Olhar Crítico

Máscaras

Engana-se aquele que pensa que a pandemia deixou as cercanias brasileiras e de quebra, a cidade de Penápolis. E esse olhar me permite fazer algumas admoestações. Embora não exista um decreto governamental tornando obrigatório o uso de máscaras, creio que o momento é para que todos compreendam que é necessário haver o bom-senso, isto é, entender que é preciso prudência e ela indica que, pelo menos, em lugares fechados, as pessoas façam uso das máscaras e nunca abandonem a utilização do álcool gel. Neste sentido, vos pergunto, meus caros leitores, será que o normal daqui para frente será mesmo com essas duas ferramentas de proteção: máscara e álcool gel? Parece-me que o poema medieval continua ecoando nesses tempos de modernidade avançada, portanto, cabendo mais uma interpelação: “para quem os sinos dobram?”

 

Dados

De acordo com os dados que constavam no boletim epidemiológico da Secretaria Municipal de Saúde da última quinta-feira, 26, Penápolis havia registrado 299 óbitos provocados pelo Covid, sendo que desse total, 170 eram de homens. As informações davam conta ainda de que, desde o começo da pandemia, 17.300 penapolenses tinham sido contaminados pelo vírus e que havia um paciente internado por conta da moléstia. Se for comparado com o pretérito, não muito distante, em que a situação era crítica, o presente estaria mais tranquilo, entretanto, é preciso levar em conta, antes do relaxamento, que 273 pessoas estavam em quarentena, além de a cidade ter registrado 272 novos casos. Outro dado importante diz respeito à quantidade de pessoas que não completaram o ciclo de vacinação, isto é, tomado as três doses. Desta forma, a atenção deve ser redobrada, levando em conta que o período é de baixas temperaturas, e não é preciso ficar indicando, pois todos sabem que os riscos de doenças respiratórias aumentam.

 

Decreto

Como perguntar não ofende e nem configura crime, até porque, conforme versa a Constituição Federal, é livre a manifestação de opinião, sendo vetado o anonimato, será que não é momento para o prefeito municipal usar as prerrogativas das quais é possuidor e entendimento dado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) e determinar a obrigatoriedade do uso de máscaras em ambientes públicos e fechados como escolas, estabelecimentos comerciais e outros espaços? E onde estão os representantes do povo que não lembram o Chefe do Executivo sobre tal medida? Pelo menos até o momento em que essas linhas eram confeccionadas, este colunista desconhecia a publicação de um decreto nesse sentido. Sendo assim, faço interpelação: recentemente um vereador apresentou matéria prevendo a proibição da instalação de banheiros multigêneros na cidade, entretanto, agora a coisa pelos lados da dengue está periclitante e os casos de Covid podem aumentar nas próximas horas. Então faço aqui uma nova inquirição: “E agora José?”, eis a questão para parafrasear o poeta e dramaturgo inglês William Shakespeare (1564-1616).

 

Morte severina

E já que me enveredei pelos campos das poéticas, creio que seja interessante os meus leitores acessarem um pequeno excerto presente no livro Morte e vida severina, João Cabral de Melo Neto (1920-1999). Na edição que tenho aqui, em minha biblioteca, publicada pela editora Alfaguara em 2007, logo na primeira página o leitor se depara com a seguinte síntese: “E somos Severinos iguais em tudo na vida, morremos de morte igual, mesma morte severina: que é a morte de que se morre de velhice antes dos trinta, de emboscada antes dos vinte, de fome um pouco por dia”. Para o indivíduo atento, o substantivo se tornando adjetivo diz tudo e mais um pouco sobre as reais intenções do autor, isto é, de retratar a vida do retirante e também dos habitantes das terras sapecadas pela seca. Mas lendo com a devida acuidade e usando, quem sabe lá, uma licença poética, será que não se pode transpor o conteúdo do enunciado para a realidade do presente em que a pandemia não está dando tréguas para a humanidade?

Crise

O que assistimos no presente é uma significativa crise humanitária que se agrava por conta das decisões de governantes que, no início desse caos todo, optaram por proselitismos, negacionismos e outras ações desastrosas que levaram o mundo, e é lógico o Brasil, a esse teatro de horrores. A seca que assolou e ainda amedronta a região Nordeste do país poderia sido amenizada, se a mesma não fosse tratada como moeda política e berço do coronelismo, conforme nos atesta o pensador brasileiro Victor Nunes Leal (1914-1985) em seu clássico Coronelismo, enxada e voto. O interessante a ser compreendido no presente é que o que acontece no aqui e no agora parece uma repetição de situações que marcaram o pretérito, mas nem assim, o homem do hoje aprende com os equívocos do passado, optando por tentar apagar a história querendo reescrevê-la a partir de desejos autocratas e uma corte amorfa e havida por pão e circo. Neste sentido, te pergunto, meu caro leitor, quando aconteceu mesmo o carnaval de 2022?

 

Poéticas

De acordo com o filosofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900), o poeta só escreve sobre aquilo que lhe diz respeito e é fornecido pelo seu cotidiano. Neste sentido, entendo que cabe aqui uma pergunta, meio que despretensiosa: no romance Vidas Secas, de Graciliano Ramos (1892-1953), a narradora, a cadela Baleia conta aos leitores atentos a sua apreensão quanto à possibilidade de ser servida como alimento pela família de retirantes chefiada por Fabiano. Deixando o Nordeste daquelas épocas, inclusive o registrado pela escritora Rachel de Queiroz (1910-2003) em seu romance O Quinze, como a mesma enunciadora do enredo confeccionado pelo jornalista alagoano contaria a sua história nesse presente que é assolado por um vírus que varre o Globo? Na Idade Média, a Peste Negra caminhou pela Europa e parte da Ásia no lombo dos ratos e hoje, ao que tudo indica, a pandemia lastra pela ausência de empatia entre os indivíduos que desejam arduamente serem humanos.

 

Literatura

Nessa linha das poéticas que podem nos dizer alguma coisa, ou revelar algo aos leitores atentos, entendo que há várias enunciações significativas, como por exemplo, Bandeira negra, amor, escrita pelo jornalista carioca Fernando Molica. Mas se alguém pretender viajar pela Inglaterra de 1666, recomendo o romance Um ano de milagres: um romance dos tempos da peste, da vencedora do Pulitzer Prize, Geraldine Brooks. Agora se desejar permanecer na Inglaterra vitoriana, a novela Bridgerton, da americana Julian Quinn é uma ótima indicação para esses tempos em que as temperaturas prometem ter quedas vertiginosas ou, quem sabe, para o recesso pedagógico de julho. Entretanto, se o leitor, que continuou comigo até essa derradeira linha, almejar conhecer um pouco mais sobre a administração pública, o receituário é Controle social da administração pública: cenário, avanços e dilemas no Brasil. A obra é organizada pelos professores Álvaro Martim Guedes e Francisco Fonseca. E-mail: gilcriticapontual@gmail.com, d.gilberto20@yahoo.com,   www.criticapontual.com.br.

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