Olhar Crítico

Democracia

Começo meus olhares dominicais propondo aos meus leitores uma reflexão que pode ser feita a partir dum minúsculo fragmento retirado do livro A política em tempos de indignação. O autor é o espanhol e professor de Filosofia política e social, Daniel Innerarity. Segundo ele, “a democracia implica certa identidade entre os que decidem e os que são afetados por essas decisões”. Primeiro: se o sujeito social tem como princípio que a democracia significa participação na vida ativa da polis, então isso quer dizer que ele precisa se responsabilizar pelas escolhas que faz quando é chamado a indicar quem deseja para administrar os cofres públicos recheados com taxas, tributos e impostos pagos pelos cidadãos.

 

Delegativa

No caso do Brasil, é muito comum não se observar indivíduos participativos da existência do país, principalmente quando a questão diz respeito ao universo da política partidária e os escolhidos em pleitos considerados livres e urnas sem vícios e cabrestos quase que ideologizados. Até aqui, o que foi escrito não é novidade nenhuma para o sujeito, todavia, poucos são os eleitores que sabem, por exemplo, como é o orçamento público e sua elaboração, conforme lembrou o ex-vereador pelo PT, Roberto Torsiano no encontro com o economista e professor do IE (Instituto de Economia) da Universidade Estadual de Campinas, Márcio Pochmann. Creio que o desconhecimento dessas questões, entre outras tantas, é que faz com que a democracia brasileira seja delegativa, de acordo com observações do cientista social Guilhermo O’Donnell.

 

Partidos e legendas

Se compreender como funciona o Estado e sua parte burocrática já é difícil, imagine então entender os vernizes ideológicos dos mais de 30 partidos que existem pelo Brasil afora! Tem sigla com P, legenda sem o p que designa partido. Há agremiações que se dizem de esquerda, mas adora se locupletarem com o patrimonialismo brasileiro; existem liberais defendendo interesses de amigos junto aos poderes executivos; podem ser encontrados prefeitos que, a exemplo do advogado Batista do romance Esaú e Jacó – Machado de Assis [1839-1908] – que nos bailes eleitorais dançam com pares partidários para depois lhes descerem o sarrafo em busca de outras mães-partidárias para abrigar seus acalentos e sentimentos de amor às cidades que governam. Sendo assim, como fica a cabeça do eleitor? Ele vota no homem ou no partido? Ele espera que um sujeito que se diz liberal, escolha propostas que não onerem tanto as empresas, principalmente as microempresas, mas que defende o patrimonialismo e a burocracia estatal a ser formada por apaniguados?

 

Candidaturas

Bom! Mas antes de tentar responder a essas interpelações, quero chamar a atenção para o fato de que a cidade poderá ter, conforme este jornal noticiou no último domingo, dois candidatos a deputado federal. Interessante, mesmo que de forma sintética tentar compreender as propostas dos dois postulantes a uma vaga na Câmara Federal. Como estavam na fase da pré-candidatura aguardando a homologação na convenção partidária, não pretendo me enveredar por tais projetos, entretanto, achei-os meio vagos, contudo, a que se esperar a confirmação dos nomes, iniciar-se-á as campanhas e os eleitores começarem a fazer as oportunas interpelações sobre qual vai ser a postura da dupla, caso alcancem os postos postulados. De qualquer forma, a que se atentar para o fato de que o cidadão comum precisa aprender mais sobre a política e não apenas ficar a mercê de que tal político faça chover em terra que há muito tempo não se vê água alguma.

 

 

Desta forma, retorno ao evento em que estive presente juntamente com o ex-petista Roberto Torsiano. Embora a atividade fosse restrita a determinado segmento da sociedade penapolense, creio que poderia ter ocorrido em espaço ampliado, possibilitando que mais pessoas pudessem participar, afinal, sem o tal do conhecimento apontado pelo ex-vereador não será possível almejar uma sociedade diferente desta que ai está. Todo mundo grita, berra, vocifera contra a categoria política, diz que as elites estão contra determinados setores da sociedade brasileira, entretanto, conforme apontou o economista Márcio Pochmann, é preciso melhorar o debate e sair desse feijão com arroz que se tornou a política brasileira, marcado, sobretudo pela disputa entre nós e eles. Entendo que esse tipo de peleja só tende a afastar os indivíduos que desejam participar ativamente da vida política na polis, todavia, ao se deslocar do centro para essas agremiações, encontra sempre feudos [aquilo que pode ser explorado] partidários travestidos de partidos democráticos.

 

Voos

Dentro dessa perspectiva, a questão que fica é: se o atual prefeito será expulso da legenda, para onde vai o chefe do Executivo? Antes de tentar uma resposta, é preciso observar que depois das declarações que ele fez, me parece não haver mais clima para ele continuar no PSDB e, caso fique, será um desarranjo total como foi a sua inclusão entre os tucanos, sem nunca ter sido um socialdemocrata e defensor dessa ideologia, já que ingressou na agremiação por achar que isso facilitaria as coisas com o governador do Estado. Até ai, nada de mais, já que a atitude repete o que se assiste pelo interior do Brasil, principalmente quando não se tem partidos com fortes vínculos ideológicos, ou seja, defensores dos credos que professam ou tentam passar à sociedade. Desta forma, é possível encontrar liberais defendendo mais saúde, educação, entre outras coisas, para os pobres custeados pelo dinheiro pago pelos contribuintes. Vai entender, porém, é compreensivo num país que se dizia liberal, mas apegado ao trabalho escravo.

 

 

Pois bem! Entrei em contato com o pessoal do Solidariedade em Penápolis para saber da possibilidade de o partido abrigar o atual mandatário, a resposta foi que o assunto não foi colocado em discussão, pois a situação ainda não existe.  É importante salientar que o prefeito não é unanimidade dentro da agremiação, mesmo esta tendo três cargos de confiança na estrutura administrativa que o chefe do Executivo montou para governar Penápolis. Mas, por outro lado, muitos no Solidariedade não acreditam que o prefeito vá tentar fazer parte do grupo político. Para estes, é mais provável que ele volte ao DEM, levando em conta que um vereador deste partido é líder de seu governo na Câmara. Sendo assim, as apostas estão sendo feitas, há aqueles que creem que o mandatário será abraçado pelo MDB. Enquanto isso, a cidade aguarda as cenas dos próximos capítulos do trebelhar político local. E-mail: gildassociais@bol.com.br; gilcriticapontual@gmail.com. www.criticapontual.com.br.

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