Prevenção
Como eu disse em outro lugar, o momento não é para ficar adjetivando isso e aquilo e pessoas que pensam de forma diferente no que diz respeito à maior crise sanitária do Brasil, para não dizer, no campo da saúde coletiva, pois o vírus não tem ideologia, classe social, etnia ou credo religioso, mesmo que os indivíduos tendem, como faz com seus semelhantes, a desejar classificá-lo assim, entretanto, falham enormemente ao se posicionarem desta forma. O que há lá fora é uma coisa só: uma moléstia causada por um ser invisível, desprovido de sentido para si, mas que tem forçado os sujeitos sociais a se repensarem enquanto indivíduos individualizados.
Divergências
Neste ponto, em que há muita grita daqui e dali com muitos cidadãos comuns querendo opinar sobre o que desconhecem ou tem uma formação inadequada para emitir uma opinião sensata, e outros berrando que há apenas o desejo de se salvar os famosos CNPJs em detrimento dos CPFs. Antes de eu entrar nessa peleja, para lá de complexa, interpelo-vos meu caro leitor: o que é mais importante: uma vida ou uma conta bancária recheada de reais? Questionando de outro modo mais direito: quanto vale uma vida? Recordo-me que, certa vez escrevi um artigo aqui neste espaço enfocando essa pergunta, tendo como escopo outra temática: o assassinato de um idoso. Os criminosos queriam roubar-lhe o porco. Parece-me que aquele assunto, deveras modificado, pode ganhar certa incorporação nesse momento.
Tese
Entendo que o momento é alvissareiro para eu recuperar uma tese que defendi lá no longínquo ano de 1994 quando frequentava o IFCH (Instituto de Filosofia e Ciências Humanas) na UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas). Instados pelo professor de Teorias da Globalização, Octávio Ianni (1926-2004), todos os participantes do curso tinham que apresentar uma solução para os problemas sociais provocados pela transnacionalização dos capitais e da vida ativa na Terra. Tivéramos seis meses para escrever algo de significativa importância. Pois bem, depois de percorrer os trabalhos dos três principais teóricos das Ciências Sociais: Karl Marx (1818-1883), Max Weber (1864-1920) e Emile Durkheim (1858-1917), eis que encontrei num filósofo alemão, Immanuel Kant (1724-1804) uma observação que poderia ser útil para se pensar o homem originário da sociedade liquida. Na revista do centenário de Penápolis escrevi um texto semelhante – quem tem em casa pode conferir as minhas reflexões. Naquelas linhas, indico que a solidariedade é o elemento fundamental para que o homem contemporâneo diminua os problemas provocados pela internacionalização da vida.
Suspenso
Deixando meados da década de 90 para outro momento e voltando ao presente no qual o homem se vê acossado por um vírus que o deixado prostrado dentro de casa contando com a própria consciência e seus pares. Conforme apontei aqui no transcorrer da semana, o tempo está suspenso, pois os cientistas estão correndo contra o relógio para encontrar uma saída medicamentosa para evitar que a “peste pós-moderna” – sim, já que ela, assim como os capitais monetários, migrou da Ásia para o resto do mundo – ceife mais vidas do que as que já se foram. Todos os dias os jornais noticiam mortes e aumento dos casos, a exemplo do que aconteceu na Europa medievalista quando a Peste Negra varreu o velho continente.
Finanças
Se a saída, enquanto os pesquisadores dia e noite tentam se antecipar aos vírus, é a solidariedade, como ela pode ser aplicada no presente? Max Weber tem uma obra em que desenvolve uma visão, segundo a qual, uma conduta racional visando um fim chancelou o desenvolvimento da sociedade como a conhecemos hoje. Pois bem, se no passado, mais especificamente na Europa quinhentista houve esse preceito, cabe ao homem contemporâneo recuperá-lo visando minimizar o impacto da chegada do vírus corona, principalmente no âmbito da economia. Não tem um só ser que não está atento a esse movimento financista, todavia, ainda não vi ninguém apresentar uma medida salutar que possa contribuir para o debate para o problema. É uma conversa só: dividiu-se o Brasil, lamentavelmente, entre “eles” e “nós”, limitando-se a resumir-se tudo a esquerdistas e bolsonaristas, objetivando as eleições de 2022. Se esse vírus pegar o Brasil desprevenido, não haverá pleito daqui a dois anos. Portanto, o momento é de se abandonar essa tosca dicotomia.
Quebradeira
Sabe-se que se os CNPJs quebrarem, não haverá muita coisa para se fazer, mas também se compreende que se os CPFs estiverem estrangulando o sistema público de saúde ou sepultados, não haverá quem recorrer para as empresas funcionarem. Se isso é fato, então é preciso se colocar em reflexão e encontrar uma saída. E é claro que se faz necessária a mão doo Estado, indo contra aqueles sujeitos que vociferam um estado mínimo, refém de uma quase esquerda. Em 2008, o mundo ficou insolvente a partir do epicentro da economia mais liberal do mundo. Quem socorreu o mundo global de mercadorias? A mão invisível do mercado, como dizia Adam Smith (1723-1790)? Claro que não! Basta uma olhadinha para aqueles dias e os meses que se seguiram para entender que a insolvência foi contida pelo Estado e seus sistemas monetários.
Sem eleitores
Novamente, as grandes nações, observando o problema para além da tosca ideologia e o “nós” contra “eles” ou democratas versus republicanos, entendem que o momento agora é para salvar vidas e depois se pensar em eleição, até porque sem eleitores, já que muitos estarão cremados, não tem como a democracia funcionar. Então, na minha visão, um tanto quanto simplista, o Governo Federal, juntamente com os chefes dos Executivos Estaduais e municipais devem criar linhas de financiamentos para as pessoas jurídicas manterem seus CNPJs ativos, quitando salários dos servidores e, na medida em que a ciência busca estancar a epidemia, o sistema econômico voltará ao normal. Mas, e os custos, pois dinheiro não dá em árvores e precisa voltar de onde saiu? Aí é que pode surgir o pacto racional de solidariedade. Todos, inclusive e principalmente, a classe política auxiliando. Como ser político não é profissão: estes abririam mão de seus recebimentos, começando pelos vereadores.
Entendimento social
Mas seria possível haver esse entendimento social, político e econômico? Principalmente agora que o vírus deixou o rei nu, lhe cortando a circulação, elemento fundamental para o sujeito existir e apresentar seus penduricalhos adquiridos para dar sentido às suas vidas ocas, toscas e sem sentindo algum? Responder essa pergunta, me parece ser tão séria quando combater o vírus, buscando minimizar o impacto de mortos entre os mais de 210 bilhões de brasileiros. E-mail: gildassociais@bol.com.br, gilcriticapontual@gmail.com. www.criticapontual.com.br.