Olhar Crítico

Sacramentado

Começo meus olhares deste domingo, enfocando um assunto que todos estão mais do que cônscios, para alegria de uns e ojerizas de outro, como é peculiar no cenário político num país em que a maioria dos cidadãos é despossuída de cidadania plena, mesmo estando ai em vigência leis que garantem os direitos civis, sociais e políticos. O caráter pífio, para não dizer limitado, dessa legislação não está em sua inaplicabilidade, mas sim o seu alcance e de como os indivíduos a percebe. Talvez isso ocorra em virtude da maneira às coisas acontecem no Brasil: o sujeito social espera vir tudo do Estado, numa espécie de perpétua prática do beija-mão. O escritor Machado de Assis – já tenho observado isso aqui com insistência – apontou algumas dessas peculiaridades em seu romance Memórias póstumas de Brás Cubas, entre outras enunciações de seu vasto arcabouço literário.

 

Impeachment

Mas, somente para não perder o foco dos aforismas de hoje, é preciso esclarecer que o impeachment da agora ex-presidente Dilma Rousseff (PT) foi sacramentado pelo Senado Federal, cuja sessão foi conduzida pelo presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Ricardo Lewandowski. Novamente, para delírio duma determinada parcela da sociedade que assim desejava o afastamento da petista por uma série de fatores e, para luto de outros, seguiu-se o rito, não somente partidário, mas também ideológico dos últimos tempos no cenário nacional: a divisão entre “nós” e “eles”. Sendo que, em ambas as pessoas gramaticais é preciso se atentar para o sentido que os idólatras dão aos seus receituários, marcado profundamente pelo substantivo masculino: golpe! Se, por um lado, declama-se esse mantra, por outros, alguns asseclas até se perguntam, reproduzindo uma pergunta de um ex-presidente deposto pelos coturnos na década de 60 do século passado: golpe? De onde vem?

 

De que lado?

É justamente tentando compreender essa e outras questões que, na condição de cientista social, me colocarei a tarefa de compreender, mesmo porque, conforme muitos gostam de professar aqui e alhures, não é possível ficar em cima do muro em assuntos como este e é claro que, na dupla condição de cidadão e profissional que se ocupa em analisar a construção do Brasil e o devir de seus cidadãos, também tomo partido, ou melhor, um viés e, este está claramente marcado pela busca do entendimento, sem as peias ideológicas e as paixonites muito próprias de momentos como estes que o país está passando. Desta forma, creio que uma dose de entendimento da história recente pode ilustrar um pouco mais a problemática.

 

Estado

Em primeiro lugar, começo por uma frase que, mesmo deslocada do seu conteúdo, pode externar um quantum significativo das linhas que produzirei nos próximos dias e externadas aos meus leitores, seja aqui no INTERIOR ou no site www.criticapontual.com.br. A assertiva foi feita por um Senador, que votou pela deposição da ex-mandatária, durante um debate com outro de seus pares, ferrenho defensor de Dilma – a coisa é tão notória que ele chegou chamar a mediadora da discussão de “Dilma” – em um programa de telejornalismo! Pois bem, a frase diz respeito à opção de um dos oponentes, isto é, o adversário da ex-presidente no plano político. Ele diz preferir um Estado que invista na sociedade em detrimento daquele que investe em si mesmo. Tal observação é significativa, pois indica qual país o cidadão quererá em breve.

 

Devir do país

Para lá do queremos isso e aquilo, mas ficando na ideia do devir do país e de como ele chegará a partir das opções que o indivíduo tem hoje, faz-se necessário entender, mesmo que de forma sintética, o “fora Temer”! Compreende-se que o cidadão tem o direito de se manifestar e assim o faz dentro da legalidade e dos dispositivos constitucionais. Até ai nada de mais, ademais, a democracia, para se constituir enquanto, tal precisa ser praticada por indivíduos cônscios do papel que estão desempenhando na seara política, do contrário, serão massas de manobras como temos visto recentemente por intermédio de um corolário de receituários emanados do alto do trono de uma determinada visão de mundo que se esgota em sua prática cotidiana. Mas ai é outra coisa, para o momento cuidemos de observar o significado por trás do “Fora Temer”! Que fique claro que ele foi escolhido para ser vice-presidente na chapa da deposta Dilma Rousseff de forma indireta. Ou seja, sem a partição efetiva do povo que, de forma direta, numa disputa renhida e recheada de verborragias e mentiras conforme o tempo se encarregou de mostrar e com o “diabo” cobrando a sua fatura no jogo político daquele momento, escolheu o quadro dantesco do presente!

 

Interpelações

Se o atual presidente Michel Temer (PMDB) não foi escolhido pelo povo, mas imposto a ele por articulações políticas arquitetadas pelo arauto do petismo nacional, então quem é que agora pede a sua saída? O povo, de um modo geral, ou aqueles que aceitaram as tratativas organizadas pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – aterrorizado diariamente por denúncias de corrupção e enriquecimento ilícito? Quem foi enganado, o eleitor que naquela ocasião, preferiu a chapa PT/PMDB, ou os signatários daquela dupla – cuja parceria está sendo analisada pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), podendo culminar com a cassação da chapa Dilma/Temer e ai a situação mudará de figura? Parece-me que essas são interpelações significativas que precisam ser respondidas pelos defensores de Rousseff e de um tipo de política bolivariana que, por onde passou, deixou rastos nefastos para a sociedade.

 

Articulações

Desta forma, sacramentado o afastamento da petista, novas artimanhas foram perpetradas naquela sessão e acresce-se a isso com o aval do PT. Tudo para salvar a rainha petista de uma sentença mais aguda, pois ela estaria inelegível por oito anos – a questão já se encontra no STF por conta de interpretações do Parágrafo único do artigo 52 da Constituição Federal. É claro que as consequências todos já sabem: como se diz no jargão popular – “a marreta que dá em Chico bate em Francisco!” -, o remédio será aplicado a Eduardo Cunha, desafeto dos petistas, por várias razões, entre elas, a mais grave que foi a de dar encaminhamento ao processo de impeachment da “presidenta”. Mas qual é o PMDB que o político carioca pertence? Ao de Michel Temer, ao do Renan Calheiros ou do PMDB que o Lula colocou no colo da Dilma Rousseff por interesses eleitoreiros e um desejo atroz de se manter Ad infinitum no poder? Pretendo tentar responder essas perguntas nas próximas semanas, por ora, deixo meus eleitores sobre a presidência interina do Deputado Federal e presidente-tampão da Câmara Federal, Rodrigo Maia (DEM) e durmam com um barulho desses. E-mail: gilbertobarsantos@bol.com.br, gilcriticapontual@gmail.com, social@criticapontual.com.br. www.criticapontual.com.br.

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