Olhar Crítico

Humanidade

Começo meus primeiros aforismas críticos deste último mês de 2020 – para muitos, ano complicado ao extremo por vários fatores – compartilhando com vocês, meus caros leitores dominicais, um excerto do livro Homo deus: uma breve história do amanhã (Cia. das Letras, 2017, p. 11), do historiador israelense Yuval Noah Harari. “No despertar do terceiro milênio, a humanidade acorda, distende os membros e esfrega os olhos. Restos de algum pesadelo horrível ainda atravessam sua mente. ‘Havia algo como arame farpado, e nuvens enormes em forma de cogumelo. Ah, bem, foi apenas um sonho ruim’. A humanidade vai até o banheiro, lava o rosto, examina as rugas diante do espelho, prepara uma xícara de café e abre o jornal. ‘O que será que nos espera hoje?’”

 

Culpabilidade

Olhem com a devida acuidade para a pergunta que encerra o trecho: “o que será nos espera hoje?”. Instigante interpelação, principalmente em se tratando de tempos pandêmicos e, como Penápolis não é uma ilha, também está sendo infectada aos borbotões pelo covid-19. Contudo, fica-me uma questãozinha: a culpa é de quem? Do vírus ou do ser humano que se aglomera sem a devida necessidade e acaba levando, da rua para casa a peste, semelhante a “Bailarina da morte” [Lilia M. Schwarcz, SP: Cia das Letras, 2020] como ficou conhecida a Gripe Espanhola de 1918? Claro que, assim como bem afirmou o escritor citado no aforisma acima em seu outro livro Notas sobre a pandemia [SP: Cia das Letras, 2020], que o homem não se constituiu na misantropia, precisando, portanto da congregação social para existir no outro e a partir do outro, bem como fazer com que seu interlocutor viva, levando em conta as trocas simbólicas e de signos que se transformam em significados com muitos outros significantes. Todavia, é preciso no momento, ter um quantum significativo de cautela.

 

Individualismo

Parece-me que nesses tempos pandêmicos, o cidadão finalmente deixou as máscaras caírem ao se ver obrigado a colocar uma para proteger o seu semelhante. Diante da insensatez de alguns, evidencia-se que o indivíduo exerce sua individualidade exacerbando-a ao ponto de se externar num atroz individualismo que coloca em risco a vida de seus semelhantes. Mas por que será que o sujeito social, constituído para viver em sociedade, continua, quiçá a necessidade do outro, permanece nessa condição de achar-se acima de tudo e de todos, uma espécie de Super-homem? Creio que vale aqui uma reflexão sobre o comportamento humano em pleno quadro pandêmico. Claro que 2020 é para ser esquecido, principalmente por aqueles que viram seus entes queridos terem suas vidas ceifadas por um vírus invisível, mas não se pode pensar apenas em si. Tendo isso como premissa, é que entendo que o uso da máscara é uma necessidade que deverá perdurar aí por uns quatro anos e, no momento, arrefecer ao máximo, o contato social, principalmente festas, baladas e demais aglomerações desnecessárias. O risco é real!

 

Secretariado

Deixando o campo pandêmico por alguns aforismas, te digo meu caro leitor que, dos nomes anunciados até o momento pelo prefeito eleito e sua vice, conheço alguns, outros cheguei a conversar mais detalhadamente, portanto, prefiro aguardar mais um pouco para tecer alguns comentários, contudo, achei acertadíssimas as escolhas do oficial-superior da PM Rodoviária, coronel Rodrigueiro e também do cientista político Thiago Mazucato. Aquela que assumirá a secretaria de Finanças também já teve um significativo trabalho realizado em gestões anteriores, sendo inclusive funcionária de carreira da prefeitura local. Foi anunciado o secretário de Esportes: um ex-jogador de futebol da equipe profissional da cidade. Também, me parece acertado, contudo, creio que deve se ter em mente que o universo do esporte não é somente o futebol: nem todas as crianças e adolescentes querem jogar futebol.

 

Educação

Ainda, até o momento em que eu escrevinhava essa coluna, não havia sido anunciado o nome do titular da pasta de Educação. Então é aguardar os próximos passos, tendo em vista que o futuro titular da área social já é conhecido: um douto em leis. Entretanto, o setor é complexo, e pelo que pude acompanhar nos últimos 16 anos, nenhum gestor conseguiu azeitar a secretaria no sentido de fazer com que os problemas fossem equacionados. Só para recordar, teve um governante que, durante os oito anos de seu mandato, trocou uns dez titulares, o que pode se dizer: um por ano, mais ou menos. Desta forma, não é possível elaborar programas que vão além do puro assistencialismo. Na atual gestão, a secretaria social não contribuiu de forma significativa para minimizar as questões envolvendo aquele universo

 

Espera

Mas, vamos aguardar, até porque Caíque Rossi (PSD) acaba de derrotar – quem sabe sepultar politicamente o seu criador – o atual prefeito, tendo em vista a quantidade de processos e condenações que este já possui na Justiça local e outras que tramitam no Tribunal de Justiça por conta do foro privilegiado. Se por um lado, o mandatário da hora na paróquia penapolense, ao não ver o seu ungido eleito, ou seja, o seu vice, por outro, o PSDB que o deixou, mesmo sendo expulso da legenda, se imiscuir no interior do partido, terá muito trabalho para se reerguer, depois da saraivada de nãos recebidos no último pleito. Mas nada está perdido, até porque há nomes emblemáticos dentro da agremiação que fará um significativo trabalho no Legislativo para, quem sabe no próximo pleito eleitoral, derrotar Caíque Rossi ou até mesmo compor com ele. Em política tudo é possível, já o escopo sempre foi o poder! Sendo assim, o povo é mero detalha nessa engrenagem!

 

Dezembro

Dezembro chegou e com ele as possibilidades de se comemorar o aniversário de um grande líder religioso, político e significativo filósofo: Jesus, o Cristo. Muitos usam esse período para dar presentes, aquecer o comércio, falar-se muito nele, contudo, sabe-se que as práticas não passam de vocalização, ou seja, se diz muito, mas pouco se faz. É como se chicotasse o dorso dum escravo durante a semana toda e no domingo fosse beijar a mão do líder religioso pedindo perdão e, não segunda-feira, novamente escolhesse outro cativo para açoitar num ato sádico. O escravismo foi-se com o 13 de maio, mas, conforme Machado de Assis (1839-1908) diz em um de seus escritos, ficou-se o hábito e não somente o de açoitar o preto a partir da violência simbólica, mas aplicando contra ele sentenças difamatórias, no sentido de tentar silenciá-lo enquanto voz dissonante da mesmice idolatria atroz com a qual se discursa como um indivíduo do bem. Parece-me que não deveria ser apenas dezembro, o tempo de refletir sobre as condutas humanas, mas todos os dias, já que o não uso da máscara passa a ideia de que o problema não é dele, mas sim do “outro” quando se deve utilizar o equipamento para proteger o semelhante. Mas o que esperar duma sociedade como a nossa, com pesado passivo escravagista? E-mail: gilcriticapontual@gmail.com. www.criticapontual.com.br

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