Literatura
Começo os meus olhares deste domingo, feriado estadual, tratando de uma questão bem diferente da que costumo abordar aqui: a política local. Hoje a perspectiva é outra, sem, no entanto deixar o universo das relações pessoais e interpessoais para um momento vindouro, pois a problemática diz respeito ao presente resultante dum passado não muito distante que atormentará a vida futura da sociedade globalizada e, de quebra a brasileira, portanto, a do penapolense também que, ao que tudo indica, está dando os primeiros passos em direção à concretização de sua cidadania – é só observar a grita contra a verborragia que emana do alto do trono. Desta forma, tratarei do assunto que recheia dois livros que acabo de lê-los.
Emoções
O primeiro é O culto das emoções, escrito pelo filósofo Michel Lacroix, enfocando emoção e sentimento: duas categorias humanas complexas nessa modernização que acelera e desacelera, de acordo com os interesses do Capital, envolvendo todos: desde o mais ferrenho socialista/comunista – se é que pode dizer que essa figura existe no mundo líquido – até o mais ortodoxo defensor do livro comércio. A pendenga é interessante porque muitos confundem as duas áreas, achando se tratar de apenas uma, ou seja, sentimentos e emoções seriam, nessa toada, uma coisa só numa efêmera dança simbiótica. Entendo que são categorias distintas. Claro que não pretendo aqui ser exato, definitivo, ou emitir opiniões cerradas, pois as duas questões suscitam debates entre psicólogos, cientistas sociais e filósofos. Coisa que não é o meu escopo aqui através dos meus aforismas.
Sistema
Como propõe o autor, o mundo globalizado modificou radicalmente a forma como se vive no orbe, inclusive com profetas prevendo a extinção do capitalismo crendo que o trabalhador, ou as massas oprimidas e exploradas serão capazes de se organizarem e extirparem a sociedade de classes do globo terrestre. Até ai nada demais, pois há quem chame esse acalanto de utopia e outros que creem fielmente ser possível criar o paraíso na terra, transformando o globo numa sociedade edenista – só para lembrar o ensaio de Sérgio Buarque de Holanda [1902-1982] Visão do paraíso. Eu prefiro uma leitura mais detalhada de Karl Marx [1818-1883] e seu livro Formações econômicas pré-capitalistas, no qual ele aponta que a sucessão de um modo de produção só pode ocorrer quando o sistema a ser eliminado tiver desenvolvido todas as suas potencialidades. Olhando para o que vivemos, ainda não se pode dizer que se está no ápice desta forma econômica e seu braço político. Além do que, o regime coordenado pelo capital é muito novo, inclusive a sua perspectiva financista.
Dicotomia
Mas voltando a dicotomia entre emoção e sentimento, é preciso observar que o nosso tempo enfatiza muito mais o lado emocional da existência, haja vista a peleja que se tem registrado em Penápolis que, a exemplo do que acontece no plano nacional, separou-se em dois segmentos: “nós” e “eles”, personificados na categoria dos que defendem esse atual gestor, quiçá os processos que tramitam contra ele na Justiça e não é invencionice desse colunista, tendo em vista que no caso das esmeraldas, mais conhecida como esmeraldinas, o Ministério Público local recorreu ao Tribunal de Justiça por considerar amena a pena aplicada aos envolvidos nos delitos investigados pela Promotoria Pública que, assim como boa parte da cidade, não engoliu a medição das gramas que se chegou a aventar que era feita através da base x altura, ou seja, metros cúbicos como se grama fosse lenha.
“Nós” e “eles”!
Mas e ai, será que não é possível dividir as pelejas entre “nós” e “eles”? Parece-me que sim. Contudo, faz-se necessário que as discussões tenham um quantum, mesmo que ele seja ínfimo, de racionalidade, entretanto, as batalhas são renhidas, me levando a crer que são pautadas pelo viés emocional sustentado pelo simples desejo de se vencer o oponente, do que realmente compreender o que se está acontecendo e, em virtude disso, não precisa conhecimento, apenas adotar um dos lados da peleja política. Desta forma, emitir uma opinião sobre o tema em questão para ser tachado disso e daquilo e, aquele que ouve, não quer analisar o que acabou de escutar, pois o seu radarzinho de defensor ferrenho já aponta: é contra! Portanto, deve ser esculachado, ofendido, justamente porque teve o seu ponto de vista questionado, mas não como birra e sim, com determinada acuidade.
Comportamental
A meu ver, são comportamentos como esses que vem afastando a juventude do mundo da política, aqueles que tentam se enveredar por esse universo, se sentem desmotivados ao compreenderem que o que se busca são questões quiméricas, isto é, estar-se a esquerda ou a direita do espectro político local. Da desilusão ao niilismo político é um pulo e a escolha, de líderes messiânicos, acaba ganhando a vez e o voto daqueles que estão descrentes da categoria e dos que foram rechaçados, humilhados por aqueles que se creem os donos da verdade porque o seu lado ocupa, passageiramente, um lugarzinho no assento principal da cidade, Estado ou no Executivo Federal. Desta forma, acredito que Narciso, o ser mitológico, pode dizer muita coisa, pois aquele ser da antiguidade apaixonou-se pela sua imagem refletida no lago. Não se sabe ao certo se ele existiu mesmo, porém, no presente sabe-se que existem seres que adoram microfones seguido de holofotes, mas isso ai é outra narrativa, cuja enunciação poderei exercitar noutro momento.
Literatura 2
O segundo livro chama-se O mal ronda a terra: um retrato sobre as insatisfações presentes, escrito pelo pensador londrino Tony Judt (1948-2010). Da mesma forma que a outra obra citada aqui, essa também oferece ao leitor, por meio de uma linguagem simples e direta, ferramentas que lhes possibilite lidar com as necessidades comuns do cotidiano. “O autor argumenta que devemos olhar para nosso passado recente e mais uma vez colocar o respeito à igualdade de direitos acima da mera eficiência. Em vez de ter uma fé cega no mercado – como fizemos nos últimos trinta anos -, temos de confrontar os males sociais e assumir responsabilidades pelo mundo em que vivemos”. E ai, como buscar isso, se o ser humano está atolado até o pescoço pelo individualismo, pela presunção, pela busca de sensações fortes que somente as emoções efêmeras são capazes de proporcionar? Fico por aqui, na próxima semana tentarei entender como o prédio onde funcionava a escola SESI será sede de uma unidade educacional municipal se o prefeito disse certa vez que o imóvel seria destinado a abrigar um campus do IFSP (Instituto Federal de São Paulo). Talvez Maquiavel possa me explicar através do Príncipe. Veremos! E-mail: gilbertobarsantos@bol.com.br, gilcriticapontual@gmail.com, social@criticapontual.com.br, www.criticapontual.com.br.