Análise
Depois de uma primeira leitura no livro Manifestações ideológicas do autoritarismo brasileiro (2014) escrito pela professora de Filosofia da USP, Marilena Chauí – quiçá as divergências no campo “ideológico” –, fiquei com a sensação de que o autoritarismo brasileiro não é apenas praticado pelos homens da chamada direita, como muitos querem. Uma análise mais atenta dos últimos acontecimentos – é preciso levar em conta o tempo histórico e não somente a notícia de ontem – proporcionará ao cidadão a compreensão do que estou indicando.
Sem setas
Não objetivo aqui ficar indicando de que lado vem o autoritarismo, apenas que o processo é corrente no país, seja de qual banda do rio venha o processo. A única coisa que sei é que o Brasil flerta diariamente com essas ideias, fruto da falta de amadurecimento democrático e ausência duma educação política eficaz. Vira e mexe, sou instado a responder de que lado da balança ideológica eu estou. A primeira coisa que respondo: e há esquerda ou direta no Brasil? Completo a interpelação, pedindo ao meu interlocutor que me apontar em que lugar político eu posso encontrar a tal da esquerda ou a da direita, e quem sabe o tal do centro. Neste ponto, o trabalho do filósofo da USP, Ruy Fausto, Caminhos da esquerda (2017) pode me servir ou, ao meu inquisidor, de bussola para nos guiar por esse caminho pantanoso que é o universo da política brasileira.
Polêmicas
E já que a temática diz respeito ao mundo dos livros e da história política brasileira, ao que tudo indica a obra lançada pelo ex-deputado estadual por Penápolis, o advogado Ricardo Castilho, há pouco tempo, balançará os bastidores do poder de Maria Chica. Ainda não tive a oportunidade de ler o calhamaço, portanto, estou escrevendo a partir do zum-zum-zum da praça, mas me parece que uma das pérolas contidas lá é uma observação sui generis do atual mandatário, de quem Ricardo foi vice-prefeito até o final de 2016. Quem tem o exemplar de “Como fazer política, sem se corromper”, deve estar se deliciando com as crônicas palacianas penapolenses e, em seguida, avaliar o atual contexto sociopolítico maria-chiquense e o que é possível aguardar para o futuro recente da cidade de Luiz Osório.
Ininteligível
Para não perder o foco da temática localista e dos fortes processos e vieses autoritários que o brasileiro, consciente, registra diariamente nas mais de cinco mil cidades brasileiras, volto as minhas atenções, ou melhor, meus aforismas para o campo de visão do atual chefe do Executivo, confessando ao meu leitor que ainda não entendi porque o prefeito pagou geral para a todos os lados quando entraram com recurso para evitar que o Pronto-socorro municipal fosse “privatizado”. Estamos numa democracia e, qualquer cidadão pode, via Ministério Público propor uma ação ou solicitar investigação sobre os atos da administração publica que ache meio nebuloso. E ai caberá às autoridades judiciais dar o encaminhamento à causa. Outra coisa que não entendi, foi chefe do executivo ir ter com o julgador da ação. Lembrando o ex-presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Joaquim Barbosa, este nunca recebeu uma das partes em litigio, somente quando os litigantes estão juntos. Mas ai não é comigo, não entendo muito desta seara jurídica.
Interpelações
Mas vamos lá, para não dizer que eu não falei das flores, qualquer penapolense tem o direito de saber, por exemplo, essa OS vai receber apenas de Penápolis para gerir o Pronto-socorro Municipal, portanto, se chegar alguém precisando de atendimento, mas não reside aqui na cidade, como é que fica? Atende ou não atende? Eis a questão! A prestadora tem direito de não trabalhar com a equipe lotada no PS a partir da prefeitura? Diante dessas pequenas e insignificantes interpelações deste colunista, será que nenhum penapolense, dentro do que a legislação prevê, pode procurar a Justiça para que os equívocos sejam reparados? Desta forma, ainda não compreendi porque ocorreram tantas reproduções da fala do prefeito, chiando, reclamando da oposição. Ele precisa entender que, quando foi vereador, fez oposição à administração do ex-prefeito João Luís dos Santos (PT), além de usar seu programa radiofônico para vociferar aqui e ali contra aquela gestão!
Noticiário
Deixando essa esfera do Pronto-socorro e outras pelejas jurídicas e me concentrando no filme Tudo por uma esmeralda – aliás, excelente obra fílmica -, procuro compreender porque a cada dia que passa, os jornais da cidade estampam que não sei quem do bairro tal foi preso traficando, menores foram apreendidos portando determinadas quantidades de entorpecentes. Sendo assim, a pergunta que fica é uma só: onde Penápolis está falhando? Será que o que se assiste no presente é consequência de ausência de políticas públicas eficazes quando da criação de diversos programas assistenciais num passado não muito distante? Só para recordar, lembro-me que em 1991 escrevi um libelo, sem fins jurídicos ou satíricos, sobre uma preocupação que eu tinha com o amanhã penapolense.
Conceitos
Na época usei dois conceitos de Karl Marx (1818-1883) para escudar minhas observações: o primeiro foi sobre a presença em Penápolis dum exército industrial de reserva – leia-se ausência de mão de obra qualificada que estava inibindo a cidade de dar saltos significativos no campo da industrialização de ponta; o segundo diz respeito ao lumpenproletariado formado em sua maioria por pessoas que não conseguiam empregos regulares e passavam a viver de pequenos furtos, delitos, e outros bicos. Esses sujeitos presos e condenados por tráfico de entorpecentes não seriam integrantes desse lumpen?
Recomendação
Os dois conceitos, para aqueles que quiserem percorrer as linhas confeccionadas pelo pensador alemão no século XIX, todavia, tão atuais em virtude das circunstâncias em que vive o brasileiro, e o penapolense não seria diferente, ainda mais agora que a renda per capita mensal do cidadão não chega a R$ 2 mil, são encontrados no livro 18 Brumário (1978 – minha edição) e no segundo volume de O Capital (1985 – em minhas edições). As duas análises são extremamente significativas para se entender o mundo global de mercadorias e de como o medo de não pertencer à sociedade de consumo pode gerar determinados tipos de neuroses advindas do assombro de se tornar um ser necrosado, conforme nos fala o sociólogo e filósofo francês, Edgar Morin em seus livros Cultura de massas no século XX: Necroses e Neuroses (1977). E-mail: gilcriticapontual@gmail.com; gildassociais@bol.com.br. www.criticapontual.com.br.