Gilberto Barbosa dos Santos
Ao que tudo indica, o Brasil terminará essa semana fervendo, principalmente do ponto de vista político. Tudo isso porque corre no Congresso um pedido de impeachment da presidente da República, a petista Dilma Rousseff – deve-se salientar que ela nunca ocupou cargo no legislativo, talvez resida ai a dificuldade que ela tem em lidar com os congressistas. Isso é um ponto a ser considerado por todos, mesmo que uns digam que não, há a necessidade de se ter navegado e perambulado pelos corredores do Legislativo para governar, não bastando, portanto, que se saiba apenas andar pelos corredores palacianos. Até ai tudo bem, ambos os lados da moeda – a exemplo do denário romano que tinha em suas duas faces a insígnia de César – dizem a mesma coisa, já que a chefe do Executivo Federal, me parece, cometeu os mesmos equívocos que o ex-presidente Fernando Collor de Mello nos primeiros anos de seu mandato lá no começo da década de 90 do século XX.
Posto isto, fica-me uma questão: o que se aprendeu com o passado, para que não se cometesse o mesmo erro no presente? Absolutamente nada ou apenas que os defensores do impeachment na década de 90, hoje se veem acossados pela mesma solicitação e, ai vem os integrantes de espúrios movimentos sociais ameaçando com isso e aquilo, caso ocorra “golpe”. Novamente, pergunto: de onde vem o golpe? A resposta foi delineada na tarde da última terça-feira quando o PMDB decretou seu fim na esfera governativa federal, porém, mantendo os postos de vice-presidente republicano, a presidência da Câmara e do Senado Federal. E a culpa é de quem? Será do mesmo cidadão que articulou parceria com o ex-prefeito paulistano, Paulo Maluf, acossado pela Interpol? Para fugir da sanha da política internacional, por aceitar apertar a mão do até então candidato a prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, Maluf ganhou de presente um mandato de Deputado Federal e assim conquistou fórum privilegiado – claro que com a anuência das urnas!
É preciso ter claro que os fatos descritos, sinteticamente acima, não são invencionices deste que vos escreve meus caros leitores, mas sim ocorrências do mundo da política e do desejo atroz de se manter no poder a qualquer custo – mesmo que se negue amanhã o que se diz e promete hoje, conforme Maquiavel nos mostra no seu Príncipe – eu recomendo a leitura para quem pretende disputar o pleito municipal de Outubro. As análises do florentino que, em determinados pontos, foram deturpados por indivíduos que desconhecem a arte da política e como se alcança o objetivo, isto é, estar no poder e olhar de cima para a plebe amorfa que está sempre desconfiada de seus líderes, principalmente daqueles que diziam garantir pão e segurança, inclusive lançando a mãe do PAC.
Se a junção entre PP – Paulo Maluf – e PT – Fernando Haddad – foi orquestração do arauto do petismo nacional, é bem provável que a parceria entre o Partido dos Trabalhadores e o PMDB no plano nacional – aliança que vem desde o primeiro mandato de Dilma Rousseff – também pode ser atribuída a esse cidadão. O acordo previa os cargos de vice e também ditar as regras na Câmara e no Senado Federal – há quem diga que o atual presidente da Câmara Eduardo Cunha foi eleito com votos do PSDB e isso tem pertinência, mas faz parte do jogo político e contou com a anuência do Palácio do Planalto, que previa o domínio daquela instituição a partir de 2017, porém, os asseclas do ex-presidente Lula, só não contavam com as astúcias do vice-presidente que, observando ser relegado ao segundo plano na estrutura administrativa do país, avisou que haveria problemas no futuro.
Para não perder o fio da linha que poderá nos tirar desse labirinto político, cujo objetivo é tornar-nos o ícone mitológico que eliminou o Minotauro – monstro que aterrorizava a ilha de Creta governada pelo rei Minos – observemos quem foi o autor das escaramuças que poderá fazer com que o PT apeie do poder. Não precisa ir muito longe para entender o “jogo da velha” inicializado nos primeiros meses da primeira gestão de Luiz Inácio Lula da Silva. Muitos dos defensores do atual governo têm certa ojeriza quando se busca compreender os fatos dentro de um processo histórico recente e significativo para que o cidadão entenda as coisas como estão se dando, enquanto consequências de práticas e opções de políticas socioeconômicas e públicas.
Se isso é fato e tendo a crer que sim, vamos aos dados: os brasileiros foram às ruas pedirem eleições diretas ainda sob a vigência da ditadura militar. O desejo naquela ocasião não foi contemplado, mas os militares deixaram o poder por intermédio de uma eleição indireta e, em seu lugar, entraria o falecido Tancredo Neves, mas morreu antes de se apossar do principal assento no Palácio do Planalto e, em seu lugar ficou o seu vice, José Ribamar “Sarney”, ou melhor, José “Sarney” antigo aliado dos coturnos e filiado a Arena (PDS/PFL). Depois migrou para o PMDB e lançou um plano heterodoxo para tentar conter a inflação, mas logo entrou água, porém de positivo para o seu partido, foi ter-se tornado hegemônico no país, tendo inclusive articulado a promulgação da Constituição Federal, outorgada por Ulisses Guimarães e designada por este como “Constituição cidadã”. Deve-se salientar que em 1993 passamos por plebiscito para indicar se queríamos uma República parlamentar ou presidencial, ou mesmo a volta da Monarquia: ganhou o presidencialismo, entretanto, com um parlamento forte e ai que se encontra o nó górdio que nenhum governante da esfera executiva consegue desatar, pois se está refém dum Congresso paternalista e fortemente atrelado a uma burocracia patrimonialista que vem desde o período imperial, conforme José de Alencar apontou em suas Cartas de Erasmo e direcionada a D. Pedro II.
Pois bem! Entre o plebiscito e o governo Collor, tivemos um novo plano econômico heterodoxo, ou seja, com gastança pública como forma de alavancar a sociedade, além do confisco do dinheiro do cidadão como elemento norteador da contenção inflacionário e, no meio do caminho, a empáfia de Collor de Mello que virou as costas para o Congresso. Eis os fatos, culminando com o processo político que baniu o governante alagoano do Palácio do Planalto. Em seu lugar, assumiu o vice-presidente, o peemedebista Itamar Franco e a preparação para outro plano econômico, desta vez com forte viés ortodoxo aplicado por meio da URV (Unidade Real de Valor) que foi sucedido pelo Real, moeda que perdura até os nossos dias. Na época, os mesmos que estão encastelados no governo federal hoje, bradavam que o plano era eleitoreiro e não mudaria a cara do Brasil: as consequências todos já sabem – inclusive os contrários de ontem usaram as medidas para azeitarem os projetos sociais iniciados pela antropóloga Ruth Cardoso quando era primeira-dama brasileira, eis as diferenças de ontem e de hoje.
Dai em diante, veio à emenda da reeleição defenestrada na época pelos partidários do arauto do petismo nacional, mas usada para se perpetuarem no poder, institucionalizando a corrupção como forma de se garantir no poder e a ferramenta foi estimular a ganância de determinados setores plutocráticos da sociedade brasileira que suga os cofres públicos há muito tempo, desde que a Corte lisboeta chegou aqui. Mas como acabar com isso? Teve um cara, populista e semelhante ao atual mandatário do PT, que dizia que iria acabar com a inflação com um tiro só, só que essa espoleta atingiu o próprio pé governamental dele. E novamente, dizem que vão acabar com a corrupção, mas deleita-se com ela, locupletando-se com plutocratas objetivando se perpetuarem no poder. Durmam com um barulho político desses associados aos rugidos de um animal político que caiu nas malhas e nas teias do que se dizia combater no passado.
Gilberto Barbosa dos Santos, sociólogo, professor no ensino superior (FASSP) e médio em Penápolis (Colégio Futuro/COC e UP-Pré-vestibulares/Objetivo. Pesquisador do Grupo Pensamento Conservador – UNESP e membro do Conselho Editorial e Científico da revista LEVS-UNESP. Escreve às quintas-feiras neste espaço: www.criticapontual.com.br. E-mail: gilbertobarsantos@bol.com.br, gilcriticapontual@gmail.com, e gilberto_jinterior@hotmail.com .