Caminhos à brasileira

Gilberto Barbosa dos Santos

 

Entre tantos assuntos, seja no plano estadual, federal ou municipal, fica difícil escolher um para conversar nesta manhã com os meus leitores. Mas tentarei, já que me propus a escrever alguma coisa, depois de um interregno de 15 dias – não publiquei reflexões na semana passada por conta de questões pessoais. O que seria interessante em minhas enunciações hoje que chamaria a atenção do cidadão penapolense e de outras paragens (www.criticapontual.com.br.)? Há o bebê que morreu no começo da semana prometendo ser a mais nova dor de cabeça para o atual prefeito, além de outros apontamentos do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo. O meu leitor não pode se esquecer da audiência das esmeraldinas que acontecerá no Fórum local na próxima quarta-feira, 28 de março.

Embora os assuntos sejam pertinentes e significativos para a população, os deixarei para outra oportunidade. Para o momento objetivo me deter em outras temáticas, vamos assim dizer, nos planos estadual e nacional. Começando pelo universo paulista, ao que tudo indica teremos, no campo da política, uma briga entre o atual vice de Geraldo Alckmin (PSDB) e, sabe-se lá, o ex-aliado a apaniguado do governador, o prefeito paulistano João Dória (PSDB). Ambos dizem que disputarão a sucessão do mandatário paulista. Do segundo, seus correligionários o cobram a partir das promessas de campanha, segundo as quais, ficaria no governo municipal paulistano até o fim de seu mandato em 2020. Talvez aqui o pensador florentino, Nicolau Maquiavel (1469-1527), e o seu clássico O príncipe sejam úteis, principalmente no que diz respeito à palavra dada por um líder político. Segundo Maquiavel, a um príncipe – governante – não se pode exigir o cumprimento da palavra dada durante campanha, pois aquele era um momento e depois a situação pode mudar. Desta forma, Doria segue a risca o que outros tucanos, como o senador José Serra, fizeram outrora. Eis o mundo da política – confiabilidade desconfiada!

Se o atual prefeito de São Paulo já se engalfinha com o vice do momento e futuro governador interessado em ficar mais quatro anos no principal assento do Palácio dos Bandeirantes, como se posicionará o mandatário do Palácio dos Bandeirantes que, depois da fritada e encaminhamento para o limbo da política nacional do mineiro Aécio Neves (PSDB), surge como o homem forte do PSDB nacional? Todos sabem que o paulista não é o preferido do arauto do tucanato nacional, Fernando Henrique Cardoso – ocupou a presidência da República por dois mandatos e implantou o Plano e depois o Real enquanto moeda nacional, entre outros projetos que dão sustentação a nossa combalida economia. Essa minha observação respalda-se nos recados que FHC envia ao pré-candidato de seu partido. Essa não preferência pelo grupo paulista de Alckmin não é de hoje – ela existe desde quando o ex-presidente ocupava o cargo máximo da nação e buscava cacifar um pretendente à sua sucessão dentro das fileiras peessedebistas. Todos sabem o que aconteceu: os paulistas venceram e Aécio, se quis, teve que se contentar com o governo de Minas Gerais e posteriormente o Senado Federal e agora lhe restou o limbo e o ostracismo, se limitando a se defender na Justiça das muitas supostas irregularidades praticadas. Desses infortúnios do tucanato, uma coisa é certa: nenhum integrante da legenda defende ou, almeje que um cara enrolado até o pescoço com ações corruptas dispute a eleição majoritária do país.

Já que comecei a tratar do plano nacional, o pleito para presidente da República, a exemplo do que aconteceu em 1989, será uma incógnita, pelo menos até o presente. Não que as outras pelejas eleitorais não haveriam de ser, porém, naquelas ocasiões, o perrengue era divido em dois campos: um petista, mais especificamente lulopetista – que colocou muitos amigos em bandas opostas, encerrando amizades de longas dadas, como se pífia ideologia que circundam esses dois lados fosse mais significativa do que o laço que unia companheiros de viagem, de desejos e outros alentos -, do outro, o peessedebista, construindo a designada peleja entre mortadelas e coxinhas – coisa pequeníssima, própria de infantilidade político-ideológica brasileira, mas ai não é com este que vos escreve meu caro leitor, e sim com os contendores de outrora e porque não, de hoje! No entanto, quem vencerá a disputa? É a pergunta que mais escuto nos últimos tempos. Contudo, é preciso primeiro definir quem são os postulantes. Sendo assim, o que se tem para o momento são muitas especulações daqui e dali, entretanto, uma coisa me parece certa: o atual presidente Michel Temer (MDB) quer continuar no cargo e para isso diz que será candidato à sua própria sucessão!

Neste ponto, a coisa me parece mais complicada, pois, embora não se tenha registrado níveis alarmantes de insatisfação com a sua gestão, inclusive há muitos aplausos no âmbito econômico, no entanto, isso não significa que essas mesmas mãos que hoje lhe aplaudem vão vaticiná-lo nas urnas. Usando uma observação de Maquiavel, pergunto-lhe, meu caro leitor, Temer é amado ou temido? Ou nenhuma coisa e nem outra! Se esse segundo apontamento for o mais forte, então como se mantém no poder? Cooptando o Legislativo, que ele conhece tão bem? Ao que tudo indica, sim! Mas qual é o lado do Congresso que lhe delega poderes? As interpelações têm escopo no fato de que o emedebista sobreviveu a duas denúncias na Câmara Federal. Objetivo alcançado, desejos desfeitos, principalmente no que diz respeito à reforma previdenciária. Mas nesse último quesito, o presidente pode usá-lo como ferramenta política e conseguir, junto ao mercado, importante apoio escudado na promessa de que, se eleito para mais quatro anos, fará essa e outras reformas, transformando, de fato, o Brasil numa Pátria neoplutocrata liberal. Liberal, creio que jamais será justamente por conta da força que a plutocracia tem aliada a uma burocracia aristocratizada. Talvez seja esse verniz burocratizado que conseguiu manter a reforma da previdência ainda na UTI das mudanças que Temer pretende ver implantadas na nossa sociedade que, a exemplo de outras tantas, asfixia a classe dos pertencentes aos escombros da sociedade brasileira.

Nessa salada que promete ser a eleição de logo mais, uma coisa pode ser definida como certa: o Brasil não será mais o mesmo! A esquerda, se é que há alguma, nos dizeres de Ruy Fausto em seu livro Caminhos da esquerda, precisará se reconstruir, contudo, ainda tenta lamber as próprias feridas usando um velho antidoto da recente democracia brasileira: o arauto do petismo nacional, acreditando que o seu carisma – o pensador alemão Max Weber (1864-1920) fez uma excelente análise sobre o poder carismático (https://cafecomsociologia.com/os-tipos-de-dominacao-segundo-max-weber/) – deste será o suficiente para reerguê-la. E a chamada direita? Nesse setor que se divide em extrema-direita e um quase centro à direita, muitos querem conquistar o voto do cidadão sem consciência política, mas poucos obterão êxito, tamanha a insatisfação do brasileiro com a classe política. Desta forma, para onde caminhará a nau brasileira?

 

Gilberto Barbosa dos Santos, Sociólogo político, editor do site www.criticapontual.com.br, autor do livro O sentido da República em Esaú e Jacó, de Machado de Assis; professor do ensino superior e médio em Penápolis; pesquisador do Grupo de Pensamento Conservador – UNESP – Araraquara e membro do Conselho Editorial e Científico da revista LEVS (Laboratório de Estudos da Violência e Segurança) – UNESP – Marília; escreve às quintas-feiras neste espaço: e-mail:gildassociais@bol.com.br; gilcriticapontual@gmail.com. www.criticapontual.com.br.

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