“Espelho, espelho meu…”
Para aqueles que ainda insistem em serem contrários – inclusive alguns colegas de profissão -, o escritor Machado de Assis (1839-1908) continua sempre atual. Por exemplo, em tempos de reclamações de todas as estirpes no orbe nacional, em que o brasileiro reclama que as leis são frouxas ou permissivas, ou que há a necessidade de se criar novos códigos punitivos, no conto O espelho, publicado em 1882, no jornal carioca Gazeta de Notícias, o literato carioca, entre outras tantas enunciações, afirma que, antes de o brasileiro querer mudar as leis, ele deve desejar haver mudanças nos hábitos e costumes, esses relativos ao universo da moral e da ética. Portanto, não se fará no futuro um Brasil com níveis de desigualdades sociais ínfimos.
Significâncias
E já que estou tratado de um dos maiores nomes das letras mundiais, seus romances continuam dando o ar da graça nos principais vestibulares do país. Desta forma, percorrer as páginas de um Dom Casmurro será sempre edificante, já que o mesmo é considerado um significativo referencial ficcional sobre como era a sociedade brasileira – carioca – na segunda metade do Brasil Oitocentista. O ciúme de Bentinho expõe muito mais do que o amor que este nutria pela sua amada desde a infância. Apresenta, sobretudo, a maneira como o mundo patriarcal da época se comportava no que diz respeito a atitudes das mulheres, principalmente no âmbito das esferas públicas e privadas. Nessa linha de significâncias machadianas, o exame de seleção para ingressar no concorrido ITA – provas de alta complexidade – cobrará de seus participantes conhecimentos alusivos ao romance Quincas Borba. Portanto, Machado tem sim importância magistral para os brasileiros.
Esmeraldinas
Como também o universo político não escapou à pena do ilustre escritor e fundador da Academia Brasileira de Letras, pretendo aqui escrever algumas linhas sobre essa esfera, principalmente aqui na Terra de Maria Chica. E quem pensava que a peleja da grama esmeralda tinha terminado, se enganou. No próximo dia 28, por determinação do Tribunal de Justiça, conforme consta no site do TJ, haverá audiência sobre aquela denúncia e novamente os ex-vereadores Ricardinho Castilho e Professor Luís, e mais o vereador Francisco José Mendes, Tiquinho, (PSDB) – o trio que fez a denúncia ao Ministério Público local – serão ouvidos em novas oitivas. No meu singelo conhecimento do universo jurídico, isso significa que a pendenga ainda não acabou e é consequência da ação do próprio Ministério Público que recorreu da sentença aplicada em primeira instância aos envolvidos. Pelo visto, essa questão, semelhante àquela imortalizada pelo cineasta Glauber Rocha (1939-1981) “Deus e o diabo na terra do sol”, vai continuar e nada ainda está definido! Aguardem-se novas trovoadas!
Verborragias
E por falar em Ministério Público, é a segunda vez que o atual prefeito se dirige aos membros da Promotoria Pública de forma indignada porque eles entenderam que a legislação vigente foi desrespeitada em ações da administração do arauto do tucanato penapolense. Da outra vez, se a memória não me escapa, foi por conta de uma sentença lhe aplicada pelos desembargadores do Tribunal de Justiça, depois que o MP local recorreu em virtude da discordância da dosimetria aplicada ao prefeito pelo Judiciário da cidade, ou seja, pela Primeira Instância. Neste sentido, se a pena fosse aplicada contra o chefe do Executivo, ele não iria recorrer como fez no caso dos embargos infringentes – cujo mérito, eu creio, ainda não foi jugado pelo TSE? Sendo assim, se cabe recurso, recorra, mas sem o nível alarmante de vociferação.
Vitimização
Do jeito que as coisas são colocadas pelo prefeito, tudo leva a crer, pelo menos para os penapolenses mais desavisados, ou seja, aqueles que ainda não fizeram uma racional conexão de sentido, que o “gestor” é perseguido por tudo e por todos por conta de seu “amor pela cidade”, entretanto, é preciso observar que a lei, quando há sentença desfavorável, em sua frieza, pode não ter sido aplicada devidamente. O chefe do Executivo, a exemplo de todos os políticos brasileiros, quer capitanear eleitoralmente em cima de fatos, mesmo que esses sejam interpretados pelos doutos da lei e representantes da coletividade como sendo fruto de equívocos analíticos em relação à legislação vigente. Atitude do chefe da administração pública municipal e de seus apaniguados, é louvável e compreensível sob a perspectiva da significativa obra do renascentista florentino Nicolau Maquiavel (1469-1527) O Príncipe.
Debandada
É! Segundo informações colhidas por este colunista, o prefeito perdeu mesmo o apoio de um dos seus fieis escudeiros na Câmara Municipal. O vereador Carlão “da Educação” (PPS) mudou para a outra margam do palaciano córrego Maria Chica. Ou seja, não está mais no legislativo como ungido do chefe do Executivo defendendo os interesses deste e do grupo que lhe cerca. Inclusive, Carlão têm procurado ex-vereadores que no passado fizeram oposição ao atual mandatário. Como perguntar não ofende, será que essas consultas são para este ser municiado de como se posicionar do outro lado da praça política local? Qualquer que seja a resposta, uma coisa é certa: o vereador se bandeou para os lados oposicionistas, segundo o zum-zum no picadeiro ideológico, objetivando se tornar o próximo presidente da Câmara. É bom lembrar que o atual mandatário perdeu a disputa quando viu o seu candidato derrotado pelo atual presidente do legislativo. Essa história todos os penapolenses são cônscios.
Violência e racismo
Deixando o universo penapolense para me imiscuir nas questões nacionais, principalmente no que diz respeito ao aspecto da segurança. O assassinato da vereadora, socióloga e ativista negra e dos direitos humanos, Marielle Franco (PSOL), na combalida cidade do Rio de Janeiro, chamou novamente a atenção do mundo para as péssimas condições que os cariocas vivem na capital fluminense. Todos buscam encontrar respostas e a autoria do homicídio, mas uma coisa é certa: embora estejamos no século XXI, a sociedade brasileira – sim porque compactua com esse tipo de atrocidade – permanece enraizada no século XIX e na estrutura escravagista. De forma breve, escrevi dois artigos científicos em que abordo tais questões: (http://revistas.marilia.unesp.br/index.php/levs/article/view/5977/4015); (http://revistas.marilia.unesp.br/index.php/levs/article/view/5054/3590). Boa leitura aos interessados na temática. E-mail: gilcriticapontual@gmail.com; gildassociais@bol.com.br. www.criticapontual.com.br.