Olhar Crítico

Objetividade

Começo meus olhares críticos deste domingo, sempre me ocupando com a ideia de auxiliar na formação daqueles que leem semanalmente meus aforismas. Dito de outra forma: o escopo de minhas abordagens não é o de dizer o que se pensa ser a verdade sobre determinados assuntos, mas apenas e tão somente contribuir para que os meus leitores possam ampliar seus pontos de vista sobre qualquer temática, como por exemplo, a política, a filosofia e a constituição de uma sociedade a partir da vontade de seus pares, sempre reguladas pela legislação, conforme aponta os filósofos políticos da corrente chamada jusnaturalista, como John Locke (1632-1704), Thomas Hobbes (1588-1679) e Jean-Jacques Rousseau (1712-1778).

 

Democracia

Tendo o conteúdo do aforisma anterior como premissa é que creio haver a necessidade de a população entender, por exemplo, o que é democracia, diferindo-a do que vem a ser demagogia. Parece-me que no Brasil, o primeiro substantivo, mesmo que muito propalado, é pouco usual por aqui. Já o segundo, é mais corriqueiro, principalmente nas paróquias eleitorais e Penápolis não ficaria distante desse comportamento demagógico da categoria política que pululam nessas paragens. Olha só uma coisa: agora a Câmara de Vereadores reprovou as contas do atual prefeito relativas ao ano fiscal de 2016, entretanto, esse mesmo legislativo não foi capaz de observar as sentenças que o atual chefe do Executivo tem em segunda instância, inviabilizando-o a continuar no cargo. De acordo com a Lei da Ficha Limpa (Lei Complementar nº. 135 de 2010), caso eu não esteja enganado, ele já não tem condições alguma de participar das eleições deste ano.

 

Compreensão

Nestes sentido, quero entender o que acontece nesse exato momento em que a cidade se prepara para escolher o futuro prefeito e o atual, que tem grande quantidade de processos tramitando no âmbito da primeira instância da Justiça em Penápolis, bem como condenações desferidas em seu desfavor em segunda instância, ou seja, no universo do Tribunal de  Justiça do Estado de São Paulo, ainda participa e quer cacifar o nome de seu sucesso, inclusive com o vice pertencendo à legenda a qual foi expulso por infidelidade partidária. Muitos dirão que são coisas da política. Eu, na condição de cientista social, procuro compreender e compartilhar com meus leitores essa busca pelo entendimento, sempre pautada nos fatos e não no que eu penso ser o certo, pois tudo depende do ponto de vista de cada um, respaldado pelos valores éticos e morais.

 

Análise

A título de esclarecimento no que se refere ao aforisma acima, creio que um apontamento feito pelo escritor alemão Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832) seja assaz interessante para o momento: “antes de tudo […] quem compõe uma análise deveria indagar, ou melhor, dirigir a sua atenção sobre a questão de saber se ele tem realmente a ver com uma síntese misteriosa, ou se aquilo com que se ocupa é apenas um agregado, uma justaposição […] ou como tudo isso poderia ser modificado”. Esse é um excerto presente no livro O conceito de crítica de arte no romantismo alemão (SP: Iluminuras, 2002), de autoria do crítico literário alemão Walter Benedix Schönflies Benjamin (1892-1940). Embora a obra esteja focada no âmbito das manifestações artísticas e literárias, o seu conteúdo é útil para que eu examine o momento da política local: “a crítica contém um momento de conhecimento que pode, de resto, ser tomado por conhecimento puro ou vinculado a valorações” (SP: Iluminuras, 2002, p. 17).

 

Posturas

Sendo assim, é possível entender a postura dos vereadores que votaram pela reprova das contas e aqueles que ainda se mantiveram na algibeira política do atual gestor. Todos estão de olho no pleito e suas consequências, de modo ser compreensível o posicionamento de dois representantes do povo que integram a comissão de Finanças, Tributação e Orçamento da Câmara [a famosa Casa de Leis] terem emitidos pareceres contrários às determinações do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo. Uma breve verificação no rol de notícias dos últimos quatro anos, indicará em que margem do córrego Maria Chica os dois vereadores se encontram: do lado em que está o paço municipal: coisas da democracia, diriam uns. Entretanto, há ainda a definição de haver ausência de dolo por parte do prefeito nas recomendações do TCE.

 

Embargos infringentes

Lembremos que o atual prefeito governou a cidade com base numa liminar conseguida junto ao Tribunal Superior Eleitoral, chamado embargos infringentes por conta dum problema ocorrido quando este presidia a Câmara nos tempos em que foi vereador. Todavia, numa sociedade em que a demagogia supera a democracia, mesmo que esta, nas palavras do cientista político Guilhermo O’Donnell (1936-2011) seja delegativa [ou seja, aquela em que o eleitor delega para o eleito a condução de sua vida sem, no entanto, haver uma fiscalização efetiva do mandato do escolhido], é compreensível tanto o posicionamento daqueles que ficaram com a reprova das contas quanto aqueles que não viram dolo algum. Mas, e o povo, como é que o eleitor entende esses fatos? Será que a sociedade ainda permanecerá na prática “da mão para boca”, conforme nos apresenta o escritor Machado de Assis (1839-1908), no já citado aqui capítulo IV: Ideia fixa, do clássico Memórias póstumas de Brás Cubas? Meus caros leitores, creio que vale uma passada de olho, mesmo que não seja pelo romance inteiro, pelo menos nesse item que observei, para que tu possas ter a medida certa do que lhe admoesto.

 

Paradoxo

O substantivo masculino que nomeia esse aforisma advém do latim paradoxum, sendo formado a partir da junção de para: que é contrário e doxum: opinião. Não se pode esquecer também a origem da língua grega: pará: oposto e donxa: opinião. Acho assaz interessante tratar aqui da formação das palavras a partir da junção de múltiplos signos linguísticos para que seja possível alcançar minimamente o entendimento do que se pretende explicar. Neste sentido, se por um lado, os vereadores reprovaram, pela primeira vez na história de Penápolis, as contas do alcaide penapolense, por outro, se festeja a notícia de que Penápolis, quiçá os processos que o atual chefe da paroquia política arrasta na Justiça, está na elite da boa gestão, conforme apontamentos do mesmo Tribunal de Contas do Estado de São Paulo que recomendou e foi acatado pelos representantes da coletividade no legislativo, a reprova das contas de 2016, portanto, há quatro anos, ou seja, no último ano do primeiro mandato deste que sairá do cargo em 31 de dezembro de 2020 – ano mais enlouquecedor dos últimos tempos. Eis o paradoxo, meu caro leitor, para o universo político-ideológico da Terra de Maria Chica. Será possível dormir com um barulho desses, quero dizer, paradoxos desses? E os vereadores que deixaram de observar as sentenças em segunda instância? As respostas a essas interpelações, somente nos próximos capítulos eleitoral da paróquia penapolense. E-mail: gilcriticapontual@gmail.com. www.criticapontual.com.br.

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