Cidadãos e suas quase cidadanias

Foto Lixao 004 (1)Por: Gilberto Barbosa dos Santos!!

O que faz o Brasil ser o que é? Eis a primeira pergunta que direciono aos meus leitores nesta manhã. Acredito que todos se fazem diariamente essa interpelação, entretanto, me parece que respondê-la é fácil, todavia, agir para que o nosso país seja diferente do que é atualmente, eis o trabalho que não é demérito algum de quem pelo menos tenta, pois se começar a avaliar pela capital federal enquanto consequência dos atos dos brasileiros comuns, ou seja, daqueles que votam, pode-se dizer que nada está sendo feito. Mas enquanto Brasília continua a viver dias de tormenta com o Congresso Nacional mantendo sua postura de ringue político e o ex-presidente e arauto do petismo nacional, Lula, lançando mais uma de suas bravatas: “Não tem uma viva alma mais honesta do que eu!” (http://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/nao-tem-uma-viva-alma-mais-honesta-do-que-eu-afirma-lula/), como as coisas se passam aqui na polis e alhures?

Não pretendo, na crônica de hoje, apontar o dedo para quem quer seja, mesmo porque, o ofício do cronista – será que posso me considerar como tal? – conforme apontava o filósofo alemão Walter Benjamin, é apenas o de registrar os fatos, por pequenos que sejam, já que tudo é importante para a história. Desta forma, o mestre nesse ofício foi o escritor e folhetinista brasileiro oitocentista Machado de Assis, para quem, segundo Massaud Moisés, esse ofício ocupa lugar de destaque em sua escrita de contista que também era funcionário público do Ministério da Agricultura. De modo que com ela se identificou, tornando-se uma constante na sua carreira de literato, inclusive com vários de seus textos jornalísticos aparecendo sucintamente em alguns de seus romances. Sendo assim, considerar-me como tal seria empáfia de minha parte, portanto, ocupo-me tão somente de tentar compreender, por meio das linhas que publico semanalmente, a ação dos sujeitos sociais aqui e alhures. Senão vejamos.

O que leva uma pessoa a transformar a calçada duma escola em depósito de lixo? A interpelação existe a partir dum fato concreto que externei na minha coluna Olhar Crítico do último domingo. Ausência de cidadania? Pode ser! Mas também falta de fiscalização por parte do poder público constituído eleitoralmente? Se for isso, o problema foi resolvido, entretanto, o fato em tela pode ter tido uma solução rápida, no entanto, a cidade continua passando por processos semelhantes de desrespeito e é comum ouvir a grita de que a culpa da situação, em que se encontra as vias, é de responsabilidade do alcaide e seus fieis escudeiros no Legislativo. A questão não me parece tão simples assim, pois, sem querer defender o prefeito e seus asseclas ou aplaudi-lo de pé, entendo que naquele caso específico, havia até um sofá que foi transportado por um morador e depositado ali e, a coisa vai mais longe, pois estava virando depósito de restos de comidas. Quem lançou ali os restos de suas lautas refeições?

Minha reflexão não se escuda na tentativa de apontar o dedo para quem quer que seja, mas tão somente analisar pequenas ações a partir do prisma do exercício de cidadania, pois, ela não se consubstancia apenas no ato de se votar e escolher seus representantes que são trocados, quiçá desejo da plebe, a cada quatro anos. Ser cidadão requer muito mais do que o simples apertar o verde da urna eletrônica ou ficar esbravejando que se é perseguido e que seus supostos algozes são pagos por adversários políticos para denegri-lo. Atitudes como essas, propaladas pelos nossos políticos aos borbotões, é um desserviço à democracia, mesmo porque o poder pertence ao povo e a ele volta a cada 48 meses e começa a retornar a quem de fato é o proprietário, ou seja, ao eleitor. Talvez possa estar ai explicado o motivo da grita geral de quem se encontra em seus cargos, mas querem continuar, apesar das lamentações que se falta dinheiro para isso e para aquilo, porém, medidas como redução de suas subvenções e de seus séquitos de auxiliares nem pensar – mas ai é outra história – para o momento fiquemos, caros leitores e internautas, apenas com o palavrório geral que se fez isso e aquilo pegando carona nas administrações anteriores.

Mas, para não perder o foco das linhas e dos meus escopos de hoje, volto à cidadania e o seu estrangulamento por parte dos atos que, muitos praticantes, consideram sem importância, mas que se transformam em imperativos categóricos repercutindo negativamente numa população que aprendeu a trocar a sua consciência por um quantum à sombra do poder, confirmando aquilo que o escritor russo Dostoievski disse certa vez: “o homem social é incapaz de tolerar a sua liberdade e está disposto a trocá-la pelo líder que lhe garanta pão e segurança”. Se a observação do literato russo não procede, como explicar tanta bajulação àqueles que se dizem isso e aquilo outro, e que fizeram tanto disso e, neste sentido, se consideram aptos a governar uma determinada cercania? A resposta já não é com este que vos dirige caros leitores e internautas, mas com os próprios eleitores que devem tomar o máximo de cuidado para não caírem no canto da sereia, a exemplo daqueles que reclamam das autoridades constituídas, mas transformam a esquina duma escola em depósito de lixo de suas residências. E olha que é uma instituição educacional mantido com os recursos provenientes dos tributos, taxas e impostos que todos pagam.

Talvez isso possa explicar tamanho descaso com a educação, pois todos se acham donos, então se pode esfacelar e ultrajar, vilipendiar, entretanto, ao procederem desta forma, eu acredito que contribuam para a construção dum futuro tenebroso para a Nação, além de não entenderem corretamente ou distorcerem o que discorre o artigo 6º da Constituição Federal, ou seja, que a educação é um dos direitos sociais, como “a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e a infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição”. Eis o que diz a Carta Magna! Portanto, por mais que um cidadão que se crê portador de cidadania, afirme-me que é apenas um lixinho à toa, o seu ato evidencia um desrespeito total aos seus semelhantes e indica um desvirtuamento de determinados princípios éticos e morais que deveriam ser legados pela família e melhorado pelas escolas. Mas como fazer isso, se o mesmo indivíduo que deve inculcar isso em seus filhos e demais sujeitos em fase de formação social, transforma a porta da instituição educacional em lixão a céu aberto? A culpa é de quem? Do prefeito? Do diretor da autarquia responsável pela coleta de lixo? Ainda não obteve nenhuma resposta a essas interpelações, entretanto, acredito que elas vão apontar uma visão equivocada do que se pensa serem os direitos do cidadão que devem ser respeitados pelas autoridades constituídas, mas é preciso também que aqueles que assim o desejam, façam o que lhes apetece na condição de moradores da polis, do contrário, o amanhã será nefasto e um dos responsáveis por isso pode ser o exercício incorreto dos direitos políticos, quando se escolhem postulantes a cargos públicos mais preocupados em manter a camarilha unida em torno de projetos de poder, como foi a última sessão extraordinária da Câmara local em 2015.

Legenda: Gilberto Barbosa

Lamentavelmente alguns indivíduos transformam portão de escola em lixões

Gilberto Barbosa dos Santos, sociólogo, professor em Penápolis. Pesquisador do Grupo Pensamento Conservador – UNESP e membro do Conselho Editorial e Científico da revista LEVS-UNESP.

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