Política
Não é novidade para nenhum dos meus leitores que findando 2019 – o ano que muitos querem esquecer – e iniciando 2020 a coisa vai pegar pelos lados da política local. Momento propício para se ler o romance Frankenstein, de Mary Shelley (1797-1851). A enunciação é fantástica, quiçá tirando o desejo do médico em criar vida a partir do somatório de restos mortais surripiados do cemitério da cidade, no final da narrativa há um diálogo entre o monstro e o seu criador em que o primeiro diz “agora o criador nega a sua criatura”.
Alternativas
Por que essa narrativa faz eco neste colunista há tempos e ainda mais agora em tempos eleitorais? Porque, de acordo com os ventos que sopram lá dos lados do Paço Municipal, o minuano que chega à boca pequena dá conta de que o pleito será entre o criador [atual prefeito que administrou com um embargo infringente, se a memória não me falha] e o seu ex-pupilo, o ex-presidente da Câmara, Caíque Rossi. É interessante notar que só se fala nessas duas mercadorias-políticas do presente, como se não houvesse uma candidatura alternativa a estas – e não estou falando do PT, mas de uma terceira postulação capaz de angariar os eleitores descontentes com o atual quadro e cônscios de que as duas forças em litígio hoje seriam mais do mesmo a partir de 1.º de janeiro de 2021.
Futurologia
Lá do Legislativo não parece que sairá esse postulante, e caso alguma semente vingue, no máximo para compor chapa, figurando como vice de alguém abençoado por outro fulano. Esse é o quadro até que surjam novos trebelhares, como por exemplo, o presidente da Câmara, Rubens Bertolini (SOLIDARIEDADE). Quererá ele disputar o pleito na condição de pretendente ao cargo de prefeito ou desejará permanecer mais quatro anos ocupando uma vaga na Câmara Municipal e depois arriscar voos mais altos? E o PSDB vai mesmo deixar o expurgado atual mandatário continuar dando as cartas dentro a legenda? Como sempre dizia no final da terceira parte das novelas antigas: “cenas dos próximos capítulos”.
Trânsito
Uma coisa eu creio que seja certa: a municipalização do trânsito local não passou de balão de ensaio do atual prefeito que, a exemplo da anterior, vociferou quando era oposição, porém, bastou ser governo para sentar em cima do que se pleiteada e fazer de conta que não era com ele. Coisas da política, diriam alguns dos meus interlocutores. Contudo, acrescento que pode continuar sendo assim enquanto o povo permanecer na ignorância política e na escuridão quando a temática for cidadania plena. Pelo andar da carruagem, como diziam os antigos, o despertar do brasileiro demorará um século ou mais, pois é preciso conscientizar os adolescentes e jovens, entretanto, auxiliá-los a ter consciência crítica não significa ideologizá-los, como muitos afirmam que o educador esteja fazendo isso dentro da sala de aula. Os nossos jovens e adolescentes que cursam o ensino médio chegam para os professores muita das vezes, com suas existências emocionais destruídas a partir de lares disfuncionais.
Cobranças
Há cobranças de todas as estirpes, como definir o que vai se fazer no campo profissional pelo resto da vida, quando o próprio mercado está indicando que nada é definitivo, nem as relações sociais, hoje muito mais pautadas no ter do outro que pode ter do que no ser e no que o semelhante pode vir tornar a ser, naquilo que o filósofo Immanuel Kant (1724-1804) afirmava ser o homem um ente em construção, portanto, nunca conseguiria ser. Se isso é fato, como cobrar dos adolescentes e jovens rápidas definições? Acho que um bom diálogo seria significante, pois enquanto o estudante não se define, a vida não pode ser eternamente lazer, é preciso constituir-se de alguma forma, mesmo que essa maneira seja efêmera. Pais e filhos só chegarão a um consenso a partir de conversas francas que não podem ser estabelecidas quando o adolescente está concluindo o ensino médio. Elas devem vir bem antes para se estabelecer um parâmetro do que se espera e o que o estudante poderá retribuir mais a frente.
Enem
Por exemplo, hoje será aplicado o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio). Essa avaliação ocorre dentro de todo o território brasileiro. Neste domingo será a primeira fase do processo seletivo para ocupar as vagas nas Universidades Federais e também nas particulares existentes na região de Penápolis e nos outros 26 estados da federação. Oportunidade singular para os alunos concluintes do Ensino Médio. A pergunta aqui é a seguinte: e se não passar, o que fazer? Num primeiro momento é ter claro que o mundo não vai acabar por isso e que haverá no ano seguinte o mesmo processo de avaliação. Portanto, é preciso se organizar e estudar. Mas e se o aluno estiver trabalhando? O trabalho não vai atrapalhar muito, se o sujeito estiver mesmo propenso e determinado a conseguir aprovação. O que ele precisará fazer, conforme venho indicando a alguns dos meus alunos terceiranistas, organizar as tarefas e usar racionalmente o tempo que se tem para estudar. Essa dica não é respaldada apenas em teoria, mas na minha prática enquanto vestibulando em 1989.
Escolhas
No que diz respeito à escolha profissional, o dilema é grande e faz parte do processo, principalmente porque é preciso ter claro que o vestibulando de hoje deve entender que o curso a ser indicado será o seu parceiro diariamente, sem haver sábados, domingos e feriados. Existem adolescentes que gostam de muita coisa e se destacam em quase tudo o que realizará. Quando chega nesse ponto, a coisa fica complicada e o destrave pode advir da seguinte pergunta: “o que você gosta de fazer como hobby e o que pretende seguir como profissão?” O primeiro pode ser aquilo que se aprecia fazer nas horas vagas e o desempenho é excelente, contudo, não é o que se busca como ideal de vida ou o retorno financeiro é pequeno e o jovem querer mais da vida profissional do que meramente satisfação pessoal. Se bem que não adianta fazer o que não se gosta objetivando ter apenas dinheiro no bolso.
Literatura
Aos meus leitores que apreciam ir além das linhas que estampo aqui semanalmente, eu recomendo o livro Através do espelho, de Jostein Gaarder. O autor é filósofo norueguês e já publicou outras obras como O dia do Coringa – à qual tenho predileção – e O mundo de Sofia, entre outros. Há outros que podem ser uteis nesses tempos bicudos e auxiliá-los a enxergar o universo socioeconômico brasileiro sob outro prisma. Eles podem conferir a enunciação que encanta o romance Vidas secas, de Graciliano Ramos (1892-9153), como também o seu texto Angustia. Existe ainda o clássico Quincas Borba, de Machado de Assis (1839-1908) e o da filósofa Djamila Ribeiro – Quem tem medo do feminismo negro? É isso ai! E-mail: gildassociais@bol.com.br; gilcriticapontual@gmail.com. www.criticapontual.com.br.