Cidadania
Em tempos de discussões do tal projeto “escola sem partido”, é interessante olhar com outros óculos, que não sejam os ideológicos-partidários e outras vertentes de pensamentos filo-religiosos, para o universo escolar e compreender como os mecanismos que levam o aluno a se tornar um adulto consciente de seu papel político-econômico e social numa sociedade futura, cujas bases estão no presente. Mas antes de mirar minhas lentes para o que vem acontecendo de maneira positiva no interior de nossas instituições de ensino, creio ser necessário explicar, mesmo que sinteticamente sobre quais pilares se constrói a tão almejada cidadania.
Civil
Um cidadão pleno é aquele que tem total consciência de seus direitos: faz questões de que os mesmos sejam respeitados, contudo compreende significativamente bem os seus deveres, pois se há direitos a serem observados, existem os deveres que precisam levados em conta quando do exercício da cidadania. Desta forma, sem ser necessariamente nessa ordem, gosto de lembrar que está em vigor o Direito Civil – aquele que faculta ao sujeito social o direito de ir e vir. Esse dispositivo foi negado a indistintamente por mais de 300 anos à massa de escravos e, em virtude disso, há fortes resquícios senzaleiros nesse Brasil de Terceiro Milênio.
Social
Na outra aba da cidadania, se encontra o direito social – aquele que garante ao indivíduo a participação na riqueza produzida no país, além de salário digno, trabalho, educação e aposentadoria descente. Neste setor, é preciso um debate mais amplo, principalmente no que diz respeito à participação na riqueza gerada pelo Brasil. A questão é emblemática porque a Nação é uma das que tem a maior desigualdade social do mundo, bem como uma grande concentração de renda, que pode ter começado no processo de colonização dos territórios encontrados por Pedro Alvares Cabras através do sistema de destruição de terras feita pelo reino português.
Defasagem
Na esteira desse segmento, sabe-que o quão complicado é para o indivíduo isolado ter acesso aos bens materiais e imateriais gerados pelos mais de 200 milhões de brasileiros. Primeiro é preciso observar que a mão de obra gerada no país, ano após anos está defasada quando compará-la com o resto do mundo globalizado. Em virtude desse problema, há desperdícios de grandes talentos e cérebros que, ou se mudam para o exterior ou acabam se perdendo entre burocracias e mais burocracias criadas por um Estado inoperante, obeso e esfomeado quando o assunto é arrecadação. Desta forma, se arrecada muito e se gasta muito mal. Resultado? População, em sua maioria, sem condições de participar da festa de mercadorias globais, como dizia o professor e sociólogo da UNICAMP – de quem tive o prazer de ser aluno – Octavio Ianni (1926-2004).
Política
Sendo assim quem se diz cidadão, mas não participar de eventos dessa magnitude e nem é possuidor de salários que possam garantir pão e segurança à família, terá dificuldades em fazer uso do Direito Político – aquele que garante ao sujeito social participação nas questões política da polis, bem como votar e ser votado desde que esteja filiado a um partido político [aqui no Brasil]. Participar da vida ativa na sociedade não é um simples comparecer nas sessões eleitorais e depositar seus votos nas urnas – eletrônicas -, mas, sobretudo, acompanhar os processos e usos do dinheiro público, tudo para evitar os desmandos que já são grandes em nossa sociedade – lembro-me de um termo que ouvi certa vez numa praça onde tem palmeiras e cantam os sabiás: “merreca”. Mesmo sendo merreca, o gestor público não está dispensado de prestar contas à população e aos órgãos fiscalizadores em que programas as merrecas foram aplicadas.
Grêmios estudantis
Tendo essas pequenas observações como premissa é que saúdo os grêmios estudantis das escolas estaduais Joana Helena Marques – dirigida pelo professor Luiz Cláudio Tonchis – e João Teixeira Sampaio – que tem no comando o educador Edison Rodrigues. Eles receberam do governo estadual R$ 5 mil cada unidade representativa dos estudantes para que sejam aplicados nas próprias unidades escolares. Os recursos são oriundos do programa “Orçamento Participativo Jovem” e objetivam fortalecer o engajamento e a participação dos estudantes no cotidiano e na tomada de decisões de suas escolas.
Prestando contas
Parece-me que a medida é salutar, portanto, digno de nota porque os estudantes, de um modo em geral, terão acesso a tudo o que foi adquirido com esse dinheiro em prol da melhoria das próprias unidades e saberão, por exemplo, que tudo o que foi comprado com o dinheiro público tem que haver a prestação de contas e de quebra já ficam sabendo como funciona a administração pública – aliás, um excelente curso para ser oferecido à comunidade penapolense. Ao terem acessos a tais procedimentos e seus respectivos processos, os alunos que se tornarão eleitores num futuro não muito distante terão condições de analisar os postulantes aos cargos eletivos envolvidos em atos dignos de plutocratas que não se envergonham de se enriquecerem solapando os cofres públicos, mesmo que os valores sejam merrecas, como eu ouvi num passado não muito distante.
Solidariedade
O fato é digno de nota, principalmente num momento em que todos, ou pelo menos a maioria dos seres humanos, andam tão preocupados com a própria existência que acaba se esquecendo dos amigos, funcionários que passam por momentos delicados em suas vidas, sejam elas materiais, emocionais ou de saúde. Posto isto, parabenizo aqui a direção da Pizzaria Medeiros que amanhã, segunda-feira, funcionará normalmente para ajudar um empregado que passa por um problema complicado com um de seus familiares. Será a noite da pizza beneficente, pois todo o lucro que o estabelecimento tiver com a comercialização de seus produtos, será revertido para um servidor custear a cirurgia de emergência que sua esposa terá que passar. Sendo assim, o gesto dos patrões é alvissareiro e quem sabe possa sensibilizar outros empregadores. É isso ai! E-mail: gilcriticapontual@gmail.com; gildassociais@bol.com.br. www.criticapontual.com.br.