República …
Começo esses meus aforismas um tanto quanto críticos, o último antes do natalício, referenciando às reflexões que se seguem a partir de uma passagem do livro da antropóloga e professora da USP, Lilia Moritz Schwarcz: Sobre o autoritarismo brasileiro. “A despeito das várias constituições que o país teve desde então, sobretudo a partir de 1988, não só foram referendados os direitos ao voto secreto, como estabeleceram novos direitos trabalhistas, entre eles a redução da jornada semanal de 48 para 44 horas, o seguro-desemprego e as férias remuneradas; todas medidas que visam garantir direitos individuais e do cidadão. Por sinal, os alicerces da República Federativa do Brasil são: a soberania, cidadania, dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre-iniciativa e o pluralismo político” (SP: Cia das Letras, 2019, p. 82).
… Brasileira
Pelo excerto acima é possível, meus caros leitores dominicais, estabelecermos significativos debates, não sobre o ontem desta Nação, mas diálogos focando o amanhã de todos e para nós. Todavia, não é possível projetar algumas coisas sem lidar com as feridas abertas durante o escravismo colonial, do qual o país é herdeiro. Mas vamos lá. Muitos dizem que quem vive de passado é museu. Pois bem! Um país que não conhece corretamente o seu ontem, jamais conseguirá inculcar na geração do presente como se lida e se constroem as linhas mestras para que, num futuro não muito longínquo, as coisas sejam diferentes. Parece-me que o primeiro tema a ser tratado é a ideia do exacerbado individualismo que está aí para todos verem na letalidade desta pandemia. O vírus, como diz numa música que eu ouvia muito nos tempos da minha adolescência, traz consigo uma morte rastejante, cuja sobrevivência é através da ausência de empatia do sujeito social. E olha que muitos se dizem cristãos!
Pandemia
Não preciso ficar aqui escrevendo sobre isso e aquilo relacionado aos números pandêmicos: todos são cônscios das mais de 181 mil mortes espalhadas pelo território nacional. Creio que não exista nenhum brasileiro que não tenha perdido um amigo para essa morte que rasteja em busca de corações incautos e descrentes nas ciências, optando por ouvir crendices e palavrório eleitoreiro. O interessante notar aqui é que o covid-19 não escolhe classe social, etnia, credo religioso e nem condição financeira, entretanto, uns mais do que outros estão indo a óbito. Por que será? Talvez os féretros dessas vítimas estejam carregando pecadores? Obviamente que não! Mas sim condições sociais determinadas pelo meio econômico pode sim, definir o grau de sucesso no tratamento ou não da patologia rastejante.
Ciência
Sendo assim, creio ser necessário que todos fiquemos atentos e sigamos as prescrições determinadas por cientistas que atuam na linha de frente para encontrar formas de deter, primeiro a letalidade do vírus, depois, inculcar na mente do cidadão que medidas preventivas vieram para ficar e não deverão deixar de fazer parte do nosso cotidiano, por pelo menos cinco anos. Mas como fazer isso, se ainda encontramos governantes que, pensando somente no pleito de 2022, trata a doença como moeda política? Aqui neste ponto, pode ser encontrado uma das questões aludidas pela professora da USP em seu livro: a problemática envolvendo a formação de cidadãos com cidadania plena. E é justamente nesse ponto que aquele que acompanha meus aforismas críticos deve se atentar: não se pode recusar ser vacinado sobre qualquer justifica plausível, entretanto, como se está num país democrático e livre, é possível que medidas sejam adotadas para coibir a circulação de pessoas que optaram por não tomarem o medicamento preventivo.
História
Essa questão me reporta os tempos do escravismo. O preto, quando tinha que se locomover, precisava levar consigo uma carta do seu senhor dizendo que estava circulando com a sua conivência. Duas coisas eram observadas naqueles momentos: se o negro estava descalço. Se isso ocorresse, havia a ideia de que era escravo. Se estivesse portando sapato, já era forro e para isso tinha que ter consigo a tal carta de alforria. Quem leu o romance O cortiço, de Aluísio Azevedo (1857-1913) há de se lembrar o fim daquela enunciação, justamente porque um comerciante, arrogante, egoísta, interessado num título de nobreza, faz com a sua companheira de jornada, uma preta forra. É lamentável que passados mais de 130 anos do fim do escravismo, o cidadão terá que andar com o cartão de vacina dentro da algibeira. É o retrocesso, para não dizer, pura ignorância medievalista, questões desta alçada estar em discussão em 2020, quando em 1904 tivemos a Revolta da Vacina. Por questões como essa que creio que a leitura da obra que referencia o meu primeiro aforisma deste domingo, é de extrema importância.
Educação
Deixando, por alguns aforismas apenas, o universo da pandemia e adentrando ao mundo da política, até porque no presente não é possível dissociar uma coisa da outra, já que o combate à morte que rasteja, sem que a vítima a vislumbre, passa por decisões dos nossos governantes, é cônscio que o prefeito eleito no último pleito deparar-se-á com uma grande problemática, para não dizer, granada pronta para estourar em seu colo: a pandemia e as decisões que o governo estadual vem adotando, principalmente no campo educacional. Segundo o que se tem hoje, as aulas presenciais voltam em fevereiro de 2021, independentemente das condições pandêmicas em que o Estado estiver: vermelha, amarela, roxa, azul turquesa, verde musgo! Até aí, tudo bem, diriam os defensores de toscas verborragias, contudo, como isso se dará, se a prática pedagógica sempre foi a de salas superlotadas, chegando ao ponto de algumas estarem com 50 alunos enfileirados, bem a moda jesuítica?
Secretariado
O futuro titular da pasta de Educação, além de ser ligado à prática educacional, tem sensibilidade pedagógica e é biólogo. Então, creio que haverá, ou se já não estiver acontecendo encontros nesse sentido com a vice-prefeita eleita, que é médica, o secretário da saúde que também é médico e, me parece que deveria contar com a presença daquele advogado que assumirá a área social. Existe uma velha frase que diz: “seguro morreu de velho” – acho que é assim, mas se não for, é como se fosse! Então, que os secretários que assumirão seus postos no dia 1.º de janeiro, conhecendo a realidade de suas respectivas pastas, comecem a trabalhar objetivando equacionar os problemas, sem promessas milagrosas, mas sempre levando em conta o que a Ciência afirma comprovadamente, pois, se algo sair errado, de quem será a culpa? Do professor? Do aluno? Do prefeito ou dos seus secretários? Com as respostas, vocês meus caros leitores! Fico por aqui, desejando a todos um excelente natalício e que o aniversariante seja o primeiro a chegar nos festejos, não querendo sair, pois encontrou guarida no ambiente. Como disse um certo poeta e filósofo galileu: “que a minha paz esteja convosco”, mas caso o sujeito a recuse, o Galileu deixa o ambiente com o que foi levar aos comensais. E-mail; gilcriticapontual@gmail.com. d.gilberto20@yahoo.com. www.criticapontual.com.br.