Política
Por que o sujeito social, principalmente o brasileiro, odeia o mundo da política? Completo a interpelação, ofertando-te, meu caro leitor, outra questão nessa seara: se se detesta tanto esse agir em praça pública, na ágora, por que se tem tantos candidatos disputando às 13 vagas que existem no Legislativo Penapolense? Seria a resposta óbvia ou teríamos que tratar dessa complexidade com muitas reflexões? Creio que não! Sendo assim, poucos dizeres significariam muito para os cidadãos. Há, se a memória não me trai, mais de 30 conselhos comunitários na cidade e, quiçá o Conselho Tutelar, não vejo renhidas eleições para os cargos de presidentes e demais postos nas estruturas administrativas desses órgãos. Com a palavra, o leitor-cidadão.
Existir humano
Lógico que, como no dizer de Aristóteles, a política faz parte do existir humano e está em tudo e em todos nós, que vivemos no orbe e pode ser sentida numa casa em que há vários sujeitos, como uma família – seja ela no sentido clássico ou as modernas. Todo o relacionamento é pautado por princípios de ordem política e poder, mesmo que este advém do universo moral ou ético. Desta forma, a normatização sempre se escudará pela mediação entre os pares dentro dos lares. A questão passa a ser a forma como esses relacionamentos são construídos e os sujeitos participam ativamente na tomada de decisões. Deste modo, é possível que uma criança que cresça numa família em que o diálogo é a tônica da convivência, tenha condições de fazer mediações objetivando atingir um fim específico e não somente o seu. Há que registrar também que um ser, educado num lar em que tudo é realizado do jeito que este quer, sem que seja feita as devidas observações, se torne um adulto arrogante, prepotente desejoso de que todos façam suas vontades. Pensemos, meus caros leitores.
“Ideia fixa”
Deixando o universo político por uns instantes e adentrando ao mundo poético, é interessante notar o que Machado de Assis (1839-1908) diz sobre o ser humano, enquanto um ente político. Ele afirma que se não houver uma forte preocupação com as questões éticas e morais na formação do sujeito social, este sempre entenderá que precisará ficar esperando as esmolas que caem do alto do centro do poder. Essa observação pode ser encontrada no capítulo IV Ideia fixa, do clássico do realismo brasileiro Memórias póstuma de Brás Cubas. Seguindo essa toada, é importante olhar com acuidade o fato de que o mundo da política e das letras podem sim, andar juntos e, uma ode dum Ovídio pode muito bem externar uma questão alusiva ao viver na polis, através da prática do pão e circo romano que não está muito distante do presente brasileiro, bem como a ideia contida nos versos de Castro Alves (1847-1871), segundo a qual, a praça é do povo, assim como o céu é do Condor.
Preceito poético
Seguindo esse preceito poético, em novembro, meus caros leitores, que todos façam uso da política participativa e não transformem a ida às urnas numa democracia delegativa. Ou seja, não apenas escolha um amigo para ser seu representante no legislativo, mas sobretudo, um indivíduo que esteja realmente preocupado com as coisas da vida ativa na polis. Mas será possível agir desta forma? Será que o cidadão-eleitor tem essa destreza em observar que o seu postulante quer de fato agir em prol da sociedade ou apenas pré-ocupado com os R$ 4 mil mensais que receberá no final do mês por participar de quatro sessões na Câmara Municipal? Meu escopo aqui não é fazer nenhuma espécie de proselitismo em prol de uma ideia ou um emplasto político, ou postulante, mas tão somente contribuir para com que me leem no sentido de analisarem criticamente o quadro político nacional, estadual e local e não simples apertem o “sim” achando que fez a sua obrigação e voltem para casa com suas consciências tranquilas. Um “sim” equivocado por significar quatro anos de amarguras.
Poesia
Mas vamos de poesia para quebrar a monotonia que uma discussão política pode deixar transparecer. Compartilho com vocês, meus caros leitores, os versos da aluna do 3.º colegial da escola estadual penapolense Joana Helena de Castilho Marques, Melissa Rubim Pinto. Bloqueio, eis o título de seus versos. “Eu busquei inspiração/Na mais intensa escuridão/Estendi a minha mão/E fui levada pela imensidão”. “Eu busquei inspiração/Na mais intensa escuridão/Preenche meu coração/|Cada passo pelo chão”. “Eu busquei inspiração/Na mais intensa escuridão/Eu busquei inspiração…/E me perdi na solidão”. Excelentes verbos transformados em versos pela verve poética da estudante secundarista, indicando um forte viés para o campo das artes e quem sabe a poetisa não consiga publicar em livro seus versos deixando para as gerações futuras importante legado poético. Quem se habilita a auxiliar a versista a concretizar o que vem acalentando a muito e externando em seus poemas: a publicação em livro de suas odes à arte e a vida?
Prioridades
Conforme ficou externado nos aforismas acima: ninguém foge da política e da poesia e todos têm dentro de si um pouco de cada coisa alimentada em seu cotidiano. O que importante é o que cada ser humano prioriza em sua existência. Há aqueles que não medem esforços para atingir o poder e aí vale tudo: jogo sujo, puxada de tapetes como se diz no jargão popular, desclassificar seus semelhantes, mediante mentiras e outras toscas aleivosias, muito próprio daqueles que se apequenam em busca dum predicativo do sujeito. Muitos dos que vivem em suas comensalidades sociais, apenas o fazem para ficarem bem nos holofotes e reforçar o fugaz tosco adjetivo que lhe qualifica e é consumido no ato em si, pois isso é o que prioriza. Sendo assim, abrirá pouco espaço para as manifestações poéticas e artísticas, inclusive desqualificando ou desdenhando daqueles que deixam constantemente seu animal poético em evidência. É neste sentido que fiz as interpelações no início destes olhares dominicais os últimos deste setembrino mês primaveril. Pensem meus caros leitores. Qual ser dentro de ti, vocês alimentam e por quê?
13 vagas
Enfim, são 13 vagas que estão à disposição do eleitorado. Cabe a cada um fazer a escolha que melhor lhe aprouver dentro desta filosofia política, segundo a qual, o vereador eleito será o representante de seu eleitorado no Legislativo. Portanto, depois não terá, o nobre eleitor, a primazia de dizer que “político é tudo igual”, pois não é! Ele é a cara daquele que aperta um sim nas urnas logo mais em novembro. Poderia aqui avançar na crítica, chegando à Brasília, ou nos mais diversos palácios de poderes espalhados pelo país, mas acho que aqueles que me leem dominicalmente, compreendem como entendo a peleja ideológica, passando pelo campo religioso, social e econômico, então não vou agastá-los nesta manhã de domingo no qual setembro de 2020 já começa a se despedir de todos, só voltando em 2021. Mas pensem bem como os 13 nomes, que significarão azar ou sorte para a cidade, poderão ser o retrato da sociedade penapolense. E-mail: gilcriticapontual@gmail.com. www.criticapontual.com.br.