Olhar Crítico

Literatura

Bom! Nesses tempos de pandemia, coronavírus, briga entre governadores, presidente da República e prefeitos das mais de cinco mil cidades brasileiras, achei interessante lançar meus olhares para um outro universo, em busca de algumas respostas, ou nem tanto assim, apenas mais uma ferramenta para pensar o homem contemporâneo movido avidamente pelos pronomes possessivos. Mas antes de sequenciar os aforismas, meus caros leitores, posso lhes afiançar que ainda não encontrei resposta e não sei se um dia eu a encontrarei, pois ainda não consegui entender o que motiva um indivíduo a se achar mais humano do que o seu semelhante.

 

Isolamento social

Sendo assim, nesse tempo de isolamento social e teletrabalho, aulas online e outras atividades tecnológicas, percorri as páginas do romance O olho mais azul, da escritora norte-americana Toni Morrison (1931-2019). Narrativa que me deteve desde o início, me apresentando um mundo estético, como aquele em que Nietzsche se debruçou para dizer que o ser humano é dominado pela ideia do belo, mas não aquela beleza que advém da alma, onde vivem os poetas, mas do plano material no qual tudo reluz, mas nem sempre é ouro. Desta forma, por que o preconceito étnico-racial? Qual é o sentido dado a um ser que desqualifica o outro pela tonalidade da pele? Esse romance somando-se a outras obras científicas, me ajudam a pensar o Brasil de ontem que está presente no hoje.

 

Eleições

Por exemplo, há dados que indicam que o Covid-19 ataca indistintamente brancos, pretos, amarelos, pardos, pobres e endinheirados, mas quais estão mais propensos a serem vítimas letais dessa pandemia? E por que? Negros! Não é lamento de um descendente de africano que escreve, mas constatações a partir de trabalhos científicos que o Brasil e seu povo deveriam observar, mas muitos desses estão ocupadíssimos com seus afazeres cotidianos, portanto, sem nenhum tempo disponível para pensar a questão depois de passada a pandemia. Mas enfim, todos aguardam as próximas eleições municipais para distribuir santinhos e toscas promessas, inclusive uns já até estão participando até de velório de cachorro.

 

Pandemia

Já que chamei o universo da política, não posso deixar de enfatizar coisas interessantes do ponto de vista federal, estadual e depois caindo no alçapão municipal. Na capital candango a coisa caminha daquele jeito que todos sabem: o STF destitui do presidente as prerrogativas de determinar ações nos Estados e municípios visando minorar os danos humanos causados pela pandemia. Contudo, não o vejo respeitando esses ditames e edita medidas que vão no sentido contrário, confundindo as pessoas, comerciantes e gestores municipais. E muitos que desconhecem alguns princípios básicos constitucionais, vociferam aqui e ali contra governadores e prefeitos. Por exemplo, o Estado de São Paulo é o epicentro da pandemia dentro das fronteiras brasileiras, sendo que o isolamento social não atinge 50% e o pessoal quer a flexibilização do mecanismo? Como? Se o ideal de isolamento para evitar contaminação interna é de 70% e o índice está apenas em 48%. Sendo assim, como flexibilizar?

 

Novos parceiros

Outro elemento que vem de Brasília e me faz refletir diz respeito ao chefe do Executivo Federal abraçar o famigerado Centrão – bloco de deputados que não pensam no Brasil, mas apenas em si e suas contas correntes. Esse afago capitaneado por Roberto Jefferson (PTB) – envolvido até o pescoço com corrupção – é a prova cabal de que a principal arma da campanha eleitoral do chefe do Executivo, qual seja, a de combater a corrupção, caiu por terra, mas porque ele fez isso, abraçando o capítulo 18 do livro O príncipe, de Nicolau Maquiavel (1469-1527)? Sobrevivência política. Isto é, ainda permanecer como Chefe político do Brasil, contudo, sem discurso para o seu eleitorado e, para manter os radicais que desconhecem a constituição ou preferem ignorá-la, joga pérolas cheias de espinhos, na medida em que todos eles podem ser processados judicialmente por conta de ações que propõem o fechamento do Legislativo e do STF.

 

Periclitante

Enquanto em Brasília a coisa sapeca, aqui no Estado de São Paulo, muitos dos eleitores deste que governa a unidade federativa estão com ele engasgado e usam vários exemplos para justificar que o governador está errado em manter o isolamento social e somente flexibilizar com a autorização das autoridades sanitárias. Entendo que a situação é periclitante e cada um tem lá suas razões para defender pontos de vistas divergentes, mas deixemos os índices estourarem aqui no inverno e a coisa fugir do controle e o barqueiro da morte, Caronte na condução, e o féretro rondar a família de todos os penapolenses e veremos quem pagará o pato? A pergunta tem fundamento porque há uma grita quase que geral com medo da economia arriar. Com o dólar cheirando R$ 6 é possível dizer que o Brasil está com as quatro rodas arriadas e depois que a tempestade passar, virá o processo de recuperação da sociedade brasileira.

 

Resguardos

Por isso, entendo que o momento é para se resguardar fazendo prevenção e analisar como será o Brasil de depois de amanhã. Mas ele só poderá ser diferente do presente se cada um entender que o momento é para reformulações pessoais e internas. Compreendo que essas alterações são complexas quando a esfera econômica de nossas vidas está se derretendo diariamente. Não se sabe em que lado pegar, sendo assim a ira é direcionada aos dirigentes, muitas vezes “cega” que não deixa ver que ele é o seu governante pelas mãos dos eleitores e que o que vocifera hoje pode ter sido um dos signatários do vencedor eleitoral. Mas agora, como dizia o velho adágio, “a viola está em cacos” e todos devem refletir sobre as razões que levaram a nossa sociedade a não colocar as barbas de molho quando as dos chineses ardiam lá no começo do ano.

 

 

Redenção política

E esse caminho da redenção política passará, com certeza, pelas eleições municipais deste ano. Segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) o pleito está mantido, já que as convenções partidárias acontecem lá pelo mês de agosto. Então, o cidadão-votante deve ficar atento a tudo e a todos para não ser surpreendido com promessas disso e daquilo. Como dizia o cantor e compositor Raul Seixas (1945-1989): eu do meu lado aprendendo um pouquinho, tenho observado a grita e ficado de olho nos índices de contaminação pelo Covid-19. Não se deve buscar culpados, mas apenas a prevenção, pois a letalidade é grande e não se sabe ainda a dimensão corporal que o vírus tem, ou seja, como ele destrói o sistema humano levando o indivíduo ao óbito. E-mail: gilcriticapontual@gmail.com. www.criticapontual.com.br.

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