva começar pelo fato de que a explicação do que vem a ser política esteja contaminado pelo viés ideológico acima da medida. Sendo assim, todos os indivíduos, conforme diz Aristóteles, são animais políticos, portanto, estamos, eu e você, fazendo política diariamente. O mais importante a observar aqui é o sentido do agir político: se é na esfera pública ou privada. A distinção entre os dois campos significa muito para o mundo da democracia. Espero não os ter agastados, meus caros leitores, com as minhas pequenas admoestações neste dia dedicado à bandeira Nacional!
Gilberto Barbosa dos Santos, Sociólogo político, editor do site www.criticapontual.com.br, autor do livro O sentido da República em Esaú e Jacó, de Machado de Assis; professor no ensino médio em Penápolis; pesquisador do Grupo de Pensamento Conservador – UNESP – Araraquara e membro do Conselho Editorial e Científico da revista LEVS (Laboratório de Estudos da Violência e Segurança) – UNESP – Marília; escreve às quintas-feiras neste espaço: e-mail: gilcriticapontual@gmail.com. www.criticapontual.com.br.