Conciliação
Confesso-te, meu caro leitor dominical, que ainda não entendo certas coisas e, talvez por isso, aquele velho provérbio, segundo o qual, quando se acha que se viu de tudo, sempre aparecerá algo para nos deixar boquiabertos e espantados, pois se acredita que a humanidade estaria esgotando sua caixinha de surpresas. Entretanto, eis que não! Chamo atenção para o cenário político local, sem, no entanto, me alongar na questiúncula, pois objetivo apenas evidenciar o que considero incongruente, contudo, sabe-se o quão paradoxal é a existência humana. Até bem pouco tempo, não muito longe, o político que se apossou do principal assento da cidade era todo crítico, ressaltando diariamente isso e aquilo, mas bastou voltar para o posto para acenar com discursos e palavrórios sobre unidade em prol da cidade.
Unanimidade
Como diz Nelson Rodrigues ou quase isso, toda unanimidade é burra ou tem algo de equivocado no ar. Se não vejamos: um Legislativo sem oposição, não legisla, evidenciando cooptação e não conciliação! Portanto, querer vereadores coniventes e vaticinadores dos atos que vem do Executivo é acreditar que os mesmos atuem como funcionários duma chancelaria pró-prefeito. Em outro plano, os mesmos são representantes do povo e tem como ofício fiscalizar os atos do Executivo e não falarem “amém” para tudo que vem do Paço Municipal. Desta forma, creio que se houver oposição, ou melhor, levando sempre em conta a defesa sistemática dos interesses da coletividade, não assistiremos e noticiaremos comportamentos e fatos complexos que ainda não entraram para a história, mesmo porque ainda tramitam na Justiça local. É preciso observar que o cidadão não escolhe seus representantes para serem aquelas arraias miúdas de que falava Machado de Assis em seu Memórias póstumas de Brás Cubas.
Demagogia
Desta forma, ao propor unidade quer se objetar que não haja empecilhos para a prática da demagogia, muito próprio da nossa política brasileira, o que não é novidade para quem quer que seja, e talvez, conforme apontei em artigo aqui nesta semana, essa prática nefasta é que vem afastando bons quadros da vida política nacional que buscam sempre a retidão, sobretudo com o trato com o dinheiro público e são contrários aos descalabros que todos assistem diariamente no país. Se aqui é assim, imaginem lá! O favor corre a solta no orbe brasileiro, sem que o cidadão, enquanto sujeito histórico, modifique as apresentações deste teatro dantesco, cujas cenas enojam os mais cônscios de suas cidadanias. Mas, iniciada as eleições e encerradas, “Inês já é morta”, sobrando apenas às lamentações.
Democracia
Contudo, para o bem da democracia e daqueles que discordam de condutas de outrora que evidenciaram a péssima utilização do dinheiro público, espero que a cooptação não ocorra de forma desenfreada como se assistiu num ontem não muito remoto da política local. Se aqui nessas paragens tem-se esse quadro que tende a embaçar a visão de alguns que se querem críticos, os ventos que sopram da capital candango trazem coisas complexas, pois, como externei no artigo Vacância de poder – publicado aqui e no http://criticapontual.com.br/2017/05/09/vacancia-de-poder/, o país está acéfalo no que diz respeito a comando e a vacância não é só lá, pois como uma praga que espalha rapidamente, esparramou para várias outras paragens com a patuleia desvairada aplaudindo como se assistisse uma parada militar ou um FlaxFlu, para, na segunda-feira acordarem e enxergassem que o “rei está nu”. Mas ai já não é mais com esse que vos escreve caro leitor, mas sim com aqueles que escolhem desenfreadamente os seus representantes, escudados em promessas vis e farisaicas.
Renúncia
E já que estou enfocando o cenário político, até o momento em que esses aforismas eram confeccionados, Brasília mais parecia uma praça de guerra subjetiva, pois ninguém deu um tiro de canhão, mas grampos daqui e dali e delações premiadas marcaram profundamente a semana que se passou. Michel Temer – o arauto do peemedebismo nacional – não reúne mais condições políticas de governar o país e comandar as reformas, que tanto as vendeu como sendo a salvação da lavoura das finanças públicas, porém, elas foram para o beleléu. Até todos que votaram nele – e não adianta os apaniguados da ex-presidente dizerem que não têm nada a ver com essa história, pois tem, afinal de contas ao escolhê-la para administrar o Brasil outorgaram ao seu vice a mesma coisa – esperavam uma atitude sensata do peemedebista que se recusava a renunciar ao cargo. Parece-me que entendo a postura dele, pois não quer entrar para a história do Brasil como o vice que não conseguiu terminar o mandato. E dai, fica por isso mesmo e ele permanece administrando a coisa pública? Não! Qual seria então a saída?
Trebelhar
Bom! Se a renúncia não passa pela cabeça do advogado constitucionalista, brioso do cargo que ocupa e se orgulha de ser um exímio enxadrista quando o assunto é política, ele precisa encontrar uma saída para a grave crise institucional pela qual o Brasil vem passando. Outrora fui interpelado sobre isso, e eu sempre afirmei que as instituições estavam funcionando muito bem, quiçá erros aqui e ali, todavia, o Legislativo está ai buscando consenso para aprovar as reformas, o Executivo tentava fazer articulações políticas dentro do que a Carta Magna prevê e o Judiciário, mesmo descontentando muita gente, buscava nortear um equilíbrio entre a letra fria da lei e as forças políticas que pululam pelo Congresso Nacional. Porém, agora com a delação de empresários do ramo de frigoríficos e com robustas provas, a crise instalou-se de vez e Temer não deve temer e tomar uma atitude sensata para o país, mesmo que FHC esteja pedindo a sua renúncia.
Confiança
Nos tempos de Dilma Rousseff também muitos queriam a sua renúncia, ao passo que ela sempre dizia, por intermédio de seus interlocutores: renúncia é coisa de covarde. Dito isso seguiu em frente, caiu, mas como diz naquele filme sobre a tropa de elite da polícia carioca: caiu, mas foi atirando, o que reforçou a militância petista a manter-se de pé. Sendo assim, creio que Michel Temer deve seguir o mesmo riscado, como se diz no jargão, e não renunciar. Sendo assim, a saída para a grave crise institucional é antecipar o pleito de 2018, mas também essa medida seria um claro sinal de acovardamento do chefe da Nação. Por outro lado, acredito que ele poderá sangrar até outubro do ano que vem, afundando o país num grau elevado de falta de confiabilidade dos agentes econômicos, ou pelo menos até a Lava Jato desferir o golpe certeiro num dos grandes arquitetos da corrupção brasileiro dos últimos tempos. Mas por enquanto é aguardar os desdobramentos, isso se já não aconteceu. E-mail: gilbertobarsantos@bol.com.br., social@criticapontual.com.br, www.criticapontual.com.br.