Lentidão política, velocidade econômica

Gilberto Barbosa dos Santos

 

O assunto que lego nesta manhã de quinta-feira aos meus leitores do INTERIOR, ocorreu-me após a leitura da entrevista que o ex-ministro e economista Delfim Netto concedeu ao jornal econômico Valor da última segunda-feira, 25. Ele tratou de várias questões, desde o mundo da economia brasileira, passando pelo impeachment e chegando a política. Recomendo a leitura para aqueles que querem saber mais um pouco sobre o funcionamento desta nação. Sendo assim, as linhas que se seguem é uma tentativa de passar a vocês um quantum das pistas que ele deixou após eu concluir a leitura da matéria. Como é meramente uma tentativa de refletir sobre o que foi dito pelo professor da Escola de Economia e Administração da USP, não pretendo apresentar as questões na ordem em que ele externou para os repórteres daquele jornal.

Uma das coisas que mais me chamou atenção, – conversei um pouco com um amigo professor de Relações Internacionais na UNESP de Franca e especialista em Segurança Nacional -, foi quando Delfim Netto afirmou que para se colocar a economia brasileira nos eixos novamente, é preciso acreditar, ou seja, os agentes socioeconômicos devem crer que a coisa vai andar. Mas como os cidadãos brasileiros podem confiar num sistema que está atrelado até o pescoço na esfera política palaciana e carcomido pela corrupção? Bom! Essa é a primeira pergunta que tentarei responder. Primeiro, é preciso ter claro que a oposição ao governo federal é pífia e deve ter lá suas razões para não se engalfinhar até o pescoço na problemática que assola Brasília. Isso ocorre, talvez porque os fundamentos macroeconômicos e de matriz monetarista que a atual gestora lançou desde que reassumiu o posto no começo de 2015, e que tanto descontentamento tem trazido ao povo brasileiro, sempre foi propalada na época da campanha eleitoral como sendo uma política adotada pelo adversário que a colocaria em ação assim que retomasse o posto presidencial.

A oposição, personificada no PSDB não conseguiu, via urnas voltar ao posto máximo da nação, cargo que ocupou por duas vezes através do cientista política e ex-professor da USP, Fernando Henrique Cardoso – que quando as coisas vão mal para os lados do grupo no poder central ele vira o saco de pancadas da galera que se pensa politizada, mas acaba fazendo trabalho semelhante ao dos “camisas-preta” mussolinianos na Itália Fascista [quem quiser saber um pouco sobre isso é só ler o romance do italiano Vasco Pratolini História de pobres amantes]. Perdeu? Sim! O que fazer? Numa democracia é esperar o próximo pleito, porém enquanto isso, como diz Paulo Arantes em seu livro O novo tempo no Mundo, para não transformar esse espaço em uma longa espera, trabalhar para apresentar propostas equilibradas à sociedade, principalmente em se tratando de economia, pois não é possível vender a ideia farisaica que se deve comprar tudo e ao mesmo tempo. Nesse ponto quero chamar a atenção do leitor para uma observação que Delfim Netto fez na entrevista. Segundo ele, em conversa com ex-presidente Lula este havia dito que deveria se “pegar o dinheiro do BNDS, do Banco do Brasil e até aquele inexistente” para alavancar o crédito e fazer as pessoas gastarem mais e alimentar a econômica.

O economista afirma que a problemática não é falta de crédito no mercado, mas sim de tomadores de crédito, ou seja, de quem está disposto a comprar o dinheiro comercializado pelas instituições financeiras pagando o preço que elas estão estipulando a partir dos juros fixados por um Banco Central que não consegue ser independente do universo político brasileiro, conforme vários analistas já apontaram. Sendo assim, a observação do professor da USP é pertinente porque entra em rota de colisão com o que deseja o arauto do petismo e criador do modelo lulo-petismo de se governar o país, isto é, uma prática para lá de desenvolvimentista que aumenta a dívida pública financiando um aparelhamento burocrático, cuja eficiência tem ficado abaixo do que espera a sociedade que acaba bancando o custo da gastança desenfreada, mas como disse certa vez um ministro lulista: para que o povo quer saber de macroeconomia? Ele está mais preocupado em saber se a prestação cabe no bolso! Em meu pequeno conhecimento, nunca vi tamanho absurdo, mas é próprio do populismo econômico personificado na conversa de Lula com o ex-ministro Delfim Netto.

Em consequência disso, a crise econômica está mais veloz do que a capacidade de o nossos políticos conseguirem apagar as chamas que estão torrando os salários dos trabalhadores, quando não, o próprio emprego. Desta forma, o que o economista deixou transparecer é aquilo que venho sempre dizendo, a crise econômica está mais associada ao universo da política do que propriamente aos setores que formam o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro e os agentes econômicos, sejam eles brasileiros ou internacionais. Um dia desses li, em algum lugar uma observação dum dos militantes que constantemente satirizam os opositores regozijando alienadamente, para não dizer, endeusando esse tipo de postura populista com o dinheiro do contribuinte, na qual ele tentava comparar o Brasil com um país europeu. Sempre que a coisa vai mal aqui, quem está no poder tenta responsabilizar o mundo globalizado por isso. Mas penso que uma pequena explicação pode ajudar e muito, pois como dizia Max Weber, os homens se relacionam de forma monetária, visando sempre um fim, ou seja, as relações econômicas sempre configuram uma ação social com sentido.

Se isso é fato, e tendo a crer que sim, somando-se a isso a explicação que Karl Marx fornece em seu livro O Capital sobre a passagem do dinheiro para o status de mercadoria e depois moeda valorizada, parece-me que para bancar a dívida pública e aquele amontados de asseclas e apaniguados que ocupam os cargos de confiança por intermédio de diversos acordos firmados no Congresso para possibilitar a tal da governabilidade, o governo federal precisa se vender ao mercado internacional colocando títulos do tesouro e outros papéis para que os investidores comprem a partir da promessa de pagamento futuro, confirmando aquilo que Marx disse no século XIX. Quem tem dinheiro quer vendê-lo e o fará para o país que lhe garantir, com segurança, retorno e estabilidade e, no momento é isso que o Brasil não tem, principalmente no universo político, conforme Delfim Netto definiu em sua entrevista ao jornal O Valor. Desta forma, como tornar o nosso país atraente para o mundo e para os próprios brasileiros que estão alarmados com o grau de corrupção que se instalou nos bastidores do poder em Brasília? Eis a pergunta, ao que me parece, mais complexa que a presidente terá que responder aos cidadãos simples que contam suas moedinhas no final do mês para completar a renda familiar, não sobrando nada para vender aos financistas e assim ficarem na fila de espera, – observada por Paulo Arantes em seu último livro -, até que a mercadoria seja devolvida com juros e correção monetária. Enfim, voltarei a essa temática numa próxima oportunidade, pois a entrevista com o professor da USP é instigante, fazendo com que os leitores façam diversas reflexões ao seu término.

 

Gilberto Barbosa dos Santos, sociólogo, professor em Penápolis. Pesquisador do Grupo Pensamento Conservador – UNESP e membro do Conselho Editorial e Científico da revista LEVS-UNESP. Escreve às quintas-feiras neste espaço: www.criticapontual.com.br. E-mail: gilbertobarsantos@bol.com.br, gilcriticapontual@gmail.com, e gilberto_jinterior@hotmail.com .

 

 

 

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