Educação
Começo os meus olhares dominicais destacando as alunas Ingrid Souza e Adriely Silva. As duas, que são alunas da escola estadual Professora Joana Helena de Castilho Marques, estiveram na última sexta-feira, 23, no campus da USP (Universidade de São Paulo) instalado em Bauru para a premiação pela participação da Competição USP de Conhecimento (CUCo). O feito das duas estudantes, para as quais ministro aulas de Filosofia, é digno de nota principalmente agora que muitos em nossa sociedade descreem da escola pública e todos “descem o sarrafo” – como se diz no jargão popular -, contudo, esperam resultados milagrosos sem o devido trabalho no qual cada um faça a sua parte: pais, governos, educadores e pedagogos.
Ausências
Não é de hoje que se observa a ausência da família na vida da escola e, de quebra, da sociedade. Como eu disse aqui em outro momento, que a sociedade poderia abraçar mais as unidades escolares, através de uma participação mais efetiva junto à APM (Associação de Pais e Mestres) e também ao Grêmio Estudantil. Recentemente conforme estampado aqui, o Estado liberou R$ 5 mil para os grêmios, em parceria com as instituições de ensino, atenderem algumas demandas da estudantada. Contrário a isso, registra-se diariamente lamentações aqui e ali, contudo, poucos movimentos organizados objetivando salvar a escola pública, mesmo porque a maioria do alunato não tem condições de custear os estudos numa instituição de ensino de caráter privado.
Ações
Mas, se por um lado, é possível registrar em determinados momentos o descredito em relação ao ensino público brasileiro, principalmente nos anos iniciais da vida estudantil chegando ao ensino médio, por outro, se olhar com um pouco mais de acuidade e um senso crítico apurado, captar-se-á trabalhos e projetos pedagógicos que no futuro terão significativos resultados. Por exemplo, quem passou pelas salas de aulas da escola estadual Adelino Peters, na semana que se encerrou ontem, pode ver os trabalhos que os corpos docentes em parceria com os discentes produziram para a Semana Científica e Cultural daquela instituição. Sendo assim, todos os envolvidos na mostra estão de parabéns.
Solidariedade
Na última coluna havia informado que uma empresa do ramo de pizzas da cidade abriria as suas portas na última segunda-feira para a comercialização de seus produtos e que a renda seria revertida para um funcionário custear uma cirurgia da esposa. Pois bem, informações que chegaram até este colunista dão conta de que o objetivo dos organizadores foi alcançado. Desta forma, parabenizo novamente a direção daquele estabelecimento comercial pelo singelo gesto em prol de um ser humano que lhe presta serviços. Que esta ação possa estimular outros patrões a olharem com mais acuidade à vida de seus funcionários e observar se estes não estão realizando a contento suas atividades laborais por conta de problemas pessoais, fora do trabalho.
Assistência
No campo da solidariedade escrevi por ocasião do centenário de Penápolis um texto ressaltando o nível de solidariedade que é possível ser encontrado em Penápolis. A população sempre estende a mão aos mais necessitados. Um exemplo disso é a quantidade de ações que acontecem diariamente no munícipio, inclusive com um grupo de pessoas abnegadas que atua no campo da construção civil auxiliando aqueles que precisam. Esses trabalhos são significativos, além dos já realizados há décadas pelos clubes de serviços: uns são divulgados, outros não. Há ainda as ações promovidas pelas mais diversas designações religiosas que funcionam na cidade.
Perguntas
Se isso é fato e tendo a crer que sim, por que ainda assistimos algumas cenas dantescas nas ruas da Terra de Maria Chica? Por exemplo, pessoas esmolando, outras em situação de andrajos que flanam pelas praças em completa miserabilidade? Por que ainda os professores se deparam com situações gritantes dentro das escolas em que crianças não conseguem aprender o conteúdo ministrado porque a carência de que são portadoras reside no campo afetivo e estomacal? Parece-me que o vácuo estomacal é até possível estancar, entretanto, quando o assunto é no campo da afetividade, a situação muda de contexto no qual o educador fica entre a cruz e a espada: ou ministra as aulas ou assiste o estudante, do ponto de vista psicológico, e tentar suprimir um quantum, mesmo que ínfimo, dessa ausência.
Estado
Por parte do Estado observa-se muita demagogia, lero-lero e muita proposta elaborada nos palacetes do poder, mas que, ao deixar suas estruturas de concreto, é desviada pelos esgotos e encanamentos instalados nos subsolos dos poderes. Quando deixa os cofres públicos, os valores são uns, mas ao chegar a sua origem, muita coisa se perdeu. Até ai muita gente tem consciência do que acontece, entretanto, a minha dúvida é: por que o cidadão continua escolhendo os mesmos representantes ou postulantes que representam determinado tipo de conduta que se desvirtua daquela do homem público? A coisa beira o descalabro quando se assiste, antes da campanha, uma reclamação aqui e ali, no entanto, quando se tem a oportunidade de constituir e edificar uma significativa mudança, as alterações indicam que mudaram apenas os nomes, mas as práticas continuarão as mesmas.
Ideologia
E já que o tom da coluna de hoje é a educação e o Estado, achei estranha uma matéria que um jornal, de circulação nacional veiculou na última quinta-feira, enfocando o problema que o novo presidente da República já enfrentou ao tentar nomear um ministro da Educação, considerado por muitos, como moderado para a pasta. Segundo o periódico informou, o nome indicado não caiu no gosto da bancada evangélica da Câmara Federal que já chiou. A primeira coisa que me ficou foi a seguinte: onde está o tal Estado laico; o Estado democrático? Que eu saiba vivemos numa democracia e não numa teocracia. É temerário que um político que acaba de ser eleito pela população e, nem todos os seus eleitores têm vínculos com as demandas religiosas, começa a ceder espaço para esse tipo de posicionamento. Um exemplo foi a observação feita pelo deputado federal Sóstenes Cavalcanti (DEM-RJ). “Para nós, o novo governo pode errar em qualquer ministério, menos no da Educação, que é uma questão ideológica para nós”. Essa fala me deixou intrigado, porque se pretende instituir uma Escola sem partido e o político vem falar que é uma questão ideológica? Então se pretende trocar uma ideologia por outra? Se for isso, a questão não está na nomenclatura, mas sim num novo processo de doutrinação. E o Estado não pode conceber isso, porque ele é laico. E-mail: gildassociais@bol.com.br; gilcriticapontual@gmal.com. www.criticapontual.com.br.