Permissão
Peço permissão aos meus leitores dominicais para que os aforismas de hoje sejam dedicados a um jovem, ou melhor, um adolescente para lá de especial: meu filho Miguel Minotti dos Santos, aluno do Terceiro ano do ensino médio do Colégio Futuro/COC aqui em Penápolis. Não é nenhuma novidade, já que se falou do assunto e do seu feito a semana toda. Reportagens jornalísticas, entrevista a uma rede de televisão da região, significativas observações feitas pelo diretor deste jornal a uma emissora de rádio de Penápolis, enfocando o prêmio que o terceiranista conquistou: uma viagem a agência espacial norte-americana (NASA). Um fato notável e de valor incalculável ao vencedor, sobretudo por conta da carreira que este escolheu: prestará o vestibular da FUVEST para o curso de Física na USP-São Carlos.
Segredo
Bom! Muitos devem estar-se perguntando qual é o segredo para essa conquista. Com toda licença dos meus caros leitores, em alguns momentos desses aforismas partirei da primeira pessoa, no singular, para a primeira pessoa do plural no universo gramatical, ou seja, de um “eu” que se transforma num “nós”. A transposição dum para o outro não se processa na anomia, isto é, na ruptura, pois há uma conjunção de interesses e valores que são conjugados desde o momento em que Miguel nasceu. Portanto, a partir daquele 13 de setembro de 2001, ele passou a ser o centro para onde convergia todos os esforços dos pais que, isoladamente na primeira pessoa se transformavam em um “nós” sem eliminar o “eu”. Em virtude dessa observação e opção, todos os esforços foram direcionados para a educação dele.
Rosas e espinhos
Se perguntarem ou nos interpelarem se computamos os espinhos e as rosas durante esses últimos 18 anos, com certeza a resposta será apenas uma: nos mantivemos no foco, no objetivo e naquilo que é próprio dos pais: educarem seus filhos com valores pautados na ética e na moral, observando sempre que ninguém é melhor ou pior do que seus semelhantes, mas que cada um é o que é e deve sempre procurar ser melhor para si, espalhando sempre para os demais aquilo que se tem de positivo dentro de si. O primeiro passo para se alcançar esse objetivo é ser sempre solidário e Miguel, desde a infância, foi solícito para com aqueles que o cercavam e ainda fazem parte do seu círculo de amizade, portanto, são eles que podem falar mais sobre o nosso filho e suas qualidades, pois nós pais corremos o risco de exagerar um pouco, contudo, sempre indicando-lhe a sandálias da humildade.
Diálogo
Nessa jornada para educarmos nosso filho – olha a mudança da pessoa gramatical novamente – posso contar um fato significativo. Certa vez fui convidado para uma celebração religiosa: um padre penapolense, que residia fora do Estado de São Paulo, estava comemorando aqui os seus 50 anos de vida sacerdotal. Naquele domingo, durante a homilia que fez, uma observação me chamou a atenção: a partilha. Ele dizia que as famílias deviam (com)partilhar mais a vida de seus integrantes e isso precisava ser feito pelo menos uma vez ao dia: que fosse durante o café da manhã, no almoço, no jantar ou num momento em que todos estivessem reunidos para trocarem informações, dialogarem sobre sonhos, desejos, projetos para cada um e para a família como um todo. Dentro das dificuldades financeiras pelas quais passamos, já fazíamos isso e a partir daquele momento, a prática foi institucionalizada e tem sido assim até hoje. Por mais dinâmica que a vida seja, uma vez no dia, estamos juntos, conversando, planejando, corrigindo e sendo corrigido, pois todos precisamos um dos outros para aprender e ensinar.
Adolescente
A pergunta que vos faço, caro leitor é a seguinte: qual pai e mãe não foi adolescente? Quem nunca se imaginou colocando a mochila nas costas e ganhado o mundo, achando que a casa dos pais estava um saco, como se diz no jargão popular? Muitas vezes, nós adultos esquecemos que fomos um dia filhos que tiravam o sono de nossos pais. Compartilho com você, uma pequena conversa que tive certa vez com a minha mãe. Eu reclamava da marcação cerrada que fazia e ela foi categórica: “o dia que tu tiveres um filho, entenderás o que faço hoje pra ti!” Ela não está mais entre nós, mas continua sendo um exemplo de pessoa e foi justamente depois que o Miguel nasceu que eu compreendi aquilo que sempre me dizia. Sendo assim, essa conquista do aluno terceiranista é um somatório de várias escolhas e decisões que tomamos, auxiliados por pessoas que viram nele o potencial que agora se confirma: a direção do Colégio Futuro/COC onde ele estuda desde o 6.º ano do ciclo II do Ensino Fundamental.
Pequeno cientista
Aliás, foi numa Feira de Ciências do Colégio Futuro/COC que o estudante, que vai visitar a NASA, apresentou para as pessoas, que não faziam parte do seu ciclo social, o seu potencial: ele, em parceria com o amigo Gabriel Fernandes Baio, criou um jogo para computadores em que havia noções claras de Biologia e Geografia, portanto, um game em que o perfil educativo era o principal escopo, isto é, ensinar, através de uma brincadeira de vídeo game, coisas importantes do mundo científico. O segundo momento, entre tantos outros, foi quando Miguel Minotti, ainda no primeiro colegial foi o melhor aluno da OBIMEP entre os estudantes das escolas particulares de Penápolis. Acho que é mais ou menos essa narrativa que posso dividir com os meus leitores dominicais, pois o restante diz respeito a maneira como eu e a mãe dele pensamos a educação dum modo geral. É preciso recordar que somos educadores formados pela FCL (Faculdade de Ciências e Letras) – campus da UNESP em Araraquara e sempre acreditamos que a única ferramenta eficaz contra as desigualdades sociais está na educação de qualidade e na meritocracia.
Mérito
Sendo assim, o mérito por ter conquistado a viagem do sonho, isto é, conhecer as instalações da NASA nos EUA – país que muitos satanizam, mas que investe em pesquisas – é todo dele que sempre foi curioso a ponto de usar fita crepe para simular fiações e explicar-nos para que serviam aquelas imaginárias interligações. Por fim, o que posso dizer aos pais que me leem nesta manhã de domingo, na tríplice condição de pai, educador e pesquisador, é que os filhos estão em primeiro lugar e que é preciso ouvi-los sempre, não apenas para ensiná-los, mas sobretudo para aprender com eles. Com essa conquista, o Miguel me ensinou mais um pouquinho a ser pai, talvez aquele que eu não tive porque uma fatalidade, justamente em setembro de 1970, o tirou de nossos convívios, mas ficou-nos o exemplo de dedicação em prol dos filhos. E-mail: gildassociais@bol.com.br; gilcriticapontual@gmail.com. www.criticapontual.com.br.