Poéticas
Em tempos de truculências governamentais e de outras ordens ideológicas e templárias, é sempre bom iniciar os meus olhares dominicais enfatizando exercícios poéticos e de cidadania. Neste sentido, parabenizo a equipe gestora da Escola Estadual professora Joana Helena de Castilho Marques pela realização na última sexta-feira do seu segundo sarau virtual. Durante o dia todo, vários poetas amigos da instituição educacional como por exemplo, o professor do IBILCE (Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas) da UNESP (Universidade Estadual Paulista), campus de São José do Rio Preto, Agnaldo Silva, seus docentes e demais professores, bem como alunos e ex-alunos se revezaram em diversas performances poética, artísticas e sonoras.
Arte
Como bem frisou na abertura do evento, o seu diretor, o poeta e filósofo Luiz Claudio Tonchis, a arte é uma janela que a alma abre para que o espírito manifestado no corpo físico respire e tente se aliviar das agruras do mundo concreto, principalmente agora em que estamos em plena pandemia e o “meu pirão primeiro” dita as regras nas relações humanas, seja em que esfera for da vida ativa na polis. Lógico que há aqueles que, independentemente da postura de seus iguais na expressão carnal, entendem muito bem a ode medieval em que há uma significativa pergunta: “para quem os sinos dobram”. Em Penápolis até o momento em este colunista escrevinhava essas linhas, os sinos haviam repicados para as famílias de 223 pessoas vitimadas pela pandemia do Covid-19.
Estrelas
Levando em conta esse processo violento em que estamos vivendo e a violência que é exercida sobre o outro seu semelhante de diversas formas, principalmente a simbólica, conforme Machado de Assis, que durante essa semana, se estivesse vivo teria completado 182 anos, nos apresenta no célebre capítulo IV Ideia fixa, do romance Memórias póstumas de Brás Cubas, bem como no conto Pai contra mãe, perguntei aos meus amigos “se o verso pudesse conversar com as estrelas, qual verbo usaria”. Interessante olhar as respostas que, em sua maioria, diziam para conjugar verbos da primeira terminologia “ar”, como amar, esperar, iluminar, sonhar, brilhar, aproximar. Eu particularmente fiquei tentando a entender o sentido que esses verbos têm para cada um que respondeu a interpelação, contudo, é possível especular indicando que é o que todos nós estamos almejando daqui para frente ou planejando agora para colher depois da pandemia, mesmo sabendo que algumas ações serão como tâmaras. Tudo será possível se cada um fizer a sua parte para que presente seja mais sereno e menos truculento como todos estão sentindo no momento.
Progéria
Se por um lado é significativo tentar respirar um oxigênio menos tóxico, principalmente se forem levados em conta as ações de seres que se pensam humanos, mas não raciocinam quando o projeto é pessoal e deve ser empurrado goela abaixo, especialmente se precisar contar com a anuência de seus pares, por outro requer de cada um de nós uma singular sensibilidade para entender as dores de uma mãe que perde o seu filho ou para os familiares daqueles que ficaram órfãos por conta dessa pandemia que, até onde se sabe, já fez mais de 510 mil mortes no Brasil, sendo que centenas de milhares delas poderiam ter sido evitadas se os agentes, eleitos pelo povo, agissem, levando em conta os interesses da coletividade e não de desejos escusos e vontade de se perpetuar no poder, se apresentando como a nova política que acabou indicando ser portadora de progéria aguda desde o seu princípio.
Imperativo
Parece-me que quando o sujeito se depara com o universo artístico e suas manifestações, por um lado, e do outro, sandices de líderes populistas, para onde deve pender a sua razão? Interessante perceber que dificilmente o raciocínio pautado em valores salutares e caros à vida humana, como liberdade, igualdade e fraternidade, é evidenciado. E isso ficou muito nítido nesses mais de 12 meses em que a pandemia persiste em ficar entre nós humanos, não só aqui em Penápolis, no Brasil, mas em várias partes do mundo. A pergunta que fica é: por quê? Quando é que será reduzida a letalidade do vírus que provoca a variação do H1N1 que causa a Covid-19? Numa resposta bem direta, eu vos diria, meus caros leitores que está na distinção do que a ciência informa com base em pesquisas e dados concretos; o que os políticos vociferam em suas falas demagógicas e alguns líderes religiosos que estão preocupados com uma nova querela religiosa e seus cismas templários.
Categóricos
Sempre que entendo ser necessário, busco escudar meus aforismas críticos em pensadores significativos da humanidade, como por exemplo, o filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804), especificamente no que diz respeito aos seus imperativos categóricos e hipotéticos. Há algum tempo analiso as contribuições de seus trabalhos para se compreender, não o devir do homem, mas sim como o seu pretérito pode influenciar o agir no futuro do ser que, do em si passa a agir a partir do para si. Neste sentido, ele precisa entender se o seu comportamento em sociedade lhe é inato, isto é, próprio de sua manifestação corporal, mental e neurológica ou se é fruto da experiência, na velha distinção filosófica entre Platão e seu discípulo Aristóteles.
Atitudes
Posto isso, fica claro que muitos comportamentos que são chancelados como frutos do meio de onde advém o sujeito social, são oriundos das relações com seus familiares e responsáveis por lhes repassar valores éticos e morais. Sendo assim, quando um homem não respeita o que define a ciência a partir de um árduo trabalho investigativo, é possível que tal conduta advêm de seus pares. Por exemplo, se os pais não usam máscaras e não aceitam os diagnósticos científicos, dificilmente a criança seguirá os protocolos. Desta forma, o trabalho de conscientização se torna mais complexo. Mas não se pode deixar de fazê-lo.
“Senhora gramática”
“Senhora gramática/perdoais os meus pecados gramaticais,/se não perdoardes/senhora/eu errarei mais”. Esses versos são de autoria do poeta Solano Trindade (1908-1974) e faz parte do livro Poemas antológicos [SP: Nova Alexandria, 2007, p. 56]. Caso o meu caro leitor não apreciar verbos tornado versos, pode ser que goste da obra As barbas do Imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos [SP: Cia das Letras, 2018] da historiadora e professora da USP, Lilia Moritz Schwarcz. gilcriticapontual@gmail.com, d.gilberto20@yahoo.com, www.criticapontual.com.br.