Laranjas e outros bagaços da política

Gilberto Barbosa dos Santos

 

Fevereiro não poderia ter começado melhor. Ainda mais agora que em 2016 temos o ano bissexto e o carnaval que chega nesta próxima sexta-feira e as urnas em outubro. Há quem acredite que em determinadas paragens deste recôndito brasileiro, Momo já reina mais! Aqui em Penápolis e em muitas localidades – quiçá o ano eleitoral – o reinado foi protelado – uns dizem que é para colocar os recursos na saúde e outros para fazer proselitismo do próprio mandato, mas ai já não é com este cronista, caros leitores e sim com os eleitores logo mais no segundo semestre.

E já que a temática é política e, para não vos agastar em demasia com as minhas considerações semanais, vou direto ao ponto: se em Brasília, as autoridades constituídas eleitoralmente se enrolam cada vez mais com o mundo do Lava-jato, no âmbito paulista o governo terá que explicar as conexões e seus sentidos com o mundo da laranja – não o fruto alaranjado cuja cor pode ser uma mistura do amarelo com vermelho e olha que a junção da música ou rusga, vai saber? -, mas sim um imbróglio para lá de complexo envolvendo merenda, propina e supostos pagamentos de valores para que um determinado segmento empresarial cooperativado vencesse concorrências públicas.

Em se comprovando as mutretas, os tucanos paulistas terão que explicar muita coisa para a sociedade, ainda mais agora que seu adversário, cuja cor é vermelha, está todo enrolado com propinas no plano federal. O que o governador, eleito com mais de 51% dos votos no primeiro turno, dirá aos seus séquitos de eleitores? Eis a pergunta desta quinta-feira pré-carnavalesca. Tem-se muito a explicar, pois conforme o noticiário, os operadores do propinoduto do suco atuavam de dentro do Palácio dos Bandeirantes. Desmente-se isso, não com palavrório e discurso, mas com provas de que não se tem nada a ver com o peixe que era vendido, ou melhor, laranja processada, todavia, como é possível dizer isso, imitando o regente nacional ao afirmar que nada sabia, se a casa era regida pelo tucanato? O metrô já tinha dado dor de cabeça, explicações aqui e ali, mas que não convenceu quem quer que seja, entretanto, o foco foi desviado para Brasília com alguns lampejos para a seara paulista, no entanto, com uma “delação premiada” a coisa foi azeitada, ou melhor, alaranjada, e os holofotes se voltaram para o grito do Ipiranga às margens dum riacho histórico!

Se no âmbito federal, os asseclas do ex-presidente no plano municipal terão que explicar, caso queiram voltar ao governo local – mesmo com o ex-prefeito afirmando em jornal regional que não tem intenções de disputar a sucessão do atual mandatário – os signatários do governador paulista também poderão ter uma dose de complexidade, pois se o postulante da legenda quiser colar a sua imagem à do governador terá que desvincular-se de coisas que deverão ser explicadas nas próximas semanas. Ou seja, como o governante não sabia o que se passava em sua seara política? Ele tem o direito de não saber, mas se isso é fato, é válido também para o arauto do petismo no plano nacional. Ou a coisa é diferente? Se se é? Por que se é? Durmam com uma pergunta dessas. As investigações estão apenas no começo, mas como se trata de delação premiada com provas substanciais, não deverá ficar pedra sobre pedra, ou laranja sobre laranja, entretanto, a velocidade jurídica é diferente da caminhada política e, pelo menos, compreendo que não será possível fazer uma dissociação em velocidade idêntica ao do bólido da fórmula um.

Mas deixando a política de lado e ingressando no fruto que pode ser utilizado de diversas formas, até se ficar no bagaço literalmente, será que haverá esse procedimento no viés partidário? Ou seja, os culpados e serventuários não irão falar a mesma língua? Ao que tudo está indicando, o castelo amarelo-azul paulista poderá ter seus tijolinhos retirados um a um e muitas explicações serem dadas em ano eleitoral e de verdadeiro derretimento da estrela vermelha e sua constelação ideológica. De outro lado, é interessante tentar entender se as investigações estão no nível das cascas que, ao serem retiradas, eliminam sumos que deixam vestígios nas mãos, ou se a coisa já está no ponto do caldo? É preciso entender que o cancro cítrico deixa o fruto deformado e com os gomos secos ou quase isso, portanto, pomar que tem essa doença, mesmo que seja em apenas um pezinho da fruta, deve ser erradicado. Resta saber até que ponto o cancro contaminou a seara tucana encastelada no Palácio dos Bandeirantes e como isso afetará as pretensões do governante que quer ser o ungido do PSDB nacional para disputar a sucessão da atual mandatária, que sangra a cada dia que passa por não conseguir se entender com a sua base no Congresso Nacional – mas ai é outra coisa já abordada aqui várias vezes, portanto, retornar a ela é agastar-vos, meus caros leitores.

Sendo assim fiquemos com as laranjas chupadas, espremidas e usadas para compor a merenda dos estudantes paulistas. De acordo com a veiculação das informações, pelo que foi dito, ou seja, recursos supostamente desviados, a laranja ao passar pelo processador, deixava um caldo que fazia inveja a Midas – aquele mesmo da mitologia grega que sonhava em ser o senhor dourado, isto é, transformar tudo em ouro. No entanto, com o alcagueta, o suco, de ouro, virou ferrugem e colocou o governo na mira da Justiça estadual e da esfera político-partidária, desafogando um pouco o adversário nacional. Mas, de qualquer forma, o governante que teve um imbróglio no final do ano passado com a ocupação das escolas por estudantes – independentemente deles gostarem ou não das unidades e estudarem com afinco – agora tem outro enrosco no campo educação, inclusive com acusação recaindo sobre o ex-secretário da pasta. Trocou? Sim, mas os respingos e as gotas alaranjadas ficaram e estão manchando a fachada palaciana de meritocracia no setor.

A problemática é mais complexa, chegando ao ponto de tragédia, ainda mais que está para se começar mais um ano letivo. Sabe-se que os docentes, via sindicato da categoria, a exemplo do que vem fazendo nos últimos anos, ameaça com greves e paralisações dos centros educacionais. E agora, pode fazê-lo com um motivo a mais: acusações de desvios na compra de merenda escolar com os dividendos aferidos das mutretas destinados ao financiamento de campanhas! Resta saber se isso dizia respeito às disputas governamentais ou para os executivos municipais? Então a coisa é periclitante, ainda mais por se tratar de uma área em que todos afirmam que para se caminhar em direção a um futuro, não dourado, mas pelo menos com luzes mais acentuadas, é preciso cuidar dela com esmero e dedicação.

Não é necessário aqui desfilar o mantra dos últimos tempos quando o assunto é o descaso com a educação, seja por parte da sociedade que está de costas para o setor – tendo em vista o que costumamos ver no que se transformam as calçadas das escolas públicas. Se o colegiado populacional não se inculca, de fato, com a qualidade educacional, o que dirá no plano individual, ou seja, como os pais veem as instituições responsáveis pelo fornecimento de conhecimento aos seus filhos? A resposta pode estar na exigência da investigação profunda nos laranjais da corrupção, cujos frutos podem ter sido gestados dentro da sede do governo.

 

Gilberto Barbosa dos Santos, sociólogo, professor em Penápolis. Pesquisador do Grupo Pensamento Conservador – UNESP e membro do Conselho Editorial e Científico da revista LEVS-UNESP. Escreve às quintas-feiras neste espaço: www.criticapontual.com.br. E-mail: gilbertobarsantos@bol.com.br, gilcriticapontual@gmail.com, e gilberto_jinterior@hotmail.com .

 

 

 

 

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