Olhar Crítico

Leitura

Na semana passada, a escola estadual Joana Helena Marques, inaugurou sua sala de leitura e, juntamente com o evento, deu início às atividades do projeto Mais Literatura. Esta é a segunda edição e, no ano passado, participei do programa elaborado pela direção e coordenação daquela unidade educacional. Coube-me apresentar o escritor brasileiro Machado de Assis (1839-1908) para além de sua simples literalidade, avançando pelos campos do palimpsesto e o que realmente pretendia o escritor com seus narradores dissimulados, como o ardiloso Bento Santiago, do romance Dom Casmurro ou o Conselheiro Aires que em Esaú e Jacó, aponta que a República não substitui a Monarquia e isso fica evidente no capítulo das tabuletas da confeitaria do Custódio.

 

Livros

Mas, voltando ao evento daquele sábado, ressalto aqui a importância de se viajar pelo mundo da leitura e o percurso pode ser feito tendo como companhia um bom livro. Parece-me que as escolas, dentro de suas limitações, fazem o trabalho que lhes apetece, como a sala de leitura da escola estadual Joana Helena. Agora é preciso que os pais façam aquilo que lhe cabem. Não adianta comprar livros ou estimular os filhos a lerem sem participar desta importante aventura pois, conforme nos diz Marcel Proust (1871-1922), a leitura nos abre portas que só podem ser descortinadas pelo amigo livro. Sendo assim, os pais precisam também adquirir o hábito de leitura e tirar uma hora por semana para trocar as impressões do que leram com os demais familiares leitores.

 

Acesso

Muitos podem dizer que o preço de um livro torna, muitas vezes, o acesso a essas obras um tanto quanto distante da maior parte dos brasileiros. Tudo bem, pode até ser que o valor de uma obra literária não seja acessível para muitos dos brasileiros, entretanto, tem-se as bibliotecas municipais – Penápolis tem duas – e a das escolas públicas. Em várias das unidades educacionais da cidade, o acervo é maravilhoso e há projetos para que os estudantes leiam mais. Eu fico imensamente feliz quando um aluno, ao terminar a atividade proposta pelo professor, se dirige a ele perguntando se pode ler enquanto aguarda os demais terminarem os exercícios propostos. É desta forma que o leitor de hoje pode se tornar um cidadão de fato no futuro, ou seja, um cidadão com cidadania.

 

Obras

Se fosse listar todos os livros interessantes que li durante esse tempo todo, teria que escrever o conteúdo por uns três ou quatro anos, caso eu objetivasse apontar por área e gênero literário, todavia, existem os clássicos, ou seja, aqueles que todo leitor deverá visitar um dia. Indicarei alguns, pois são tantos que nem sei por onde começar: tirando todos do Machado de Assis, José de Alencar e Lima Barreto, é possível encontrar prazer nas linhas compostas por Guimarães Rosa em Grande Sertão Veredas; O tempo e o vento, de Érico Veríssimo; Eu vos abraço, milhões, de Moacyr Scliar; Vidas Secas, Graciliano Ramos; Seara Vermelha, Jorge Amado; O Quinze, Rachel de Queiroz; algumas coisas de Clarice Lispector; Tocaia Grande, Jorge Amado. Enfim, a rol é maior do que eu pensava, mas quem quiser começar de algum ponto, quem sabe as obras citadas neste aforisma não seja um começo.

 

Política

Tem causado polêmica nas redes sociais uma aprovação ocorrida na sessão da Câmara Municipal da última segunda-feira. Trata-se de uma moção de Congratulação à direção dum programa exibido por uma emissora brasileira de televisão de grande porte. A indignação, conforme observado por este colunista, existe por conta da desnecessária outorga, até porque tal programa não contribui em nada para Penápolis. Tal honraria tem colocado em xeque, segundo esses internautas indignados, ou melhor em suspeição, os trabalhos que vem sendo conduzidos pelos vereadores. Essa questão me leva a observar que em 2020 teremos novamente eleições municipais e a dúvida que fica é: será o eleitorado terá a percepção de que muitos dos que se encontram na vereança, não possuem condições de permanecerem no assento a partir de 2021. A chance foi dada e eles demonstram que não tem a menor habilidade para o ofício. Mas como o poder é do povo e a ele voltará sempre a casa quatro anos, então é para se pensar em mudanças. Elas são fundamentais para a saúde política da sociedade e da democracia.

 

Segurança

Deixando o campo da política e da educação para outro momento, contudo, sem perde-los de foco, pois das ações políticas dos governantes e legisladores é que a situação pode ser minimizada e melhorada, principalmente para aqueles que vivem nos estratos de baixo da sociedade brasileira que sonha em ser capitalista, mas afunda cada vez mais em seus complexos e relações senzaleiras, sendo que a “favela” – conforme dizia um cantor na época da minha adolescência – é a nova senzala. Penápolis, cidade que tem cerca de 67 mil habitantes, não consegue dar cabo ao tráfico de drogas de suas cercanias. Conforme já apontei aqui, se são noticiadas que a Política prende todos os dias várias pessoas acusadas de tráfico de entorpecentes, isso não significa que o problema vem sendo resolvido.  As autoridades devem observar que o ingresso de adolescentes está ocorrendo cada vez mais e deve-se compreender rapidamente porque isso está acontecendo.

 

Enfermidade

A sociedade está enferma, sem que ninguém, ou melhor governante, legislador queira colocar o dedo na ferida e estancar a sangria. A grita é uma só: penas mais severas, encarceramentos aqui e ali e a lei é muito branda. É preciso mudar a legislação, dizem outros. Acho que toda essa grita tem sentido, entretanto, faz-se necessário colocar o dedo na ferida e observar que, juntamente com punições mais severas, deve-se seguir um trabalho social de grande envergadura e que todos os criminosos, seja de que estirpe for, categoria social – políticos – realmente sejam encarcerados quando cometerem algum delito, por pequeno que seja. Entretanto, o eleitorado ainda não aprendeu a votar e escolhe seus candidatos sem usar um quantum mínimo de razão. Todos sabem que a luta contra o tráfico e contra a dependência é árdua e a principal fonte de combate é a prevenção, principalmente no que diz respeito no lado do consumo. A polícia prende, a Justiça condena, a penitenciária encarcera, entretanto, se não houver um trabalho intenso, semelhante ao que ocorre atualmente através do Proerd, a batalha continuará sendo perdida, dando margem à velha frase: “enxugando gelo”! E-mail: gildassociais@bol.com.br; gilcriticapontual@gmail.com. www.criticapontual.com.br.

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