Olhar Crítico

Impactante

De uma coisa ninguém duvida: o mundo está completamente adoentado e as moléstias não provêm do físico, se bem que é ele quem repercute as causas, isto é, a origem de toda a problemática que só foi agravada com os dois anos de pandemia e o isolamento social a que muitos de nós, se não quase a sua totalidade, fomos forçados em virtude da preservação da vida enquanto os cientistas buscavam medicamentos para os males que assolaram e continuam amedrontando a humanidade. E o que os políticos fizeram: o que sabem fazer muito bem: demagogia na expectativa de se conseguir votos e a perpetuação no poder através de outras toscas verborragias escudadas em preceitos questionáveis. Mas aí são outras questiúnculas que não pretendo me enveredar neste terceiro domingo de maio.

 

Escopos

Meu escopo hoje é abordar temáticas que me impactaram desde sempre, ou melhor, a partir do momento em que ingressei numa das mais conceituadas universidades brasileiras: UNESP. Chegando num dos seus campi no começo dos anos 90, havia no ar, daqueles tempos, um grande sonho e a certeza de um belíssimo caminho a ser percorrido, pois o Leste Europeu havia ruído no final dos anos 80; o líder sul-africano Nelson Mandela (1918-2013), finalmente tinha deixado a prisão e caminhava para ser o novo presidente da África do Sul propondo conciliação e não revanche, como se observa no Brasil dos últimos 48 meses. Mandela foi de fato e de direito um estadista, pois ficou preso por muito tempo injustamente e por conta da tonalidade de sua pele e se opor ao apartheid, regime de segregação racial que manchava com tintas da ignorância aquele país. Não que a situação tenha melhorado lá e cá, todavia, hoje o líder sul-africano é referência para o mundo.

 

Reminiscências

Seguindo nessa toada de reviver um quantum do meu pretérito, buscando, quem sabe lá, uma fresta na porta que muitos incautos tentam fechar por não poderem suportar a liberdade e a democracia, recordo aqui o impacto que a leitura do romance Seara Vermelha, do escritor baiano Jorge Amado (1912-2001) provocou em minha existência. Creio que isso tenha ocorrido por conta do conteúdo da narração, isto é, de uma família de retirantes que foge da seca nordestina, buscando dias melhores no Sudeste, a exemplo do que desejam os proprietários da cachorra Baleia, no enredo construído por Graciliano Ramos (1892-1953) em Vida Secas. Portanto, meus caros leitores, duas obras referenciais para quem deseja pensar a saga dos nordestinos que fugiam da fome, da seca e de outras mazelas. Soma-se a essa dupla enunciação, o auto de natal do poeta João Cabral de Melo Neto (1920-1999), Morte e Vida Severina e o romance O Quinze, da tradutora Rachel de Queiroz (1910-2003).

 

Literatura

Há ainda outros livros e romances que ainda me fazem refletir sobre o estar aqui no mundo. Um desses é Fogo Morto, de José Lins do Rego (1901-1957); Iracema, de José de Alencar (1829-1877); O tronco do ipê, de autoria desse escritor cearense. Nessa linha, há leituras mais recentes que deixaram marcas que estarão sempre comigo e em minhas análises sobre esse Brasil que não cansa de andar para trás, mesmo que o progresso tente impulsioná-lo para o  futuro e isso fica evidente em algumas situações recentes em que vereadores se envolveram em polêmicas, em meu entender, desnecessárias justamente por conta do momento pelo qual a sociedade vem passado, o que vale dizer que ainda é possível encontrar pessoas com os corpos físicos no Terceiro Milênio e as mentes presas na época feudal.

 

Outras enunciações

Meu escopo aqui nos aforismas deste domingo é tão somente o de focar nas minhas leituras, sejam elas pretéritas ou mais recentes e neste sentido destaco o romance O avesso da pele, do escritor gaúcho Jeferson Tenório que foi contemplado com o Prêmio Jabuti. Quem pretende discutir a questão do preconceito étnico no Brasil, deve percorrer as 190 páginas daquele enredo. Destaco ainda outra obra de caráter singular que é o livro Continuo preta: a vida de Sueli Carneiro. O texto é de autoria da jornalista Bianca Santana. Os relatos são significativos porque indicam que, independentemente de quem ocupará os governos federal e estadual a partir de 2023, os descendentes de escravos continuarão a ser pretos e perseguidos pela tonalidade de sua pele e essa problemática foi muito bem observada pela escritora e crítica literária estadunidense Toni Morrison (1931-2019) em seu romance O olho mais azul e também nos livros A fonte da autoestima: ensaios críticos e reflexões e de A origem  dos outros: seis ensaios sobre racismo e literatura. Destaco também as reflexões contidas nas enunciações do romancista James Baldwin (1924-1987) que ilustram o livro Notas de um filho nativo. Nesta pequena lista de livros impactantes, não posso deixar de fora a obra da filósofa Djamila Ribeiro: Quem tem medo do feminismo negro? Dela estou cá concluindo Cartas para a minha avó.

 

Economia

Nessa toada, existe ainda o romance Pequena coreografia do adeus, o segundo livro da escritora Aline Bei que já havia nos presenteado com um texto primoroso na enunciação presente em O peso do passado morto. Como podem olhar, meus caros leitores, há uma miríade de possibilidade de leituras, como por exemplo as obras de abordagem econômica Consenso e contrassenso: por uma economia não dogmática, escrita pelo economista e professor André Lara Resende – para quem não sabe, ele esteve na equipe que construiu o plano econômico que nos deu o Real. Há ainda o impactante Erros do passado, soluções para o futuro, do economista e professor da USP, Affonso Celso Pastore.

 

História

Ainda no campo das abordagens econômicas e sociológicas, revelo-te meus caros leitores, a significativa abordagem feita pelo economista trinitário-tobagense Eric Williams (1911-1981) no livro Capitalismo & Escravidão. Durante a recente leitura que fiz, foi como se eu fosse transportado para as aulas de História Econômica nos meus primeiros anos de graduação e discussões em torno da adoção da escravidão africana em detrimento do cativeiro indígena. Inclusive escrevi aqui neste jornal um artigo sobre essa problemática. Soma-se a essa leitura, o livro do brasilianista Thomas E. Skdimore (1932-2016): Preto no branco: raça e nacionalidade no pensamento brasileiro. Acho que por hoje é só, meus caros leitores. Espero que nos meus próximos olhares críticos possa compartilhar com vocês os impactos que o romance O mistério da caveira de cristal provocou neste que vos escreve neste domingo. E-mail: gilcriticapontual@gmail.com, d.gilberto20@yahoo.com,   www.criticapontual.com.br.

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